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segunda-feira, 18 de julho de 2016

«Antes da resposta, foi necessário, muitas vezes, colocar as questões correctas».

«Antes da resposta, foi necessário, muitas vezes, colocar as questões correctas».

Bruno Manuel Gonçalves Barbosa nasceu no dia 3 de Outubro de 1991, em Poiares, Ponte de Lima. É o mais velho de três irmãos. Entrou para o Seminário Menor no 7º ano de escolaridade, em 2004, e prossegiu a sua formação no Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, em Braga. Foi ordenado diácono no dia 8 de Novembro de 2015 e, ao longo deste ano, fez o seu estágio pastoral na paróquia de Santa Maria Maior (Sé). No dia 24 de Julho, às 15.30h, será ordenado presbítero, na Sé Catedral.
Nesta pequena entrevista, falou do seu percurso vocacional e do modo como está a viver este momento.








Quando começou a sentir a vocação ao sacerdócio?
O desejo de ser padre começou ainda na infância, quando tinha sete anos. Depois da minha primeira comunhão, dizia que gostava de me tornar sacerdote para poder dar a comunhão a muitos meninos, porque esta tinha sido uma experiência marcante na minha vivência cristã. Na verdade, este desejo foi aumentando ainda mais com a oportunidade de poder acolitar nas Eucaristias, o que me permitiu observar todos os gestos do sacerdote. Olhava para ele como alguém muito especial e único, com o poder de celebrar este grande mistério: a Eucaristia. Tudo isto me fascinava. E pensava para mim: quero fazer o mesmo que o Senhor Padre faz.

Quem foram as pessoas mais importantes nessa descoberta?



Estou convencido de que as vocações nascem do testemunho de quem já foi chamado. Por isso, foi uma graça contactar com o testemunho de vários sacerdotes que me ajudaram nesta descoberta, nomeadamente o meu pároco actual, Pe. Claúdio Belo, bem como os seus antecessores. A debilidade física do Pe. Manuel Antunes foi importante para perceber que a Igreja necessitava de trabalhadores para a sua seara. A docilidade para com as crianças e idosos do Pe. Tomás Vieira chamou também a minha atenção. Foi com ele que vim para o Seminário. Contudo, a pessoa que mais me ajudou nesta descoberta foi um seminarista da minha paróquia. Foi com o testemunho dele que eu me senti interpelado, que me senti chamado a trilhar o mesmo caminho que ele trilhava. Por outro lado, também foi por meio dele que tive contacto pela primeira vez com o Seminário. No entanto, não posso deixar de frisar o papel fundamental da minha família, especialmente dos meus pais. Foi muito difícil para eles ver um filho tão novinho ir para o seminário, contudo aceitaram sempre a minha decisão. Considero todas estas pessoas uma graça de Deus para mim, contudo, outras foram aparecendo no desenvolvimento deste caminho que o ajudaram a consolidar ainda mais.






De que forma é que o percurso de Seminário o ajudou a consolidar o seu sim?
O percurso de Seminário foi muitíssimo importante para consolidar esta resposta. Mas antes da resposta, foi necessário colocar muitas vezes as questões correctas. Neste percurso foi uma constante a pergunta: Senhor, que queres de mim? Aliás, é uma questão que me há-de acompanhar toda a minha vida. Uma questão respondida muitas vezes com o silêncio por parte de Deus, mas marcada pelos seus sinais. Foi um tempo muito fecundo, tanto no sim quotidiano à sua vontade e ao seu chamamento, como a nível formativo nas suas diversas vertentes (espiritual, intelectual, humana e pastoral). Na resposta ao chamamento de Deus, foi igualmente importante o papel das pessoas que me acompanharam, tanto os formadores e colegas, como os directores espirituais que me ajudaram na consolidação da entrega ao projecto de Deus para mim. 

  



Quais os sentimentos que o habitam nesta hora? 

Uma profunda gratidão e ao mesmo tempo um sentimento de pequenez perante tão grande dom. Sinto-me agraciado por tantas e tantas coisas que o Senhor me tem concedido, sobretudo pela sua confiança em mim. A minha sorte é que Deus continua a apostar naqueles que são mais frágeis e indignos, e, por isso, sinto-me tão pequeno perante tão grande dom. Contudo, sei que Deus precisa de mim; tem necessidade de mim. Olha-me e vê as minhas capacidades e incapacidades. E continua a dizer-me: Bruno, preciso de ti para o Reino, segue-Me. De facto, ao aproximar-se o dia da Ordenação Presbiteral, habita em mim um sentimento de muita confiança e serenidade, no entanto, confesso que, à medida que o dia se aproxima, estes sentimentos se misturam com alguma ansiedade e nervosismo, porque, na verdade, aproxima-se uma hora de graça e de bênçãos, para mim, para a minha família, para a comunidade paroquial de São Tiago de Poiares que me viu nascer e dar os primeiros passos, para a comunidade de Santa Maria Maior (Sé Catedral) que me acompanhou durante o Ano Pastoral, para o Presbítério Diocesano que acolhe mais um irmão e para toda a Diocese de Viana do Castelo que, em pleno Ano Santo da Misericórdia, terá mais um presbítero para o anúncio de Jesus Cristo, o rosto da misericórdia do Pai.






Por vezes, diz-se que os jovens andam afastados da Igreja. De que forma pode a Igreja aproximar-se dos jovens e ajudá-los a descobrir a sua vocação?
Que mensagem lhes deixaria?
A Igreja tem necessidade de se aproximar das gerações mais novas, mas isto não pode implicar que deixe de parte toda a sua doutrina e tradição. A aproximação da Igreja aos jovens faz-se da proximidade com cada um dos jovens, ouvindo cada um dos seus anseios, sonhos, dificuldades e esperanças. Será, como em tudo, uma pastoral próxima e de escuta. Há necessidade de pessoas que ouçam os jovens. Há necessidade de líderes juvenis que compreendam os jovens e que apontem caminhos seguros à luz do Evangelho. Há necessidade de acompanhar os jovens no seu desenvolvimento humano. Há necessidade de colocar os corações dos jovens em contacto com o Coração de Deus. Aos jovens peço para que nunca desistam, mas que arrisquem sempre. Junto deles, a Pastoral Vocacional terá que convocar e provocar, desinstalar os jovens com as questões fundamentais da vida. Uma pastoral do testemunho e de acções, tanto das próprias famílias, como dos párocos e das comunidades paroquiais. Seguir Jesus Cristo no contexto hodierno não é fácil, porque ser hoje padre implica ter presente que há mais incompreensões do que compreensões. Contudo, é desafiante. Sim, o anúncio do Evangelho é feito de desafios, foi assim com os Apóstolos e será assim connosco. Porque teremos sempre consciência de que o “Senhor é meu pastor: nada de falta” (Sl 23,1).  


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