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terça-feira, 4 de setembro de 2018

As ovelhas morrem de fome

As ovelhas morrem de fome
Em tempos, ouvi um bispo dizer que tinha padres a mais; depois outro a dizer o mesmo. Antigamente havia muitos padres que por qualquer galinha, alqueire ou almude havia um padre junto das ovelhas que “conhecia e as conhecia”, pelo nome e pelo seu odor a cada uma delas.
Hoje este esquema não é possível devido à evolução das coisas e à diminuição da população. Nas aldeias do interior ficam os idosos. Não há crianças, nem jovens, mas há os mais velhos: idosos, sós, em Paróquias de um pároco para 6 paróquias e missa de 15 em 15 dias. Passam dias iguais uns aos outros, como sempre, como mais frágeis na idade avançada que sempre esperam a voz dum padre. Vivem sedentos de ouvir palavras que saiam da boca de um padre, “boca sagrada”. Entre muitas experiências minha vão duas:
Numa dessas freguesias que só tinha missa de 15 em 15 dias, ou de mês, eu era lá conhecido porque já lá tinha realizado três serviços que muito tinham agradado aquelas pessoas, filhas de Deus.
Eu passava no centro da aldeia devagarinho e uma das senhoras reconheceu-me e disse: “olha o senhor padre de Viana”, e chama:- “Senhor padre, posso falar consigo?” Respondi que sim e não custou parar o carro porque ia a mostrar o ambiente aos amigos que me acompanhavam.
Aproxima-se do carro e chegou-se à minha janela para me dizer: - “Senhor Padre, eu precisava de me confessar. O Senhor Padre nem aqui vem e quando vem é só e sempre com pressa, rezar a missa, vai-se embora, mas eu precisava de me confessar”. Pode ser, eu saio do carro e ali no caminho atendi a pessoa e os olhos dela brilharam com alegria e da sua boca ouço a pergunta: -Quanto custava? Ora essa, não pense nisso. Estas coisas não são para pagar. Mandei sair o pessoal do carro e ali estivemos na conversa uns 20 minutos. Então apareceram cinco mulheres e um homem mais para entrar na conversa. Quando íamos a entrar para o carro, pois o tempo fazia-se pouco, vem o homem atrás e diz-me: - Posso confessar-me também? Claro. Voltei a sair e no fim diz ele: “Que alívio, isto andava-me cá dentro e a fazer mal à saúde”
Todos nós observamos que se tratavam de ovelhas sem pastor. Estavam sedentas de ouvir a voz do Pastor que não era eu.
Não vai há muito tempo numa vilazinha interior, ia sozinho por uma rua fora que não recordo o nome, mas, salvo erro, era a rua da igreja. Estava uma senhora idosa sentada e interpelei-a. --Então sozinha a ver quem passa? Responde ela: -“Que hei-de eu fazer, nesta rua só vivo eu e a vizinha ali da frente!...”
Se eu fosse um malfeitor eu já ficava a saber muito. Para ela ficar mais à-vontade e meter conversa comigo, apresentei-me. Sou padre e sou de Viana do Castelo. – De Viana? É de muito longe. Perguntei eu quantos padres há aqui nesta vila? - Há um que vem da Graça e tem muitas paróquias, tem muito trabalho, não tem tempo para ouvir ninguém. Às vezes só o vemos nos funerais. Nas festas, dá-nos mais alguma atenção, está por aqui mais tempo e conversa, de resto é missa e funerais.
Mais uma vez verifiquei que há ovelhas a morrerem à fome de uma palavra do padre porque, por princípio, deve ser mais credível é como fosse palavra “vinda de Deus”.
Há ovelhas a morrer à fome e sedentas de justiça, nos vales, nas montanhas, nas aldeias, nas vilas e nas cidades.
-Senhor Jesus Cristo, envia os sacerdotes para serem missionários com o seu Bispo.
Por isso todos os anos celebramos as semanas das vocações. Se cada comunidade pensasse que o pastor de quem precisam devia nascer da sua comunidade à ordem do Bispo, cada comunidade tinha a necessidade de ser correspondida com pastores de proximidade.
E a missão nunca acaba. Devem ser missionários para os idosos, para as crianças, para os jovens, para os adultos, isto é, é para as famílias e aonde houver uma ovelha, um rebanho tem de chegar a missão de Jesus Cristo que foi e é sacerdote, profeta e rei.
Como sacerdote tem de celebrar a vida com os outros, com sabedoria, convicção e alma.
Como profeta evangelizando, ensinando, falando da Palavra de Deus, de Bíblia na mão, levando a libertação aos cativos.
Como rei, só o será se servir, matando a fome, acompanhando os doentes, os idosos e acolhendo as crianças; abrindo caminho e portas para que todos possam passar para os prados verdejantes.
Podemos dar uma volta por essas terras onde às vezes havia um pároco, um ou dois capelães e agora se dermos essa volta dói-nos a alma ao ver irmãos que queriam alguma coisa que nem sequer era de pão para comer e matar a fome do corpo, mas de algo que lhes refrescasse o espírito e lhes vivificasse a alma, ouvir, escutar, saborear uma palavra de misericórdia, de paz e de esperança.
No entanto nem precisamos de sair de casa, basta ler os jornais, ver ou ouvir os comentários, os comentários dos comentários, a discussão pública dos jornalistas do papel, da rádio ou da televisão relatando tragédias em todas as partes do mundo, e vermos que são pessoas como nós, filhos e filhas de Deus; que no lugar delas bem poderíamos estarmos nós. O sofrimento alheio, nos dias de hoje, parece tornar-se algo banal, tão banal, que o contrário, parece ser mentira. Para nós cristãos, não deve e nem pode ser assim. Cristãos: leigos, padres ou bispos não podem alhear-se e todos temos de nos fazermos mais próximos, mais pastores com os olhos em Cristo e o coração na cruz. Não basta ter compaixão de boca, preocuparmos-nos muito, ou rezar muito, de modo que todos ouçam, mas com obras e obras de verdade ao jeito da missão de Jesus que acima referi.
                         A. Coutinho

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