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Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sou fibromiálgico - fibromiálgico contado na 1ª Pessoa


A Saúde um bem a não perder

O cuidado com o nosso corpo supõe o cuidado com o outro, “animus” corpo pensante e “anima” sopro de vida, alma. O cuidado com o nosso corpo supõe o cuidado com o corpo dos outros. Nós somos seres de relação e o “eu” não existe sem o “tu”. Diz Leonardo Boff que o “tu é o parteiro do eu”.
Este tu não é uma coisa qualquer, mas concretamente o outro com um rosto que faz com que não sejamos indiferentes. Qualquer rosto é capaz de nos obrigar a tomar uma posição porque nos diz algo, fala, interpela, provoca, evoca ou convoca e, de um modo particular, o rosto dos excluídos, dos pobres, dos oprimidos, dos sofredores...
Quando se fala do cuidado com o corpo, normalmente, fala-se do corpo e da alma, da matéria e do espírito, caso contrário o corpo seria uma parte do ser humano e não a sua totalidade. Fala-se do homem-corpo, homem-alma, para designar a totalidade do homem.






De facto o nosso corpo deixa transparecer a fragilidade humana. A vida corporal é mortal, por isso, quando somos concebidos começamos a envelhecer de uma forma evolutiva. Ganhamos energias, vimos a este mundo e continuamos a evoluir em energias até que, perdendo-as, vamos morrendo, lentamente, até acabarmos um dia.
Ganhamos corpo e espírito (sopro de vida) . O corpo vamos perdê-lo e o seu envelhecimento começa logo que nasce. Ele vai ser apenas um habitat da alma que será eterna - nunca morrerá, nem passará por ela o envelhecimento. Na morte, segundo a nossa fé cristã, dá-se o pleno nascimento do ser humano, quando chegamos à ressurreição que “é muito mais que a reanimação do cadáver, mas a concretização das virtudes presentes ao longo da vida terrena”. Aliás os Apóstolos sempre pregaram que, pela Cruz, Cristo nos deu a possibilidade de sermos novas criaturas como o “ Adão novíssimo” segundo S. Paulo aos Coríntios, na sua primeira carta, capítulo 15,versículo 45. É por isso que não vivemos para morrer, mas vivemos para ressuscitar, isto é para viver mais e melhor. Deixamos, na morte, para trás de nós, um cadáver que se degradará e transformar-se-á em pó, em cinza, em terra...e talvez só permaneça a memória das nossas virtudes ou dos nossos fracassos, pelo menos no coração daqueles que nos amaram ou nos acompanharam nas sendas desta vida terrena e mortal, enquanto no céu poderemos gozar a felicidade que na terra tanto desejávamos e pela qual tanto trabalhámos, mas, segundo o Espírito de Deus. Deus é Amor, o nosso maior e eterno amigo.
Neste tempo de liberdade, onde todos procuram saciar os prazeres até ao absoluto, não faltam vozes, nem sistemas de competetividade que geram egoísmo, a começar logo nas ascolas, o pior mal da nossa sociedade contemporânea empreendendo manipulações das consciências . Tudo isto gera conflitos emocionais tão grandes que o “não” ou o ”sim” éticos se relativizam ao ponto de ficarem para trás os valores positivos, objectivos, claros “e do respeito pela opinião dos outros”de respeito pelo tu.
A Assembleia Episcopal Portuguesa determinou que se celebrasse uma semana da vida, em cada ano, sendo marcado este ano, entre 16 a 23 de Maio. De facto conquistou-se o direito à vida, mas continua a ser uma farsa, sobretudo, no que diz respeito ao seu início e ao seu termo.
A vida é um dom de Deus. O respeito por ela deve ser tido em conta na cultura, o respeito por ela, em quaisquer circunstâncias.
No entanto, pode, quem for são ficar doente. A doença significa uma agressão, um dano à totalidade da existência, experiências sempre desagradáveis porque ameaçam a integridade do indivíduo,seja qual for a sua perspectiva (Cassel-1982). Quando me dói um músculo, um ligamento, um tendão qualquer, todo o corpo sofre, não é só isso que dói, mas sou eu que sofro. Se sofro, procuro a saúde, reintegrando-me numa vida sã, tanto a nível pessoal, como social. Há que reforçar a saúde para que ela cure a doença. É uma tarefa. Pode ser difícil, mas devemos fazer o que está ao nosso alcance.
Cuidar do corpo implica cuidar da vida que o anima, e das relações que passam por uma qualidade de vida satisfatória como pela higiene, pela alimentação, pelo ar que respirámos, pela forma como vestimos, ou pela maneira como nos apresentamos aos outros, ou organizamos as nossas coisas e nos colocamos num determinado espaço ecológico, material e, espiritualmente, falando.
Cuidar do nosso corpo significa estarmos preparados para sermos criativos na vida dos compromissos, dos trabalhos e também dos encontros, nas crises existenciais, sucessos ou fracassos, saúde ou sofrimento. Aprender a lidar com a dor e a ser feliz com o que se tem. Se assim o fizermos seremos cada vez mais pessoas amadurecidas, mais autónomas, sábias, plenamente livres e humanamente mais equilibradas.
Cuidar do corpo é, portanto, cuidar da alma porque a desarmonia consigo mesmo, com o outro ou com a própria natureza pode ser fonte que afecta o desequilíbrio físico – psíquico – espiritual do ser humano, isto é, também produzem doenças.
A cura acontece quando se restabelece o equilíbrio humano e se... “o pecado corresponde à doença, a graça... corresponde à cura”.
Cuidar da nossa saúde significa manter a nossa visão integral, buscando o equilíbrio sempre por construir entre o corpo, a mente e o espírito; convocar o médico para o corpo e o sacerdote para o espírito para trabalharem juntos, visando a totalidade do ser humano e, se for o caso, o psicólogo para a mente. Se o espírito estiver bem esclarecido não precisará do psicólogo para a mente, a não ser que haja desvios comportamentais graves... e tão anormais que exijam algo mais que a intervenção do padre e do médico.
Diz José Ribeiro Nunes que o sofrimento nos leva a reflectir sobre o modo como estamos a viver a nossa vida, a nossa identidade, os nossos valores; desafia a nossa humanidade, dando-nos oportunidade de descobrir e construir novos significados.
Muitos males de hoje vêm do abandono de valores espirituais que se perderam e, por isso, há mais gente hoje a recorrer aos psiquiatras, aos psicólogos, aos artistas da feitiçaria ou similares. Aqueles que não vivem uma fé esclarecida e coerente, então, refugiam-se nas seitas, quer de origem cristã, quer de origem em religiões orientais...
Estamos na civilização da competição, do ter, a começar nas escolas, com a competição do sistema educativo actual; e como disse, um dia Frei Bento Domingues o maior mal dos portugueses é o egoísmo.Estou com ele, e é por isso que há pouca relação com o “Tu” porque este egoísmo leva a afastar o outro e não a aproximá-lo.
Cuidar de nós mesmos sem egoísmos e vaidades exageradas, é estar atento ao outro que temos como o “Tu”, com quem convivemos, e nos temos de respeitar e amar, ainda que isso nos traga a necessidade de renunciar a muitas coisas que também eram boas para nós...
Se assim fizermos garantimos uma qualidade de vida superior com a saúde que Deus nos permite numa Vida que Ele nos deu como um Dom.
A prevenção da doença, ou da dor, está em cada um de nós, quando saímos do nosso egoísmo e olharmos os outros que, à nossa volta, também sofrem. Interessa pois valorizar, dia a dia, a nossa caminhada, e dar as mãos ao outro, ao tu, que precisa de mim para percorrermos todos o caminho certo ao encontro do objectivo final.



