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terça-feira, 21 de março de 2017

A CASA DO ERMÍGIO


A CASA DO ERMÍGIO




A Casa do Cirurgião, nem sempre teve este nome desde que ali foi construída em 1765 sobre uma outra muito mais antiga.





Alguns dos seus restos (da casa forte do Ermígio, talvez a casa dum senhor Hermigius, nome de origem germânica, senhor ou proprietário medieval destas terras, antroponímico, por isso, que deve ter dado o nome ao Lugar do Ermígio) e cujas paredes talvez tenham chegado aos nossos dias sob a nova construção a serviram de cortes para as mulas.





É provável que a casa mais antiga fosse da família dos Velhos que viveriam nas Penas, onde vivem ainda os descendentes da família dos Liquitos e daí a razão do topónimo Velho que ainda aí se conserva.
Devia ter sido aquela casa para onde Francisco Afonso (Rocha) veio, em 1654, de Stª. Maria de Aborim, filho de Pedro Afonso e Catarina Gonçalves por casamento com Maria Gonçalves, filho de Afonso Gonçalves e de Isabel Martins. Sucedeu que o João Francisco, filho do matrimónio veio a casar com Justa Alves, de Vila Fria. Mais tarde, um seu filho, o Manuel Francisco, viúvo de Antónia Rodrigues do lugar das Penas (Regadia de Cima) casado, em segundas núpcias, com Ana Rodrigues, do Ermijo, filha de Simão Rodrigues (Vila de Punhe) e de Ana Rodrigues, da Regadia, dos velhos.
Um filho deste casal, o António Francisco casado com Catarina Rodrigues teve uma única filha, a Morgada, chamada Maria Rodrigues que, por sua vez, casou com um rapaz da terra, chamado João Rodrigues Ribeiro, filho de Matias Rodrigues, do Souto, e foram os bisavôs do Abade António Francisco de Matos.





Foi no tempo deste casal que a casa foi construída. Não sei que nome teria nessa altura, mas a Morgada era pessoa rica. Faleceu em 1823 levando um ofício de 46 padres, assim como o seu marido falecido 29 anos antes, levou também um 1º ofício de 33 padres, um 2º de 29 e um terceiro de 28, o que é sinal de gente rica. Acreditamos que os pobres da altura, naturalmente, tenham ido para o céu mesmo com menos padres.
Deste casal, autor presumível da Casa que chegou aos nossos dias, nasceu uma outra Maria Rodrigues que casou em 1784 com o Tenente José António de Matos, filho de José António de Matos e de Maria Gonçalves, de Chafé, e tivera 8 filhos, tendo morrido uma Teresa sem geração.
Desta geração do Tenente foram “Matos” para Vila Franca e para a Conchada. Ainda desta geração vêm as raízes próximas do Padre João António de Matos, do seu irmão Dr. José António de Matos (muitos anos Presidente da Câmara Municipal de Viana e do Sport Clube Vianense, daí o Estádio de Viana), do Padre Francisco António de Matos, do parodiante Mena de Matos e a outras tantas gerações de Matos espalhadas pela região de Viana, Porto e Lisboa.
 O filho José ficou na casa e casou com Maria Barbosa de Almeida, filha de Simão António Barbosa de Almeida e Rosa Teresa Miranda, vizinhos e moradores, onde hoje é a Casa do Esperta.
Esta Maria era morgada e foi mãe de 11 filhos. Um deles, o Francisco, foi cirurgião, tendo estudado no Porto. O Francisco, cirurgião, casou com Rosa do Espírito Santo Moreira, de Darque e foi pai de Maria Moreira de Matos que herdou a parte norte da casa que seu pai habitava, a referida casa que tinha sido partilhada por três: o Francisco cirurgião, nascido em 1838 e falecido em 1922 que deu o nome à Casa no seu todo, o Manuel Rodrigues Pereira, conhecido por Santa Marinha por ser descendência de Forjães e sobrinho do cirurgião, e pela sobrinha neta conhecida pela Rosa Barbosa de Almeida, nascida em 1891.






