Encíclica «Ut unum sint»
Roma,
1995
3.
«Com o Concílio Vaticano II, a Igreja Católica empenhou-se, de modo
irreversível, a percorrer o caminho da demanda ecumênica, ficando assim à
escuta do Espírito do Senhor, que ensina à leitura atenta dos "sinais dos
tempos". As experiências que viveu nestes anos, e continua a viver,
iluminam ainda mais profundamente a sua identidade e missão na História. A
Igreja Católica reconhece e confessa as fraquezas dos seus filhos, consciente
de que os seus pecados constituem igualmente traições e obstáculos à realização
dos desígnios do Salvador...
5.
Juntamente com todos os discípulos de Cristo, a Igreja Católica funda, sobre o
desígnio de Deus, o seu empenhamento ecumênico de congregar a todos na unidade.
De fato, " a Igreja não é uma realidade voltada sobre si mesma, mas aberta
permanentemente à dinâmica missionária e ecumênica, porque enviada ao mundo
para anunciar e testemunhar, atualizar e expandir o mistério de comunhão que a
constitui: a fim de reunir a todos e tudo em Cristo; ser para todos
"sacramento inseparável de unidade"".(§ 5) (Esta transcrição é
oriunda da Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns aspectos da Igreja
entendida como comunhão, enviada pela Congregação para a Doutrina da Fé em
28/5/92)
20.
... O ecumenismo, o movimento a favor da unidade dos cristãos, não é só uma
espécie de "apêndice", que se vem juntar à atividade tradicional da
Igreja. Pelo contrário, pertence organicamente à sua vida e ação, devendo, por
conseguinte, atravessá-la no seu todo e ser como que o fruto de uma árvore que
cresce sadia e viçosa até alcançar o seu pleno desenvolvimento...»
III. QUANTA EST NOBIS VIA?
Continuar e intensificar o diálogo
77. Agora podemos
interrogar-nos sobre quanta estrada nos separa ainda daquele dia abençoado, em
que será alcançada a plena unidade na fé e poderemos então na concórdia
concelebrar a santa Eucaristia do Senhor. O melhor conhecimento recíproco já
conseguido entre nós, as convergências doutrinais alcançadas e que tiveram como
consequência um crescimento afectivo e efectivo de comunhão, não podem bastar
para a consciência dos cristãos que professam a Igreja una, santa, católica e
apostólica. A finalidade última do movimento ecuménico é o restabelecimento da
plena unidade visível de todos os baptizados.
Na perspectiva desta
meta, todos os resultados conseguidos até agora não passam de uma etapa, embora
prometedora e positiva.
78. No movimento
ecuménico, não são apenas a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas que possuem
esta noção exigente da unidade querida por Deus. A tendência para tal unidade é
expressa também por outros. 129
O ecumenismo implica que
as Comunidades cristãs se ajudem mutuamente, para que esteja verdadeiramente
presente nelas todo o conteúdo e todas as exigências « da herança deixada pelos
Apóstolos ». 130 Sem isso, a plena comunhão nunca será possível. Esta ajuda
recíproca na busca da verdade é uma forma suprema da caridade evangélica.
A busca da unidade está
expressa nos vários documentos das numerosas Comissões mistas internacionais de
diálogo. Nesses textos, trata-se do Baptismo, da Eucaristia, do Ministério e da
Autoridade, partindo de uma certa unidade fundamental de doutrina.
Desta unidade
fundamental, mas ainda parcial, deve-se agora passar àquela unidade visível,
necessária e suficiente, que se inscreva na realidade concreta, para que as
Igrejas realizem verdadeiramente o sinal daquela comunhão plena na Igreja una,
santa, católica e apostólica, que se há-de exprimir na concelebração
eucarística.
Este caminho para a
unidade visível necessária e suficiente, na comunhão da única Igreja querida
por Cristo, exige ainda um trabalho paciente e corajoso. Ao fazê-lo, é preciso
não impor outras obrigações fora das indispensáveis (cf. Act 15, 28).