Um pouco da minha história pessoal


O meu nome é Artur, em honra ao nome do meu padrinho de Baptismo, tio por afinidade, pois era marido da irmã de minha mãe. Nasci, em Mazarefes, concelho de Viana do Castelo, no dia 7 de Janeiro,uma terça-feira, pelas 17,30H, em dia de S. Raimundo de Penhafort, cujo corpo se encontra sepultado na Cadedral de Barcelona. Sempre fui uma criança muito nervosa, segundo reza a história da família. Lembra-me de algumas birras passadas sobretudo com a Dolores ou com a Maria que eram as criadas da casa do meu avô. A Maria já lá estava quando eu nasci. Em 1994 fez cinquenta anos de casa, pelo que a família lhe promoveu uma festa para a qual ela convidou quem quis. Era para nós uma pessoa de família. Faleceu na minha casa, em Viana, em Maio de 1996. Poucos meses depois, em Outubro, faleceu também o meu pai. A Dolores, depois de dezoito anos em casa de meu avô, foi para a casa da minha tia Maria de Jesus, em Barroselas, única irmã de meu pai.
Algumas dessas birras estavam relacionadas com a “Peregrinação a Santa Luzia”, com a passagem pela casa do tenente Teixeira, onde a minha avó passava geralmente um mês, em Agosto, para frequentar os banhos quentes da Praia Norte.
No baptizado do meu irmão disse que queria ser padre. No baptizado da minha irmã já não queria porque já havia um padre - o Padre José Ribeiro, o abade de Mazarefes.
Gostava muito da minha tia e madrinha, a tia Maria, esposa do Artur. Também do meu tio Abel, marido da tia Maria, irmã única de meu pai, e padrinho do meu irmão. Gostava muito da minha tia Conceição, esposa do tio José, irmão da minha mãe, residentes em Vila Fria. Eram pais de 5 filhos, únicos primos, todos rapazes. De resto não havia mais família. Com os primos pouco convivia porque viviam em Vila Fria. O tio José ficou viúvo. Casou novamente e teve duas filhas, a Sandra que baptizei, como diácono, e a Renata. Com estas duas duas primas, o relacinomento é ocasional dada a diferença de idades entre nós.
Como hiper-activo recordo que quando eu era pequeno, já na escola punha tudo em alvoroço. Sempre fui um lider de um “Bando” de rapazes e raparigas da escola e fazia os projectos de descobertas,entrando nas minas de água e, em Santo Amaro, onde os de Sabariz tinham medo, à procura da sala das feiticeiras, numa mina coberta de mato, com pinhas a arder nas pontas duns paus, como se fossem uns archotes. Acontece que umas das coisas a que me habituei mal desde criança, foi a comer muito depressa,menos as batatas porque não gostava delas e, por isso, até alguma porrada apanhei. Os colegas falam da minha capacidade de iniciativa e de solidariedade já no tempo da escola. Era muito criativo. Defendia-me. Não podia ver ninguém com fome, segundo me lembram de vez enquando alguns. Aos colegas mais pobres levava-os para casa e dava-lhes do que havia na ocasião, sobretudo do forno da brôa. Alguns até gostavam de pão milho molhado em azeite. Do toucinho ao presunto da adega, da fruta em madureiro quer fosse das árvores do quintal ou dos campos dos vizinhos, conforme as necessidades, tudo era material para consumir e distribuir no recreio da Escola ou no fim das aulas. Também era festejeiro e metia toda a rapaziada ao barulho ao ponto de um dia a GNR andar à minha procura, tendo os meus pais respondido...por mim, embora em casa.
Os meus pais saíam para o trabalho com os jornaleiros e eu ficava em casa e cozinhava por minha iniciativa... e cozinhava bem!... Lavava a louça, esfregava o soalho todos os sábados para ter a casa limpa, e sobretudo em vésperas de festas, caiava, limpava os vidros das janelas, passava a ferro, jardinava, ia com “as criadas” cortar erva, pendão ou o millho, apanhava feijão, ajudava na cavagem dos cabedulhos, etc...cuidava dos irmãos e gostava de mostrar trabalho realizado aos meus pais. Pela manhã, de madrugada, já eles tinham saído para o campo, eu, com o carro das vacas, e com o meu irmão íamos carregar um carro de mato que tinha sido cortado no dia anterior. E era uma alegria às 8 horas da manhã, antes da escola, estar a chegar com um carro bem feito.
Recordo que na noite de uma serenata quando o Américo Tomás veio inaugurar o Navio Funchal e o Palácio da Justiça, os pais vieram para a festa. Houve uma serenata. Entretanto em casa desenhei e pintei em papel grande de embrulho, talvez 100mmx80mm um par de dançarinos regionais que levei para a Escola para mostrar à professora e à rapaziada.
No Seminário, durante as férias, organizava uma série de coisas para todos, desde o jogo, festas, convívios, ao teatro, passeios, concursos,...
Quando jogava futebol, no Seminário ou nas férias, jogava sempre à defesa.
Na Escola e no Seminário até ao 2º ano nunca fui um aluno muito seguro, não trabalhava muito. Só repeti a 3ªclasse da Escola Primária. Gostava de sonhar e apresentar trabalhos. De noite era muito sonâmbulo até ao 3º ano do Seminário ( 14 anos!!!!! ). No Seminário sujeitei-me à disciplina e até levei em comportamento um “Bom?”, mas ocupava-me sempre do que mais podia e nas férias os colegas da terra falam por mim...No 4º ano (hoje 8º) do Seminário aluguei uma camioneta para juntar os seminaristas todos de Viana e virmos de férias logo à primeira hora de toque de saída, ou abertura da porta. Chegávamos mais cedo a casa e alimentava-se o bairrismo pela nossa terra... Viana que devia ser Diocese!...
Nas férias organizava uma série de coisas para todos, desde a praia, ao jogo, ao teatro (como encenador, apresentador e pintor de cenários), passeios, concursos, com rapazes e raparigas à mistura, tanto com os jovens da terra,como com os jovens de outras freguesias vizinhas, sobretudo de Darque.. ....O Cónego Luciano, que Deus haja, disse aos seminaristas de Filosofia que se tivesse sabido o que eu fazia em férias, não me teria deixado ir para Teologia, tinha-me mandado embora do Seminário (hoje 12 º ano)...
No curso de Filosofia, fiz-me, membro da Legião de Maria a quem devo o meu rumo no ministério sacerdotal. Continuei em Teologia. Fiz extensão deste movimento com o João Lima, colega teólogo, e outro estudante da engenharia, de Sacavém, em Portalegre, Abrantes e Castelo Branco, numas férias de Verão.
No último ano de Teologia, fui o “bispo” da Colónia Vianense e levei ao rubro esta “associação” a favor da criação da diocese pelo que fui ameaçado por D. Francisco Maria da Silva de expulsão, embora já fosse diácono, quem me “savou” da situação foi Monsenhor Daniel Machado.
Ordenei-me em 1972, depois de um ano de estágio, como diácono, em Balazar. Fui director interino na Casa dos Rapazes e depois, fui paroquiar as três freguesias da Serra de Arga e a de Dem. Em 6 anos que lá estive, desenvolvi um trabalho de restauro das 3 Igrejas Paroquiais e 4 Capelas, para além de frequentar a Faculdade de História, no Porto e de fazer 3 exames “ad hoc” em Coimbra e no Porto. Dediquei-me também à investigação e levei a Serra d’Arga a ser conhecida por jornalistas e arqueólogos. Em 1973, fundei dois postos de Telescola, onde era professor a tempo inteiro. Colaborei com as Juntas de Freguesia (4), para assuntos de acessos,comunicações, energia elétrica e venda do leite, o mais rico da região em gordura, nas três Argas, organizei teatro, festas,convívios, debates, etc...Tenho a consciência de que não estive, de facto, parado. Nunca me senti só, mas sempre bem acompanhado por paroquianos responsáveis e atentos à sua missão. Reunia as Comissões Fabriqueiras regularmente, tive Conselhos Paroquiais de Pastoral nas 4 freguesias, Ministros Extraordinários da Comunhão e organizei as catequeses que não existiam em nenhuma delas.
Sempre gostei de corresponsabilizar os paroquianos. Talvez, por isso, na Serra d’Arga toda a gente ainda se lembra de mim com saudade.
Sempre fui destemido, nunca me faltou coragem e força para andar sozinho, até no estrangeiro e em qualquer lado. Ingenuamente, talvez, tive já ocasiões em que demonstrei essa coragem. Desde pequeno tenho lembranças dessas. De noite, muitas vezes saía, à meia-noite na hora das “Procissões de defuntos”, “Lobisómenes” de que falavam os velhinhos, e passava em todos os cruzamentos onde diziam aparecer as feiticeiras, ou a coisa má (talvez o diabo ou as almas do outro Mundo). Nunca vi nada, nem uma vez que fui ao cemitério às 4.00H da manhã, por uma aposta. Podia me ter acontecido mal, pelo facto, de ir por aposta, um pouco de ingenuidade... mas nada sucedeu porque a rapaziada foi séria.
Uma vez, por engano, tinha talvez 15 anos fui às três horas para a Igreja, abrir a igreja e tocar o sino para a missa. Na Sacristia, começei a ter dúvidas pois o relógio da mesma só marcava 3 horas da manhã e estava a trabalhar, enquanto o sino da Capela das Boas Novas badalava 3 horas. Fiquei ali na sacristia a dormir até às 6 horas.
Um dia fui agarrado por um polícia húngaro e entregue no Cais dos Caminhos de Ferro a dois policías quando, por lapso, quis atravessar sozinho a fronteira entre a Hungria e a Checoslováquia sem visto. Outra vez, dois polícias polacos, em Varzóvia, agarraram-me por causa de uma foto. Estavam à paisana, e depois de me terem dado uns socos no peito, decidi fazer-lhes a vontade abrindo a máquina fotográfica e dando-lhes o rolo. Deram-me dois beijos na testa, mandando-me em liberdade... Estava com um colega de Familicão, e ambos desfazados dum grupo de mais de 50 pessoas.
Na Serra de Arga uma vez mais a minha coragem, ou a minha ingenuidade, me salvou de ter apanhado um tiro. A arma foi-me apontada quando estava a uns 70 metros, não parei o carro passando por ela a 5 metros de distância. Percorria a Serra d’Arga a qualquer hora da noite, no meio de nevoeiros e tempestades. Por isso, durante 20 anos levei os Jovens a fazer férias na Serra e a mostrei-lhes descobertas que tinha feito no campo arqueológico, histórico, etnográfico, religioso, geográfico, hidrográfico, zoológico, botânico e paisagístico, quer de dia, quer de noite.
Outra vez apanhei um ladrão na Igreja, já aqui em Viana, e deitei-lhe a mão direita sem o largar mais... atento aos seus movimentos enquanto uma funcionária fechou a porta da Igreja. Depois identifiquei-o e dexei-o ir em liberdade...
Sempre tive a sensação de que o medo só o devemos ter dos vivos malfeitores. Quem não tiver feito mal, não terá medo de vinganças ou retaliações pode ter. Sempre que uma pessoa diz que é forte, compreendo que não há nada forte que não seja fraco ao mesmo tempo, também o ferro é forte, mas o fogo funde-o.
No entanto perdi toda a coragem e força nas minhas pernas e braços, no meu corpo no dia 19 de Janeiro de 2001, quando chamado pelo alarme, cheguei e encontrei a sacristia a arder. Entrei e descarreguei 4 extintores enquanto gritava “fogo” a pedir socorro... o Zé Galvão trazia os extintores. pois que sabia onde estavam e outros chamavam os bombeiros. Nessa altura entrei em exaustão e estou convencido que isto fez despoletar o gene da minha avó paterna, aquela avó única - que gostava que eu fosse padre. A ela, sempre a conheci de muletas, a partir dos 50 anos até cair numa cadeira de rodas, falecendo aos 76 anos, com o diagnóstico de sofrer de dores ciáticas, um ano depois de ter sido registado na OMS a doença da fibromialgia, no quadro das doenças reumáticas.
As dores já vinham de longe, mas não com a força e violência que me atacaram naquele 2001 porque o sono deixou de ser tão reparador como era de desejar.




