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quinta-feira, 2 de abril de 2020

BAÚ DE MEMÓRIAS

BAÚ DE MEMÓRIAS
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ARTUR COUTINHO   

BAÚ DE MEMÓRIAS
VIANA DO CASTELO 2019
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Apontamentos do Padre Coutinho sobre Costumes e Tradições, a vida do campo,  as palavras,  signicados de topónimos, palavras campestres, a vida pessoal e outros. O autor não segue o acordo ortográfico
FICHA TÉCNICA
Título Baú de Memórias Autor Artur Coutinho Data e local de edição Novembro 2019, Viana do Castelo Design e Impressão Gráfica Casa dos Rapazes - Viana do Castelo Tiragem 500 exemplares Depósito Legal 000000000000000 ISBN 0000000
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PREFÁCIO Há momentos nas nossas VIDAS em que revisitamos memórias, procuramos pelo velho álbum de fotografias e o nosso olhar demora-se sobre o pormenor, como que tentando resgatar uma expressão, um pensamento, uma palavra e reviver. Percebemos, nesse instante, que o tempo passou por nós, sem que tenhamos dado por ele, consumidos em rotinas, em tarefas, em compromissos, em metas, num corre-corre para lugar algum… O nosso mundo é demasiado competitivo, cada vez mais competitivo, só há espaço para os mais combativos, para os melhores ou para o melhor dos melhores, tantas vezes “homo homini lupus”, isto é, homem lobo do homem. E nesse corre-corre para lugar algum, nesse exercício de sobrevivência e superação, somos ensinados, instruídos por essa escola - a que chamam - da Vida, a focar no nosso “EU”. Somos ensinados a focar a nossa energia, a nossa capacidade de trabalho, as nossas competências, os nossos dons, os nossos sacrifícios: no objectivo. Sem que, em tempo, questionemos, reflexivamente, para onde nos leva esse Caminho... E, neste engodo solitário, tendemos a esquecer, tantas vezes, tudo o resto, sem prestar verdadeira atenção ao outro, mesmo que sempre a nosso lado… Até que, de repente, despertos da névoa do sonho, percebemos que sobrevivemos, mas não vivemos e, tudo o que demos até então por certo, revela-se ilusão efémera. Mas e se o tempo parasse, e nós parássemos com ele, e olhássemos para trás, com a atenção do pormenor, pelos olhos de uma criança que, em tenra idade, por vocação e bem-querer, escolheu ser Pastor e, depois, pelo aprendizado da Caminhada, se fez Mestre de um saber enciclopédico, sempre com a mesma preocupação de bem cuidar dos outros, em especial dos que mais precisam.
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Este livro, que tenho a imensa honra de poder prefaciar a convite do Autor, que muito me deixa sensibilizada, representa esse precioso baú de memórias, repleto de saberes, toponímias, palavras, expressões e orações, que nos enchem a alma de uma felicidade quase esquecida, à mistura com utensílios caídos em desuso ou quase, sempre em testemunho vivo das vivências da “Aldeia Minhota”, nesse passado tão presente, ainda ontem, capaz de nos surpreender, pelo requinte do pormenor, ora de um saber popular, ora de um saber erudito, mas sempre enriquecedor. Mas, mais importante, este livro é também uma oportunidade de conhecer melhor o menino que se fez Homem e Padre na Pastoral Nossa Senhora de Fátima, Diocese de Viana do Castelo. Os traços mais fortes da nossa personalidade, ainda que modelados pelo processo educativo e aculturação de valores, permanecem em nós, e são a nossa essência mais pura e genuína. Por isso, não surpreende que o Autor que soube procurar nas raízes de onde vimos, o sentido deste presente e futuro para onde caminhamos, que soube ser professor fundador onde não havia escola, que soube ser “engenheiro de telecomunicações” onde não havia telefone, que soube ser voz de comando onde faltava a vontade, e sempre tudo fez acontecer em benefício do outro, sobretudo, dos que mais precisam; tenha sido também a criança curiosa, irrequieta, amiga do seu amigo e sempre atenta à necessidade do outro, que ávida de cuidar, cedo aprendeu a fazer pão, acender a lareira, cozinhar ao lume, engomar as camisas com ferro a carvão, e tantas outras coisas, e que tudo fazia antes mesmo que lhe pedissem, sempre com uma engenhosidade surpreendente, até pirotécnica… Mas, para além disso, este livro constitui, sobretudo, um apelo à reflexão. Através das suas páginas, recordamos que o conforto da nossa vida quotidiana de hoje não compara com a penosidade dos dias de ontem. E, apesar disso, hoje não parece conhecer-se maior felicidade. A resposta, se meditarmos afincadamente, podê-la-emos encontrar na mensagem do Autor expressa no capítulo que atende sob o sugestivo título: “COGITAÇÕES DE UMA ALMA”. Neste precioso legado, cada um de nós é convidado a apreender o sentido da vida. Todos os dias nascemos e morremos. Se nascemos começamos de novo, e começamos de novo todos os dias. Então, todos os dias temos uma nova oportunidade de fazer o certo. Se morremos todos os dias, então, todos os dias temos um balanço a fazer: “O que fiz verdadeiramente, fez alguém feliz?”. “Somos hóspedes neste mundo e quando morremos não saímos da nossa casa”, mas apenas partimos da hospedaria. E na hospedaria nada é nosso, não somos o ter, apenas o SER.
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A questão resume-se, pois, em saber quem somos e quem queremos SER. Não somos só o EU, mas também o Nós. É no Nós que, neste livro, reencontramos a alegria da desfolhada, a sã entreajuda e convivência da boa vizinhança, a família que se une em oração, a aldeia que responde ao sino que toca arrebate e a Luz que a ilumina; que compara com o EU solitário, inebriado pela sociedade de consumo, que hoje, tão insistentemente, nos procura convencer da infelicidade se não participarmos dos excessos e devaneios dessa febre consumista, em que os bens se acumulam e perdem uso, antes mesmo de consumidos, apenas e porque outros bens lhe sucedem em interesse e, assim sucessivamente, em ciclo vicioso, ao extremo desta busca incessante pelo ter, esta exploração de recursos sem limites, fazer precipitar as alterações climáticas, perigar a vida na Terra e a sobrevivência da Humanidade. Poderemos ser infelizes tendo quase tudo e poderemos ser felizes tendo quase nada. Tudo depende do que escolhermos. Cumpre a cada um de nós, no seu livre arbítrio, questionar os mandamentos porque rege a sua vida, “Olhai os passarinhos …, Olhai os lírios do campo…”, e tentar perceber que aquilo que nos poderá fazer verdadeiramente felizes, o dinheiro não compra e o poder não consegue. Num gesto de grande generosidade, fruto da sua “reflexão e experiência de mais de 70 anos de vida gozada e sofrida, de alegria e tristeza, de amor e confiança, n’Aquele que perdoa o pecado e a todos salva”, o Sr. Pe. Artur Coutinho partilha ainda, neste livro, os mandamentos da sua VIDA, neles encontraremos a bússola e o segredo da sua personalidade sempre enérgica e jovial, a saber: “… o grande segredo da felicidade está no viver o presente com Alma.”. Creio ser este também o ensinamento maior testemunhado neste livro, que por via do nobre gesto do Autor é também pedra a servir a notabilíssima VIDA e OBRA da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima da Diocese de Viana do Castelo, cuja mensagem a todos convido a ler, reflectir e guardar, pelo Tesouro que É, nos Nossos Corações.
Eduarda Maria de Araújo Carvalhido
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INTRODUÇÃO
Depois de mais uma experiência na minha vida de saúde, com 14 meses de quimioterapia, e ainda não sei quando acabarei, resolvi revisitar os meus ficheiros mais antigos, converter e ainda consultar mais alguns livros da minha biblioteca e trabalhos do meu Blog, para juntar e pôr um pouco de ordem na desordem, para escrever uma nova página. Aqui está um livro que pensava chamar-lhe “Tradições e Costumes Populares, II Volume,” como um dos últimos editados, que se vendeu muito bem a favor das obras sociais e paroquiais. No entanto, deixei de pensar no segundo volume das Tradições e Costumes e dar-lhe outro nome porque, para além de tradições e costumes, tem alguma toponímia de Mazarefes, tem uma recolha de palavras de muitos anos e usadas entre o Neiva, Lima e Minho, palavras outras que já tinha publicado no meu Blog, bem como algo de carácter pessoal que gostei de escrever, agora. Para além de alguns costumes e tradições ficam publicados apontamentos sobre “falar limiano”, termos fora de uso, ou a cair em desuso entre o Neiva, Lima e Minho, toponímia e assuntos interessantes que procurei escrever dentro deste âmbito. Parece que estes apontamentos são de muito interesse para conhecer melhor a nossa Terra e a nossa Géne. Este reportório vai, naturalmente, ser apreciado por todos e todos poderão ajudar a completá-lo, pois não tenho a veleidade de esgotar os assuntos, se isso fosse possível e a dizer que tudo está completo, nem a isso me propus. Deixo, estou certo, algumas “dicas” que quem quiser pode explorar, corrigir ou aumentar. Quem adquirir este livro estará a ajudar a obra nova e a pagar a dívida de uma obra essencial desta  Comunidade, depois de tanta obra social, evangélica e litúrgica.
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Agradeço ao meu antecessor que me deixou, entre outras coisas, um bom grupo de catequistas e, em 1979 fundei a primeira equipa litúrgica para reflexões da Palavra de Deus de cada Domingo.
Pe. Artur Coutinho
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APONTAMENTOS, A MINHA TERRA, COSTUMES E TRADIÇÕES, FALAR CAMPESTRE DO NORTE, TOPONÍMIA.
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“OS SINOS DA MINHA ALDEIA”
Não é para lembrar os “sinos da minha Aldeia” de qualquer autor e, como outros escreveriam sobre os mesmos sinos da sua aldeia, assim posso eu escrever o que sinto na saudade e na minha alma!... Havia os sinos da Igreja de S. Nicolau de Mazarefes, padroeiro da Paróquia, minha terra natal, por isso eram esses que mandavam. Para além desses havia, e ainda há, os sinos da Capela da Senhora das Boas Novas.  Naquele tempo os sinos ouviam-se mais longe e tinham fins religiosos e civis. Assim, se um toque de um só sino com o badalo a bater desordenadamente, sem jeito e rápido, “era o toque arrebate”, era sinal de que havia algum perigo, havia necessidade de um socorro como apagar um incêndio ou uma chamada para arranjar ou limpar algum caminho, etc. As pessoas, quando se tratava de fogo, todas largavam tudo e com baldes e outros instrumentos que tivessem à mão corriam até ao local para salvar uma casa, uma fábrica, para cada um passar baldes de água de mão em mão para atirar ao fogo. Às vezes, quando os bombeiros chegavam, já o fogo estava apagado.
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Quando se tratava de arranjar caminhos, lá tocava o sino para lembrar o que tinha sido anunciado nas missas fazer limpeza neste caminho e punham a enxada às costas… lá iam todos os que podiam e ainda solidariamente se resolviam problemas da terra em que toda a gente se conhecia.
Numa manhã ou numa tarde ficava um caminho limpo e próprio para passar. Para a parte religiosa era o toque dos sinos que lembravam a hora da missa, pois nem todos tinham relógio e antes de começar davam 3 badaladas no sino. No entanto, foi resolvido acabar com as 3 badaladas porque os ladrões já sabiam que a missa tinha começado e andavam mais à vontade… Repicavam os sinos em dia de festa (baptizados, casamentos, ou outras situações de festa como no acolhimento à chegado do Bispo), para anunciar ou  funerais de anjinhos. Também tocavam tristemente para anunciar uma morte, um falecimento e tocavam várias vezes durante o dia… Ao meio-dia voltava a tocar para a oração do “Angelus”. Era o toque do meio-dia. As pessoas, quase sempre, estavam a trabalhar e descobriam a cabeça, faziam silêncio e rezavam. Os que não rezassem faziam silêncio em respeito para com os outros.
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V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria. R. E Ela concebeu do Espírito Santo.  Ave Maria… V. Eis a escrava do Senhor. R. Faça-se em mim segundo a Vossa Palavra.  Ave Maria… V. E o Verbo divino encarnou. R. E habitou no meio de nós.  Ave Maria… V. Rogai por nós Santa Mãe de Deus. R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Oremos Infundi, Senhor, como Vos pedimos, a Vossa graça nas nossas almas, para que nós, que pela Anunciação do Anjo conheçamos a Encarnação de Cristo, Vosso Filho, para que pela sua Paixão e Morte na Cruz, sejamos conduzidos à glória da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Quando não sabiam esta oração do “Angelus”, rezavam-se fórmulas como o Pai Nosso, Avé Maria ou Glória.
À noite voltava a tocar para anunciar que a noite tinha chegado e rezava-se a oração à Santíssima Trindade.
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores. Amém.
