O CARRO DE BOIS
O carro mais comum para o trabalho na lavoura até aos anos 80 era o carro de atracção animal que em paralelo com a carroça para os mais pobres era o carro de bois, ou das vacas. O lavrador utilizava o gado bovino e, entre ele, os bois eram os animais que os grandes lavradores gostavam de ter. Às vezes, era à porfia, a ver aquele que mais juntas de bois tinha para fazer um, dois cambões e quando necessitasse de uma grande força a exercer até no lavrar a terra, não ter de ir pedir ao vizinho gado.
Este carro era composto por uma só peça de bom carvalho, assim como todos os elementos do carro eram desta madeira. Esta peça ia de fora a fora, isto é do recavem, ou da traseira até à chaveta, dividida apenas virtualmente, na sua estrutura, por duas partes: a cabeçalha onde ao centro ficava um eixo com duas rodas e o cabeçalho onde os bois eram apostos e puxavam o carro através de uma canga que supõe um canzil dobrado para serem dois animais a puxarem, e não um só. Este elemento mais cumprido do carro era a peça depois do rodeiro mais resistente e base da segurança. Para que fosse meio de transporte havia o chedeiro composto por duas chedas unidas nas traseiras pelo recavem e unidas à cabeçalha onde esta começava a ficar isolada para que os animais tivessem lugar e pudessem trabalhar. Entre as chedas e a cabeçalha havia o soalho formado por tábuas que por baixo levavam umas travessas horizontais ou as arreias que entravam nas chedas e davam mais consistência às tabuas de soalho em carvalho como tudo o resto. As chedas levavam uns furos onde entravam os fueiros para segurar a carga e em certas ocasiões também as tabuletas. Ao meio do cabeçalho perto da ponta mais fina e para que a cabeçalha não pousasse no chão ou pudesse partir, havia uma peça incrustada a meio do cabeçalho para que este não pousasse directamente no chão, mas ficasse um pouco mais elevado e nas chedas atrás, assim como ao começar a curvatura para ir encontrar-se com a cabeçalha levavam uns argolões, ou uns pinos que serviam para prender a carga com umas cordas, por exemplo.
O carro não anda sem rodas e estas sem um eixo. A meio desta estrutura do chão do carro passava o eixo e dos lados funcionavam as rodas. O eixo era uma peça de boa estrutura e levava uma roda de cada lado. Nas chedas havia um local onde encaixavam o eixo que sustentavam as rodas, o rodeiro, como o cocão ou o pau robusto na vertical onde funciona o eixo, chumaços ou cantadeiras, onde funcionava muitas vezes o travão do carro nas descidas. As rodas eram peças importantes para andar por caminhos complicados de lama, pedras, calçadas e piso chão de terra batida… As rodas eram compostas pelo meão com meias luas à volta, com barras de ferro curvado e introduzidos na madeira e seguradas por pregos de ferreiro. A roda de madeira era forrada em toda a volta com uma barra de ferro e este também “pregado” com pregos grandes e forjados feitos no ferreiro.
Depois havia o carro do lavrador e o carro do carreteiro que, normalmente, era mais robusto e as rodas com raios e todos tinham de ter um registo camarário que tinha de ser aposto numa cheda.
As cangas eram necessárias e diferenciavam-se do canzil, pois este supunha apenas um animal para o trabalho como para puxar uma carroça, um sachador, etc… A canga supõe junta, e aí está a junta de bois, ou de vacas para puxar o carro, alguma charrua, um margedouro, fazer um cambão, etc… Há cangas simples e há cangas que são autênticas obras de arte, nelas levam uns furos para meterem uns aros e umas fivelas para que estes não caíssem. Os arcos são metidos por baixo da papeira dos bois para poderem puxar com o pescoço os referidos meios de transporte. Ao centro das cangas eram gravadas, a gosto, um símbolo religioso. Na canga ao centro e por baixo com pele dos animais faziam o tameiro ou tamoeiro onde entrava o cabeçalho e era presa a canga com a chaveta ou chavelhão por ser pequeno e diferente de uma maior que servia também para pôr o carro em descanso e na horizontal, retirando assim a peça que se encontra pela parte de baixo do cabeçalho.
E não era tudo para este transporte, pois falta o principal é o gado bovino, os bois, os animais que bem alimentados e de boa musculação por trabalhos duros infligidos, mas bem alimentado, de pança muitas vezes cheia, nem sempre era suficiente. Por vezes, por dificuldades orgânicas internas, sanitárias, ou por dificuldade da dureza do trabalho o pobre do animal com umas varadas um aguilhoadelas infligidas lá saía da dificuldade. Lembra-me a calçada onde um dos bois não conseguia puxar e um homem chamado Aginha, por penitência deitou o ombro ao carro do lado daquele boi, o que lhe valeu ser morto por estar a cumprir uma penitência dada por um frade beneditino do mosteiro de S. João de Arga que era ajudar a primeira pessoa que encontrasse em dificuldade. Assim apareceu o Santo Aginha que chegou a constar no calendário do santoral bracarense e como padroeiro dos ladrões, pois a vida dele, antes de se arrepender, foi ser salteador dos que vinham de Ponte de Lima pela Serra de Arga.
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