A minha saúde

A minha mãe sofreu durante toda a minha gestação e durante um mês após o parto. Foi acompanhada pelo Dr. Garção, de Barroselas, pois nessa altura tinha ardido a casa do Dr. Lages. O Dr. Garção chegou a ir lá a casa mais de uma vez por dia, mesmo sem o chamarem.
Na infância, até aos 4/7 anos sofri dos ouvidos e acabou por passar com remédio caseiro, ( leite de mulher...)
Muitas vezes, durante o ano, caía doente com amigdalite. Era assistido pelo Dr. Lages, médico da Casa do Povo, que nunca aconselhou a operação.
Também frequentemente tinha “levantamento de sangue”, assim ouvia chamar-lhe. Nada mais nada menos que furúnculos e vermelhões pelo corpo com uma grande comichão até fazer ferida. Numa das vezes, para atenuar essa comichão, a minha mãe à noite deu-me uma fricção de álcool nas costas e o meu irmão, que teria 4 anos, estava a alumiar com uma candeia, pois ainda não havia luz elétrica na Terra. O que só foi electrificada em 1958. Aconteceu que meu irmão inadvertidamente pegou fogo às minhas costas e fugi pela casa fora com as costas a arder, em vez de esperar que a minha mãe me abafasse o fogo com alguma peça de roupa. Foi uma noite terrível. A queimadura foi curada com um emplastro de gema de ovo, remédio receitado por uma vizinha,
O que é certo é que fiquei curado e nunca mais tive nada dessas coisas...a não ser alguns pequenos problemas de pele que depois de mostrar a um especialista, deu-lhe pouca importância, mas que às vezes me surpreende. Ainda em criança surgiam feridas no corpo, sobretudo nos membros inferiores e superiores e o tratamento natural era o suco amarelo de leitugas. Eu próprio resolvia a situação.
Na 4a classe, 11 anos, tive uma paralisia facial que se repetiu no 4° ano e no 7º ano do Seminário. Fui tratado da primeira vez com injecções B/12 precritas pelo Dr. Alvaro Lages. Pela segunda vez fui tratado pelo Dr. Rocha Peixoto, neurologista, de Braga. E, na terceira, fui tratado na Casa de Saúde de S. Lázaro, em Braga.
No Seminário das duas vezes fui tratado em neurologia. Nunca mais se repetiu.
No Seminário, pelos 15 anos, comecei a ter dores de intestinos e de estômago... Quando andava bem do estômago, os intestinos doíam sempre. Fiquei com a impressão que isso acontecia mais quando comia vegetais, como hortaliça. Desde o 5º ano até ao 12º ano no Seminário comia sempre numa mesa especial, a mesa destinada aos da dieta.
Aos 18 anos fiz uma operação para tirar as amígdalas,no Pavilhão Cirúrgico do Hospital da Misericórdia de Viana do Castelo. Estive oito dias internado, quando outros que fizeram a mesma operação no mesmo dia, saíram no dia seguinte. Acabaram-se os males de garganta.
Na minha juventude perante as minhas queixas de dor e de incompreensão dos meus colegas, comecei a pensar que a vida era para mim, mesmo que fosse uma vida de sofrimento...
Aos 22 anos fui operado à apendicite no Hospital de S. Marcos onde estive 15 dias internado quando os colegas, ao fim de 7/8 dias, tinham alta. Depois desta operação nunca mais tive dores de intestinos nem verifiquei que os vegetais me fizessem mal.
Em 1973, tive uma gripe que me reteve oito dias de cama com altas temperaturas. O Médico, o meu amigo Dr. Augusto, de Caminha, por duas vezes me foi ver. Por fim, fui à Casa de Saúde “Paula Santos”, onde se verificou que as temperaturas vinham de uma grande desidratação do organismo, tendo ficado bom, logo no dia seguinte.
As minhas análises acusavam sempre umas alterações na função hepática. Cheguei a tomar Legalon receitado pelo Dr. Cruchinho. O Dr. Álvaro Rodrigues insistia em dietas muito rigorosas e com o Roter.
Sempre continuaram pelo Outono e pela Primavera as crises de estômago. Sobretudo nessas alturas.
O Dr. José Maria quis operar-me ao estômago, dizendo-me que era a mesma doença de meu pai que tinha sido operado por ele em 1958. Acompanhado por um cirurgião, meu amigo, parisiense, Dr. Pièrre Nogrette, fiz uma biópsia, em Paris. O médico, Dr. Malvesin, disse que tomasse Tagamet e que dormisse uma média de 8 horas/dia, devido à minha actividade, e evitasse os salgados, reimosos, condimentos e ácidos...
Na minha juventude, perante as queixas de dor e incompreesão de colegas ou superiores, comecei a pensar que seria tudo normal e que a vida era para mim ainda quer fosse uma vida de sofrimento!...
Anos depois o Dr. Melo mandou-me trocar o Tagamet pelo Ulcermin. Descobre-se uma hérnia no hiato. Mais tarde perguntou-me se queria erradicar o helicobacter. Fiz um exame para confirmar o diagnóstico. Foi positivo. Aceitei. Fiz o tratamento. Nunca mais tive problemas de estômago.
Uma vez ou outra, últimamente, depois de me deitar tenho sinais de dor e azia que relaciono com comida menos indicada ou com digestões mal feitas. É raro surgirem estes sintomas depois de deitar aparece algum sinal de dor ou de azia, mas é raro porque evito comidas menos indicadas. Uso comida mais leve e em menor quantidade à noite.
Dores sempre tive noutras partes do corpo, mas foram aumentando cada vez mais.
Devido a resultados de análises o Dr. Melo mandou-me fazer uma ecografia abdominal que acusou esteatose hepática.
Por causa de dores lombares, de pernas, de braços fiz fisioterapia em várias épocas, na fisioterapia do Rodrigues. E deixei de fazer o Compasso Pascal.
Numa ocasião, aí pelo ano de 1980, devido a dores de coluna o Dr. José Francisco, meu ex-colega e que Deus haja, deu-me uma injecção de cortizona. Foi o modo como consegui erguer o corpo.
Algum tempo depois, comecei a dormir mal, durante alguns meses. Não sei qual a razão. Andei uns meses a dormir mal . Não era cansaço. Acordava muito cedo, às 3 ou 4 horas da manhã...não era depressão pelo que me parecia, ninguém me deu explicações. Só que uma ou outra vez doía-me a cabeça...sem razões aparentes. Esta situação passou sem saber como.
Passados uns anos o Dr. Melo mandou-me fazer um Doppler às pernas por acordar com dores de pernas e dos dedos dos pés.
Mandou-me para ortopedia por causa de dores no ombro esquerdo. Não resultou. Aqui fiz infiltrações, mas também não resultaram. Fiz fisioterapia durante mês e meio no Dr. Rio, a conselho do Dr. M. Afonso, mas copntinuava sem resultados.
Desisti.
Tive dores de costas várias vezes e procurei no SLAT a Dr.ª Luísa Pimenta de Castro. Os resultados radiológicos ali efectuados não revelaram qualquer tipo de doença polmunar.
Quando me doía o peito ia ao Dr. Roque e nada se concluia. Apenas se encontrou um pequeno aperto na aurícula esquerda.
Um dia acordei com dores de olhos.
Tive diplopia, sem se saber qual a razão, mesmo depois de consultar três especialistas e de fazer vários exames inconclusivos.
Tive hipertensâo (tensões mínimas elevadas) corrigido com Concor.
Também fiz umas análises para ver se tinha a “doença de “Crohn” uma vez que acordava com dores de intestinos, coisa que já não acontecia há muitos anos. Estas dores de agora só apareciam de noite,fazendo-me perturbar o sono.
O que é certo é que em 2001 as dores eram generalizadas, dispersas, por todo o corpo, dormia mal e andava mal, nem fiz passeio no Verão. Andei muito mal.
Acordava com um grito de dor, enrolado, quase em posição fetal e com os dentes cerrados.
Em Setembro, o Dr. Melo descobriu ferritina em análises... Eu fiquei iludido, “a pensar cá comigo e com os meus botões” que as dores seriam disso. Passei um ano 2002 mais ou menos, mas abusei de Nimed e mudei a alimentação, procurei produtos naturais e tomava chás. Passava melhor, mas não estava bem. Sempre a queixar-me de dores. Já desde 2001, de 7 de Janeiro que não ingiro álcool e só como peixe ao almoço. Carne, só ao domingo.
Quanto à ferritina fiz um exame bio-genético que deu negativo para verificar se havia hemacromatose. Nessa altura, a Dra. Graça Porto, hematologista , no Hospital de Sto. António disse que poderia não ser hemacromatose, e que uma biópsia ao fígado seria mais concludente. Conhecido este resultado o meu irmão, que é diabético, fez o mesmo exame, a conselho médico. Embora os níveis da ferritina do seu sangue fossem até superiores aos meus, verificou-se também que não tinham origem genética..
O Dr. Melo mandou-me a reumatologia.
Com dores de cabeça e problemas de memória fui também mandado a neurologia.
Consultei um psioquiatra amigo.
Desabafei com o meu irmão dizendo-lhe que tinha mais dias maus na minha vida do que bons.
Quinze dias depois telefona-me a minha cunhada, do Porto, a dizer-me que se sentia tantas dores... podia ir a uma Clínica de Dor no Porto, em frente no Hospital Militar. Ela tinha assistido a um programade televisão onde falaram sobre dores e achava que os meus sintomas se enquadravam nas minhasqueixas.
Fui.
Na primeira consulta relatei a minha vida em relação à saúde. O médico viu-me e ouviu-me. Fez os seus exames, auscultou-me dos pés à cabeça. Palpou com alguma pressão em certos pontos do corpo. Mandou-me sentar e disse-me que tinha sintomas de dores músculo-fasciais. Receitou-me medicação para três semanas, mas eu só lá voltei ao fim de um mês porque na data de ir, fui a Cabo Verde. A falta de Bialzepan, em Cabo Verde, fez-me andar de novo com dores. Parecia um milagre quando tomei pela primeira vez as doses recomendadas pelo Médico, Dr. Sanchez Silva, fazendo prova reapêutica. Comecei a dormir sem dores, a dormir melhor e a andar melhor em todos os aspectos.
Na segunda consulta foi-me diagnosticado ser portador de Fibromialgia.















O que é a Fibromialgia?

