A
Casa da Costinha de Baixo –
Serra de Arga
Conheci-a logo que tomei posse da Paróquia de
Arga de Baixo, Concelho de Caminha em plena Serra d`Arga.
Foi-me apresentado o senhor David de Jesus
Lourenço o detentor das chaves de tudo e receber alguma da orientação da igreja
e da residência, acompanhado pelo David Gonçalves da Costinha de Cima que
também fazia parte da Comissão Fabriqueira e Regedor.
O David da “Costinha de Baixo” assim
conhecido no vulgo, era um homem muito religioso e dava tudo o que podia pela
família, pelos outros e pela comunidade em geral. Era verdadeiramente um
cristão comprometido e para convencer os outros não lhe faltavam argumentos da
razão, de fé e da vida para levar os conterrâneos a darem-se à comunidade. A
todos ele desejava que dessem o passo igual ao dele, mas o dele era sempre um
passo maior sem deitar foguetes para que lhe batessem palmas. Era um homem fora
do comum, com uma personalidade muito peculiar, homem de princípios, humilde,
trabalhador, de carácter e serrano dos quatro costados em defesa da terra e da igreja
sempre aberto e amigo de fazer o bem.
Se assim o era, assim fazia, vem como a sua
esposa e os seus filhos.
O David da Costinha de Baixo nasceu na casa
do Sabugueiro e lá se foi para a Costinha de Baixo por ter casado com a Maria
das Dores Gonçalves. Era de Baixo porque havia a casa do Costinha de Cima, onde
vivia o David Gonçalves da Comissão fabriqueira e regedor da freguesia. Perto morava
o Carlos da Casa do Campo do Vale que era Presidente da Junta da qual o David “da
Costinha de Baixo” era também o tesoureiro.
O David era filho da Angelina de Sabugueiro
que não conheci, mas conheci uma irmã que vivia na casa a Maria José, tia do
David e de quem fiz o funeral. A Maria José era um poço sem fundo como se dizia
sobre a cultura da gente da Serra D`Arga estes de que trato aqui.
Eram nove irmãos que se espalharam por todo
mundo e já todos falecidos.
A Angelina, portanto, mãe do David da
Costinha de Baixo, ficou viúva e um dia, o senhor conhecido por violas, um
vizinho, não a queria deixar passar por onde sempre tinha passado para uma
propriedade desde criança, solteira, como casada e mãe de 9 filhos. – “Ora ou
me deixa passar ou dou-lhe com esta vara aguilhoada”. Não o convencendo e
julgando que ela não o faria, ela deu-lhe mesmo e partiu-lhe um dedo. O homem foi
queixar-se ao regedor da terra, e a resposta deste foi lapidar “então tu
metes-te com uma mulher viúva?” para a outra vez abre os olhos.
Assim era a sua mãe como viúva, sem homem mas
não tinha medo.O David foi para as carvoarias em Lisboa, depois passou a
trabalhar num restaurante e começou a gerir o conhecido e famoso “Restaurante
das Galegas” ao mesmo tempo trabalhava na agricultura nos meses que tinha
disponíveis.Por fim teve um restaurante com um sócio, mas deixou.
Não faleceu de velhice mas de Câncer,o tabaco
que muito usava não devia ser alheio à causa.
Partiu sereno deixando quatro filhos: o
Manuel casado em Castelo Branco, pai de uma filha, já falecido. A Fátima casada
com o Manuel Fernandes da casa de Riba, de Santo Aginha ( Arga de S. João) e com
dois filhos casados e com geração; a Lúcia, solteira e sem geração e o António casado
com Alice da Casa da Corga, Castanheira, de Arga de Baixo e com dois filhos.
Arga de Baixo tinha uma residência paroquial,
mas eu optei por uma sugestão vinda dos de Dem, viver em Dem e apresentavam
casa. Aceitei e, para não abandonar a residência oficial das Argas, onde vivi
uns tempos, passei mais tarde, de quinze em quinze dias, a ir lá passar a noite
de sábado para domingo. Foi o primeiro pároco que a tinha deixado, embora o meu
antecessor no pouco tempo que esteve também vivia em Covas com o Pároco de
Covas que tinha sido seu antecessor igualmente nas três Argas.
Então
a Maria da Costinha de Baixo não me deixava cozinhar queria que eu jantasse
quinzenalmente na casa dela com o marido e os filhos. Assim era.
Comer na cozinha ao lado da lareira cozido à
moda da serra, preparado no pote. Aí fiz as melhores refeições da minha vida e
aí passei os meus últimos serões à lareira.
Num sábado estava na cozinha e a Maria das
Dores como era de costume ia à janela da sala para ver se via o meu carro
chegar à estrada de Santo Aginha para calcular o tempo que levava para eu
chegar. Como um dia eu demorei muito depois de me ter visto, já ia toda a gente
à minha procura para ver se tinha caído em alguma ribanceira. Entretanto
cheguei e a família e vizinhos estavam todos em polvorosa.
A Fátima tocava órgão e alimentava um grupo
jeitoso do coral para animar as missas, animadora, mas um pouco mais reservada.
A Lúcia foi catequista e muito mais extrovertida, inteligente, brincalhona mas
com carácter bem personalizado e por minha indicação aos pais, ela com 15 anos começou
a estudar fazendo em três anos 3 exames: o do ciclo preparatório, o 5º ano do
liceu e o 7º ano também do liceu, hoje 12º que ela fez questão de o fazer, anos
depois, à noite quando já trabalhava.
Quando a sua mãe ficou viúva e chegou a uma
idade que não lhe merecia confiança para viver sozinha trouxe-a para a Caridade
e não passava um dia sem a ir ver e passear com ela, o tempo que podia e lhe
permitiam não lhe faltando com o afecto de uma boa filha, dando-lhe enquanto pôde
a sua presença e mãe e filha ficavam mutuamente consoladas até falecer na Caridade.
A Casa da Costinha de Baixo lá está no mesmo
local e é sempre um ponto de referência
para todos quantos conheceram este casa.
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