Uma Malga
Uma malga ou uma malguinha é um objecto cerâmico côncavo sem asas ou
alças, também conhecida por tijela, normalmente para comer o caldo, a sopa. No
entanto, esta Malga servia para muitas coisas, isto é, leva tudo o que se põe
lá dentro.
Assim são usadas malgas para a marmelada, o fermento, o pingue, sopas
de leite, ou com pão broa e, antigamente
com o leite tirado directamente do ubre da vaca, leite amassado, gemadas, sopas
de vinho com broa ou com trigo.
Para além disso Malga era conhecida também por tigela, cunca, púcara e
púcaro, “caçola”, mas o vinho verde só devia ser provado numa malga e de
preferível numa malga vidrada para apreciar antes o aroma do vinho para ver se
seria bom, também mexia-se com a malga para ver as ondas e as lágrimas das
mesmas que faziam à volta da Malga vidrada, assim como a sua cor: mais gordo,
mais cor e após esta apreciação era bebido o vinho para o saborear na boca e
sentir que o seu gosto, o seu peso em álcool, mais ou menos acidez; o menos
ácido era o mais macio, portanto o melhor.
A Malga começou a ser substituída para o caldo ou para a sopa pelo
prato fundo. A tigela é sempre mais alta e o prato e mais baixo em altura mas
acresce-lhe um rebordo que faz alargar a base e levar um pouco mais do volume
da sopa. A base da malga é mais pequena, e por isso mais alta e leva mais tempo
a arrefecer. Embora a sopa seja uma comida que deve ser comida sempre quente. Daí
a origem da palavra caldo do latim que significa quente, e não fria. A Malga
leva-se à boca enquanto o prato fundo não é fácil nem cívico levá-lo à boca ou
comer a sopa com a colher inclinando o prato da sopa para dentro, mas para o
lado oposto de quem está a comer. Pelo menos assim aprendi na educação cívica.
O prato fundo para além de servir para a sopa serve melhor que um
prato ladeiro isto é, baixo, para comer um ensopado de qualquer coisa que se apresente.
Malga e tigela são a mesma coisa, a não ser que a tigela seja mais
pequena, mas é sempre uma malga enquanto a malga nunca será um prato, nem fundo,
nem ladeiro.
As Malgas não têm tampa. Agora há as de metal, de vidro, cerâmico
vidrado ou pintado, embora o pintado esteja a desaparecer, mas também as há vidrado
e pintado muito bonitas como geralmente as que mostro duma qualidade.
Agora aparecem as de plástico de Policarbonato e algumas muito maiores
que podem servir à mesa alimentos como saladas ou doces.
A origem das Malgas ou das Tigelas são outro objecto criado pelo homem
e consta que a peça mais antiga encontrada tem mais de 18.000 anos.
Muitas vezes a tigela é usada como termo pejorativo: meu este, meu aquele de meia tigela!
A malga ou a tigela servia também como arma de ameaça nas discussões
onde o conteúdo era arremessado à cara de alguém.
Nas tabernas, ou onde houvesse vinho à venda havia a malga ou as
malguinhas para as diversas quantidades de líquido de baco.
As tavernas era sempre um espaço para passatempo. Por vezes,
transformava-se em espaço de discussão, de barulho, de porrada, brigas, mas
também era lá o local dos “grandes” negócios e do fim de muitas desavenças
entre homens. A Malga andava sempre nas mãos para mais uma tigelinha, assim
também em algumas terras onde não era possível um rapaz de outra aldeia namorar
alguma moça, nessas terras, então tinha de obter a carta de alforria na taverna
onde os moços daquela terra se encontrassem e aí entrar, pagar uma rodada de
vinho a toda a rapaziada e receber do taverneiro um pedaço de papel de costaneira,
de embrulhar amendoins, por exemplo, com o carimbo que era colocar o fundo
exterior da malga molhado em vinho sobre o papel. Essa era a carta de alforria,
isto é, a licença para ir namorar aquela que encontrou nalguma romaria ou
festa. A partir daí podia-a namorar com a licença dos rapazes da aldeia da
amada e andar aí à vontade.
Afinal um objecto que está sempre à nossa frente e nas nossas mãos
todos os dias e nunca pensamos quanto não vale este objecto que muito, mas
mesmo muito pequenino com asa até toma o nome de chávena para tomar o café com
35 ml ou maior e para tomar o chá ainda que não se deseje…
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