Pelo modo como o Dr. Sanchez Silva tratou e explicou o assunto, então não fiquei com dúvidas,mas...
Será, não será? Eis a questão!
Amigos meus convidaram-me a ir a um neurologista alemão, e eu lá fui. Fui atendido pelo Professor Dr. S. Mhor no Hospital: johanna-etienne-Kankenhaus (Corunum), da cidade de Neuss. Chegou à conclusão de que era fibromiálgico, mas não concordava com a medicação que estava a tomar. Escreveu uma carta para o meu médico português, mas este não aceitou a mudança do tratamento uma vez que me prejudicaria imenso a próstata, dada a minha idade.
Os mesmos amigos levaram-me a um outro neuroligista especializado,na India, em medecinas orientais e em acumpuntura, Dr.Bernnard Kling. Fez-me também o seu exame e chegou à mesma conclusão. Disse que, por vezes, tem tido bons resultados com a acumpuntura, mas seria necessário estar lá um mês, e teria de continuar a tomar drogas naturais toda a vida. Não tem cura total.
Um amigo espanhol levou-me a um famoso reumatologista espanhol , o Dr.Ceferino Barbozan Alvarez. Depois de me examinar, disse-me que era fibromiálgico e que se me sentia bem com a medicação que estava a tomar que não havia razão para fazer alterações aos medicamentos. Quando lhe pedi, mais tarde, via fax, um relatório médico para apresentar a uma Junta médica, ele escreveu que era portador de Fibromialgia de grau IV, quando o máximo é o grau V. Tenho dúvidas, ou então, é por isso que o médico que me acompanha se mostra muito satisfeito porque estou ,de facto, a controlar-me muito bem. Ele nunca me disse qual era o grau da minha fibromialgia e eu também nunca lho perguntei.
Não sou capaz de definir a Fibromialgia. Apenas a posso descrever pela minha própria experiência, por aquilo que ouvi e pelas poucas coisas que li, alemãs, espanholas, brasileiras e portuguesas.
Tudo já me tinha sido explicado pelo Dr. Sanchez Silva. Comecei a ter outra qualidade de vida, embora as dores não me tenham abandonado de vez.
Trata-se de uma situação dolorosa, generalizada e crónica com manifestações também de fadiga, indisposição e distúrbios no sono. As dores são musculares, tendinosas... e de ligamentos.
Esta doença só foi inscrita na OMS no quadro das doenças reumáticas em 1970. Ainda não se chegou a um consenso sobre a sua origem ou sobre as suas causas e os médicos dividem-se nesta discusssão. Há neurologistas que dizem ser do seu foro, há os reumatologistas que puxam a “brasa para a sua sardinha”, e as especialidades não se entendem.
Em meu entender e, por experiência própria, julgo que esta doença deve ser do foro da neurologia. Não me parece que tenha alguma coisa a ver com os ossos, mas não sou médico.
Talvez os médicos de família devessem estar mais bem infotrmados sobre este assunto para poderem diagnosticar atempadamente a doença uma vez que, actualmente, só o fazem por exclusões, com todos os inconvenientes que isso acarreta para os pacientes.
Os sintomas não são constantes, dependem dos dias, das horas e de tantas coisas que ainda não compreendi plenamente. Sei apenas que quando elas aparecem... eu já me cuido mais e procuro não forçar porque foi isso que o médico mais me recomendou.
Ficar sempre aquém e não querer sequer chegar à fronteira para poder viver com qualidade de vida, pois para já não há tratamento... há controle, mas não há cura...as dores acompanham-nos todos os dias, com maior ou menor intensidade.
Segundo o meu médico, citando fontes de estudo, calcula-se que em Portugal 5% da população sofre desta doença sobretudo as mulheres a partir dos 40 anos, estando em expansão. Já Hipócrates descrevia a dor músculo-esquelético difusa. No século XIX é bastante desenvolvido este estudo, e, no século XX dá-se-lhe o nome de “Fibrotise”, (alterações fribromusculares), até à sua inscrição na OMS, no quadro das doenças reumáticas e aceites por Portugal, com o nome de Fibromialgia.
A fibromialgia não é uma doença de psiquiatria, embora possa causar depressões. Também não é doença do foro psicológico, embora o psicólogo nos possa ajudar no campo comportamental e na aprendizasem em conviver com ela e em a aceitar.. O doente de fibromilagia não tem necessariamente problemas de consciência, falta de paz interior, nem desvios comportamentais, apesar de saber que não tem cura. Tem controle. Não há medicamentos específicos. O tratamento para um, pode não servir para outro, e quando um Fibromiálgico se queixa é porque tem razões para se queixar e mais vale queixar-se do que refugiar-se em si, introveter-se, cair em depressão e perder auto-estima pela vida. Também não é vulgar o fibromiálgico fazer teatro...nem é fácil, se o pretender. Tem sempre a alegria e sente sempre a felicidade de um dia bom, e nem sequer pode, nem consegue fingir o contrário.
É uma doença que o médico de família deve acompanhar, tentando multidisciplinarmente dar qualidade de vida a estes doentes, independentemente do grau da doença em que este se encontrar.
A Fisioterapia só pode ajudar se for minisrada por técnicos que conheçam bem esta doença.
Também o exercício físico espontâneo, ou, personalizado é útil, desde que seja, coordenado por técnicos que conheçam a doença.
Actualmente faço exercício espontâneo sem acompanhamento, em água a 34º /35º. Faço 5 horas diárias, desde que intercaladas, o que não chega a cansar-me, nem a provocar quaisquer dores. Nessa água, sou como “um peixe ”, No entanto,mas ao fim de uns dias, após a “hidroginástica” ainda que a tomar as “droguinhas”, volto ao mesmo, pois nunca as deixei, nem esquecem. A dor lembra!...
A compreensão da família, dos amigos, do seu médico pessoal, das Associações de Doentes, etc...são ajudas importantes porque são testemunhos da verdade e até podem participar na criação ou descoberta de valores que ajudam o doente a dar novos significados para novas situações.
Na “Populorum Progressio” o Papa Paulo VI diz que deve ser uma preocupação constante da humanidade o desenvolvimento espiritual e humano de todos e não só procurar o bem particular. Por isso mesmo aceitei o desafio para escrever estas linhas, para ter ido à Televisão, em 12 de Maio de 2003 para dar o meu testemunho e para fazer parte da Associação de Fibromiálgicos do Porto (AFP). Estou convencido que já aprendi a viver com ela, a gerir este estado de dor. Assim como a fazer parte da Associação de Fibromialgia, no Porto, (AFP).
Segundo o Papa actual, João Paulo II, temos de nos determinar com firmeza e perseverança no empenho pelo bem comum. “Todos somos responsáveis por todos”, à procura do bem comum da sociedade não só no plano individual, como colectivo.
É uma doença crónica. Podemos dizer que quem tem uma doença destas é um deficiente? Eu espero não chegar lá. Quero controlar-me. Estou convencido que já atingi o controle, isto é, a gestão da dor. É uma doença dos fusos musculares que trabalham de uma forma deficiente. Os comandos entre o cérebro e as periferias não funcionam bem, (são os neuro-transmissores). Há dor, noite e dia, em todo o corpo ou em partes. Às vezes, como no meu caso, é mais geral, braços e pernas, dedos das mãos, nos carpos ou dos pés ( nos dedos e nos tarsos) e cabeça, problemas de voz, etc. Às vezes os fibromiálgicos nem podem rir porque têm dores nos músculos da face, o que também provoca um mau funcionamento dos maxilares e a consequente dificuldade em comer. Tudo isto acarreta,como é natural, o mau humor. É triste!
Este doente varia muito de humor durante o mesmo dia. Pode acontecer de tudo.. Sobretudo arrasta consigo um cansaço imenso, logo pela manhã ao acordar. Levanta-se mais cansado do que se deita. É difícil levantar... depois durante a manhã, melhora-se alguma coisa até à hora do almoço; depois à tardinha sobrevem o cansaço. Acontece que as dores são sentidas durante todo o dia, mas não com a mesma intensidade , podem sentirem-se só durante algumas horas ou dias. Vão e vêm. Dependem dos esforços físicos que se façam, alterações de clima, ou de ambientes, de conflito ou situações de responsabilidades acrescidas, preocupações,... etc...e muitas vezes fica-se sem definir a causa da dor...
São poucos os dias plenamente felizes que um fibromiálgico sente.
Por vezes perde-se a capacidade visual e precisa-se de muita luz por causa do cansaço dos músculos oculares, sobretudo quando se conduz, ou até na celebração da missa, em virtude de os músculos fazerem mais esforço - tanto se olha para o livro, como se olha par a assembleia de imediato e esta estende-se por um espaço superior a 6 metros.
Já precisei para ler ou escrever na minha sala de ligar dois candeeiros acesos de 9 lâmpadas cada um e de 40W cada uma delas e ainda mais uma lâmpada de 200W de alogénio. Mesmo assim chegava à exaustão e a deixar de ver. Este comportamento é errado porque nunca se deve insistir quando não se consegue executar unma tarefa. O único remédio era ir descansar. Noutra ocasião surgiu-me o problema da diplopia que me levou a consultar vários especialistas e a fazer alguns exames (TACs) à cabeça,aos ouvidos,à tiróide, e outos mais que nem me lembro. Andei com tonturas e vertigens.
Em 14 de Janeiro de 2002 fui levado ao Hospital porque ao acordar, parecia-me andar tudo à volta e tinha a sensação de estar a cair num poço...fiquei ali, no quarto, à espera que tudo acabasse... insisti e levantei-me, depois de acalmar um pouco. Saí de casa, mas caí ao chegar ao Cartório. No Hospital fui visto por um Otorrino, fiz um TAC cerebral e o Neurologista disse ter sido um episódio de AVC, receitou-me Tecnosal e Sugesteron, para além do Concor que já tomava. Neste momento não tomo Sugesteron.
Às vezes fica-se sem acção e sem sensibilidade nos dedos das mãos e nem com a caneta se copnsegue continuar o trabalho. Isto acontece dia ou noite. Pela manhã é muito difícil abotoar a camisa.Há muita perturbação no sono durante a noite. Dói o corpo.
Durante a noite acordava com dores nos dedos dos pés!...Surgiram dores de pernas que se veio a averiguar nâo estarem relacionadas com problemas vasculares. Tive já há anos problemas intestinais, dores nocturnas, tendo sido dignosticada a existência de pólipos que já tirei por três vezes. Segundo informações a F. faz irritação no cólon, talvez aí estivessem as minhas dores intestinais com que acordava de noite . Habituamo-nos à dor e esta situação, com o tempo é capaz de nos trazer mais problemas.
O corpo dum fibromiálgico é um corpo doente, pode doer tudo ao mesmo tempo ou uma coisa de cada vez...É muito complicado...A morfina é o analgésico mais potente. Com esta droga um canceroso até pode morrer sem dores, mas o mesmo não acontece ao fibromiálgico porque lhe agrava o padecimento. A morfina é incompatível com a fibromialgia. Não há nada que nos possa tirar a dor...Ela só poderá ser atenuada... Isto é mais complicado do que se pensa...
A televisão facilmente põe um fibromiálgico a dormir, mesmo que seja um assunto de muito interesse. É o que me acontece... Falo por experiência própria...Segundo os entendidos isto acontece porque essa doença prejudica a concentração.... As dores surgem em todos os músculos do corpo. Até os músculos anais e rectais. Talvez os músculos ou tecidos suporte das cordas vocais, a base da língua, daí as alterações de voz ou o mau estar que me levou ao Otorrino.