O António casou com Rosa Rodrigues de Carvalho (Deiras). A irmã Rosa casou com António Pereira Novo. Foi a que ficou com a casa que mais tarde ficou conhecida por “Casa do Esperta”.
A casa dos seus avós maternos ficou para a filha da Rosa, a Maria Barbosa de Almeida, com a parte sul da casa do Cirurgião.Esta depois de ter casado com António Pereira dos Santos que saíu pela primeira vez para o Brasil, como sapateiro, quando tinha 29 anos. Voltou a sair em 1885, 1891 e em 1895 e nunca mais cá voltando. Por lá morreu, tendo deixado a mulher com duas filhas: a Rosa e a Maria da Conceição.
A Maria da Conceição, nascida em 1895, casou com Joaquim Ribeiro, relojoeiro e foi conhecido pela alcunha “Esperta” tendo dado o seu nome à casa em que ficou. A Rosa ficou na casa e casou com Manuel Almeida de Riba, de Subportela.
Nesta altura a casa do lado sul tinha uma entrada própria, mas o Stª. Marinha e o Cirurgião partilhavam das mesmas escadas centradas à linda varanda da casa numa extensão de 24 metros. Tinha umas artísticas linhas e colunata com belas bases e capitéis que mais ideia davam de casa nobre e solarenga, não fosse a vinha que se seguia a estragar-lhe um pouco a visibilidade, mas era o costume da época.
Consta que a Morgada Maria Barbosa de Almeida, mãe de 11 filhos, morreu com fama de santidade pelo que foi enterrada junto ao altar do Sagrado Coração de Maria, zelado por muitos anos pela “Casa dos Estivadas” dum modo particular pela D. Luísa.
Depois do aumento à Igreja na década de 70 este altar foi deslocado e, na construção antiga, ficava do lado esquerdo de quem entra na porta lateral e de serventia da Igreja para a Sacristia.
Era, de facto, uma pessoa amiga de fazer bem. Era rica e achava que devia pôr ao serviço dos que precisavam alguns dos seus haveres, por isso tinha em sua casa dois fornos: o forno da família onde se cozia pão para duas semanas e o forno dos pobres onde se cozia o pão para dar aos que lhe batiam à porta. Não eram assim tão poucos, dadas as dimensões do forno. Para além dele, também a existência de uma espécie de Albergue que o saudoso Padre Matos, mais tarde fez continuar na sua residência, casa própria, herdada de familiares antigos e que deixou em testamento à Paróquia de Mazarefes.
Consta-se que um dia uma pobre de Darque e já falecida, a quem ela tinha feito bem, terá vindo bater à porta mais uma vez, apesar da Morgada ter também morrido e terá declarado para quem passava: “ide trabalhar para as filhas da Morgada... Minhas malandras...”.
Um Padre conhecido por Padre Brinca, Brinca de alcunha, que foi residente na casa que hoje é o Centro Paroquial, anexa ao Adro das Boas Novas, “requereu-a” e tendo feito um exorcismo descobriu que, afinal, faltava ainda pagar uma promessa feita a S. José, um resplendor para que pudesse ir para o céu.
Depois da intervenção do referido padre consta-se que a referida “alma perdida” nunca mais apareceu. Atribuiu-se isso a um milagre da Morgada.
O Santa Marinha era filho da que, viúva, casou com o “Deira Velho”, também ele viúvo, e que só passavam o dia juntos, pelo que,  à noite, cada um ficava na sua casa. Os seus pais eram o António Rodrigues Pereira Novo e Teresa Gonçalves, dos Carriços.
Morreu com mal da garganta e solteiro, mas com dois filhos: um em Mazarefes e outro em Vila Franca, tendo-os reconhecido, pelo menos à morte e compensados.
O António Pereira era filho de Manuel Rodrigues Pereira, oriundo de Forjães, filho de Joaquim Pereira e Josefa Rodrigues. Mariana Barbosa de Morais, filha de António Luís Barbosa Amorim e de Isabel Maria de Morais era irmã do Stª. Marinha. A Maria, costumava ir pela manhã levar o leite aos tios que moravam na Quinta ao lado, “Os Bichos”.


Foi ela que, ainda criança, encontrou pela manhã cedo os tios na situação de amordaçados e assaltados.

Esta Maria Barbosa de Almeida morreu debaixo do comboio na passagem de nível mais próxima por acidente casual ou não, mas o que é certo é que ela andava com perturbações mentais atribuídas à ausência do marido, e do abandono deste da mulher e das filhas.

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