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Havia a superstição de que a partir dessa hora as crianças não podiam estar fora de casa ou, se saíssem, só o faziam ao colo do pai. Era a ideia do ar da noite, do escuro, onde apareciam os lobisomens, as procissões de defuntos, as almas penadas. Os sinos da minha aldeia, como das outras, ouviam-se longe pois bem altos estavam, na sineira da alta torre, mas agora não são só eles que estão altos como há outras coisas mais altas, barreiras, meio ambiente poluído de poeiras, de tudo e de muito barulho. No meu tempo de criança, às vezes, chamava-se alguém que estava quase a um quilómetro com um grito acabado em Chilii… Do Monte para a Regadia ou da Regadia para algumas zonas do Monte. Acontecia em Mazarefes. Hoje é impossível porque o meio ambiente nos sufoca a todos e nos traz doenças auditivas, respiratórias, visuais, etc…O ambiente contaminado de lixo eliminará a nossa vida na Terra. Defenda o meio ambiente, obedeça às orientações do uso plástico e de tudo o que é lixo porque lixo sobre lixo não é luxo, embora eu saiba de alguém que é capaz de transformar lixo em luxo, mas é só um caso que conheço, ele é capaz de transformar o lixo em luxo, mas apenas algum lixo.
O TRABALHO CAMPESTRE
MEDAS DE PALHA
Eis as medas de palha milha. Começava-se a juntar copas de palha, isto é, molhos atados com palha milha ou palha de azevém seco, até encher uma vara fincada no chão e a terminar em forma de cone, com um remate próprio para não entrar água e esta escorrer pela parte de fora da palha que, no inverno, era servida para alimentar o gado bovino e não só.
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O CULTIVO DO MILHO
Em março começa para o lavrador o trabalho de semear o milho. Este era a fonte  fundamental da alimentação do agricultor e das pessoas em geral. O milho é uma planta bonita, desde a sementeira ao seu crescimento, até dar o fruto, ser cortado e ser comido. Então o lavrador prepara os bois ou as vacas, o arado, e com uma junta puxando o arado em terreno lento abre sulcos para um lado e lança (a leiva). Quando o terreno é duro ou é uma área grande, em vez de uma junta de bois, aprontam 2 ou 3 juntas de animais (era aquilo a que chamavam cambão). Depois da terra lavrada e para que não ficasse ondulada, leiva sobre leiva, era alisada, isto é,  com um grade com dentes de ferro. Os animais puxavam esse aparelho de madeira entrançada de 80cm por 1.80m, cheia de dentes de ferro intercalados. Às vezes bastava gradar uma vez, outras vezes, precisava de duas. Quanto mais direitinha ficasse a terra, mais fácil era a sementeira. Na ponta do terreno, onde o arado não chegava, chamavam-lhe o cadabulho e era cavado à sachola. Foi assim naquele tempo. Hoje até é tudo mais fácil através de tractores. Depois da terra gradada, entrava o semeador empurrando a semeadeira pelo lavrador ou, en
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tão, era ajudado ou puxado por um animal para distribuir o milho em carreirinhas pelo campo da cerca. O milho depressa crescia, dependendo do clima. Quando tinha uma altura maior era sachado com outros aparelhos. Com o sachador (quinze dias depois era decruado) com cerca de 20cm era mondado. A partir daí, o milho crescia mais depressa, e os campos ou as quintas eram mais verdes com o verde do milho, com as suas folhas crescidas caneladas, verdes e pontiagudas. Começava a rebentar o fruto que era a base da espiga, o carolo e barba verde a aparecer no topo, sinal que o grão de milho começava a posicionar-se na referida espiga. Depois de crescido ia secando, a tornar-se louro e  a barba pre
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ta ou castanha-preta servia depois para fazer chá de barba de milho porque diziam que era muito bom para empurrar as pedras dos rins. Acima da espiga na ponta, parte mais alta do milheiro ou  da planta, surgia o pendão que era aproveitada pelo lavrador para alimentar o gado.
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Quando o milho começava a ficar louro ou dourado, seco, começava a colheita. Era cortado à foucinha, levado do campo em carros de bois para casa para um lugar amplo onde iria ser desfolhado. Era organizada a desfolhada, para a qual eram convidados os amigos, os vizinhos, onde não faltava muita animação, cantoria, brincadeiras à volta do milho-rei, o encontro duma espiga de milho vermelho dava direito a um abraço ou a um beijo. No final, uma merenda, às vezes, noite dentro, depois das 23 ou 24 horas. Para estes trabalhos, normalmente, nem era preciso pedir ajuda aos vizinhos. Ajudavam-se muito naturalmente uns aos outros: aproximavam-se e perguntavam se não queriam ajuda. Queriam sempre. As espigas eram lançadas na eira para apanhar umas boas raçadas de sol e os grãos ficarem bem secos. Nessa altura seguia-se a malhada. Era outro trabalho feito com ajuda de amigos e vizinhos, cada um com o seu malho. Uma fila de malhadores de cada lado da eira, depois das espigas estendidas num monte sobre o comprido e havia uma arte própria para jogar o malho. Os de um lado lançavam todos, ao mesmo tempo o malho, enquanto os do outro levantavam os malhos, tudo com muita cadência. Assim, malhavam na sua
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vez e alternadamente. Apenas só se ouvia também alternadamente o barulho
 de um só malho até o grão de milho se desligar do carunho (carolo) e ficar por baixo dos mesmos. Começava e acabava a malhada, normalmente, à noite. Era coberto e pela manhã separavam-se os carolos para um lado e o grão para outro, sendo estes ainda estendidos para secar na eira. Quando o milho cantava é porque estava bem seco e então era limpo com um aparelho, o “limpador” ou “peneira”e guardado na tulha. As espigas que não eram malhadas não iam para a eira, mas eram guardadas no espigueiro, nos sequeiros para aguentar algum tempo. Todo este trabalho era feito sempre com muita alegria, com bom humor e sempre com a ideia de que este fruto nos dava o pão para alimentar a família ou fazer com ele um pouco de dinheiro para outras despesas. Era sempre considerado uma bênção de Deus à família, aos vizinhos, aos amigos.
Enquanto uns desfolhavam o milho, outros, em menor número, apanhavam a palha e faziam molhos que atavam com manadinhas de folhas de azevém, ou até com um dos milheiros mais secos. Depois deste trabalho feito punham, em lugar soalheiro, ainda que fosse na rua, como podemos ver abaixo, os molhos a que chamavam “copas”,  três a três em forma de tripé para
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secarem bem e depois serem guardadas em medas para dar de comer aos animais no inverno, ou  no tempo da chuva, ou das geadas. As medas eram uma composição dessas copas colocadas à volta de uma vara de pinheiro fincada na terra, no chão e aquelas tomavam em toda a volta a forma de cone até chegar ao cimo da vara, onde era colocada uma protecção para que a água da chuva andasse por fora e não entrasse pela vara para o interior da palha, ou das copas para não apodrecerem. Assim, já não faltava o alimento para os animais.
A PADIOLA
Nesta foto vemos uma Padiola. Esta é das mais fáceis e vulgares transportadoras utilizadas pelos lavradores e não só. Este instrumento de trabalho serve para transportar algo, a ser levado por duas pessoas. A padiola pode ser um tabuleiro rectangular com dois varais laterais de um lado e de outro, como uma liteira, cama, maca, ou charola e andor onde, por exemplo o lavrador carregava palha, feijão, o que fosse necessário e, em muitos lados serranos, ou de caminhos difíceis, até era usada para levar o caixão com o cadáver para a
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igreja. Esta que se mostra não é como tabuleiro, nem uma liteira, é aberta e apenas há travessas de madeira ao centro dos braços paralelos e que os unem e que saem dos dois lados para poderem pegar nela. Assim é mais leve e mais abrangente.
CULTIVO DO VINHO
Depois da época quente, tempo de praia e da época das colheitas chega o começo da queda da folha e com a folha a cair no chão, o viticultor começa a pensar na poda das vinhas. Antigamente era outra época de grande ajuda solidária para que o trabalho fosse mais rápido, mais alegre e organizavam-se as podadas, convidando-se os vizinhos, os familiares ou amigos. Era assim que começava o primeiro trabalho do cultivo do vinho. As videiras eram cortadas ao cumprimento e aparadas alguns sarmentos, deixando ficar outros a puxar pela seiva, pela força e energia que a terra lhes dava e ao chegar a primavera começavam a deitar os primeiros rebentos ou gomos.
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Com os rebentos abertos começava outro tipo de trabalho com cerca de 15 dias intermédios. Era o trabalho do sulfato. Eram cerca de 6 a 7 sulfatagens de todas as vinhas, assim como o trabalho de passar pelas vinhas e cortar ou arrancar com as mãos alguns rebentos a que chamavam “ladrões”, porque estavam a sobrecarregar a videira, retirando-lhe seiva, melhor, o alimento para chegar aos ramos que já tinham flor e as uvas verdes a quererem medrar. Assim, cresciam os cachos maiores ou menores com mais uvas ou menos de cor verde. Com o amadurecimento começavam a tomar a sua cor natural e tanto amadureciam e se faziam mais doces quanto mais sol apanhassem.
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Quando eu tinha 12 anos, a colheita do vinho era sempre para fins de Setembro, princípios de Outubro. Hoje as coisas são diferentes. São as vindimas mais cedo. Outro trabalho comunitário que era importante na lavoura e lá estavam os amigos, os vizinhos e as famílias para vindimar, agora aqui e depois para o outro. Tornavam-se momentos alegres, trabalhosos, mas menos pesados até pela mão e pelo coração que davam uns aos outros para se sentirem felizes por mais uma tarefa acabada. Este é um trabalho que depois continuava em casa. As uvas eram carregadas em dornas e estas transportadas em carros de bois. Chegadas as uvas a casa, tinham de ir para o lagar depois de espremidas pela masgadeira. Esta era feita de “gamelo” sobre uma estrutura de madeira que aguenta o “gamelo”, onde eram deitadas as uvas que caíam logo nos dois cilindros que rodavam, dentados e de ferro fundido, enquadradas nessa estrutura de madeira ligados por uma roda de ferro que ficava do lado exterior e através de uma manivela era transmitido o movimento de rotação para rasgar os bagos e cair o sumo e as bagas no lagar. Como criança cheguei a fazer este trabalho que era duro e, como criança que era, também não aguentava e lá vinha quem tinha de vir para acabar o trabalho.
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Em casa as uvas eram descarregadas gamela a gamela para a masgadeira. Enquanto uns descarregavam outros esmagavam as uvas e o líquido de baco, assim como o brolho (cascas das uvas e grainhas) ficavam espalhados pelo lagar. Ao fim de dois dias normalmente começava a ferver e nesta altura há quem faça papas, de vinho doce, tirado do lagar e com farinha de milho. Mas, quanto mais fervesse melhor, melhor cor e mais álcool. Quando deixasse de ferver começava a ir abaixo e, nesta altura, era tirado do lagar para uma pia donde o vinho novo era levado em canecos para os tonéis ou para as pipas. Depois deste trabalho só ficava o brolho no lagar. Quando o mosto fervia no lagar tinha de ser mexido de vez em quando e quanto mais tempo durasse a fervura, no lagar, o mosto estivesse em cima, isto é, a ferver, tanto melhor era o vinho. No lagar, o mosto a ferver libertava dióxido de carbono com uma temperatura que podia atingir os 25 graus. O que levava algumas pessoas à morte ao cair no lagar ou ao meter o nariz para saber ao que cheirava o produto. Ora, o dióxido de carbono aquecido a 25 graus a entrar pelas narinas dentro, outra coisa não era de esperar.
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Então, recorriam à prensa para espremer o brolho que ainda tinha muito líquido para aproveitar e lançar nos pipos com os canecos. O trabalho de espremer o brolho não era fácil. Era usada uma prensa sobre uma grande base de pedra arredondada e com um veio (um sulco), onde o vinho saía pelas ripas e caía no referido veio inclinado para um ralo que ia ter a uma pia, donde se carregavam os canecos de 20 ou 12 litros para levar para a Adega. Este aparelho da prensa sobre a referida pedra leva duas cestas ou caniças, meias calotes esféricas superficiais de ripes apertadas por três meios aros de ferro com umas ganchetas que funcionam como chavetas que prendem ou tramam as respectivas caniças. Ao centro funciona um fuso e no cimo o ma
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caco de cavilhas e o ferro anexo ao macaco que através de um ferro cumprido a este aparelho, é que fazia o macaco rodar sobre um ferro anexo, que pousava sobre 2 cepos ou mais, pousados sobre duas meias-luas, os pratos que eram colocados por baixo dos cepos sobre o brolho bem estendido para apertar bem os restos do bago e grainha e descobrir algum vinho a mais. Depois de uma prensa espremida era retirado o brolho já espremido para uma dorna e acamado para ir depois para o alambique fazer aguardente. Ia-se deitando mais brolho e assim até ao fim. Acontecia que este era o bom vinho, vinho para as festas, para os amigos ou para vender. Às vezes o vinicultor deixava algum brolho a que misturava mais umas gamelas de uvas e esmagadas sobre o pouco brolho, juntavam uns canecos de água.
