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domingo, 17 de agosto de 2025

PADROEIROS DCE MAZAREFES

 

O CRISTIANISMO E OS  PADROEIROS DE MAZAREFES

 

S. Paulo teve intenção de vir à Península (Rom. 15,24-28), mas ninguém sabe se chegou a concretizar ou não a viagem. S. Tiago é o que se sabe. Não vamos falar dos caminhos de  Santiago. (No entanto, um testamento do séc. XVII, suponho que da família de A . Forte, meus vizinhos e que li quando andava no Seminário dizia que deixava bens a quem fosse por si a Santiago após a sua morte, uma vez que não o pôde fazer em vida).

Por ocasião das perseguições de Décio, no Séc III havia várias dioceses na Península Ibérica. Em princípios do século IV houve um Concílio peninsular e no séc V o bispo de Braga esteve presente no Concílio de Toledo (ano 400). É, por isso, muito provável que no século V houvesse já numerosos cristãos nesta zona da Península, inclusivé em Mazarefes.

Nessa altura já tinham passado muitas gerações sobre a quebra do mito a propósito do Rio Lima que o corajoso Décimo J. Bruto ultrapassou. A invasão da Península, em 411, não veio alterar muito os hábitos romanizados...

No século VI, vindo do Oriente, S. Martinho, bispo de Dume, ajudou com zelo apostólico, firmeza e dedicação a conversão dos suevos e a purificação das superstições ainda conservadas do paganismo nesta zona. Também, em meados deste século, realizou o 1º Concílio de Braga.

S. Simão teria sido o primeiro padroeiro da freguesia, pois os castrejos, habitantes pré-romanos, teriam já deixado, a alguns séculos, os altos dos Montes e o vale do Lima teria sido procurado não só para a agricultura colectiva, como também zona habitacional e o rio para a pesca. S. Simão era o apóstolo, advogado das tempestades e dos afogamentos e não o S. Simão estilita, aliás, como é natural porque os cristãos de Mazarefes dedicavam-se também nessa altura, a actividades aquáticas (à pesca, à extracção do sal e ao transporte pelo rio...).

A existência da actual Capela e documentos antigos, um deles de 985 (um dos poucos, anterior à nacionalidade), 1220, 1258, 1290, 1320, 1402, 1528 e 1551 mostram-nos que S. Simão de Junqueira era de tempos imemoriais: foi vila, foi couto, freguesia e a existência de dois padroeiros: "Sam Simam de Junqueira que se ora chama Sam Nicolau de Mazarefes."

Não se trata de duas freguesias, mas uma única freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes ou S. Nicolau de Mazarefes. Os seus limites, em 1063, seriam com Sabariz, Vila Fria, Darque e Anha.

            O documento mais antigo existente e anterior à nacionalidade, é de 985, século X, segundo consta de alguns autores de incontestável mérito. Este documento é uma doação das terras da vila de Mazarefes aos frades beneditinos de Ante Altares de Santiago de Compostela.

            “985, doação do conde Telo Alvites «in hora maris villa vocitata Mazarefes cum domibus (...) et cum suas salinas», a que, em 1603, Fernando Magno deu carta de couto: «in villa Mazarefes incipimus terminis id sunt (...) inter Gundulfe et Mazarefes (...) dividet inter Savariz et Villa Fria et Mazarefes (...) dividit inter Agnea et Mazarefes (...) Rio Covo (...) illa Junqueyra et inde in derecto at Limia recto estariz de Foz Maiore» («Arq. Port.» XXVII, ps150-154). D. Fernando deu carta de Couto, na vila dos Arcos de Valdevez, a Mazarefes.

            A presença dos Monges beneditinos  é incontestável, e não haverá dúvida que os monges deveriam ter propagado a devoção a S. Bento. Alguns achados, disso nos dão conta. Mas a Vila de Mazarefes já existia há mais tempo, e já se tinha perdido na memória dos "avoengos".

A subida das águas do rio, a inundação das suas margens devido ao assoreamento obrigaram os habitantes a refugiarem-se mais para sul, em zona mais alta e longe das águas.

É tradição viva ainda falar-se do cemitério junto a S. Simão. A calçada romana entre S. Simão e o antigo Passal onde acaba a Veiga e começam as bouças, ainda a conheci. Fala-se da última casa de Mazarefes quando a população se distribuía à volta da Capela de S. Simão como sendo no local onde hoje é a casa do "Necas Reis" e a primeira depois de toda a freguesia passar para cima. A primeira casa a construir-se mais a sul da casa do “Necas Reis” teria sido a casa das “Capotas”. É vulgar na Veiga, nos esteiros e nos muros encontrarmos pedras trabalhadas, antigos tranqueiros de portadas de quintais ou de casas. Como foram lá parar... não é difícil, apenas lá foram abandonadas e, caídas em ruínas, serviram, mais tarde, para parede umas, e outras estão, ou encontram-se, enterradas nos esteiros. Assim, observei na minha infância quando andava lá com o gado, e na minha juventude, quando comecei a interessar-me por estes assuntos.

Depois dos habitantes terem abandonado a zona baixa e terem ao lado a Capela da Senhora dos Prazeres, no lugar da Senhora, que depois lhe deram o nome de Nª Sra. das Boas Novas, após a imigração para o Brasil, não admira que a igreja do ex-convento começasse a servir a população.

Esta freguesia teve por isso dois padroeiros, talvez mais tempo usufruiu do patrono S. Simão desde o século X,  se não remontar ao século IV ou V, até ao século XVI, altura em que passou a existir alguma dúvida entre S. Simão e S. Nicolau. Esta dúvida deveria manter-se até ao séc. XVIII, segundo podemos deduzir de escritos do abade Matos.

O uso como igreja paroquial foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro, os fidalgos Pereiras e os Azevedos que tinham o direito de apresentação do abade.

            Em 1551, o mosteiro e todos os bens vieram a pertencer aos Fidalgos «Pereiras», os quais fizeram obras na Igreja. Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores, completando as obras que os «Pereiras» tinham começado, sobretudo de talhas de altares.

A igreja de S. Nicolau passou a ser a paroquial e, segundo diz o Abade António Francisco de Matos, daqui natural e pároco durante 50 anos, numa monografia que ele escreveu sobre Mazarefes, foi em 1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja, à freguesia.

 

Artur Coutinho

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