Com a Fé não se brinca
Artigo de opinião
De Manuel Serrão, in JN de 13 de Julho de 2016
Um treinador que acredita firmemente na vitória
não tem dias na sua convicção. Cada jogo e cada fase é isso mesmo, apenas uma
parte da vitória final. Que se quer inteira e por isso em que o treinador
acredita inteiramente. No futebol, por vezes, acontecem milagres. Mas só a quem
tem uma fé inabalável na vitória.
1.Com a Fé não se brinca em
serviço.
Com a Fé não se brinca.
Muito menos em serviço. Acreditar em Deus é fácil. Levar essa Fé a sério é que
já é mais difícil.
Afirmar o catolicismo, num
país católico como o nosso, é o pão nosso de cada dia. Ser um católico
praticante sem concessões são outros “quinhentos”.
Um apóstolo da Fé é alguém
que teve essa felicidade de acreditar e tem a capacidade de contagiar os
outros com a sua Fé. Que não precisa de fazer da sua Fé um espetáculo, mas que
tem uma vida espetacular por causa dela.
Ter Fé é uma vivência
íntima, que preenche totalmente o interior, mas que só alguns privilegiados
conseguem transformar em força exterior sem caírem em demonstrações ridículas.
Viver a Fé não é uma
experiência pontual que se possa esgotar aos domingos e dias santos, ou
invocar quando dá jeito ter um ombro piedoso ou uma “mãozinha” por baixo.
Por isso, a Fé não se
compra nem se vende, não se negoceia nem se transaciona, não se aliena nem nos
aliena.
Ter Fé é ser testemunha de
um milagre. É inexplicável, mas ajuda a explicar muita coisa. Por isso, ter Fé
é saber muito mais de nós do que os outros sabem, mas também é saber muito
mais dos outros do que os outros são capazes de saber de si.
2. Com o futebol também
não!
Com o futebol não se
brinca. Muito menos em serviço.
Acreditar que vamos ganhar
um Euro é fácil. Levar essa fé a sério é que já é muito mais difícil.
Afirmar o patriotismo num
país de patriotas, como o nosso, é o pão nosso de cada dia. Ser capaz de nunca
abandonar o barco das nossas ideias e convicções quando ao nosso lado os ratos
estão todos a fugir e a berrar impropérios, é que já é obra.
Um treinador a sério é alguém que teve essa visão de vitória, que tem na
cabeça o caminho que falta percorrer em conjunto e que é capaz de comandar os seus homens na
direção prevista e sem acidentes de percurso. Que não precisa de fazer de cada
jogo um espetáculo, mas que tem resultados espetaculares por causa disso.
A certeza da vitória
é um triunfo íntimo, que nos preenche de força o interior, mas que só alguns
treinadores conseguem passar para o grupo sem necessidade de manifestações
ridículas, ataques soezes ou dispensas inimagináveis. A união nunca nasce da
divisão, mas sim da comunhão.
Um treinador que
acredita firmemente na vitória não tem dias na sua convicção. Cada jogo e
cada fase, cada oitavo, cada quarto e cada meia é isso mesmo, apenas uma parte
da vitória final. Que se quer inteira e por isso em que o treinador acredita
inteiramente.
No futebol, por vezes,
acontecem milagres. Mas esses golos milagrosos, essas substituições
milagrosas, esses postes que se colocam milagrosamente entre a bola e o golo,
geralmente só aparecem a quem tem a certeza que vai ganhar. Porque tem uma fé
inabalável na vitória.
Por isso, um
treinador destes sabe muito mais de si do que os outros julgam que sabem e
sabe mais dos outros do que o que eles pensam que sabem deles próprios.
O Fernando Santos é
um treinador destes. E é também um homem de Fé. Não é para se rirem. É para
aprenderem.
N. B. Nestas coisas é importante a
sabedoria para saber ganhar e saber
perder. A lição da criança portuguesa, é
a lição de saber ganhar ao aproximar-
se de quem sofria a perda...
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