As poucas uvas faziam ferver de novo o brolho com a água, embora menos tempo. Chamava o vinicultor a este vinho água-pé e pesava cerca de 4º graus para consumo de casa, mais sujeito a estragar-se depressa, sobretudo por causa do clima. O primeiro vinho tinha mais graduação 8 a 9 graus. Era mau se fosse menos do que isso. O caso a que me refiro era o vinho verde tinto.
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Assim era naquele tempo, pois hoje existem métodos mais simples, mais confortáveis, mais leves até outros modos para ter uma graduação maior. Este cultivo do vinho agora está praticamente abandonado, não só pelo muito trabalho, pela muita despesa, e ninguém o comprar porque as adegas cooperativas o vendem com melhor qualidade. Quem o cultiva em grandes quantidades leva-o à Adega Cooperativa. Isto para não falar das exigências da Comunidade Europeia com as suas regras, às vezes desrespeitando a identidade dos povos com pouca eira e pouca beira, ou de dimensões ou superfícies mais pequenas. Nem tudo está acabado, os cestos, os canecos e as gamelas podem ser lavadas e arrumadas, mas falta chegar a época em que o brolho acamado em dornas e bem tapado para não apanhar ar, pudesse ir para o alambique de onde saía do brolho a respectiva aguardente que não servia só para os homens matar o bicho pela manhã, como para as mulheres que ajudavam na faina dos campos, no verão, para não beberem vinho, pediam um refresco de água com aguardente, açúcar pouco, ou sumo de limão. Portanto, quem colhesse vinho, colhia aguardente, que também fazia de remédio para as constipações, gripes e rouquidões. Para isso pegavam num prato, lançavam a aguardente, deitavam açúcar e punham-lhe o fogo e o açúcar que ficasse no fundo com alguma daquela água quente era bebido, metido à boca com uma colher e limpo o prato ia-se para a cama dormir…E pela manhã já aparecia curado ou quase.
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O APARELHO USADO PARA ENGARRAFAR VINHO
 Foi o primeiro que conheci na minha infância.
A BANHEIRA E O BANHO
O banho é essencial e deve fazer parte de um princípio fundamental da nossa vida. O banho era tomado fora de casa !.... No tempo da minha infância o banho era feito, na cozinha, vedada aos restantes utentes da casa, numa bacia de folha-de-flandres ou de barro ou cerâmica, do tamanho de um alguidar. Quando não era na cozinha era no quarto. No entanto à casa do lavrador, à aldeia, chegou a banheira que se apresenta na foto onde se podia sentar, encostar, colocar o sabão em lugar próprio… Eram, enfim, depois dos alguidares, a banheira que só se destinava a isso. Era movível e se não houvesse outro lugar destinado na casa, era na própria cozinha ou algum quarto mais confortável e discreto do resto do pessoal da casa, como acontecia com os alguidares. Nestes alguidares lavavam-se a cabeça, as costas e o peito e só depois as partes íntimas. Limpava-se a toalha de linho e ficava o chão quase todo molhado.
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Tendo em conta os banheiros domésticos e não as termas de maior ou menor uso, mas sempre de categoria superior como no tempo dos  egípcios, os gregos, os japoneses e os romanos sabiam aproveitar e recriar. Depois do banheiro doméstico movível apareceu, como a foto mostra o banho de chuveiro, esse embora muito antigo nas usanças senhoriais e mais tarde chegou ao povo. Foi mais tardio, mas depressa passou a desenvolver-se. Com a electricidade começou a ser aquecida a água por esta energia e a tornar-se mais prático. A bacia não é do tamanho de um alguidar, mas generosamente maior. Era a banheira, na casa não havia lugar para ela. Primeiramente, era usada fora de casa para aproveitar as águas sujas para regar as verduras e nada se perder, o que se tornava hoje e no inverno, algo impensável. Quando começaram a canalizar as águas, então começaram, passaram para dentro de casa para um canto onde se tinha descoberto ou mandado fazer e, por num ralo, a água suja ir ter ao esgoto. Os banhos termais vêm do tempo dos gregos e dos romanos. O banho é sempre revigorante, por isso, tomado pela manhã deve ser a melhor opção. Eu   pessoalmente só gosto de banho de chuveiro que me relaxe e gosto de o fazer à noite antes de deitar. As primeiras banheiras eram feitas de ferro fundido e, esmalte, ou ferro esmaltado, em inox e agora de outros produtos mais leves, resinosos e mais
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práticos. Estão a deixar de se fabricar nos moldes antigos e a serem substituídas por outras formas mais confortáveis e com outros efeitos até chegar a banheira  jacusi, etc
DECRUAR E MONDAR COM O SACHADOR
O sachador é um instrumento, hoje ultrapassado, para ajudar o lavrador a cultivar o milho. Depois da terra lavrada, gradada e semeada com o semeador, vem o trabalho da decrua com a ajuda do sachador. tem umas cunhas em ferro pontiagudas desde a ponta que enterrava na terra até ao ponto mais alto, com o fim de aliviar a terra entre as filas do milho crescido com um largo palmo de altura. Tornava a terra mais fofa e evitar as primeiras ervas daninhas. O mesmo se fazia com mais tempo com uma sachola. É uma sachola que tanto servia para este efeito, como também para cavar as vinhas, os cabedulhos, ou cavar a terra substituindo o arado quando se tratava de terrenos de pequenas dimensões. Servia também para esse serviço, como para usar num jardim, na vez de um sacho e outras culturas dos lavradores. Aliás sachar significa cavar a terra com o sacho, pequena sachola.
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A terra era afofada e o milho desenvolvia mais facilmente. Depois, quando o milho estava já mais alto com cerca de 40-50 centímetros era mondado, isto é, arrancado o que estava a mais encostado, um ao outro, era arrancado para deixar de estar tão basto e ficar mais raro e não se prejudicar o desenvolvimento e o fruto futuro, bem como rendado - arrancar ervas daninhas. Nessa altura entrava de novo o sachador, a quem mudavam as cunhas por umas sacholas especiais, que entre as linhas de milho abriam regos para rega e para encostar terra ao pé dos milheiros, dando-lhes mais consistência e conforto com terra à sua volta para o seu melhor desenvolvimento. Ao sachador em algumas terras davam-lhe o nome de “rendador”.
Para além do fruto que vem do pendão (parte masculina do milheiro) que contém o pólen que cai na espiga (parte feminina do mesmo) e faz com que esta se desenvolva bem, crescendo e carregada de grãos de milho. Ora, este pendão também era cortado se fizesse falta para dar como alimento ao gado. Também podia secar no milheiro e cortado pelo pé do milho.
GAMELA DE PADEJAR
Uma gamela para bater, ou padejar a massa levedada, e fazer dela a bola oval e colocar na pá de madeira, comprida, com a qual se iria pôr o pão em determinado canto do forno. Dentro desta gamela tem uma pá de ferro pequena. Era a ferreta, que servia para limpar melhor os desperdícios da massa.
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Uma pá de madeira pequena para ajudar a escaldar e a andar com a farinha na masseira. Uma pá de ferro grande que serve para limpar o chão do forno, ou “o lar do forno”, das brasas e o vasculho para limpar cinzas ou outras impurezas deixadas pela pá.  Aqui se vê uma ferreta, uma pá de ferro terminada em forma de concha para apanhar melhor o bolo ou a boroa do forno, ou lançar cinzas junto da porta
antes da bosta, ou por cima da mesma em toda a volta, pois era esta a forma de tapar a porta ao forno para conter melhor o calor do forno. Quando a bosta estava seca possivelmente a cozedura estava feita. Para cozer o pão no forno usava-se a porta que tranca o calor do forno que tinha sido aquecido com bastante lenha. Normalmente utilizava-se uma porta
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de chapa de ferro ou de madeira, mas a que se mostra na fotografia é de xisto e contém a usual cruz para que o forno dê fruto sagrado que nos alimenta e dois furos para espreitar se o pão estava ou não cozinhado. As portas eram calafetadas em toda a volta com bosta de gado bovino.
A ILUMINAÇÃO
Depois da descoberta do fogo através de uma fricção entre duas pedras e dum “chispe” faísca resultante, surgiu também a luz até hoje falarmos da lâmpada, das suas qualidades e diversidades, das que dão mais luz e das que gastam menos até chegarmos às lâmpadas leds. Ora a primeira iluminação teria começado por candeias de pedra até porque o sufixo cand, de origem celta, vem de pedra. Houve candeias de pedra, candeias de cerâmica, de argila, de cobre, de bronze, de prata, de ouro com desenhos inspirados segundo as proveniências dos deuses do tempo do paganismo. Bem como outras influências pelas suas usanças pelos reis, imperadores, os chefes das tribos até chegarmos às candeias de folha-de-flandres, com depósito de combustível que seria o azeite, o óleo, etc. Estas candeias ou lampiões que serviam para alumiar de noite os caminhos por onde se passava, para
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ver onde se podiam pôr os pés, ou dentro das cavernas, das casas, dos solares. Com o zinco encaixilhavam vidros para poder trazer para o exterior os resultados da combustão da torcida inflamada pelo combustível. A candeia conhece-se como vaso de metal ou de barro com asas, com desenhos gregos, em nome de deuses como serviam para beber, serviam para alumiar. Podiam fazer lembrar noutros tempos a vela dos moribundos e daí a festa da candelária. Tudo evoluiu a ponto de ter aparecido outro modo de combustível, como o petróleo, por exemplo. Apareceram os petromaxes de metano. Não sei quando, mas já os conheci no tempo de criança. Neles havia um depósito para o combustível, uma armação em metal com vidro cilíndrico e uma camisa em seda em forma de lâmpada. No depósito havia um injector manual para criar pressão sobre o combustível que, ao entrar na referida camisa, chegado uma chispa de fogo, começava a iluminar com uma luz muito forte. Os gases libertados saíam por cima como por uma chaminé. Ainda sou do tempo de ir com tochas de colmo a arder para iluminar o caminho para a igreja. Outra experiência era a luz de acetileno, isto é, hidrocarbonetos gasosos que se obtêm pela acção da água sobre o carboneto de cálcio, dentro de uma garrafa de metal, por exemplo, e um bico, tipo maçarico, que chegado ao lume, incendiava e fazia uma chama de cerca de 10 cm, que iluminava muito bem. Às vezes, só se utilizava este tipo de luz pelas festas de família, Natal, por exemplo. A iluminação por acetileno era um pouco perigosa por causa de possíveis explosões dos gases.
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Hoje, só nos países do terceiro mundo se usarão iluminações destas e, nem todos, porque a energia pela água e pelo vento é muito mais avantajada e todos os dias se descobrem coisa novas para o bem-estar das pessoas e das famílias. A vela acesa num castiçal de esmalte, de cerâmica, de material mais rico ou mais pobre, foi outro instrumento que iluminava. À luz da candeia, ou da vela, quantos livros se leram e quantos mais se escreveram; quantos contos e fadas, fábulas e histórias, ao serão, quantas lendas e quantas histórias de família passavam de geração em geração, quantas canções populares e fados enquanto se tangiam ou dedilhavam acordes de viola, guitarra,
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bandolim, cavaquinho e de concertina, de piano, afinando vozes desentoadas e, às vezes, afinadas com a ajuda da aguardente ou vinho tinto açucarado... Quantos sonhos e quimeras acompanhavam para a cama, depois de um serão animado e bem quente!...
COMO EVITAR QUE OS CÃES FAÇAM CHICHI CONTRA OS PRÉDIOS
É curioso que estas garrafinhas de água aparecem nas esquinas de todas as ruas duma vila espanhola. Questionando várias pessoas nas ruas, sobre este assunto, todas afirmaram, o mesmo: aquelas garrafas cheias de água, encostadas às esquinas e às paredes, evitam que os cães farejam, farejam, mas não fazem chichi naquelas paredes...
A ÁGUA
A água é conhecida cientificamente com o símbolo químico H2O e  é um elemento fundamental e integral da natureza, uma necessidade integral da vida na natureza!… A água lava, limpa, purifica e, benzida purifica e diviniza. Coze os alimentos para dar vida, mas também mata, conduz energia, electricidade, corre e foge por entre os dedos de uma mão, é capaz de transmitir movimento até chegar ao rio e sobre a qual só se passa sobre ela, através das pontes que sempre se fizeram e continuam a fazer, de barco ou prancha. A melhor, normalmente, rebenta do seio da terra nas fontes e nos poços artesianos. Explorá-la a mais ou menos profundidade da superfície da terra, pode ser mais pura a mais profunda. Estes poços nunca devem ser feitos em
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terrenos onde haja cortes de animais, ou zonas conspurcadas, como fossas ou junto a eles, terrenos que são adubados com produtos artificiais. Claro que se for para baixo do nível do poço, não se põe tanto a questão. Tudo depende dos terrenos por onde ande a água até chegar à fonte. É por isso que nem todas as fontes têm água potável. E onde há dúvida, a água pode ter uma purificação caseira através de uma fervura atingindo os 100 graus. A que vem da chuva é sempre a que nós acabamos por beber, depois do seu percurso normal até ser colhida directamente ou na face da terra, nas fontes, nos lagos, nos rios, e nos mares. Indirectamente é dessa água destilada que nos alimentamos. Rebenta nas fontes normais que a água corre e cai, ou fontes em que a água jorra para o ar. Os animais instintivamente procuram a água para saciar a sede. O mesmo acontece com os humanos. Toda a natureza necessita dela.