79. Já desde agora, é
possível individuar os argumentos que ocorre aprofundar para se alcançar um
verdadeiro consenso de fé: 1) as relações entre Sagrada Escritura, suprema
autoridade em matéria de fé, e a Sagrada Tradição, indispensável interpretação
da palavra de Deus; 2) a Eucaristia, sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo,
oferta de louvor ao Pai, memória sacrifical e presença real de Cristo, efusão
santificadora do Espírito Santo; 3) a Ordem, como sacramento, para o tríplice
ministério do episcopado, do presbiterado e do diaconado; 4) o Magistério da
Igreja, confiado ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele, concebido como
responsabilidade e autoridade em nome de Cristo para o ensino e preservação da
fé; 5) a Virgem Maria, Mãe de Deus e Ícone da Igreja, Mãe espiritual que
intercede pelos discípulos de Cristo e pela humanidade inteira.
Neste corajoso caminho
para a unidade, a lucidez e a prudência da fé impõem-nos evitar o falso
irenismo e a negligência pelas normas da Igreja. 131 Mas, a mesma lucidez e
prudência recomendam-nos fugir do desleixo no empenhamento pela unidade e, mais
ainda, da oposição preconcebida ou do derrotismo que tende a ver tudo pelo
negativo.
Manter uma visão da
unidade que tenha em conta todas as exigências da verdade revelada, não
significa pôr um freio ao movimento ecuménico. 132 Pelo contrário, significa
evitar que ele se acomode a soluções aparentes, que não chegariam a nada de
estável e sólido. 133 A exigência da verdade deve ser completamente respeitada.
E não é, porventura, esta a lei do Evangelho?
Os líderes religiosos destacam a
importância do ecumenismo e do diálogo religioso
Ecumenismo
Ecumenismo
"Ser um bom cristão ou um bom
muçulmano significa necessariamente amor fraterno, compaixão, verdade, justiça
e igualdade em relação aos outros" escrevem os Bispos da Nigéria em um
comunicado publicado no final do encontro de diálogo ecumênico e
inter-religioso realizado em Abuja, de 1 a 6 de março. A reunião, que tinha
como tema "Viver a nossa fé em tempos difíceis", contou a
participação de 50 bispos católicos, do Primaz da Comunhão Anglicana, do
Presidente da Associação Cristã da Nigéria, do Arcebispo Jasper Peter Akinola,
e do Secretário-geral do Conselho Supremo nigeriano dos Assuntos Islâmicos,
Lateef Adegbite.
No comunicado, os Bispos católicos
denunciam os recentes atos de violência cometidos contra cidadãos inocentes no
Estado de Plateau, pedindo a todos que não explorem a religião para promover os
próprios interesses e expressam seu apoio na colaboração entre confissões
diversas para favorecer o desenvolvimento humano. Os Bispos destacam a
importância das próximas eleições locais de 27 de março, e convidam os cristãos
a refletirem sobre as lições das últimas eleições, marcadas por fraudes. O
Presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, Dom John Olorunfemi Onaiyekan,
Arcebispo de Abuja, afirmou que "estamos vivendo uma calma precária.
Os sintomas desta situação são as
crises políticas e as desordens sociais que eclodem em todos os lugares. Parece
que existe um problema de confiança entre governantes e população, que torna a
tarefa de governar especialmente difícil". O Arcebispo pede ao governo que
"estenda a base da participação política". D. Lateef Adegbite, na sua
mensagem dirigida aos participantes do encontro, destacou a importância de uma
melhor compreensão entre os líderes religiosos para avançar no diálogo entre as
confissões. O representante da comunidade islâmica declarou-se ainda preocupado
pela difícil situação política e social que está atravessando a Nigéria.
Ele lamenta o fato de que a maior
parte dos ex-Presidentes nigerianos, sendo muçulmana, não respeitou o preceito
do Alcorão que impõe aos governantes o zelo pelo bem-estar do próprio povo. O
Arcebispo Peter Akinola destacou como a Igreja dividida transmite ao mundo uma
mensagem frágil. O Núncio Apostólico na Nigéria, Dom Renzo Fratini, recordou
que a Igreja, para ser profética e unida, deve anunciar com coragem a mensagem
de paz e de reconciliação. "A unidade da Igreja e a unidade dos cristãos
na Nigéria deve ser um sinal para toda a sociedade e também um exemplo para os
nossos irmãos, os muçulmanos", afirmou o Núncio.