As pernas ficam presas. Há diversos graus de fibromialgia. São 5. Eu devo estar no 2 ou 3, por aquilo que vi numa reunião de fibromiálgicos. O médico não me deu a classificação.
Esta doença é mais frequente nas senhoras: 4 senhoras para 1 homem, outros dizemque é de 10 para um!!!). Normalmente são elas que governam a casa e têm de pensar em muitas coisas ao mesmo tempo: o que comer agora e logo,o que vestir agora e logo para os filhos, para o marido, a precisão de fazer compras para acudir a tudo de casa, para além da vida profissional, se a têm...isto supõe um maior esforço de atenções, de coisas a fazer de imediato e as mais variadas ao ponto de despoletar com nmais facilidade esta doença.
Isto faz-me pensar na história da minha ferritina pois, segundo ouvi aparecem níveis elevados nas mulheres com menopausa. O meu ferro decoberto em 2001 não deve estar a depositar-se no fígado porque com os mesmos valores de ferritina. O meu fígado já apresentou valores hepáticos normais, o que levou o médico, penso eu, a adiar uma hipotética biópsia. Estará a fazer depósito nos tecidos musculares ou nas capas que os envolvem? O investigador nacional neurologista, Dr. Fernando Morgado, já me disse que a causa da F. não é o ferro ou a ferritina, mas estes tóxicos com fibromialgia devem levar o médico a dar mais atenção ao Fígado que é um orgão que pode ser mais fragilizado com o pouco ou mais ferro ou ferritina...
E ataca sobretudo os hiper-activos.Quem trabalha e gosta de trabalhar, quem teima em trabalhar...
Quem pega nas coisas a sério e procura levá-las até ao fim e o mais perfeito possível... o perfeccionista, quem é capaz de fazer tudo mesmo quando todos o abandonam...
Ora tudo isto me fez ter de dormir de braços em cruz ou estendidos ao longo do corpo, assim como as pernas estendidas como se estivesse de pé, para não ter dores musculares. Vivi muito tempo assim porque entretanto ia fazendo exames e os médicos não encontravam nada, nem viam alguma sintomatologia que lhe desse pistas. Foi assim durante todo o ano de 2001.
Querer vestir-me pela manhã, fazer a higiene pessoal, querer pegar numa criança nos braços e não poder, querer ler uma folha de papel A4 do princípio ao fim sem mexer muitas vezes as mãos, os dedos, os braços é difícil. Comigo tudo isso se passou.
Andei iludido com a dor a pensar que era o excesso de ferro desde 11/09/01. Um dia, por minha própria iniciativa, procurei voar mais longe à procura de quem me entendesse...Consegui? Talvez sim, talvez não. Em Janeiro de 2003, sugerido pela minha cunhada fui ao H.P. -à Clínica de dor do Porto e então aí compreendi...alguma coisa na primeira consulta...quase tudo na segunda em que o médico me esteve a explicar que doença era e que sofria de uma doença incurável, mas controlável. Falou do seu historial e deu-me muita coragem porque há quem se suicide por causa dela, mas... como era padre tinha projectos espirituais na vida e via as coisas doutra maneira. Falou durante mais de uma hora sobre o assunto. No entanto, na 3ª consulta ele explicou duma forma muito mais simples, pois apesar de estar a seguir as regras que tinha ordenado eu tinha algumas dores. Explicou-me que era por causa da Primavera. No Outono aconteceria a mesma coisa. Havia que tomar algo mais nestas épocas e acabou por me dizer a propósito dos esforços que fiz um dia para ir almoçar a casa e uma outra vez que tinha deixado de escrever. “Olhe, o senhor está no Purgatório, nunca se esqueça disso, como um diabético...também. Não pode esquecer que é um fibomiálgico... Aquilo que lhe receito serve apenas para atenuar o sofrimento e nada mais. Quando lhe doerem as pernas e o senhor se esforçar pode cair nesse momento no Inferno e depois para sair de lá, nunca mais... assim, como os braços... Se a cabeça doer,descansar. Se os olhos lhe doem faça relaxe e feche-os...Não queira cair no inferno. Eu sei que quer ir para o Céu e há-de ir, mas agora está no Purgatório.“
Não há remédio que cure a fibromialgia: anti-depressivos, miorelaxantes e exercícios de respiração, relaxe, sobretudo dentro de água morna e salgada com todo o corpo imerso à excepção da cabeça que deve estar repousada em travesseira própria.
Procurei tratar-me e agora estou melhor, mas não posso abusar. O simples facto de virar folhas de um livro já cansa a mão e se insistir causa dor no braço e perde-se a sensibilidade nos dedos. O facto de dar a comunhão na missa faz doer o braço. Todo o gesto repetitivo ainda que seja leve traz sempre prejuízos físicos ao fibromiálgico. Estar sentado muito tempo, estar de pé muito tempo, é complicado. Segurar um microfone com uma mão e o braço estendido é só para rebentar com a pessoa. Ouço dizer que uma senhora passa a ferro uma peça de roupa em 3 minutos e descansa meia hora.
O Fibromiálgico não pode bater palmas ritmadas por muito tempo. Por isso deve evitar esforços físicos, forças, ou gestos repetitivos, ou stress mental.
Qualquer gesto repetitivo que envolva os dedos das mãos ou dos pés desencadeia cansaço e dor, com a qual nos vamos esquecendo, mas o pior será chegar à exaustão.
É de facto uma doença grave, incapacitante, progressiva se falharmos nas tais precauções e na falta de controle, isto é aprender a aprender a viver com ela, que me parece ser mais de ordem pessoal. Não basta o conselho do médico, mas é necessária a determinação no doente para mudar costumes de vida.
Há poucos médicos com experiência nesta área. No Porto, poucos são os que a estudam. Esta doença foi reconhecida em 1970 pelos Americanos e registada na OMS no quadro das doenças reumáticas, e pela Saúde em Portugal; embora em Portugal a prática seja diferente. Na América é passível de benefícios especiais como os outros deficientes e podem ser reformados antecipadamente. Em Portugal isso não acontece. Na Espanha está mais desenvolvida pelo lado dos reumatologistas. A Televisão Espanhola em Dezembro mostrou a passagem à reforma, por fibromialgia, de uma pessoa, de Barcelona.
Deve ser o clínico geral ou o médico de família a estar preparado para esta doença, por diagnóstico por exclusão, ou diagnóstico diferencial, conhece melhor o doente e a família...
Há médicos neste país que não acreditam nela. Um escreveu mesmo, sobre um doente, que essa doença não existia!...
O trabalho intelectual sem ser stressado não prejudica, garantiu-me o Dr. Fernando Morgado não a faz progredir, mas é notável a influência desta doença no prejuizo da memória recente. Daí a necessidade de ter alguns cuidados. Também já passei por algumas vergonhas provocadas por lapsos de memória.
Devia ser uma doença para ricos...
Há picos emocionais elevadíssimos: tanto queremos estar sós, como, de repente queremos tudo à volta ou até partir a louça toda.
A maioria das vezes sinto a necessidade de alguém próximo ainda que não faça nada, tenho medo de estar sozinho, parece estar mais seguro. Cristo na hora mais crucial da vida d’Ele “Tomou consigo Pedro, Tiago e João...Ficai aqui e vigiai” ( Mc. 14,33-34). O doente, normalmente, uma visita longa com muito falar até incomoda, mas uma visita longa, em silêncio, sente-se mais forte, parece esquecer a dor... Talvez apostar na presença discreta e silenciosa seja a melhor maneira do doente não se sentir sozinho e não se cansar da presença do outro...
Há déficit de oxigénio... etc... e há demasiados tóxicos... e nunca sabemos como acordamos no dia seguinte.
Normalmente todo o doente gosta de uma informação personalizada e simples facilmente perceptível e suficiente para o momento e para o estado psicológico respeitando sempre, em primero lugar, o seu maior benefício e sempre que seja necessário e aconselhável, preparando progressivamente o paciente.(Ângelo Azenha).
O Fibromiálgico precisa de quem compreenda isto. Para quem não conhece são manias,são hipocondríacos, tolos...doentes mentais...precisam de psiquiatra...e nada mais...
Apetecia fugir e isolar-me. Apareceram as tentações contra a vida... de raiva... de angústia...Tudo incomodava até a presença dos mais amigos.
Nesse ano não fiz férias, não podia ir para lado nenhum. Aceitei o convite do Pe. Miguel para ir passar 8 dias a Paris, mas deitava-me cedo e levantava-me tarde. Sempre com sofrimento porque o Miguel não conhecia tão bem Paris, como eu julgava...
É bom viver-se com alguma qualidade de vida, para se viver satisfeito mesmo que o trabalho não seja tão rentável como antes, mas torna a pessoa feliz, sentindo prazer no pouco que faz,dar-lhe -á força para vencer algumas dificuldades, humildade suficiente para confessar as nossas limitações, paciência bastante para fazer algo e solidariedade para ver o bem dos outros e levar-nos a fazer o que estiver ao nosso alcance e eliminar em nós todo o temor em relação ao futuro. ( Segundo “os requesitos para o ser humano”, de Goethe ).
É “azar”?! É a nossa classificação humana quando se trata de algum mal porque se fosse um bem diríamos logo que tinha sido uma sorte. Tudo nesta vida pode ser sorte ou azar, depende da leitura de cada um, isto é, da maneira como cada um aceita e vive a situação que enfrenta. Aquilo que pode ser azar, pode ser um um bem e aquilo que é uma sorte pode ser um “azar” em que de modo algum eu sou capaz de acreditar.
A Fibromialgia tem de ser aceite como qualquer outra doença qualquer. Não acredito que seja castigo de Deus. Nesse Deus castigador, justiceiro, vingativo... não acredito. Acredito, sim, num Deus que nos deu o dom mais precioso da nossa vida que é o dom da plena liberdade e, mesmo quando a utizamos mal, continua a amar-nos e a dar-nos graças para podermos reconquistar a saúde e a liberdade, desenvolver uma vida de qualidade que Deus quer para todos sem excepção e, para isso, nos criou à sua imagem e semelhança..Então teríamos de sentar Deus no banco dos réus. Mas quem lê o livro de Job, “o grande intérprete da dor humana” do Antigo Testamento, segundo Arnaldo Pangrazzi, vê os problemas de outro modo . Ele, Job, abençoado por Deus viu-se de um dia para o outro no meio de muitas tragédias, no meio de muitas desgraças que o fez ficar perturbado e a sofrer a maior das angústias. Acusa Deus , mas chega à conclusão que ele é que está errado e, por isso, disse: “Eu retrato-me e arrependo-me,sobre o pó e a cinza” (Job,42,6). Apesar de tudo, vendo desmoronar-se todas as coisas que tinha feito e realizado na vida, professa a sua fé em Deus, mesmo contra os seus solidários amigos que afinal até o acusam e o tornam culpado de todos os males, mas também lhes reage às suas acusações, dizendo: “Até quando continuareis vós a afligir-me e a magoar-me com as vossas palavras?”(Job 19,2).
Esta experiência de Job, mais ou menos, dum modo ou de outro, repetiram-se ao longo dos séculos e continua, hoje, a repetir-se com cada um de nós, quando interiormente vivemos dores ou sofrimentos que não esperávamos...
Afinal a minhas dores de infância, as minhas rebeldias de criança irrequieta, o meu nervosismo, o meu caminho sempre sujeito a picos de dor, talvez fosse a dor crónica que de que me vou referir a seguir.










