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A água, se não for profunda ou alta, ou decantada, porque “água corrente não mata gente” dizia-se, é sempre de desconfiar. Ela nasce, mas nem toda a que nasce é potável, daí na fonte, haver um aviso “água não potável” ou “água potável”, depois de observada pela entidade pública da região. Ela deve ser captada, aduzida por canais próprios, tratada, armazenada e distribuída ao serviço de todos. É um elemento que pode ser purificado através da fervura, como acima escrevi, da filtração através areia, ou outros…; purificada através de agentes químicos, como o cloro, o mais vulgar iodo, isto é descontaminar para que não faça mal e não mate. Aquela que nasce da fonte é analisada normalmente e se é potável o será por muito tempo, mas não se deve acreditar que está sempre potável porque
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depende dos terrenos, dos adubos usados na área envolvente, insecticidas, ou então, perto de terrenos mais altos e ardidos. Mais potável pode ser a dos poços e quanto mais fundos melhor, mas de ano a ano deviam ser as águas analisadas. No entanto, se for fervida ou cozinhada não há que ter medo. Quem tem acesso à rede pública por princípio nunca corre tantos riscos de contaminação da mesma, pois diariamente ela é analisada nos depósitos públicos. A água como bem essencial, hoje, uma boa parte da população tem água potável da rede pública, mesmo nas aldeias pelo que dadas as dificuldades analíticas, às vezes, deixam-se as águas dos poços, para rega de terrenos, terraços, carros, etc… Quando uma casa era alimentada pela água de um poço ao pé da casa e não existiam ainda as bombas movidas a motor, existiam outros modos de levar a água para casa. Era o odre, o cântaro, o caneco…Como chegava a água do poço aí? Foram vários os instrumentos utilizados pelo homem para pegar na água através do cabaço, da picota, da cegonha, engenhos estes muitos simples e de madeira.
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Num poço, um pouco mais fundo, ou com menos profundidade havia um balde e uma corda para lançar o balde ao poço e puxá-lo para deitar a água no cântaro até o encher e ser levado no ombro ou à cabeça para casa. Depois, apareceu um aro na vertical do poço com uma roldana onde era mais fácil para puxar o balde da água para cima.
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No entanto, começaram a descobrir o cilindro, ou o sarilho (de ferro ou de madeira) onde andava a corda e através dele descia o balde vazio e subia o balde cheio de água para ser despejado nos recipientes à mão para a transportar. Este cilindro trabalhava suspenso por um eixo sobre dois suportes apoiado nos peitoris do poço. Era manejado por uma manivela. Apareceu o engenho, a nora nos poços, ou cisternas através de rodas de ferro dentadas ou com espigões com cadeias metálicas de copos, alcatruzes ou também conhecidos por estanca-rios, isto é, vasos que elevam a água na nora, movida com uma alavanca à mão, ou por animais, cavalares ou bovinos, de olhos vendados, para evitar a tontura ao som de uma mola que conforme se ia movimentando fazia um estalido. Depois, apareceu a bomba mecânica movida a vento, utilizando o princípio das eólicas. Através de uma ventoinha que ficava alta e, movida, bombeava a água. A ventoinha era para a puxar e movimentar; mas outras bombas mecânicas no sentido horizontal ou vertical através de uma alavanca ou uma manivela, quando era movimentada numa roda grande, também puxavam a água para cima. Depois apareceram os motores movidos a combustível. A seguir apareceram as bombas mais práticas, eléctricas muito mais confortáveis. A água da rede pública veio evitar todas estas formas antigas. Para transporte da água ou do vinho havia a cabaça, o odre, a bexiga antes do garrafão; assim era levada para matar a sede em qualquer sítio, no campo, por exemplo – água com sumo de limão e havia quem a açucarasse. Quando a água era da fonte de chafurdo era metido o cântaro na água até encher e, retirado e conduzido para onde se queria. Noutras fontes mais pequenas o cântaro era enchido com outro recipiente e até com uma colher grande de madeira, como uma pá com rebordos mais altos e um cabo de palmo. Cedo o homem começou a descobrir na água uma fonte de energia para mover os rodízios dos moinhos e estes moverem a mó móvel que trituravam o grão de milho e faziam dele a farinha mais fina ou mais grossa conforme a vontade das pessoas. Se era para fazer pão era mais fina era mais viva se fosse para dar aos animais ou fazer o ralão com o milho pouco triturado para dar aos animais; se fosse mais triturado era para fazer caldo. Assim se descobriu a fonte da energia eléctrica. A água em movimento e o ar em movimento, são ambos fontes de vida, têm força motriz que pode ser aproveitada para o homem ir mais longe. O carvão que pôs a máquina em movimento, para fazer calor e, agora, a luz solar, descoberta também para produzir energia em qualquer lado.
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A água utilizada para os moinhos era presa num açude ao pé dum cubo como diz o povo. Eu conheço e não lhe posso chamar cubo, mas um prisma trapezoidal de quatro lados com uma grande entrada, a conhecida, pela “boca do inferno” que ia mover os rodízios através da força motriz transmitida às penas do mesmo, às pás ou pernas conforme as regiões. Era desta forma que o rodízio transmitia movimento à mó móvel que sob a moega onde se encontravam os grãos de milho que iam caindo com mais ou menos volume para serem moídos para dar farinha mais fina ou mais grosseira. Asim precisamos todos de água, sol, ar e terra que produz as árvores e as plantas com os seus frutos que alimentam a gente, os animais, bem como os bichinhos e as aves… As águas pluviais são imprescindíveis. É bom que chova o suficiente para manter o equilíbrio do ambiente ou da natureza, mas não para beber porque esta água era destilada, isto é, obtida por meio da destilação (condensação do vapor de água obtida pela ebulição ou pela evaporação) de água não pura (que contém outras substâncias nocivas dissolvidas). Percorre a atmosfera trazendo consigo toda a poluição que anda no ar. Desse modo pode não ser só H2O. A destilação não evapora os sais.
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É a água utilizada em laboratório ou industrialmente como reagente ou solvente, sendo também utilizada nas baterias dos automóveis e nos ferros modernos de “engomar”. No entanto a água destilada é ainda necessária para muitos trabalhos científicos e até na medicina. Hoje, para além da água da chuva que cai destilada, ela pode ser encontrada, se necessário, por outros modos como a água que sai dos desumidificadores e dos aparelhos de ar condicionado. A água destilada se tiver de ser directamente consumida sem grandes problemas, deve ser compensada por uma alimentação com elementos que faltam à água destilada como sais minerais, bem como aqueles que combatam o dióxido de carbono que traz a água da chuva. A água, para ser potável, tem de ter a fórmula química H2O e deve ter sempre um PH superior a 3 e inferior a 13, entre os valores de 0 a 14. Abaixo de 7 a água é mais ácida e o povo até lhe chama uma “água pesada”, quanto mais longe estiver para baixo do 7 pode ser prejudicial à saúde, assim como uma água com valores superiores a 7 é uma água alcalina e o povo chamalhe uma “água leve” e menos prejudicial ao corpo, embora talvez aquela que
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tenha um PH de 14, possa não ser a melhor. A água com um PH de 9 ou 10 faz com que o sangue se torne alcalino, (rica em cálcio) assim como uma com PH de 4 ou 5 torne o sangue ácido. Não sei qual é melhor, só a medicina se pode pronunciar, mas o meio-termo, um PH neutro de 7, mais coisa menos coisa, não seja pior. Dizem que as doenças cancerígenas não gostam de águas alcalinas.
SERRÃO
Serra tão grande que são precisas duas pessoas para a trabalhar a cortar troncos, toros das árvores. Para cortar, lanhar, talhar em tábuas. Uma serra para ser trabalhada por duas pessoas. Uma por cima e outra por baixo da “burra”
BURRA – INSTRUMENTO DE SERRAR
Era dos instrumentos antigos para os serradores.
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Um toro de pinheiro levantado de um lado até à altura de cerca 1.70cm e duas forcas cruzadas que o segurava e a mantinha de pé. Sobre este toro colocava-se outro para ser serrado em tábuas de forro e de soalho. Um serrão ou uma grande serra eram utilizadas por dois serradores. Um por baixo e outro por cima, fazendo o trabalho ritmado, manejando o serrão ou a serra. Um puxava para cima e outro para baixo, mas sempre os dois. De vez em quando o de cima da “Burra” caía e aleijava-se. Em Mazarefes um aparentado morreu.
TOUCAS
Cobrir a cabeça já vem de tempos antigos da história da humanidade. Cuidar da cabeça era algo natural e muito importante, pois a falta de higiene nos cabelos pode dar origem ao aparecimento de parasitas. Cobrir os cabelos e a cabeça era modo de proteger os belos longos ou normais cabelos com pontas secas e duplas, cabelos secos, ressecados, cabelos enfraquecidos, danificados ou tingidos e descoloridos, assim como o fortalecimento e o crescimento saudável dos fios das cabeleiras. Também tinham os seus remédios caseiros. As senhoras usam os seus artefactos para os ornamentar ou dar-lhes forma sedutora. Qual foi a primeira indumentária para tapar a cabeça do frio, da chuva ou do sol, não posso afirmar. Naturalmente seria o gorro ou a touca de origem indígena. Hoje a touca destina-se sobretudo para o banho, para a natação ou para higiene na cozinha. A touca era, naturalmente, feita inicialmente à moda do turbante de origem asiática. Pelo contrário a palavra touca parece ter origem céltica.  Enfim, a touca
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era mais ou menos comum, embora variasse os modelos de região para região, desde os antigos até agora. O barrete surgiria mais tarde, o “barrete frígio” ou o “barrete de liberdade” espécie também de touca ou carapuça usados na antiga região da Ásia menor, onde hoje é a Turquia. No século XVII este “barrete frígio” tomou o nome de “barrete de liberdade” depois da guerra dos Estados Unidos da América e durante a Revolução Francesa. O barrete apareceu no brasão das armas da Argentina. O folclore moçambicano é marcado com touca vermelha na cabeça. Em Portugal existem as águas sulfúreas da touca Alpedrinha (casa do Fundão). Na língua mirandesa Touca é Galinha? Há autores que dizem que o homem medieval dormia completamente nú e só usava uma touca a cobrir a cabeça.
AS FOSSAS
As fossas, primeiramente são uma espécie de animais carnívoros, mas também há as fossas nasais, isto é do nariz. Deram o nome de fossa a uma abertura na terra onde eram sepultados os animais, os humanos em grande número frutos de guerras ou epidemias, também a tanques metidos na terra com pedras no fundo e em toda a volta em forma quadrada ou rectangular com uma profundidade mais ou menos de 80 a 100 centímetros, onde eram lançados os dejectos humanos e as águas residuais das cozinhas e das lavagens que seriam depois aproveitadas para adubos, quer nas aldeias, quer nas cidades. Antes de existirem as retretes nas casas, as pessoas acorriam a um recipiente onde, através dos bacios da noite, os conhecidos popularmente por penicos e depois iam levá-los e descarregá-los pela manhã num cântaro ou num recipiente maior até levarem os seus conteúdos para os campos. Neste tipo de fossa as larvas multiplicavam-se e outras bactérias favoreciam a mistura num adubo natural e bom.
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Em algumas aldeias, onde houvesse muitos trabalhadores de serviços e não agricultores, levavam os recipientes com os dejectos para uma fossa comum onde os agricultores iam buscar água da fossa com canecos ou cântaros de barro e estrume (restos da grande fossa) para adubar naturalmente os campos ou os canteiros das cebolas ou cebolinho, que eram plantas e que se davam bem com este tipo de adubo. Nesta foto, vê-se o tronco de uma videira que cobria uma ramada com cerca de 100m2 e um tronco com cerca de 0,45 cm de diâmetro e 141,4 cm de perímetro. Esta videira tinha perto de si uma grande fossa. Esta videira está a aproximar-se do fim da vida, mas calcula-se que possa ter mais de trezentos anos. Ainda tem dado frutos, mas está muito envelhecida e nota-se isso quando se bate com a mão no tronco que toca a oco. Depois apareceram as fossas sépticas e agora toda a gente devia ter direito a um saneamento. Uns têm, outros não e contentam-se ainda com fossas sépticas.