O Concílio Vaticano II mostrou a importância do Ecumenismo e da
Inculturação do Evangelho nas culturas do povo. Sobre isto o Papa João Paulo II
falou claramente na Carta Encíclica Ut unum sint (Que todos sejam
um-UUS).Infelizmente, porém, têm havido abusos e erros nestes dois
assuntos importantes. No discurso que o Papa dirigiu aos Bispos do Brasil que
estiveram com ele, em setembro de 1995, falou sobre isso:
“Em diversas ocasiões a Providência divina
permitiu-me insistir naquela conclusão básica do Concílio Vaticano II, segundo
a qual é decisão da Igreja assumir a tarefa ecumênica em prol da unidade dos
cristãos e de a propor convicta e vigorosamente”(UR,1).
É preciso entender que o Ecumenismo é com as igrejas
cristãs, aquelas abertas ao diálogo, como a Igreja Ortodoxa do oriente, a
Anglicana da Inglaterra, e as tradicionais, históricas, derivadas do
protestantismo; mas não com as seitas, às quais o Papa se referiu aos bispos
como “uma ameaça para a Igreja Católica” na América. Ele disse aos nossos
bispos, falando dos perigos de um falso ecumenismo ou de uma falsa
inculturação:
“Já tive ocasião de comentar, mesmo
recentemente, que , ‘não se trata de modificar o depósito da fé, de mudar o
significado dos dogmas, de banir deles palavras essenciais, de adaptar a
verdade aos gostos de uma época, de eliminar certos artigos do Credo com o
falso pretexto de que hoje já não se compreendem. A unidade querida por Deus só
se pode realizar na adesão comum ao conteúdo integral da fé revelada’ (UUS,18).
Falando aos representantes do mundo da cultura em Salvador, Bahia, eu lembrava
que ‘a inculturação do Evangelho não é uma adaptação mais ou menos oportuna aos
valores da cultura ambiente, mas uma verdadeira encarnação nesta cultura para
purificá-la e remi-la ‘(Discurso, 20.X.1991,4).”
“O mesmo vale no campo ecumênico. Com efeito,
no campo da inculturação como no do ecumenismo, nota-se uma certa facilidade
com que a busca do entendimento, do acolhimento ou da simpatia com outros
grupos ou confissões religiosas têm levado a sérias mutilações na
expressão clara do mistério da fé católica, na oração litúrgica, ou a
concessões indevidas quanto às exigências objetivas da moral católica.
Ecumenismo não é irenismo (cf.UR, 4 e10). Não se trata de buscar a
unidade a qualquer preço“. (g.m.)
“Este diálogo[ecumênico], que somente tem
sentido se for uma busca sincera da verdade, poderá nos pedir que deixemos de
lado elementos secundários que poderiam constituir um obstáculo de ordem
psicológica para nossos irmãos de distintas denominações religiosas. Mas nunca
será verdadeiro, autêntico, se implicar na mais mínima mutilação duma verdade
da fé, no abandono da legítima expressão da piedade tradicional do povo cristão
ou no enfraquecimento das exigências de séculos da disciplina eclesiástica ou
das veneráveis tradições litúrgicas do Oriente, da Igreja Romana e
outras igrejas do Ocidente”.
Se o Papa quis dirigir essas palavras marcantes aos nossos
Bispos, certamente é porque aqui têm havido ensaios infelizes de
inculturação e ecumenismo. É importante ressaltar certas coisas frisadas pelo
Papa. Ele afirma que “não se trata de modificar o depósito da fé”, nem com a “mais
mínima mutilação de uma verdade da fé”, e que a unidade que Deus quer só poderá se realizar “na
adesão comum ao conteúdo integral da fé revelada”. Sem observar isso o
ecumenismo é falso. Por outro lado, ele chama a atenção para o cuidado com a
prática da inculturaçào do Evangelho, dizendo que “não
é uma adaptação mais ou menos oportuna aos valores da cultura ambiente, mas uma
verdadeira encarnação nesta cultura para purificá-la e remí-la”. Sabemos que neste
campo têm havido abusos.
É importante observar que o Papa diz que, “no
campo da inculturação como no do ecumenismo, nota-se uma certa facilidade com
que a busca do entendimento…tem levado a sérias mutilações na expressão clara
do mistério da fé católica, na oração litúrgica, ou a concessões
indevidas quanto às exigências objetivas da moral católica”.E ele, diz que: “ecumenismo
não é irenismo. Não se trata de buscar a unidade a qualquer preço”.
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