Como conviver com esta doença?

Conviver com a fibromialgia,é conviver com o nosso corpo, com auto-estima. Ele pode ser doente, imperfeito, deficiente, mas não deixa de ser o habitat da nossa vida, sopro de vida “anima”. Só não poderemos conviver com a doença quando o nosso corpo não tiver vida, se fez inerte, frio, e degradando-se desaperece, tornando-se pó da terra. Aí acabou o corpo.
A vida, que é alma, essa continuará e, segundo a doutrina cristã, eternamente saciada da felicidade pela qual tanto lutou neste mundo, ou eternamente frustrada porque, embora sendo livre, não aproveitou o tempo terreno com o seu corpo para fazer o Bem, em busca desta felicidade eterna.
Sendo assim, pode ser vivida como outra qualquer doença crónica e capaz de fazer uma pessoa incapacitada ou inválida. Requer por isso muito respeito e uma vontade muito forte para andarmos em frente mesmo que pareça que a vida não é aquela que nós queríamos. É preciso saber viver com ela. As dores hão-de aparecer sempre, à hora em que menos o pensemos, nos batem à porta como um carro que parece ir bem e, de momento, acende uma luz amarela e o condutor pára porque não sabe o que aconteceu. É a temperatura. Não anda mais sem cuidar ou reparar o defeito. Caso contrário, os estragos são maiores e pode até ficar sem o carro. Se o carro tivesse um termómetro normal poderíamos verificar que a temperatura ia acima do normal, mas para chegar ao máximo ainda faltava muito; nós teimaríamos e continuaríamos a viagem até o mais que pudéssemos. Neste caso da fibromialgia não temos esse termómetro. Temos uma dor localizada ou difusa,essa luz amarela do carro, agora aqui e logo acolá, e só nos resta uma coisa parar, como se fosse o dito sinal amarelo do carro. Não insistir é o que devemos fazer. É pecado ser masoquista ao ponto de esse estado de espírito nos levar à incapacidade. Deus quer-nos com qualidade de vida. Ela é um dom que devemos agradecer e proteger para que os desígnios de Deus, a nosso respeito, sejam concretizados num grande projecto de Amor. Deus que nos criou, fez esta obra por Amor, e o mais perfeita possível, à sua imagem e semelhança, para que pudéssemos continuar a ser neste mundo, concriadores com Ele. Criou-nos para a felicidade “pessoal e social” (Cf. “Responsabilidade Solidária pelo Bem Comum”, dos Bispos Portugueses)
Portanto a dor faz parte da nossa cruz e o importante é saber geri-la, dar a volta. Quem ama a sério dá sempre a volta aos problemas e procura que uma catástrofre deixe de ser motivo de desgraça, mas caminho que nos conduz a um porto mais seguro. “Vinde a mim todos vós que andais fatigados e eu vos aliviarei”. Acreditamos ou não?
Como faz o esposo e a esposa quando se amam de verdade e algo não parece bem?...
Quando pela manhã se acorda com sinal que não se dormiu tudo, deve-se insistir ficando na cama porque uma fadiga física vai acontecer logo pela manhã, nos primeiros trabalhos, levando o doente a deixar tudo naquele dia ou a recorrer a drogas mais complicadas para se defender e que o vem a prejudicar mais tarde.
Outra situação que leva a ter precauções é pela manhã sentir comichão no sobrolho, na base das alas do nariz ou junto às narinas, no peito que vem atrás um eczema seborreico, se não se utilizar um creme indicado como o Hiladone. Normalmente se deixarmos andar temos má aparência, há mau humor ou depressão porque anda associada a prisão das pernas, a passadas mais curtas e a não querer andar. Pode não haver dor, mas há grande limitação no mexer das pernas.Uma fadiga dolorosa, como se tivesse andado todo o dia numa corrida...
Os médicos que sofrem desta doença já sabem bem como é.
Depois há médicos que vêem o seu doente e sabem que ele não é fiteiro, mas reconhecem com facilidade que alguma anormalidade há, mesmo que a não possam diagnoticar de imediato e até mandem fazer exames ou testes de diagnóstico. Mas esta doença da dor muscular e tendinosa não pode ser diagnosticada por exames, é apenas de exclusão.
Não sou apologista da dor, nem sou masoquista, mas já que sei que tenho de conviver com ela, louvado seja Deus!... mas tomo todas as “droguinhas” pela manhã e à noite. Obedeço ao médico que Deus me proporcionou.. Ele aí está para me ajudar a controlar... Compete-me, entretanto, a mim colaborar, ajudando o médico a ver que, de facto, “cada caso é um caso” , descobrindo segredos ou actos que a uns podem fazer melhor... para não ter mais dores. É por isso que procuro ir fazer outros exercícios em águas mais próprias para os meus músculos de 15 em 15 dias. Percorri várias termas e piscinas de água aquecida, em Portugal e em Espanha. Nunca encontrei nada tão bom como as Termas de Monfortinho (muito boas para peles secas, tem na sua composião sílica-vidrado da pedra) e como as termas de Lobios( muito boas para peles sebosas - tem na sua composição bicabornato e sódio e são mais quentes), em Espanha.
Vou lá de 15 em 15 dias passar lá dois dias e quando o trabalho é mais intenso então vou lá ao fim de 8 dias. Com estes exercícios espontâneos de água a 34 graus de 5 a 7 horas intervaladas, vem-se novo. Nunca cansa e nunca dói.
Isto não é mais nada senão andar a fugir à dor e a meter má figura, como andar a pisar uvas ou a dar passadinhas de passarinho, como se fosse uma pessoa idosa.
Deus quer que façamos esse esforço e os nossos familiares e amigos, gostam mais de nos ver com qualidade e alegres do que a meter má figura, na rua, e tristes.
Há dias na nossa vida muito bons. São poucos. Nessa altura sentimo-nos realmente felizes e até o comunicamos aos amigos mais íntimos, ou que parece que nos compreendem... Gostamos de festa e de tudo... No entanto sempre, mas sempre temos aqui e ali qualquer coisa que nos atormenta. Nesses dias está adormecida ou os neurotransmissores do nosso organismo estão mesmo bem... são tão poucos esses dias! Creio, no meu caso, que isso devo mostrá-lo no meu rosto. Foi por isso que gostei dum retrato sanguinário feito do meu rosto que me parece ser a minha realidade quando estou só e com dores, pois quando me sinto acompanhado com alguém consigo, muitas vezes, disfarçar essa dor que me invade e que faço por aguentar, continuando o meu trabalho.
Por causa desta situação, sinto-me mais seguro quando estou acompanhado ainda que não me ajudem, mas sei que alguém está comigo e é testemunha do que faço naquele momento. Há um Amigo, Esse é que me mantém de pé, me dá força e coragem para ir em frente, mesmo quando sinto que alguém me atrapalha ou quer envolver-se no meu caminho que deve ser sempre um caminho de paz e amor.
É difícil podermos dizer que está tudo bem em qualquer momento, mas a vida é a vida que se tem de aceitar como um dom ainda que nos traga pelo meio alguns dissabores, pois ao Mestre bem pior fizeram e sem culpa, enquanto eu sou um homem padre, e pecador como qualquer ser humano.
Uma vida assim, penso que se reflecte muitas vezes no modo como acolhemos as pessoas, sobretudo quando nos trazem problemas complicados e insolúveis, ou por ventura, querem impor a sua opinião de fé, mesmo que a não vivam conforme os preceitos da Igreja. São cristãos e não praticam, como os que são futebolistas e não jogam.
Isto não serve, claro, para me desculpar de alguns maus procedimentos meus. Nem quero pensar nisso. É possível apenas que isto aconteça, mas quando... talvez já me tenha acontecido....
Sempre fico mais doente quando tenho de dizer “não” e fico feliz quando me é possível o diálogo, isto é, a relação fica em pé e não é cortada, no respeito pelas diferenças de opinião, de ideias ou de normas. Mas quem é primário como eu, se não estou em boas condições perante uma reacção ostensiva, naturalmente, reage duma forma que não devia.
Há ainda uma certa necessidade de compartilhar os nossos problemas, sobretudo, com quem nos entenda porque há sempre cruzes bem mais pesadas, infelizmente. Se não compartilharmos, pensamos que somos os únicos que sofremos e corremos mais riscos de depressão, de ansiedade, de raiva que poderão trazer comportamentos desviantes do normal na vida de cada um de nós. Às vezes os amigos podem culpabilizar-nos, e até fugir de nós.Não podemos, por isso, adormecer sob pena de perdermos auto-estima ou retirar-nos a luta pela vida contra a dor. “Os verdadeiros amigos reconhecem-se na dor”. Aprender a conviver com a dor não significa incoerência, mas conviver com o inexplicável, aceitando as zonas escuras de Deus e da vida, isto é , deixando-se habitar por um mistério maior que nós. ( Cf. “Porquê justamente a Mim?” de Arnaldo Pangrazzi).














