A MASSEIRA
Uma masseira grande para amassar algumas rasas de farinha para fazer pão. Esta masseira quer dizer que ali à beira há um grande forno. A massa que se vê preparada é possível que não vá além de duas rasas. Depois de bem amassado com as mãos, os braços e os dedos, isto é, espremer a massa com as mãos até fugir por entre os dedos havia que juntar à massa o fermento, um bocado de massa que ficava de outra anterior. Tudo pronto, ficava a massa a levedar. Em algumas regiões era um serviço dado aos homens, mas não tinha significado até porque noutras eram as mulheres e o pão era bom na mesma. O que se estava a fazer neste momento era tirar massa para servir de fermento no trabalho seguinte. Utilizavam-se a pá pequena de madeira que
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ajudava a andar com a massa e uma pá férrea para limpar a madeira. No final, faziam-se três cruzes em cima daquela massa  e se dizia a seguinte oração: São Vicente te acrescente, São Mamede te levede e São João te faça pão em louvor de Deus e da Virgem Maria. Era re
zado um pai-nosso e uma ave-maria.       Este trabalho era para qualquer pessoa que entendia. No entanto quando eu tinha 11 anos já o fazia para me adiantar à minha mãe que eu sabia que havia de chegar dos campos para o fazer.
MANÍPULO DA PORTA DE UM CURRAL
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Um manípulo numa porta dum curral. Tenho fotografia de uma fechadura de madeira com chave de madeira de uma casa, publicada no meu livro
“Abrindo Portas”. As portas dos currais usavam aldrabas de madeira, mas aqui já vemos uma de ferro. Aqui vemos como da parte exterior funcionava numa porta que registei a aldraba através de um manípulo bem grande.
MERENDA
A seira também de levar as merendas para os campos, ou para as romarias. Tanto podia ser levada na mão como à cabeça se fosse muito pesada. Também conhecidas por alcoviteira.
SEIRAS OU CESTAS
Esta foto de 1943 é de um romeiro a S. João d’Arga e neste grupo vêem-se
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as seiras feitas de junco e outras mais largas e altas, de verga com tampas de fechar que já tinham outro nome. Ainda as conheci muito bem, mas não recordo o nome. Faziam as vezes das Seiras de que já abordei. Teria o nome de cestas (?), agora me vem à cabeça? Eram feitas de outros materiais, fitas de cana ou de vimes.
A Rosa Gomes Viana lembrou-me que os nomes mais conhecidos como as das seiras são alcoviteiras e as cestas de verga conhecidas por condessas. Esta antiga  seria então uma condessa e a seguir então se chamaria uma alcoviteira. A seira servia também para levar as merendas para os campos, ou para as romarias. Tanto podia ser levada na mão como à cabeça se fosse muito pesada.
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TIRAR AS BATATAS
Estas mulheres de Dem andavam a apanhar batatas. Entre as batatas plantadas punham alinhamentos de couves. Por isso entre as couves que se vêem, elas lá andam de sachola na mão a procurar levantar a terra e por vezes lá cortavam um pé de couve. Este pente de ferro chegou mais tarde para levantar as batatas para fora da terra. Trabalho menos custoso e mais rápido.
Actualmente é usado um pente para levantar as batatas para fora da terra.
O CADEIRÃO
Um cadeirão de outros tempos. Esta foto é de um que existia na casa dos brasileiros e já serviu de modelo para pessoas que quiseram aproveitar o estilo. Não é confortável como os de agora, mas é bem confortável para aquilo que parece.

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OS CANECOS, OS CÂNTAROS E AS CANECAS
Todos são recipientes, vasilhames diferentes das bilhas Os canecos são maiores ou mais altos e de madeira, podem ser  de folha-de-flandres, de latão, barro ou vidro… E com asas aneladas para facilitar o transporte de líquidos. As canecas são mais pequenas, de vidro, de pirex, de plástico, de porcelana e podem ir ao forno. São resistentes ao calor e assim como se bebe um leite com café bem quente pela manhã, num dia de verão  pode-se beber algo muito frio. Estas vasilhas como os canecos são abertos por cima e com a base muito mais larga que a boca, precisamente para serem transportados os líquidos sobre os ombros. Os canecos são normalmente de madeira, mais pesados e com aduelas ou ripas ajustadas com aros de ferro, ao modo dos pipos. Também existem os cântaros, esses são de cerâmica ou barro cozido e levam mais ou menos a mesma quantidade de líquido. São mais bojudos. Aqui estão de lado os canecos aferidos que trato noutro lugar.
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As canecas podem levar 1 a 2 litros de líquido, disto ou daquilo, e vão à mesa, vão ao forno e, normalmente, quando servem os líquidos quentes são repartidos por outras canecas mais pequenas como uma almoçadeira, uma malga de sopa, de vinho, etc… Para além destas vasilhas, havia no meu tempo as chaleiras (canarinhas - cântaras pequenas - com uma pega e bojudas), que eram de cerâmica e serviam para fazer chá, café, cevada e depois vinham para as pequenas canecas como a chávena do café. Em alguns sítios chamavam à chaleira ou cafeteira, a “chocolateira” talvez por aquecer chocolate. Também era conhecida popularmente por “chocolateira”. As cantarinhas – canecas pequenas - eram as chaleiras que aqueciam a cevada ou o café, a “água encostada” aos potes devido aos desníveis das lareiras e havia as que tinham três pernas, outras só uma base rasa. Hoje existem de muitos materiais e de asas, enquanto naquele tempo as mais pobres tinham apenas um torno em forma da base de rabo de porco (que fazia de asa) do mesmo material. O caneco e o cântaro são utilizados para ir à fonte, ao poço e carregar água para as cozinhas, para haver água à disposição para beber, para cozinhar, para lavar. Conforme os dias, lá se carregavam 2 cântaros ou 2 canecos por duas ou três vezes ao dia, sempre de acordo com  as necessidades.
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Estes canecos ou cântaros eram colocados sobre as dalas, mesa de pedra normalmente para lavar a louça e potes ou panelas, os tachos, e com um ralo para despejar a água suja para a fossa ou para a estrumeira. Quanto ao cântaro é conhecido o melhor provérbio: “O cântaro tantas vezes vai à fonte que algum dia deixa lá a asa” para dizer aos teimosos que não há teimosia que não tenha um fim, por exemplo. “ Chove a cântaros” Também quanto ao caneco muitas vezes era usado como: “Olha, vai para o caneco”, “estava bêbado como um caneco”, “Foi uma noite que nem um caneco”.
CRUZEIROS dos clamores e de divisão de freguesias onde se sentavam os 4 abades:
Orbacém, Gondar, Azevedo e Argela no monte da Senhora das Neves, também conhecida por Senhora da Serra, em Dem existe um cruzeiro datado com data do princípio do século XVIII. Era conhecido pelo cruzeiro dos clamores, onde os festeiros da romaria de S. Silvestre e da Senhora das Neves faziam as contas, e cruzeiro dos quatro abades de quatro freguesias, que confinavam naquelas montanhas, conhecida pela “Senhora da Serra”: Orbacém, Gondar, Venade e Argela. Os assentos de pedra já estão quase destruídos, conforme se pode verificar na fotografia.
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CARRELA, CARROÇA CARRINHO DE MÃO
Depois da padiola para transporte, vem o carrinho de mão de duas ou de uma roda. Há os carrinhos de mão para transporte: ao serviço do lavrador, como para os vendedores ambulantes, para feirantes, para os trolhas... Os carrinhos com cabeçalho e uma travessa na ponta, para poder uma pessoa levantá-lo e movê-lo, ou com dois braços fechados para poderem ser movidos por mais que uma pessoa.
 Começaram por ser de madeira como a padiola, depois passaram a ser de madeira com rodas mais macias, em vez de ferro depois utilizavam os pneus. Rodas maiores e rodas mais pequenas. Apareceram a seguir os carrinhos de ferro e chapa, mais pesados e prontos a levarem mais carga. O que se mostra na foto é o suficiente para compreender o que era esse carrinho com umas rodas de ferro (mais tarde de pneus) e umas tabuletas laterais. Esta é uma carroça de tracção de um só animal. A carrela era de uma só roda ou de duas, mas era puxado à mão por uma pessoa.
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Hoje são diferentes estes carrinhos de mão com chassis ergonómico para maior facilidade de descarga, mais reforçado e rígido que oferece mais estabilidade, desenho diferente e pega bilateral o que permite mais conforto.
CESTO DE UMA RASA
Um cesto dos pequenos e os cestinhos das esmolas eram feitos pelos cesteiros de Mazarefes. Este era de uma rasa, isto é, não levava mais que uma rasa de milho, à volta de 13 quilos, por exemplo, Nesta foto vê-se que está bem coçado do uso, mas os que eram de levar à feira estavam sempre com melhor aspecto.
Quando se tratava do da feira, era levado à cabeça com diversos produtos da terra para serem vendidos na feira da região, da vila ou da cidade. Havia cestos para 2 e 3 rasas que se utilizavam mais na faina do lavrador, dentro de portas do quintal, bem como as cestinhas mais pequeninas usadas para outras coisas. Recordo que lá em casa, os meus avós tinham uma no banquinho de pedra suspenso na ombreira da janela aberta de alto a baixo. Esse cestinho tinha uma corda e quando os pobres batiam à porta com um rosário de orações pelas “alminhas desta casa que Deus lá tem”, era através desse cestinho que descia a esmola. Bom, era a “cestinha das esmolas”. Dava para mais serviços, não só para dar ou entregar, como para receber sem descer pelas escadas à porta da rua.
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Havia ainda o cesto da mordomia e o cesto de noiva.
ESTICADOR
Desconheço o nome desta peça. Chamo-lhe o esticador para aqueles que faziam vinhas de ramada esticarem os arames paralelos e não ficarem soltos ou a fazer lombas.
                                                        CHAPÉUS                   Chapéus há muitos!...Mas este é um exemplar do chapéu utilizado por um filho de um capador de Mazarefes que servia freguesias vizinhas e ia longe. Este tipo de chapéu de feltro está a vir de novo à moda...O mais importante não é o chapéu, mas a substância que o sustenta. O Domingos Dias, filho do Manuel Dias, o capador de Mazarefes que era  conhecido em toda a região.
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COLHER DA TALHA
A “colher” que parece um copo com asa é a que tenho como registo. Havia quem lhe chamasse caço, de andar a caçar o azeite, pois tem de ir ao fundo da talha e noutros tempos, não havia a luz necessária. Essas talhas eram colocadas na adega, onde se encontrava a salgadeira para a conservação das carnes de porco através do sal e até junto aos pipos do vinho. Muitas vezes levei colegas pobres da escola a comer pão boroa com azeite Esta colher dava para fazer prova do azeite para vender, dava para tirar para consumo da casa. Esta foi a colher que conheci na casa dos meus avós e seu tamanho era igual àquelas que conheci nas casas dos vizinhos que colhiam muito azeite, não só para consumo da casa, como para prova de coloração, do ranço e da acidez para vender a quem dele andasse à procura. Essas talhas, tinham lugar próprio, mas, muitas vezes, eram colocadas na adega, onde se encontrava a salgadeira para a conservação das carnes de porco através do sal e, ao lado, encontravam-se os pipos do vinho.
SERVIÇO DEPOIS DA MATANÇA
Depois de retirado o fato iam lavar ao rio as tripas que aproveitavam para fazer chouriças de sangue, de farinha e alguma gordura, as “farinhotas”; as curiosas de sangue, gorduras do véu do fato do porco; as de cebola com sangue, gorduras, couros, temperadas com sal, pimentão picante, doce e menta conhecidas pelas chouriças de sanguinhas e chouriças de carne feitas com carne depois de estarem um tempo em vinho e alhos, “vinha-d’alhos”, e com os ingredientes de tempero das sanguinhas, estas, normalmente, eram chamadas de salpicões e feitas da tripa grossa, embora houvesse chouriços de carne também em arco e o “pedro” do porco era o melhor, da melhor e grande febra.
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Esperavam as chouriças no fumeiro, que existiam sobre as grandes lareiras por alguns dias. Enquanto elas pingassem, não se podia subir para os bancos da lareira, nem para o “tibanco” que era o banco dos mais velhos da casa, o casal que já eram muitas vezes os avós. Por baixo e na lareira eram feitas fogueiras que pudessem produzir fumo que, como fruto da combustão, também libertava o monóxido de carbono que inspirado podia matar, por isso, evitavam exageros para mais depressa secarem as chouriças.
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A MALGA
Uma malga ou uma malguinha ou tijela é um objecto cerâmico côncavo sem asas ou alças, também conhecida por tijela, normalmente para comer o caldo, a sopa, o leite, a cevada. No entanto, esta malga servia para muitas coisas, isto é, leva tudo o que se põe lá dentro. Assim, são usadas malgas para a marmelada, o fermento, o pingue, sopas de leite,  com pão broa e,  antigamente com o leite tirado directamente do ubre da vaca, leite amassado, gemadas, sopas de vinho com broa ou com trigo. Para além disso, a malga era conhecida também por tigela, cunca, púcara e púcaro, caçarola, “caçola”, mas o vinho verde só devia ser provado numa malga e de preferência numa malga vidrada para apreciar antes o aroma do vinho para ver se seria bom. Também se mexia com a malga para ver as ondas e as lágrimas das mesmas que faziam à volta da malga vidrada, assim como a sua cor: mais gordo, mais cor e após esta apreciação era bebido o vinho, para o saborear na boca, e sentir o seu gosto, o seu peso em álcool, mais ou menos acidez; o menos ácido era o mais macio, portanto o melhor. A malga começou a ser substituída para o caldo ou para a sopa pelo prato fundo. A tigela é sempre mais alta e o prato é mais baixo em altura mas acresce-lhe um rebordo que faz alargar a base e levar um pouco mais do volume da sopa. A base da malga é mais pequena, e por isso mais alta e leva mais tempo a arrefecer. Embora a sopa seja uma comida que deve ser comida sempre quente. Daí a origem da palavra caldo do latim que significa quente, e não fria. A malga leva-se à boca enquanto o prato fundo não é fácil nem cívico levá-lo à boca ou comer a sopa com a colher inclinando o prato da sopa para dentro, mas para o lado oposto de quem está a comer. Pelo menos assim aprendi na educação cívica.
