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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

As Alminhas

Alminhas
Uma cruz é vulgar com flores ou sem elas aparecer em todo o mundo, em locais onde houve mortes, acidentes ou crimes…Tragédias…
Em Portugal e não só, a partir do século XVIII, aparecem as alminhas, especialmente junto de cruzamentos ou entroncamentos de estradas ou caminhos, nas aldeias ou nas cidades.
Uns mais elaborados do que outros.
Parece que esta cultural popular é única no Mundo, e só existe em Portugal, segundo o historiador António Matias Coelho. Não é bem assim. Já vi e tenho registos do sul,  onde é muito frequente também é no sul de Itália, na Alemanha, Bélgica, Espanha e em outros países de raiz católica ou não, agora não me lembra. Estar à procura desses meus registos é complicado. Houve talvez os que se varreram da memória digital ou engolidos por algum vírus repelente. Os que encontrei publico-os…
Esta é uma manifestação de religiosidade popular à volta da morte.
Às vezes aparece este pedido:
“Ó VÓS QUE QUE ESTAIS PASSANDO
 LEMBRAI-VOS DE NÓS,
 QUE ESTAMOS PENANDO.”

Ora algumas “Alminhas” são verdadeiros monumentos arquitectónicos populares, fazendo parte do nosso património.
Há capelas, nichos, padrões isolados ou em paredes junto de casas ou muros de quintais e, sobretudo, junto de cruzamentos de atalhos, caminhos, ou mesmo ruas.
Em Dem, assim se traduzia que qualquer lavrador que passasse com um carro de milho para desfolhar em casa, deixava em cada nicho ou numa capelinha da Casa da Cerejeira de Cima, por exemplo, umas espigas. Outros deitavam esmolas em dinheiro e o proprietário das “Alminhas” colhia e entregava o dinheiro para mandar celebrar missas pelas Almas do Purgatório.
Também era vulgar ver deixar flores, ou acender velinhas, ou deixar lamparinas de azeite, ou ao passar à sua frente os homens tiravam o chapéu e as senhoras benziam-se, rezavam… Nos funerais, o cortejo fúnebre parava e o sacerdote era obrigado a rezar um responso pela alminha do cadáver que ia no féretro. Este último pormenor era obrigação popular determinante para a salvação do falecido que tinha de percorrer o caminho que sempre fazia de casa para a Igreja. Em algumas aldeias era necessário carregar às costas o féretro, ou usar uma padiola ou utilizar o carro de bois, mas este era menos usual.


Segundo o historiador da Chamusca e citado atrás ninguém pode ignorar este património e por mais laico que seja o Estado, devia haver um registo de todas as alminhas, algum historial de localização deste património.





































Esta tendência segundo o mesmo autor vem já dos gregos e dos romanos, do paganismo, dos deuses dos lares, dos penates e dos héstias; eu diria que vem já dos Celtas, pois a um canto dos cruzamentos os celtas punham fogueirinhas, luzeiros, para as “almas penadas” (que andavam de noite) não se perderem.
No entanto, a civilização grega e romana também colocava em locais de catástrofes, ou mortes acidentais ou criminosas um símbolo pagão que os cristãos substituíram por cruzes, cruzeiros ou outros símbolos que marcavam o lugar com reverência e respeito cristão.
No nascer e no morrer todos somos iguais. Nascemos nus e morremos como nus ficássemos de todo o bem material, até da roupa pode acontecer.
Em algumas religiões, o corpo cadáver é envolvido num lençol e enterrado.
Quando nascemos alguém nos aconchega, mas na morte, todos, pobres e ricos fogem de nós porque entramos em putrefacção e começamos a cheirar mal podemos ser um perigo para a saúde público. Há que enterrar ou queimar. Já não se levam para o monte para alimentar os abutres. Aqui, também tanto vale ser pobre como rico, todos somos iguais e nem os ricos levam nas mortalhas levam bolsos, ou se levam fatos os bolsos vão vazios a menos que, por engano, levem algum tesouro.
Nas alminhas que vemos pintadas ou esculpidas nos caminhos, ou nos altares de igrejas, figuras curvadas ou de pé com mãos erguidas ao Pai eterno, a nossa senhora e… no meio das almas aparecem bispos, frades, famílias poderosas que vem corroborar aquilo que ficou dito: na morte não há rico nem pobre, somos iguais.
Segundo o dicionário, alminha é uma alma pequena. Alminhas no plural, referimo-nos, sobretudo, aos monumentos que encontramos nos caminhos ou nos altares das igrejas e capelas com um recipiente para esmolas. No entanto, alma é ar, sopro, respiração, princípio vital e religiosamente é a parte mortal do ser humano, é pessoa, indivíduo, índole, vida consciência, espírito, essência, fundamento, centro de gravitação.
Hoje este património material e imaterial está desacautelado, muitos estão abandonados, cobertos de silvas, destruídos por vandalismo, o que representa o deixar de ter significado o passado o vivermos uma cultura vandalizada por um novo tipo de paganismo, de uma vida sem Deus e de desprezo por todo o passado que fez a história do que hoje somos…


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