Trabalhar com Fibromialgia

O trabalho é uma vocação inerente ao ser humano, é participação na obra criadora de Deus, é realização humana na dignidade e efectiva solidariedade com os outros. Não pode ser negado o trabalho seja a quem for, não podemos excluir ninguém ainda que não possa ser rentável como desejaríamos ou faria falta, mas pode até adaptar-se a outro trabalho sem mestre, sem patrão, sem superiores, sem horas...sem justificações, ou pelo menos, com a compreesão que um fibromiálgico não é certo, não pela sua personalidade ou pelo seu carácter, que, entretanto, é capaz de ficar abalado, por não poder naquela hora, naquele momento corresponder e cumprir os seus deveres...Negar o trabalho, é negar um princípio básico da ética social, mas ia também contra o próprio homem, imagem de Deus. (Cf João Paulo II, in Antropologia e ética, de Francisco Madero).Portanto não é difícil trabalhar com fibromialgia, desde que o trabalho não tenha horas marcadas, não crie stress, não tenha patrões ou superiores para exigir justificações que não são fáceis dar, poucos as compreendem até porque esta doença não se mede pelas aparências.
Às vezes fazem o doente mais doente porque não são entendidos por quem deviam ser, como os superiores ou os colegas que pensam ser uma doença mental...É preciso ter sempre muita coragem e paciência para fazer compreender aos mais exigentes...
E esta doença acontece geralmente em pessoas que não são capazes de serem simuladoras, piegas ou fazerem “teatro”. Normalmente em pessoas que amam e gostam de trabalhar. Acontece mais nas pessoas hiper-activas do que nas outras. Naquelas que gostam e sentem prazer em trabalhar e mostrar trabalho.Contou-me um dia o meu médico o seguinte: “ um senhor que gostava de cavalos foi à feira com a ideia de comprar um cavalo. Chegou à feira e entre os muitos que estavam em exposição, tinha um que muito lhe agradou pelo perfil, parecia-lhe um cavalo bonito, jeitoso, de boa raça e perguntou ao dono: - Quanto custa? - Custa tanto.
-Olhe, ele trabalha bem?...
-Oh! Se não trabalha!... É tão inteligente que parece um ser humano. Faz tudo o que o patrão quer. Trabalha uma maravilha.
E lá fizeram o negócio. Entregou o cavalo, recebeu o dinheiro e depois de ter recebido o dinheiro disse-lhe: “olhe que leva um rico cavalo, é bom, trabalha bem, vai gostar muito, mas... não puxe muito por ele porque, se o fizer, é capaz de ficar sem cavalo...”
O Homem tem sempre um lugar importante, por isso, na doutrina da Igreja porque esta crê nele , pensa nele e a ele se dirige.(Cf.Laborem Exercens”).
O Fibromiálgico contra aquilo que se possa pensar não pode parar. Chegar à invalidez não é difícil. Para o evitar só deve fazer o que gosta, no dia a dia, sem criar grandes projectos.
Pelo menos não deve fazer nada por imposição. Tem de sentir em cada momento prazer no que está a fazer. Nesta doença o doente tem de ser o mais livre dos mortais, isto é, deve ter um trabalho livre para ir e vir, para ir e voltar, para trabalhar ou deixar o trabalho. Normalmente estas pessoas têm sempre boa vontade e com gande ímpeto para o trabalho, mas algo que não desejava lhe sobrevém tão depressa, como uma vareja que depressa entra na cozinha e põe os ovos quando a gente menos esperava...
Cada dia, o seu dia, e o seu projecto!...Ninguém nos pode exigir mais. O Fibromiálgico tem naturalmente necessidade de dizer não, muitas vezes àquilo que gostava e os outros, embora possam não compreender, nada mais têm que dizer, nem julgar mal. Ninguém tem de ser tão livre como um doente portador da fibromialgia. É ele que se tem de controlar quanto a fazer ou não uma determinada acção. Nada mais!...
No dia 1 de Maio, apesar dum programa muito cheio, levantei-me sem despertador. Nesse dia tive às 9.30H. a tomada de posse do CPP dada por D. José Augusto; às 10.00H. a oração de Laudes presidida pelo Bispo para iniciar a Santa Missão Católica, às 12.00H. um Baptizado, às 16 Horas, no Porto, o casamento da minha sobrinha e afilhada e, às 21,30H., um espectáculo no Sá de Miranda, levado a efeito pelos Lyons Clubes de Viana do Castelo, a favor do Berço. Não será necessário dizer que só as drogas, o SOS, me manteve de pé. A seguir veio uma factura mais pesada, mais dores das quais me libertei com os execícios em Lobios- Espanha.
Evitar os conflitos de qualquer ordem... e lutar por uma qualidade de vida suficiente para que os problemas económicos também não atrapalhem muito...
Daí que me pareça esta doença ser mais difícil de conviver com a pobreza... essa basta a si própria... mas, miséria com dores e sofrimento... é muito!
O fibromiálgico não deve usar despertador para acordar. Deve acordar segundo o seu bio-ritmo. O relógio no pulso deve ser olhado poucas vezes, apenas para controlar as horas de alguns compromissos e das refeições... Eu prefiro esquecer...o relógio ou compromisso...porque isso me traz mais calmo...O contrário cansa...
Não há que correr muito, mas fazer tudo a compasso de “lesma” (?!) porque tudo se paga caro depois... no dia seguinte...
É preciso ter em mente que o mundo não acaba amanhã, mas que há-de acabar apenas quando Deus quiser... e o que ficar por fazer, fica para os outros.
Já tive mais ansiedade e fui mais criativo. A minha cabeça trazia-me um manacial de ideias tão boas e, como hiper-activo, não gostava de perder nada e só ficava satisfeito com tudo feito... e de imediato. Há já uns anos disse a meu irmão que gostaria de arranjar um remédio que me impedisse o meu cérebro de ter tanta força criativa...
No entanto, hoje já não acontece assim, porque trabalho de outro modo e também tomo os remédios prescritos pelo médico que me ajudam a controlar o meu ímpeto, a minha força mental que me fazia levar tudo à minha frente.
Estou contente.
Tenho dores aqui e ali, quando calha, sem horas e dias marcados, mas sei que é para mim e se dói há que parar.
Trabalho forçado, nunca. Conflitos! cuidado...sejam interiores,sejam exteriores, isto é, sejam de natureza interna e pessoal, sejam de natureza externa e colectiva, como no caso de não ser compreendido ou ser afastado pelos patrões, superiores, ou pelos colegas e até os amigos que tínhamos!...
Não basta recorrer ao padre, ao confessor, também é necessário recorrer ao médico do corpo que vai prescrever terapêutica para ajudar a recuperar energias orgânicas que, entretanto, se perderam e as quais têm de ser recuperadas para o equilibrio do nosso organismo corpo e alma.
O trabalho deve ser feito sempre com alegria, sinal que a pessoa está a sentir-se realizada e feliz, mas não exagerar no esforço que ele implica... Vamos ter sempre presente que o trabalho nos dará felicidade quando pudermos trabalhar... e o repouso também nos dará satisfação quando faz falta para voltarmos a fazer algo...
Pelo facto de termos esta doença não podemos ser objecto de exclusão, embora se compreenda que uma empresa produtiva, com fins lucrativos, não pode sozinha sustentar a falta de rentabilidade do nosso trabalho, mas aí estão as Instuições estatais para suprir e colaborar porque um doente de fibromialgia também não deve parar, se ainda vai a tempo de se controlar.
Nunca podemos esquecer que faz parte da essência do Homem o trabalho, pois só deste modo se cumprirão os imperativos do livro do Génesis: crescei, multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a.
O Homem tem consciência disso, mas é uma grande virtude saber parar quando faz falta. Se os outros não nos entenderem, nós não temos culpa e devemos ser humildes para aceitar a ignorância. Ainda maior será a nossa virtude, esperar que os outros possam compreender as nossas limitações...
É preciso vencermo-nos a nós mesmos, mas isso acontecerá quando, na hora oportuna, soubermos dizer Sim, se for de dizer Sim, e dizer Não quando for de dizer Não. Aí está a verdade e dignidade de cada um de nós. “Só assim é possivel dar sentido à vida e torná-la feliz.” (Nunes dos Santos).
Não sei se servirá para os outros, para mim dá resultado, penso eu. Não uso álcool desde 2001. A minha comida normal é arroz, salada e peixe, uso muita fruta, cereais, vegetais e mel. A nossa base da nossa alimentação deve ser o peixe, mas evitar o excesso do bacalhau, evitar o álcool, usar uma alimentação mais leve e à base de fibras,cereais, à noite se, para além da Fibromialgia, há tendências à obstipação. Não quer dizer que não se possa comer carne, por exemplo, faço isso aos domingos, mas deve ser evitada a carne de cabrito.
Evitar o stress e quando houver dor, não forçar. Nessa altura parar, descansar, ou também mudar de trabalho.
Não marcar muitas actividades para o mesmo dia, ou pelo menos, não as assumir quando são os outros que marcam. Se for possível cumpre-se, se não for já se está justificado.
Quando estamos bons, a mudança de um peneu dum carro, a camino do trabalho pela manhã, pode ser, por si só, o suficiente para ficarmos avariados para todo o dia, cansados, com falta de forças nas pernas e com dores nos braços, situações acompanhadas de depressão. O suficiente para faltar ao trabalhar...Assim como o modo como acordamos pela manhã pode determinar o dia que vamos ter pela frente...

