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O prato fundo, para além de servir para a sopa, serve melhor que um prato ladeiro isto é, baixo, para comer um ensopado de qualquer coisa que se apresente. Malga e tigela são a mesma coisa, a não ser que a tigela seja mais pequena, mas é sempre uma malga enquanto a malga nunca será um prato, nem fundo, nem ladeiro. As malgas não têm tampa. Agora há as de metal, de vidro, cerâmico vidrado ou pintado, embora o pintado esteja a desaparecer, mas também as há vidrado e pintado muito bonitas como geralmente as que mostro duma qualidade. Agora aparecem as de plástico de Policarbonato e algumas muito maiores que podem servir à mesa alimentos como saladas ou doces. A origem das malgas ou das tigelas são outro objecto criado pelo homem e consta que a peça mais antiga encontrada tem mais de 18.000 anos. Muitas vezes a tigela é usada como termo pejorativo: meu  este, meu aquele de meia tigela! A malga ou a tigela serviam também como arma de ameaça nas discussões onde o conteúdo era arremessado à cara de alguém. Nas tabernas, ou onde houvesse vinho à venda havia a malga ou as malguinhas para as diversas quantidades de líquido de baco. As tabernas eram sempre um espaço para passatempo. Por vezes, transformava-se em espaço de discussão, de barulho, de porrada, brigas, mas também era lá o local dos “grandes” negócios e do fim de muitas desavenças entre homens. A malga andava sempre nas mãos para mais uma tigelinha, assim também em algumas terras onde não era possível um rapaz de outra aldeia namorar alguma moça, nessas terras, então tinha de obter a carta de alforria na taberna onde os moços daquela terra se encontrassem e aí entrar, pagar uma rodada de vinho a toda  a rapaziada e receber  do taberneiro um pedaço de papel de costaneira, de embrulhar amendoins, por exemplo, com o carimbo que era colocar o fundo exterior da malga molhado em vinho sobre o papel. Essa era a carta de alforria, isto é, a licença para ir namorar aquela que encontrou nalguma romaria ou festa. A partir daí podia-a namorar com a licença dos rapazes da aldeia da amada e andar aí à vontade. Afinal, um objecto que está sempre à nossa frente e nas nossas mãos todos os dias. Nunca pensamos quanto não vale este objecto que muito, mas mesmo muito pequenino com asa até toma o nome de chávena, para tomar o café com 35 ml, ou se maior, para tomar o chá. Ainda que não se deseje!…
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O “FERRO DE PASSAR A FERRO” O FERRO DE ENGOMAR
Esta arte de passar a ferro não é nova, mas já remonta ao séc. IV. Daí começou a haver aparelhos que faziam o lugar do ferro de passar roupa. Na aldeia, na minha infância, engomar era passar a ferro e quando se queria que as peças ficassem mais encorpadas ou endurecias, então, era comprada goma na drogaria e com um pano molhado em água de goma passava o “ferro de engomar”.
Desde chapa de ferro aquecido, ao ferro a carvão, o percursor do ferro a vapor, teve sempre evolução e continua. O ferro era primeiramente uma chapa de ferro fundido com bastante espessura (2/3 cm de altura) aquecido directamente no fogo para poder exercer o seu ofício, com a pressão de passar sobre a roupa. Na minha infância usava-se o ferro a carvão. Na casa dos meus avós maternos usava-se um modelo, e na casa dos meus avós paternos, outro modelo, mas, trabalhar com um ou com outro, era indiferente.
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Andava na quarta classe e quem passava a minha roupa era eu. Engomava os colarinhos da camisa e os punhos, bem como vincava as perneiras das calças. Gostava das calças bem vincadas, dos colarinhos e dos punhos das camisas bem engomados, assim como dos “lenços das mãos” dobradinhos, depois de passar a ferro ….Vincava as dobragens com o ferro. O ferro que conheci melhor é aquele que mostro em fotografia. Era uma caixa de ferro fundido ou alguma liga similar aquecida com carvão ou brasas lá dentro. Então, essa caixa vista por trás tinha uma figura quadrangular (trapezoidal) e tinha uma perfuração por onde podiam ser sopradas as brasas, ou melhor, por onde entrava o ar que fazia incandescência das mesmas. Teria uns 15
por 15cm e a perfuração cerca de pouco mais de 3 cm de diâmetro com uma roldana do mesmo ferro que rodava sobre um eixo que lhe ficava pela parte superior e fazia de porta para entrar o ar ou para fechar e deixar apagar as brasas.
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Esta caixa sempre com um comprimento de cerca de 25 cms e os lados laterais de formas arredondadas terminando em bico, levantaria depois em forma de pescoço (garganta) e a tampa que tem a sua base onde roda sobre a traseira do aparelho, que levantava e fechava a garganta do volume maior, dando lugar ao pescoço e a uma boca que faz de chaminé. Esta tampa serve para manter as brasas e o carvão aceso. No interior, para andar com o ferro sempre quente é colocado sobre um estrado de grelha com a configuração do corpo do ferro de engomar para receber as cinzas das respectivas brasas. Entre o pescoço do ferro e as brasas nas traseiras do ferro há uma pega, uma asa em madeira para o ferro poder ser manuseado sobre a roupa. Outra peça de madeira existe um torno no eixo, como um freio, que prende a parte de baixo com a parte de cima, na boca (garganta e ou pescoço). Para além disso é claro que um aparelho destes tinha de ter um lugar próprio para o pôr em descanso mesmo muito quente. Era uma grelha maior e semelhante à forma exterior do ferro de engomar e esta grelha também tinha na base traseira um pau torneado, para que o engomador não se queimasse ou pudesse mudar de lugar o suporte, ou o local de descanso do ferro.
O QUARTO DA CASA DE FAMÍLIA MÉDIA
Para além do pote ou penico existentes no quarto de uma casa, “sinal de rico, de riqueza”, veio depois ao lado, num canto, um lavatório. Este lavatório normalmente em esmalte, com um ralo com tampa e pio cumprido para levar a água suja a um
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furo no tampão de forma convexa com entrada para a água. Tanto no lavatório redondo como no balde havia uma estrutura montada de ferro e, entre o balde e o lavatório, havia uma divisória onde normalmente era colocada uma saboneteira também de esmalte. Nessa divisória, prateleira, poderia ter outros objectos para a higiene dos cabelos ou da barba. Em toda a volta existia uma segunda verga de ferro, a uma distância que servia para colocar as toalhas. Também haviam lavatórios que levantavam em estrutura metálica e um caixilho com um espelho para se ver o rosto. Podíamos dizer que eram os primeiros quartos que já manifestavam muita riqueza. Normalmente era o quarto de hóspedes. Apresentam-se algumas fotos, mesmo com os objectos cheios de pó, ou sujos, porque assim foram encontrados quando os registei.
OS TALHERES
O termo “talher” apareceu na idade média vinda do francês “talloir” que era uma faca longa e afiada, usada para cortar carnes. Naturalmente e sem dúvida alguma, pois ainda hoje acontece, o homem começou por levar a comida à boca com as mãos. Isto foi normal até à Idade Média. Ainda hoje, em algumas regiões do mundo, na África e entre os indígenas, acontece.
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Segundo alguns historiadores seria na Idade Média, mais precisamente entre o século V e XV que surgiu o garfo, aquilo que é fundamental na civilização ou cultura de hoje. Ninguém pode preocupar-se levianamente com o que nasceu primeiro, se a colher, se o garfo. A faca sempre foi utilizada pela humanidade não ao jeito de hoje, mas como o machado de pedra do paleolítico e o machado de metal do neolítico, que serviram para cortar as carnes ou cortar as peças maiores de comer. Num quadro da última ceia de Jesus Cristo, datado do século XII, aparece um garfo na mesa. Não quer dizer que no tempo de Cristo existisse o garfo. Poderia ser um elemento de boas maneiras no século XII, a acrescentar para que também  lá estivesse como algo novo. É que nessa época parece ser usado um garfo de dois dentes para espetar as carnes e levá-las à boca. Não seria o comer com as mãos um sinal de respeito para aquilo que Deus dava para nos alimentarmos que se usariam as mãos? Esta é uma falsa questão. Creio por isso
 que não. Assim foi toda a vida mesmo até no século X ou XI. Só que a evolução cultural descobriu o garfo, e ainda bem que assim foi, e daí até chegar à mesa do rei, da nobreza, do clero e do povo foi chegando por aqui e por acolá aos solavancos. Nessa época teria aparecido o garfo e depois a colher, porque a faca o “homo sapiens” já teria inventado para além dos machados, outros objectos cortantes, que possivelmente serviriam também nos alimentos assados ou grelhados nas brasas, ou cozidos. Com a evolução cultural não teria sido difícil de utilizar e mais tarde com o garfo para a comida. Só no século XVII foi determinado que os homens deviam comer com talheres: faca, garfo e colher, com forma de concha. Muitas vezes estes objectos eram colectivos…A mesma peça servia para vários ou para todos do mesmo lar, toda a família. Do mesmo utensílio comiam os vizinhos… Esta colher em madeira era utilizada antigamente
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Talheres não são apenas aqueles que nós usamos. São também os pauzinhos que os chineses usam para comer e que eu já utilizei nas refeições feitas na China, para admiração de muitos, embora pusessem a todos os talheres ao lado e ao nosso jeito.  Para mim era uma delicadeza, pois na China ser chinês, e eu assim fiz em todas as refeições, assim como em Portugal se deve ser português. Os talheres eram tão simples que ainda conheci os garfos de dois dentes e de três dentes feitos de arame. Mas quando foram introduzidos para fazerem parte da mesa dos reis ou das rainhas eles eram feitos de zinco, barro, madeira, de osso, de prata, ouro e decorados com arte muito variada, rica ou mais pobre e em vez de uma espécie só, começou a utilizar-se os talheres de colher de sopa e de sobremesa, de chá e de café, de garfo de carne ou de peixe e de sobremesa e acepipes (garfinhos); faca para carne ou peixe e faca de sobremesa. Com as modernidades e comodismos apareceram talheres de plástico, papel e madeira descartáveis, muito adequados para facilitar piqueniques e outras festas. Era mais um problema ambiental, por isso, os de plástico acabaram depressa e os outros porque são biodegradáveis apareceram para o mesmo efeito. Enfim, hoje há uma variedade enorme de objectos de cozinha que se utilizam na confecção dos alimentos e na forma de os comer. Têm diversos tamanhos, formatos e funções como já observei acima. Talheres de barro e aço inoxidável. Tenho pauzinhos em osso para usar “à chinês”, naturalmente, comida confeccionada “à chinês…”
COZINHA
Uma cozinha grande na casa de um lavrador de Arga de Cima tinha uma mesa que só ocupava espaço quando aberta. Ainda hoje, aparece em casas novas coisas destas, não só na cozinha como nos quartos com as camas... Estava embutida num dos armários na posição vertical como se fosse a porta do mesmo, onde eram guardadas coisas de uso na cozinha. Quando se trata de comer à mesa, era aberto o armário com uma porta que abria na vertical e ficava em paralelo com o sobrado pousada sobre uma tábua mais ou menos à largura da mesa. Era bastante comum fazerem este aproveitamento para poupar espaço nas cozinhas.
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A fotografia ao lado documenta uma cozinha em casa humilde da Serra d’Arga. Os assentos eram bancos com três pernas A fotografia que vem a seguir já era na Abelheira, na casa de um grande lavrador com gavetas e com banco corrido e, também apareciam, como esta que parece ter um banco corrido, mas com encosto para os mais velhos.
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Noutras casas, a mesa que reunia a família para comer, servia de masseira. Não tinha gavetas, mas a mesa era composta com uma tampa que abria para cozinhar o pão e fechada fazia de mesa.
A DORNA
É uma espécie de pipa aberta de um dos lados e em forma cónica em calote com um diâmetro menor na base e maior na parte superior. As aduelas ou ripas são apertadas entre si pelos aros batidos.
