Era Assim… (2)
Não me ficava apenas pela cozinha. Gostava de fazer o que via fazer aos adultos. Estava a entrar na adolescência e procurava tirar trabalho das mãos da família.
Deste modo, em casa lavava as paredes da cozinha, caiava-as e depois de secas, as da cozinha, com a lareira e chaminé, com “olhar”, borralheiro e com o dependerão destinado à secagem de chouriças e chouriços. Preparava a cal e caiava as mesmas de longe a longe. Todas as semanas, ao sábado, gostava de apresentar o “sobrado” da cozinha lavado com sabão amarelo e de joelhos sobre um caixote (joelheira) e nas mãos uma escova de piaçá.
Era um regalo esperar que chegassem a casa e vissem um “chão novo”.
Serrava tábuas e fazia prateleiras para o meu quarto para colocar coisas.
Aos 11 anos já mexia na luz eléctrica. Mudava lâmpadas e fazia experiências. Mas, uma vez, na igreja da minha terra, no tempo de Natal fiquei agarrado à eletricidade do alto pinheiro do presépio. Parece-me que o meu instinto me terá salvado, saltando do escadote para o chão, estava sozinho. É que a energia não se vê, só se sente e, o que se vê, são os efeitos…
Quando brincava não era na rua, era na estrada municipal junto das cancelas do Caminho de Ferro e a guarda da Linha era a nossa Ed. de Infância. de mim, dos meus irmãos e das suas filhas., Com os colegas vizinhos mais próximos fazíamos festas a partir do quintal dos meus pais e jogávamos a bola, a macaca, a patela, o botão, o bogalho...
Gostava de levar na hora do recreio da escola colegas pobres a minha casa onde se comia do que houvesse a essa hora. Os meus pais nunca me reprovaram esta atitude, ainda que levasse os colegas a comer, presunto, chouriço, pão com azeite ou frutas do quintal.
Outro trabalho que gostava de fazer era de levar o gado para o pasto e de chegar a casa com ele de barriga cheia ainda que para isso levasse o mesmo para onde havia melhor comida, isto é, passar da propriedade dos meus pais para outra propriedade do avô paterno. Nesse dia uma vaca caiu num rego fundo e tive de pedir socorro a pessoas de Vila Franca que eram as demais perto. Trabalharam com êxito.
Havia dias seguidos a caminhar com o gado para a Veiga de Mazarefes, sobretudo, para a “Ponte da Veiga”. Aí observava as cobras de água, as subidas das marés, as lontras, os ratos dos esteiros e ia até ao poço da Gamela ver nadar os mais velhos e conviver com gente de todas as idades, Na veiga parecia que não estávamos na terra, mas noutro mundo calmo e, no calor, refugiávamos nas sombras e comia-se a merenda, enquanto uns roçavam, ou olhavam o gado, i. é, não deixar o gado ao abandon o. Tinha de estar "debaixo de olho".
Como a mãe andava sempre atarefada com o pai na lavoura, ao sábado ela passava a ferro a roupa. Mas eu começava, a tempo, a passar a minha roupa a ferro de brasas, porque na altura não havia outro meio e gostava de ser eu a fazê-lo. Engomava os meus colarinhos e os punhos das camisas, o lencinho de enfeite e os lenços de bolso, vincava bem as minhas calças e cuidava dos meus sapatos. A mãe sempre me ralhava talvez porque tivesse medo que queimasse a roupa ou que me queimasse com o ferro quente. Por isso, não fazia mais e deixava o resto para ela.
Um dia, eu e o meu irmão, por iniciativa nossa, fomos às bouças das Travessas, em Vila Fria, pela manhã cedo carregar um carro de mato que tinha ficado cortado no dia anterior. Sabendo disso por ouvir falar de que era necessário ir pela manhã, mas o trabalho da lavoura tinha de ter outro destino e, só de tarde, o iam buscar. Nós só tínhamos de ir para a escola e a casa ficava muito perto, uns 100 metros. Os colegas iam para a escola e nós com um carro de mato e colegas a ver-nos quando nós passávamos na estrada com o carro bem carregado. Entramos no quinteiro onde tirámos as vacas do carro, descambamo-las e a correr fomos pegar na saca da escola para chegarmos à hora.
Na escola não era mau aluno, mas repeti, na minha vida de estudante, a 3ª classe porque num só ano tive duas professoras regentes e o ano não começou bem e acabou mal. Não fui o único.
Na 1ª, 2ª e 4ª classe a professora foi a Isabel Ferreira de Sousa Santos Lima que recordo com saudade.
No fim da 4ª classe o meu pai pôs-me no Colégio do Minho a preparar-me para os exames de admissão às escolas de Viana e ao Seminário.
A professora D. Isabel não gostou muito por o meu pai não lhe ter informado que ia estudar porque ela teria muito gosto em preparar-me para os exames de admissão. Não precisava de ir para o Colégio.
Embora sempre fôssemos amigos e não só ela, mas os filhos e o marido mantínhamos boa amizade e aproximação, mas o casal já faleceu e o filho mais velho também. Resta da família, a família do José Amado e a filha Dra. Maria Nadir de Sousa Santos Lima, aquela que entrou, de carro, em Mazarefes comigo presbítero, ordenado nesse dia, até perto da Capela da Senhora das Boas Novas, onde me esperava toda a freguesia e crianças da catequese. A Maria de Belém, criança da catequese ofereceu-me um ramo. Tudo o que fizeram sob a batuta do pároco, eu desconhecia completamente.
Afinal, os que não acreditavam que eu pudesse ser padre, acabou-se. Fizeram festa com o Sr. Padre Sebastião Ferreira, hoje, Vigário Geral Emérito da Diocese de Viana do Castelo que agora se prepara para celebrar os 50 anos da sua criação (fundação) pelo Papa Paulo VI, hoje canonizado Santo..
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