Num Hotel em Salvador - Brasil
Por dá cá aquela palha
O significado desta expressão é fácil, pois quer dizer que não vale nada,
coisa de pouca monta, de pouca importância.
A palha é uma haste seca já livre do grão (centeio, cevada, aveia, milho,
etc. ...) usada na alimentação dos animais; agora também industrializada.
Com a palha faziam-se, antigamente, as tochas para iluminar, de noite, os
caminhos enlameados da aldeia, para ir à missa às 6 horas da manhã ou 7, do
Inverno, há décadas atrás. Para andar de noite, uma das iluminações naturais
era a tocha de palha. A palha era utilizada também para o fogo que queimava o
pêlo do porco, para arder pois é de fácil combustão. Do mesmo modo, são
utilizadas várias expressões como “dormir nas palhas” (dormir no chão), “palha
de aço” (esfregão), “tirar uma palha” (dormir uma soneca), “dar palha a”
(enganar outro com palavras mafiosas), “todo o burro come palha” , (o que é
preciso é sabê-la dar), “não mexer uma palha” (não fazer nada). Pede-se agora
uma palhinha para beber.
Portanto, usar palha no “por dá cá aquela palha” significa sem valor, é
como dizer “por dá cá aquela M”.
Há sessenta anos, o pai e a mãe, a família eram os donos dos filhos, e por
“dá cá aquela palha” davam-lhes porrada. Por “dá cá aquela palha” o professor,
na escola, usava a régua, a palmatória, a “cana preta da índia” para dar umas
sarrafadas nos alunos.
Por “dá cá aquela palha”, hoje, os pais já não mandam nos filhos, não lhes
podem tocar e os professores em vez de respeitados, por “dá cá aquela palha”,
são vítimas de vinganças; os pais levam pontapés, são mal tratados e por “dá cá
aquela palha”, “mata-se” e esfola-se na escola, fora da escola, invade-se a
escola. “Por dá cá aquela palha” empunha-se uma pistola, ainda que seja de
plástico, para assaltar, violentar as pessoas, também no aspecto sexual e, por
“dá cá aquela palha”, até um doente é abandonado ao “Deus dará”, um idoso já
está a mais, e uma criança, se não for ao jeito, também pelos motivos do “dá cá
aquela palha” se liquida e ninguém tem direito a ser respeitado na sua
consciência, nem no direito à vida. Os filhos telefonam para a polícia por
causa de um castigo dos pais, tudo por “dá cá aquela palha”.
Por “dá cá aquela palha” se namora de qualquer jeito e com qualquer feitio,
assim como ainda pelo “dá cá aquela palha” se aceitam as palavras estrangeiras,
mesmo que tenham uma tradução fácil. Por “dá cá aquela palha” é bonito, na
linguagem ou na frase, aproveitar palavras estrangeiras de algum evento. Em
Portugal é assim, mas nem sempre acontece nas outras línguas. Em Espanha, há
palavras que cá são usadas em inglês e lá deram-lhe a tradução imediata, isto
é, em Portugal tudo o que é inglês sabe bem; é assim que se mudam expressões
linguísticas, retirando-lhes só, “por dá cá aquela palha”, a sua pureza da
língua portuguesa.
Por “dá cá aquela palha” levanta-se com facilidade uma zaragata, se irrita,
se zanga, se afronta, se grita, se acusa, se persegue, se aldraba, se torna
corrupto na sociedade e, por “dá cá aquela palha”, a justiça é só para os
pequenos que têm que cumprir a lei até ao último cêntimo, porque os grandes
estão imunizados por “dá cá aquela palha” de toda a pena da lei e arranjam
argumentos e aldrabices para se libertarem. Quanto não vale o “por cá dá aquela
palha” para quem pode. E quem pode?...
Também é costume dizer-se que “quem sempre sofre é o mexilhão”.
Por “dá cá aquela palha” se vê, por todo o lado, excrementos de cão, nos
jardins, nos passeios, nas praças...
É uma falta de civismo por “dá cá aquela palha” que se faz tudo menos
respeitar e ser educado para com o semelhante.
Artur Coutinho