Estas dornas, não deixam de ser uns vasos em madeira muito grandes que dão para carregar uvas, receber uvas esmagadas até à fermentação e o respectivo mosto até ao fim para colher o vinho por um batoque que se encontra a uma altura de 15 cm, mais ou menos, da base da dorna. Para quem não tiver lagar e muita uva é o processo de colher vinho em casa, mas várias dornas facilitam certas misturas de castas, fazer misturas de fermentos ou outros ingredientes para tirar de boca-aberta, isto é, ao começar a ferver e assim obter melhores qualidades da produção de vinhos quanto ao paladar, ao álcool, à acidez, à cor, ao aroma….
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Numa adega encontrei esta dorna de fundo para o ar que aqui se vê e também fui eu que a fotografei, vemos fruta em madureiro. Depois das vindimas durante o ano serve para dependurar um guarda-chuva e sobre o fundo várias maçãs, outros frutos, ou outras coisas. Era vulgar.
A EIRA
Uma eira na Serra d’Arga. Chamava-se e chama-se eira a uma área de terreno duro onde eram secados e expostos ao sol, os cereais, malhados, limpos de detritos e aproveitados para, como frutos da agricultura, ao longo do ano alimentar a gente. Esta eira encontrava-se sempre perto da casa de habitação
e quem não a tivesse era pobre, daí a expressão “não ter nem eira, nem beira”, tão pobre que não tinha nada a não ser a casa sem eira nem beira. Normalmente, a eira foi inicialmente em penedos altos, no alto das Penas, Pedra Alta, no alto das Peninhas, no soalheiro, ou terrenos muito duros. Mais tarde feita de pedras como mostra a imagem e só mais tarde de cimento. A eira está a perder de moda com as novas tecnologias e a perda da agricultura tradicional...
Esta eira é parcial de  uma no tojal, Arga de Cima- Caminha
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ENGENHOS DE TIRAR ÁGUA
Este engenho de tirar a água nas escolas, uma das fotos mostra o do Mazarefes que encontrei há pouco tempo. Era o do meu tempo, hoje, seria uma boa peça de museu... para o que se podia aproveitar o próprio espaço do edifício, agora ao abandono, fazendo dele um museu da aldeia.
Como este engenho conheci uma na casa de Artur Augusto Matos e Maria Rodrigues Amorim, na  mesma freguesia.
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A RODILHA
A rodilha é um pano, um trapo ou farrapo de limpeza e como sempre andava na mão para limpar isto e aquilo na cozinha, por isso, é que não é bom ser rodilha, isto é, andar de mão em mão, do “caco para o caquinho”, em pleno rodopio e pode ter um significado pejorativo. No entanto, a palavra Rodilha é o nome dado a uma peça de artesanato importante, para o equilíbrio do transporte de algo sobre a cabeça: um cântaro, um tabuleiro como os 700 tabuleiros na festa de Tomar. A Rodilha já não se usa muito a não ser em aldeias do interior. Ela era feita rapidamente de um lenço de cabeça de senhora ou de outro pano que rodava à volta de uma mão e entrelaçado era posto sobre a cabeça para transportar um cesto, cestas de merenda, um saco pesado, um cântaro, por exemplo, o cântaro da água da fonte ou do poço para dentro de casa ou com um caneco de leite ou vinho cerca de vinte litros, mas carregavam aquilo que podiam até 50kg ou mais!... Recordo que em outros tempos de vida dura o transporte de materiais à cabeça
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era normal. Em Mazarefes, uma moça de 18 anos, no século XIX, subiu a torre da Capela de Nª Senhora das Boas Novas com um sino à cabeça. O Arezes da Abelheira, a que já uma vez referi e fiz o seu funeral, descarregava sobre o dorso cinco sacos de cimento de 50 kg cada, do Barco para os Armazéns da Cuf (?), era só atravessar a rua, mas descia do casco para subir e descarregar no armazém. O pai de João Martins, que foi o marido da Edite da Rua da Bandeira, e um dos antigos maduros da Abelheira eram dois senhores que sozinhos carregavam uma pipa de vinho, sempre superior a 500 kg, pois cada pipa levava 500 litros de vinho, mais o casco!...
A propósito de rodilha havia também a rodilha do traje como as que mostro nesta foto. Quando saí da Serra d’Arga, uma das paróquias ofereceu-me estas duas rodilhas e vai há 42, anos a fazer em 29 de Agosto. Não sei a razão, mas às rodilhas também lhes chamavam “sogras” quando podiam mais elegantemente chamar-lhes almofadinhas da cabeça, pois elas eram o apoio dos objectos pesados e traumatizantes na cabeça das mulheres
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porque os homens, esses usavam mais os ombros ou o dorso. Eu não gostaria de ser rodilha, nem almofadinha, mas quem quiser: “Quem pode com o pote, que pegue na rodilha”, assim vem sendo este provérbio que no século XVIII apareceu: “Quem não pode com o pote não pegue na rodilha”, ou o contrário “Quem pode com o pote pegue na rodilha”. A rodilha deve ter origem com a humanidade, pois quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? A Rodilha devia ser uma invenção natural para transportar algo à cabeça. Hoje em desuso porque nada deve fazer pesar na cabeça que traumatiza a cervical e a coluna vertebral. Assim como nós temos o coração em local próprio para o nosso corpo, também o coração dos nossos pés está no chão porque se andarem no ar até incham. Também a nossa cabeça não deve ter sobre ela peso físico ou moral. Essa é que tem de andar no ar e sobre os ombros com todo o equilíbrio e com erguida. A rodilha era utilizada para amaciar na cabeça os tabuleiros, as “gamelas” os cestos, os alguidares, isto é, grande carga, as tripas de porco para serem lavadas no rio, aqui e no rio Servia na região da Guarda para as transportar. Ora isto pode vir do ano 7000 a.C., ano que se supõe ter sido domesticado o porco, segundo capela arraiana. pt/tag/porco/ Houve o jogo da rodilha e a palavra rodilha foi topónimo, alcunha e apelido. A Samaritana junto do poço tinha a bilha e a rodilha segundo os quadros mais primitivos que aparecem. Portanto quanto ao nascimento do uso da rodilha pergunte quem nasceu primeiro: a luz ou a escuridão?...
ESPANTALHOS
Os agricultores que cultivavam a terra e punham bandeira, macaco ou espantalho para evitarem que os pássaros comessem as sementes lançadas à terra ou os frutos. Quando os pássaros chegassem tinham medo e não paravam por perto. Havia muitos modos de fazer o mesmo. Este é só um dos modos...
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PORTA DO FORNO
Para cozer o pão no forno usava-se a porta que tranca o calor do forno que tinha sido aquecido com bastante lenha. Normalmente utilizava-se uma porta de chapa de ferro ou de madeira, mas a que se mostra na fotografia é de xisto e contém a usual cruz para que o forno dê fruto sagrado que nos alimenta e dois furos para espreitar se o pão estava ou não cozinhado. As portas eram calafetadas em toda a volta com bosta de gado bovino.
RASPADEIRA DO CALÇADO, LIMPA-PÉS… A RASPADEIRA DO CALÇADO
É um instrumento, uma peça normalmente de ferro, cobre ou bronze.O raspador era aquilo que raspava.Existiam destas peças às portas de casa para que fosse limpo o calçado (socos, chancas, botas ou sapatos) da lama ou terra seca, ou outra coisa que não se queria em casa, como por exemplo sujidade de animais. Também é conhecida por limpa-pés porque, no meio de gente com os pés calçados, havia também a gente de “pé descalço”. Então, as pessoas raspavam na raspadeira, isto é, limpavam os pés ou o calçado como hoje fazemos nos tapetes… Este instrumento era outra peça feita a gosto e até eram utilizadas formas zoomórficas, por exemplo, o desenho de um touro, para se raspar no dorso e, quem diz touro diz muitos outros animais, como: o cão, o dragão, o cavalo, etc.
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Em Viana do Castelo conheço duas, mas deve haver mais, uma no hall de entrada de uma casa da Rua da Bandeira e outra à porta, no lado de fora, da Casa de João Velho. Não faltam raspadeiras. Estas são utilizadas pelos pintores de construção civil e não só, mas também pelas cozinheiras e os que coziam pão boroa em casa também as usavam para raspar a masseira. Eram instrumentos também do pessoal de medicina ou de cirurgia e, de uma forma geral, eram usados em todas as artes e ofícios. Em muitas entradas de igrejas antigas havia um capacho de ferro forjado, isto é, uma grade de ferro fora da porta para limpar o calçado, tirar a terra, a lama, qualquer lixo ou sujidade, ou os pés para quem andasse descalço. Ainda
hoje existem capachos de ferro forjado onde se pretende conservar o antigo. Hoje, há capachos de sisal ou um tapete que resolvem também este tipo de limpeza do calçado. A propósito, e assim, a privacidade pode ser beliscada como conta Miguel Torga. Noutros tempos era assim: “A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade
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toda, de tão natural que era acabava por ser pura e limpa como a bosta de boi.” – Miguel Torga E com a bosta de boi tapava-se a porta do forno de cozer o pão. Apesar de tudo, o pão cozido em casa e, em muitos casos, só por homens, sabia muito bem e comia-se sempre mais… in livro “Abrindo Portas”, do autor.
CAIXOTES
Dois caixotes de assentar os joelhos para se esfregar o sobrado, o soalho, o chão, de madeira de pinho, carvalho... O caixote facilitava o trabalho porque este era feito de joelhos e evitava de os molhar e molhar a roupa. Um tem asa e outro não. A asa ajudava a movimentar o caixote, normalmente, ao recuo, pois ia-se lavando e recuando do lavado para o sujo. Água, escova de (piaçá)
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piaçaba e sabão amarelo eram os ingredientes necessários. Foi coisa que me passou pelas minhas vivências de criança. Gostava de dar à minha mãe a alegria de chegar do campo com as jornaleiras e ter almoço feito e casa lavada.


A TALHA DO AZEITE
Uma espécie de ânfora romana com base. Primeiramente surgiram de barro, depois em barro vidrado. Eram essas as antigas ânforas romanas. O vidrado já apareceu com os romanos, muito frágil. Hoje é mais duradouro, muito mais duradouro!
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As talhas passaram, como tudo, a ser feitas de folha-de-flandres. Não tenho uma fotografia porque na minha terra, ou no meu tempo, o azeite guardava-se religiosamente nas referidas talhas. Eu digo religiosamente de propósito porque era o azeite que alumiava o Senhor no Sacrário e daí um certo mito em relação ao azeite, sempre tratado com devoção, não só porque ia à mesa e alimentava, como alumiava pelos caminhos da aldeia em lanternas próprias, espécie de candeias de azeite, como também e, sobretudo, alumiava o Senhor na igreja e até se oferecia como o melhor Dom, o fruto dourado da azeitona que praticamente não tinha preço. Normalmente o lavrador que sabia do que precisava de consumir no ano, tratava de ser poupadinho à espera do Natal e na passagem de ano é que aí o azeite era gasto com abundancia sobre o bacalhau, as couves, as batatas, cozido com cebola. Muito dos segredos ainda hoje na restauração estão na preparação e no uso do azeite em muitos pratos. Usualmente uma das talhas de azeite era reservada à conservação (através do azeite) alguns produtos alimentares como o chouriço… Pois, não havendo frigoríficos, e nem se pensando neles, o povo procurava a conservação no sal, no azeite, no fumo, em especiarias como a pimenta, colorau, e vinho. No caso das lampreias eram enterradas no chão, a uma profundidade razoável, abrigado do sol e da chuva, em azeite ou água. As talhas eram guardadas nas adegas perto dos pipos, tonéis, onde também eram, às vezes, na mesma adega guardadas salgadeiras ou cereais.
FOUCINHA
Esta foucinha era usada para corte da erva, mas para ervácias mais grosseiras do que a erva era usada outra mais forte, como por exemplo as canas do milheiro, portanto, para o corte de milho. Podia ser usada a foucinha normal
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da erva, mas apareceu um foucinho mais alto com cabo grande. Com ele cortava-se de pé e com mais vantagem e, sobretudo, não cansava tanto os braços. Havia também a das silvas com cabo comprido.
TRADO
O trado era um instrumento para furar a madeira, fazer buracos em madeira. Hoje já existem mecanismos que nada exigem a quem precisa a não ser o uso da cabeça para saber o que tem a fazer e aonde carregar num botão.
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A TRANCA
No meu tempo de criança era o pau grosso e pesadote que se punha obliquamente fincado no chão para o centro da porta que abria para dentro, e ninguém entrava. Também se fazia de outro modo, quando não era de forma transitória ou temporária, era o mesmo pau que corria de tranqueiro a tranqueiro, entrando de um lado numa fissura ou buraco aberto no aro da porta, e fundo, que depois corria, transversalmente, à folha ou folhas da porta, no refundamento do outro lado até ficar pousado na espera e rente à porta, ao portal.
Havia também a tranqueta, trinqueta, trinquete  (hoje reduzido a um trinco). A tranquinha era uma meia tranca que ia do tranqueiro ao canto da folha da porta, no qual se encostava a uma travessa e um montante do centro da porta.
