O CICLO FESTIVO
FESTA
O CICLO FESTIVO
FESTAS, FEIRAS E FESTIVAIS
José Rodrigues Lima
Estamos
no tempo das manhãs claras, dos dias solarengos e com temperaturas agradáveis.
O
Alto-Minho é um arraial contínuo.
Ouvem-se
sons dos gaiteiros, dos bombos, dos cantares ao desafio e escutam-se as bandas
de música no arraial, que dura pela noite dentro, executando lindas partitura
onde a música clássica se mistura com rapsódias.
Há
música rock animada e forte.
Dança-se
e fala-se ao amor.
“Teus
olhos me guiam, / Tua alma me aquece; / Teus lábios me beijam / Meu coração
adormece”.
Aquando
“os santos populares” houve foguetes no ar e sardinha assada e aromas de
manjerico.
Agora,
na festa dos padroeiros os sons festivos ouvem-se ao perto e ao longe. Os fogos
de artifício iluminam o céu com multicores.
Acontece
o espectáculo piro-musical.
Há
procissões com estandartes, andores, figurados, devotos amortalhados cumprindo
promessas de horas difíceis.
As
comissões, mordomas e mordomos desfilam com alegria festiva.
Surgem
ramos de flores para o santo da devoção com muitos cravos brancos e vermelhos.
Ouvem-se
toques festivos dos sinos nos campanários.
Fazem-se
preces sentidas e desabafos de recordação, ligando o hoje ao ontem, onde os
laços antigos se cumprem na tradição. Cada um sente a festa a seu modo, mas
vivendo-a na coesão social com rituais integradores.
Há
sons e animação com carrinhos a dar uma volta…
Há
pregões de feirantes e provam-se as farturas.
Ainda
há roscas, mas já não há pirolitos.
Não
há as aguadeiras de cântaro à cabeça, anunciando: “Olha a boa limonada.”
Agora
saboreiam-se outras bebidas…
Haja
alegria que baste, para quebrar com o quotidiano pesado, pois “tristezas não
pagam dívidas”.
É
tempo de viver de manhã e pela noite dentro com um coração novo em companhia de
familiares e amigos.
A
comensalidade é festiva, saboreando-se a boa comida em mesas grandes com
toalhas lindas.
Os
aromas cruzam-se com os paladares, saboreados com o bom vinho verde. (Como aquele
que se esconde no pipo detrás da porta e era reservado para o dia dos padroeiros).
É
a festa da nossa terra.
Assim,
de Maio a Setembro, e que linda é a nossa festa!
De
portas a dentro (na Igreja) e portas a fora (no arraial).
E
não se esquece a esmola ao santo, ofertando a dádiva da reciprocidade.
Rogam-se
bênçãos para os dias de trabalho, dos afazeres e das canseiras.
Mas
vamos à festa dos padroeiros e das romarias.
Não
há muito tempo os meses do ano eram referidos pela celebração do santo.
Assim,
o mês de Junho era o mês de S. João; o mês de Julho era de S. Bento ou de Santiago;
o mês de Agosto é o de S. Bartolomeu e da Srª da Agonia; e o mês de Setembro (o
mês das colheitas) conhecido pela Romaria da Srª da Peneda e S. Miguel.
Recordamos
de Pedro Homem de Mello:
“Quando ouço a concertina,
Reparo
e tiro o chapéu;
Não
me importava de morrer
Se
houvesse disto no céu”.
Assim
registamos ainda da nossa poesia:
“Mesmo
na frente marcham a compasso,
De
fardas novas vai o sol e o dó;
Quando
o regente lhe acena com o braço
Logo
o trombone faz pó, pó, pó, pó, pó, pó”.
(Lopes
Ribeiro)
“O
fogueteiro é engraçado,
É
engraçado tem jeito;
Deita
o fogo para o ar
Fica
todo satisfeito”
(Popular)
“Pelas
ruas, os zés pereiras
Num
zabumbar,
Entre
trofeus e bandeiras
Lá
vão p’ró grande arraial”
(Francisco
Silva)
“Gaita,
gaitinha, ai feiticeira
Gaita,
gaitinha, que alegra o sol;
Porque
foi feita p’ra moinheira
É
que lhe chamam gaita de fole!”
(João
Verde)
FEIRAS
No
tempo de verão realizam-se muitas feiras que mobilizam negociantes, vendedores
e por vezes gado cavalar.
É
de referir a feira anual a 12 de Setembro, em Portela de Alvite, Sistelo,
concelho de Arcos de Valdevez. Aí se transacciona bastante gado cavalar sendo
de destacar os garranos.
Como
escreve a historiadora Virgínia Rau “as feiras são uns dos aspectos mais
importantes da organização económica da Idade Média. A feira não supõe só o
ponto de contacto periódico entre compradores e vendedores, onde se compra,
vende, ou escamba. Supõe também uma organização especial.
As
feiras contribuíram para a melhoria das relações económicas e jurídicas entre
os homens.
As
romarias, as peregrinações e todas as festividades religiosas atraiam
peregrinos vindos de longe, e assim essas concentrações tornavam-se muitas
vezes em centros de troca.”
Pelo
Alto-Minho realizam-se as feiras com inspiração medieval, atraindo muitos
forasteiros que se introduzem no ambiente secular onde não faltam os cuspidores
de fogo e os tamborileiros.
FESTIVAIS
O
ambiente bucólico do Alto-Minho convida a apreciar as águas cristalinas dos
rios que descem da montanha e correm para o Atlântico.
Há
espaços que convidam a permanecer ouvindo o murmúrio das águas e canto da
passarada.
No
território minhoto há locais que convidam para se ouvirem as bandas de rock.
Assim,
está muito divulgado o festival que se realiza na zoa do Taboão, Paredes de
Coura, bem como o festival de Vilar de Mouros.
Mas
em Ponte de Lima, de há anos a esta parte, há uma iniciativa já de carácter
internacional que é o “Festival de Jardins”. No corrente ano a efeméride tem o
tema: “Jardins do conhecimento”.
As
festas destacam a importância do território e do património, desenvolvendo
momentos culturais significativos nas dinâmicas sociais.
Parece-nos
oportuno referir o pensamento de Platão: “Mas os deuses com pena da humanidade
– nascida para trabalhar – estabeleceram a sucessão de festas repetidas, a fim
de recupera-los da fadiga, e deram-lhes as Musas e Apolo, seu chefe, e
Dionísio, como companheiros nas suas festas, de forma que, alimentando-se com
os deuses em companhia festiva, pudessem novamente manter-se de pé e erectos.”
“A
festa define-se pela efervescência, explosão intermitente, o frenesim
exaltante, o sopro poderoso da efervescência comum, a concentração da
sociedade, a febre dos instantes culminantes”.
A
festividade revigora as energias sociais, de acordo com o pensamento de Durkheim,
Hubert e Mauss.
A
festa faz bem para alegrar a gente.
O
tempo de férias é bom para fortalecer o convívio familiar e celebrar a amizade.
No
livro do Eclesiastes (Bíblia) podemos ler: “Debaixo do céu há momentos para
tudo: um tempo para morrer, um tempo para chorar e um tempo para rir, um tempo
para se lamentar e um tempo para dançar”.
José
Rodrigues Lima
93
85 83 275
S, FEIRAS E FESTIVAIS
Sem comentários:
Enviar um comentário