Acreditar em Deus é bom


A fé em Deus é algo fundamental na vida de qualquer doente porque o ajudará a elevar-se espiritualmente através do sofrimento, não porque é masoquista, mas porque as virtudes da fé, da esperança e da caridade estão mais presentes, mais inter-relacionadas e darão outra visão mais positiva da vida à pessoa.
A visão espiritualista da vida se ajuda a qualquer doente, muito mais a um doente que pode chegar ao desespero, à falta de estima pela vida, que reduzida apenas ao material, então não tem razão de existir, de ser para a qual não resta mais que pôr um ponto final.
É que não há respostas fáceis para a dor, para o sofrimento, mas há percursos que nos são ditados pela fé, pela raxão e pelo coração, que ajudam a encontrar o equilíbrio e a esperança, como uma bússula na imensidão do mar nos a direcção a seguir para um porto seguro...vamos fazendo caminhada e cada vez que vamos andando vamos descobrindo novos significados, novos sentidos para os novos problemas. Nós não podemos caminhar como que para o destino, ou para a fatalidade. Nem acusar que Deus não nos atende. Caminhamos e fazemos caminho ficando, muitas vezes, apenas com a esperança no mistério em que, na era do computador, até Deus se encontra tão ocupado com o seu computador que também pode ir ao ar...mas continuamos a esperar e a acreditar que algum dia temos resposta eficaz. Santo Agostinho dizia que a oração era a força do Homem e o lado frágil de Deus. Ela é a histíória da nossa vida na relação com o Pai.(Cf. “Porquê justamente a mim?” de Arnaldo Pangrazzi.
Um fibromiálgico tem forçosamente de acreditar em algo transcendente, absoluto a quem adere, se sujeita por amor e, por amor, orienta toda a sua vida.
Isto ajudá-lo-á a controlar-se e, quando tiver a consciência de que atingiu o contolo da sua dor, é porque já descobriu comportamentos que assumiu e os tem como prescrição médica porque o controlo é mais “meu” do que do médico, ele só ajuda a dar a volta às dificuldadades, a passar por cima, a abrir caminho para o nosso próprio controlo...às vezes ouve-se dizer que “cada um é médico de si mesmo” e tem a sua lógica na medida em que só com a ajuda dele, vai colaborando e fazendo descobertas pessoais que ajudarão, ao mesmo tempo, também o médico. Há um ditado antigo que “ao Padre, ao Médico e ao Advogado, nunca se mente”
De modo que, sendo assim, conservará sempre uma esperança e guardará uma nova força para vencer as dores, as dificuldades que esta doença arrasta consigo em relação à qualidade de vida.
Terá em conta que “a vida é um tesouro que é preciso conservar e promover sem a desvirtuar” (Cf. o mesmo documento dos Bispos) e se necessário for, valermo-nos de tudo o que é científico para darmos a uma vida manchada pela dor uma qualidade superior com alegria, sem desespero porque o discípulo não é mais que o Mestre.
É que o sentido ético do trabalho cristão tem em si um objectivo escatológico, por isso nos primeiros capítulos do Génesis aparece o homem em acção como responsável pela criação a que tem de levar a um termo feliz mediante o trabalho realizado.
Sempre deve dar uma ideia de que quem acredita tem esperança que o Senhor é capaz de nos curar...e “a felicidade está mais no dar no que receber”.
Não é por acaso que todas as religiões, e os responsáveis também reconhecem que há urgência e necessidade absoluta de um maior acompanhamento espiritual nos hospitais junto dos doentes porque os ajuda de uma forma diferente do psicólogo.
Para mim Cristo viveu o mistério da dor, do sofrimento até ao máximo, ou para além do máximo, que um ser humano pode suportar, e não por Ele, mas por toda a humanidade, daí que o recurso à oração e o deixar-se cair nas mãos d’Ele, a aprender a conviver com a doença, reconhecendo que a cruz do sofrimento se transformará em cruz de glória... até se aceita melhor a nossa fragilidade, as nossas fraquezas, experimentamos também até onde o sofrimento nos pode levar na companhia dos amigos, da família, da comunidade, do médico e do confessor e no fim de tudo só há uma coisa que nos resta é saber que Deus é Amor, como diz S. João e o que espera de nós, é uma resposta de amor.
Cristo afirmou que Ele era o Caminho, a Verdade e a Vida; e a busca desta Verdade será o caminho que conduzirá mais facilmente a uma vida nova e “encontrar Deus é procurá-lo” dizia S. Gregório de Nazianzo. Às vezes os doentes tratam-se mais depressa quando são bem assistidos e acompanhados pelas famílias. O médico e o outro pessoal é tão necessário, e com todos os cuidados humanistas, nunca satisfarão plenamente os doentes como aquilo que lhes toca no mais íntimo do seu ser, como seja a fé e a família. A família conhece a fé. Descobrir o que se tinha perdido ou esquecido é estar iluminado com uma nova luz: “Procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á”, diz Lucas, no capítulo 11 do seu evangelho.
Ser fibromiálgico não é estar condenado à morte, nem é maldição divina; apenas pode ser um “mimo” de Deus...quem sabe se para provação da nossa fé...medir as nossas forças espirituais quando somos aparentemente valentes e fortes fisicamente...o nosso Deus é um Deus de Bondade.
Nós é que criamos labirintos e mantemo-los dentro de nós e com isso perdemos as nossas origens, de onde viemos, o que fazemos nesta terra e para onde vamos...olhamos mais para o exterior e esquecemo-nos do mais importante que é o interior, olhamos mais para as fantasias do que para o essencial. Fazemos inversão de valores; perdêmo-nos enquanto não nos encontrarmos... e a família é capaz de chegar mais depressa, onde os outros ficam mais aquém. A família conhece muitas vezes os nossos escaninhos e sabe trabalhar-nos melhor para nos levar onde faz falta.
Vamos ter sempre presente que o trabalho nos dará felicidade quando pudermos trabalhar...e o repouso também nos dará satisfação quando faz falta para voltarmos a fazer algo...
As nossas enfermidades são muitas. Se não as curar todas é porque alguma coisa podemos ir fazendo neste mundo, como remissão dos nossos fracassos espirituais...
A nossa vida surgiu das Suas mãos quer no corpo, quer na alma, e porque nos quer obras perfeitas, dar-nos-á sempre a força, a coragem, a paciência e a paz para vencermos as dificuldades...n’Ele, só nos resta pormos a nossa confiança para além do céu e da terra...A Ele só isto não serve, claro, para me desculpar de alguns maus procedimentos meus. Nem quero pensar nisso. É possível apenas que isto aconteça, mas quando...talvez já me tenha acontecido!...
Sinto-o com mágoa, mas ao mesmo tempo com coragem para saber pedir desculpas ao meu semelhante que não tem culpa das minhas infelicidades...
Ele é médico do corpo e da alma. Foi Ele que, Homem das dores, carregou as nossas fraquezas e assumiu os nossos sofrimentos. Em tudo quis ser semelhante a nós para revelar a Sua misericórdia infinita.
Também Ele passou pela tentação de falta de confiança no Pai: “Meu Deus, meu Deus porque Me abandonaste?!...”.
Quando afinal depois de dizer: “Pai, nas Tuas mãos entrego o meu Espírito” e exclamando “tudo está consumado”, Deus o fez vitorioso, vencendo a Sua própria morte.
Experimentou como qualquer um de nós as limitações da condição humana para nos libertar do medo do alto da cruz...
Dizia Carlo Martini que a doença é uma grande prova de fé; é um momento difícil de purificação. Aos sofrimentos físicos juntam-se o sentimento de inutilidade e o temor de se ser um peso. Sofre-se também a solidão. Somos assaltados pelo medo do futuro, por pensamentos que provocam a confusão e a perturbação do espírito ou a cegueira da alma.
Mais que pedir a Deus que nos cure, a Ele que sabemos que tudo pode, é importante que lhe peçamos que nos salve da morte de todos os dias em que as dores nos atormentam ou nos humilham. Dizer a Deus “perdoa-nos Senhor” porque somos tantas vezes injustos e dá-nos luz, força de vontade, para compreender as incompreensões dos outros, coragem para nos rirmos mesmo sem vontade porque o outro pode estar apenas à espera do nosso sorriso para nos entender que somos seres de relação, de proximidade e que, apesar de tudo, somos todos filhos do mesmo Deus que nos quer felizes e que, por isso, a todos dá os dons necessários para subsistir com uma qualidade de vida suficiente, para vermos as coisas de outra maneira.
Esta qualidade de vida suficiente fará com que nos envolvamos todos na fraternidade onde haverá comunhão, uma comunhão que não se compadece que o nosso vizinho tenha apenas uma folha de couve para comer um caldo, e na nossa mesa haja caldo, prato de carne ou peixe, mais sobremesa e!... É esta comunhão que nos levará a um dinamismo próprio que nos conduz à coesão social. Isto faz com que a nossa fé seja verdadeiro testemunho do Cristo vivo que hoje nós professamos e, pelo qual, queremos orientar a nossa vida.
Um bom remédio que Cristo nos deixou foi o do sacramento da reconciliação, ou seja, da penitência, a direcção espiritual para algumas soluções de problemas internos e externos. A contemplação e a meditação é outro factor que ajuda a controlar esta doença.
É claro que o médico da alma, do espírito, nunca pode pôr-se de lado, Jesus Cristo muito bem sabia que nós precisávamos deste remédio eficaz da Graça.
Esta Graça que devemos guardar como um tesouro na nossa vida e dela darmos testemunho ao mesmo tempo, enquanto procuramos remédio para o corpo que também é obra de Deus e não devemos dar sinal de tristeza ou de falta de estímulo pela vida, uma vez que somos doentes. Eu creio que os meus paroquianos hão-de gostar de me ver sempre alegre e bem disposto ainda que, por vezes, a nossa imagem seja frágil ou dê sinal de fraqueza. Os amigos mais se aproximarão de nós se observarem que, de facto, somos fortes no espírito ou na alma, que sabemos vencer e ultrapassar as nossas limitações ou pelo menos não fugindo àquilo que se pode, embora cada um de nós sabe o que pode e... quando pode ir mais longe...
Muitas vezes acontece agora que, pela falta de recurso mesmo ritualizado do Sacramento da Penitência, se vêem as pessoas a recorrer aos métodos orientais de contemplação, de exercícios próprios como a yoga ou outros, como o reik... ou então fugir para se integrar em seitas religiosas até as mais severas e dizimistas que iludem esta necessidade de o homem se sentir mais homem, mais ser relacional onde coabita o mal e o bem, e nem sempre o discernimento é tão eficaz como gostaríamos.
A nossa integridade significa uma grande responsabilidade no que se mostra e no que se faz, ser fiel a si mesmo, à família, ao outro. Só assim honraremos a nossa família, a nossa sociedade, assim como os seus deveres e trabalhos inerentes. A Religião não é nada que esteja ultrapassado, ela faz parte do presente e quanto mais presente estiver na vida do Homem, mais ela deixa de ser uma religião do medo ou do passado para ser agora uma religião libertadora que esclarece, ilumina o caminho das trevas que nos conduz às águas cristalinas que saciarão a sede do Homem para sempre.
“Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não tomeis, porém, a liberdade como pretexto para servir a carne. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade.” (Cf. S. Paulo aos Gálatas).
“Deve-se buscar uma mente sã num corpo são” ( Décio Juvenal ); “Mens sana in corpore sano”, famoso adágio latino que funciona como uma lei desde os Lusitanos, com os seus costumes, festividades, crenças e conhecimentos para equilibrar perseverantemente com harmonia e verdade a vida.
O ser humano pode cultivar o espaço do Divino, abrir-se ao diálogo com Deus, confiar a Ele o destino da vida e encontrar n’Ele o sentido da morte.
Aqui tem a sua raiz a espiritualidade e a grande razão das religiões ao jeito da diversidade de culturas.
Desde sempre foi considerado que a falta deste espaço espiritual no homem arrasta consigo a infelicidade, a doença e um erro sedento à procura da fonte que nunca é encontrada.
Acolher o espírito é acolher aquele que o habita e o encherá de luz, de serenidade e de felicidade sem fim. Cuidar deste espírito é cuidar dos valores que dão rumo à nossa vida e das significações que geram esperança para além da nossa morte, alimentar a braseiro interior da contemplação, da oração para que nunca se apague.
Esta posição arrastará consigo serenidade, jovialidade e simplicidade que nos ajudão a construir um olhar mais tolerante, a ver o outro, a reconhecê-lo como um irmão e a esperar da vida aquilo que ela nos pode dar, ou valorizar, vivendo positivamente, com aquilo que temos, “a tirar partido daquilo que possuímos tendo sempre em conta os sentimentos dos outros”.Cf. “Xis - ideias para pensar” de Laurinda Alves.
Não é por acaso, ou por bizarria, que muitos andam atrás das seitas e de tudo, como sequiosos de algo, que lhes falta no coração e que deixaram de encontrar na sua própria religião porque nunca tiveram talvez uma noção clara do pecado, da confissão e da comunhão porque viveram sempre uma fé infantil. E todos procuram a salvação que só de Deus vem e chegou através de Seu único Filho Jesus Cristo.
Poderia terminar fazendo a seguite oração:
Concede-me, Senhor, a coragem e a força de vontade para continuar a caminhar em frente e que os meus paroquianos me compreendam, e me completem naquilo que eu já não posso, como podia antes.
Concede-lhes, assim como aos meus superiores, luz e inspira-lhes gestos, palavras e obras de acordo com a missão que receberam no Baptismo e que superem as minhas fraquezas.
O projecto do Centro Novo e da Igreja Nova é uma necessidade evidente, inegável. O projecto não é meu, é da Comunidade que todos se unam para levar até ao fim aquilo que já devia estar feito e só agora começa, como obra material e única que deixamos neste século XXI para os nossos vindouros.
Eu amo-te, Senhor, quero louvar-te pela comunhão paroquial, pela coesão à volta duma fé dinâmica, isto é, de obras com espírito e verdade, que levaram a esta coesão, a esta comunhão que nos faz família resignada e alegre, mesmo na doença, no sofrimento, na paixão, porque, aquilo que nos toque a nós agora, nos inicie para a partida deste mundo efémero e nos prepare para o encontro contigo na eternidade...
Aceita a minha pobre oferta e tem compaixão das fragilidades em que tantas vezes caio. Perdoa-me e perdoa o pecado da sociedade e também o pecado desta igreja que é pecadora e luta pela santidade, como S. Paulo dizia: “Faço o que não quero e não faço o que queria.”

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei, mas acho bastante extenso. Devia ser dividido em vários posts consoante os temas.
O Américo Tomás esteve várias vezes em Viana enquanto Ministro da Marinha e também como P.R. mas de certeza que não veio inaugurar o paquete "Funchal" porque não foi construído nos E.N.V.C.
Veio de facto a Viana do Castelo na qualidade de Ministro da Marinha assistir à flutuação do navio-hospital "Gil Eanes" em 1955.

Artur Coutinho disse...

Tem razão.Desculpe o lapso.É com prazer que agradeço uma correcção, em abono da verdade. Os meus anos não eram muitos ( pelos 10anos?) e inaugurou o Palácio da Justiça.

Anónimo disse...

Gostei muito e devia de divulgar o que se passa consigo, como tal se me pudesse dar outro email poderia contar com a sua eperiençia,pois também ando com males que me afligem e gostaria de saber a sua opinião... bem haja,continue a divulgar essa mal que o atormenta.
meu mail: revelaraverdadecusta@hotmail.com