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Depois apareceu o ferro e tudo fabricado em ferro é mais seguro, perfeitas obras de arte. Hoje, alguns artistas gostam muito de enterrar o passado, dando todo o lugar ao alumínio ou outro qualquer metal, tudo moderno, tudo muito geométrico e escondido para não se ver. E assim se vai o passado. Tenho a impressão de que a Espanha é um país mais conservador, pois nas zonas históricas nada se muda, nem os candeeiros de iluminação de ferro forjado… Conservase tudo e serve para gáudio e admiração de todos. A tranca serve de obstáculo para entrar… Também havia trancas para as janelas. Eram e são modos de fechar as portas com segurança, trancando-as. Também se chama tranqueta de ferro a todos os “ferrolhos” que se colocam verticalmente por trás das portas ou janelas para as fechar. Alguns usam um cadeado, um aloquete ou trinco. As trancas eram usadas, sobretudo, de noite e as tranquetas bem metidas nos anéis de ferro ou nos buracos da padieira ou soleira. À tranca também lhe é dado o nome de taramela, tramela…
SERROTES
Dois Serrotes de ponta. Há vários tipos de serrote dependendo do serviço que é para se fazer. É constituído por uma lâmina mais ou menos larga com dentes afiados e mais ou menos trevados, com dentes em recto, virados para um lado ou outro ou intervalados e com um punho, tipo pistolão. Estes que são mostrados eram os mais comuns na casa do lavrador. Sobretudo eram utilizados nas podas das vinhas, árvores, etc…
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CARTA DE CICLISTA DE 1951
Esta é a carta de ciclista de DEOLINDA RODRIGUES DE ARAÚJO AMORIM QUE FALECEU 8 DIAS DEPOIS DE FAZER 98 ANOS. A CARTA É DE 1951. Carregada com produtos da terra subia a rampa da ponte velha “de um só fôlego”... O que era motivo de admiração para muitos que iam trabalhar para os estaleiros. É mãe de Artur Rodrigues Coutinho, Abel Rodrigues Coutinho e Maria do Céu Rodrigues Coutinho Barreto. Tem, nesta data, 3 netos (perdeu uma neta, que gostava muito, com 36 anos) e 5 bisnetos.
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O “SARRÃO” ?!...
“Sarrão”, “Tração” é o nome de um engenho simples para cortar a palha de aveia ou de centeio miúda para juntar com erva e fazer a palhada para acomerar o gado, bois e vacas. Na mesma freguesia existem estes dois nomes. Sarrão é um engenho de madeira preso à parede e colado do lado direito e à parede uma fouce semicircular que funciona num friso aberto numa chapa também semicircular de ferro chumbada à parede e depois levantar com a manete de madeira com a mão direita segurar em cima a foice, enquanto a esquerda ia empurrando a palha trazida do palheiro à medida que quisesse. A palha corria num trapézio de madeira aberto para cima, como uma meia cana trapezoidal. Ao descer a foice corta a palha. Daí o sarrão de sarrar talvez tenha o seu sentido. No entanto, há quem não tenha engenho de madeira e apenas um engenho tipo serra, chumbado à parede, onde se friccionava a palha até a cortar. Isto é serrar/ sarrar (sarrão) ou também tração, na mesma freguesia, vindo de traçar, cortar a palha para a dita palhada de erva e palha. A única foto que tenho e fiz em tempos deste engenho. Eu próprio fiz muita vez este trabalho com 8, 9 e 10 anos.
UMA ESCADA
Uma escada para subir mais alto. Era de duas guias paralelas de madeira de eucalipto ou melhor com degraus em madeira da mesma espécie. Era utilizada para subir aos telhados, para a apanha da azeitona ou encostar a qualquer árvore de fruto como as cerejeiras, etc...
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Hoje há-as em metal ou alumínio mais seguras e até para maiores alturas, mas já estão a ser substituídas pelas máquinas elevatórias e são muito mais seguras enquanto pelo menos alguma tecnologia não falha. Oxalá que nunca falhe...”deita-lhe a escada”.
O PORRÃO
Num porrão onde antigamente era guardado o pingue (gorduras do porco cozidas) e aí eram conservados alguns alimentos como rojões que aí se conservam por alguns meses. Era o congelador daquele tempo. Também se utilizavam para salgar sardinhas que seriam conservados depois de tomadas de sal,
outro conservante, e eram comidas mais tarde as ditas “sardinhas de salmoura” Agora é tudo mais prático com as arcas ou os frigoríficos, embora quem queira “sardinha de salmoura” suponho que não têm outra solução, senão recorrer à forma antiga. Não deve ser muito bom para a saúde.
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A DALA
Houve tempos em que a louça era lavada fora de casa, mas quando começaram a cozinhar numa lareira nas cozinhas da casa, começou a ser introduzida a dala. Foi como mais um objecto de riqueza e fidalguia, geralmente em pedra  e surgiu a lavagem nas respectivas dalas. A dala tinha um sulco em toda a extensão com alguma inclinação interior para a água suja correr e  sair por um ralo para fora.
Esta dala, fora do sítio é de 1916. Assim como havia lareiras grandes de famílias ricas e numerosas, havia também dalas maiores e muitas vezes um terço ou metade tinham uma inclinação maior para mais facilmente a água correr. Hoje já não há “dalas” ou melhor, as dalas tomaram outro nome, são as bancas que podem ser de vários metais ou outros tipos de pedra, com um ou dois pios para se lavar a louça, tornando este trabalho mais cómodo até porque a água chega pelas torneiras que estão sobre os pios, quente ou fria e a higiene da louça dos tachos que cozinham a comida, também mais fáceis e cómodos para os tornar frescos, confortáveis, e prontos a continuarem  o seu trabalho no mesmo dia ou a seguir ou no dia seguinte.
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CHUPA-CHUPA
Quando era criança recorda-me vagamente de que o modo de calar as crianças quando não havia chupeta, era fazer um “aloque” com açúcar, isto é, manter açúcar num pano como um boneco ou boneca bem apertado para meter na boca da criança. Já começa a criança a chupar, a sugar o açúcar e a adormecer ou a acalmar. Quando já mais crescido apareceram os chupa-chupas em forma de cone com base num palito conforme a fotografia que junto. Era duro porque era açúcar acaramelado, algo arrefecido e lançado num papel em forma de cone à volta do dito palito. Esse chupa-chupa andava na boca de muita gente sobretudo dos mais novos. E isto de meter na boca e chupar ou sugar repetidamente chamou-se talvez por esse motivo chupa-chupa de que exponho fotografia. Hoje os chupa-chupas são outros e muito diversos, uma guloseima para crianças e adolescentes às vezes, requer-se algum cuidado porque estes chupa-chupas modernos de que mostro fotografia podem incluir químicos nada favoráveis à saúde orgânica ou psicológica das crianças.
O ALGUIDAR
Trata-se de um vaso de barro vidrado ou por vidrar. O alguidar é, muitas vezes substituído pela celha. Por ser de madeira toma o nome de “celha” ou “selha. Hoje de “de folha-de-flandres, plástico em forma de calote esférica com a boca mais larga, isto é, maior diâmetro na boca que leva um rebordo e uma base mais estreita. Era uma escudela.
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O alguidar aparava o sangue quando o porco era morto e servia  para tudo; servia para deitar as carnes, cortá-las, levar as cebolas petadas, para fazer a mistura para os enchidos, pôr a carne em vinho d`alho. Servia para tudo que fosse necessário numa casa, como a malga, só que o alguidar era uma malga enorme. Também servia para por a roupa suja, para lavar e esfregar no rio, numa pedra inclinada, de joelhos. Assim era no meu tempo; levar o fato do porco a ser lavado em água corrente para o rio, ou para tomar banho (em três tempos), lavar da cintura para cima, as pernas e os pés. Depois lavar as partes íntimas. Tudo isto teve uma evolução porque já é do meu tempo o banho na banheira e o banho de chuveiro, como se vê também em fotos publicadas neste mesmo livro. Havia o alguidar coador, furado no fundo para virar as batatas cozidas e coar as batatas da água de cozer, ou o bacalhau, enfim o que calhasse e daí começaram a servir os compostos da refeição pelos comensais.
O BACIO
Como já escrevi em tempos sobre este assunto, antes de a retrete existir em casa, havia um bacio, que não servia para mais nada que dejectar ou urinar. Nessa altura em que a retrete ou a “casinha” era fora de casa, no eido dos animais ou no meio da horta havia esta vasilha própria para as primeiras necessidades durante a noite. O bacio, mais conhecido por penico, era o objecto para todos os dejectos que pela manhã era despejado em lugar próprio de época.
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Havia várias qualidades de bacios: em porcelana, em cerâmica, em folhade-flandres, em latão pintado ou não, com mais ou menos flores pintadas pelas paredes exteriores, como o exemplo que aparece na foto. Este objecto ainda é utilizado, mas tem tendência próxima de deixar de existir. Agora, já começa a haver banheiro, lavatório, sanita e tudo o mais que faz falta para a higiene pessoal em quarto de dormir, ou no corredor bem perto de todos. Lá se foi o penico com a sua asa e aqui fica nesta foto registada para memória, embora seja apenas uma espécie de muitas variadíssimas espécies que existiam, mas é o único que conservo nos meus registos. Outra coisa que já existe há muito, é o papel higiénico que antigamente era o papel de jornal, ou outro talvez mais duro. Recordo que quando regressei de S. PETTERSBURG de comboio, foi-nos indicado um hotel de turismo, junto à Praça Vermelha para serviços e quando entrei numa casa de banho havia rolos de papel de jornal cortado e como era tanto, não faltava papel estendido ou desenrolado pelo chão fora. Nessa altura já foi escândalo para todo o grupo.
AINDA O BOI E A VACA
...E nem tudo lembra quando se fala de carro de bois ou de carro de vacas. Numa região transmontana havia o “boi do povo”. Talvez ainda exista esta figura, mas em tempos idos este boi era guardado em corte própria, como um paço, uma capela, com uma sineta para tocar aos domingos de tarde  para reunir os jovens para tratarem do boi e pedir, porta a porta, ajuda para durante o ano manter aquele que era o boi do povo que em determinado dia do ano ia fazer uma pega com outros para ver se estava pesado, forte e potente para que, cornos com cornos, pudesse vencer ou levar à desistência, ao cansaço dos outros. Nas nossas terras havia o boi boieiro, onde levavam as vacas que estivessem com o cio. Desta forma a vaca podia ficar prenhe (prenha) e dar criação. Um dia, na recta da Areosa, observei inesperadamente quando ia de Viana do Castelo para Dem, por V. P. de Âncora: uma senhora levava a vaca ao boi e ia pela berma da estrada quando de repente a vaca se levanta com as patas da frente no ar e fez cair a senhora que ia com ela pela corda à sua frente, o que me fez parar e mais outro carro que vinha de frente para dar a mão à senhora. Foi assim que nos apercebemos do que se passava, mas a senhora não teve qualquer ferimento que, segundo ela foi mais o susto que a levou a cair.
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Estas coisas eram assim. Também quando se andava com o gado bovino em trabalho em sítio que ele não poderia comer, por exemplo, no meio das couves da horta, então eram utilizados uma espécie de açaimes, como para os cães. Eram diferentes e chamam-lhe cofinhos (na Abelheira), cofos (em Mazarefes), conformes as terras. Aqui apresento a fotografia de uns, mas não eram iguais em todo o lado. Dependia do artista... As vacas ou os bois andavam, normalmente, presos por uma corda ou uma soga. A soga era diferente da corda de sisal. Era feita de uma fita larguinha da pele de outro bovino. Esta pele era um pouco rija, mas  era amaciada com banha de porco. Na Serra d’Arga diziam:
“Eu pedi leite à vaca, a vaca pediu-me erva, então pedi ao campo erva e o campo pediu-me rega”.     ROLDANAS
Esta peça e o conjunto destas peças agarravam grandes cargas e tornava o trabalho mais leve ao homem para subir grandes pedras para as constru
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ções das casas. Era o sistema das roldanas. Uma das máquinas movidas pela força humana. É portanto uma roldana e com um conjunto de roldanas que muitas obras grandes de pedra foram feitas depois das rampas. Desde Siracusa que os cadernais (combinação de roldanas) ficaram célebres por um só homem por esse meio fazer, as obras que hoje são motivo de encanto, orgulho, e admiração de todos.
CANECA                                                  Uma caneca de cerâmica muito popular durante muitos anos e utilizadas nas casas, nas tabernas ou tascos e na restauração. Havia desde o quartilho até aos dois litros. As grandes eram muito usadas para o champurrião.
CASTIGOS
Antigamente a educação das crianças nas escolas, embora fosse “proibido” infligir alguns castigos aos alunos, havia a existência em salas de escolas uma “cana-da-índia”, uma régua ou palmatória e o mesmo os pais tinham em casa para educar os filhos, mais a chibata, ou pior o “cavalo-marinho” como mostro na figura. Ainda bem que passou esse tempo!...Embora, às vezes, parece ter-se passado de 8 para 80...,no entanto a lei protege as crianças e assim deve ser. O tempo de quem dá o pão, dá educação continua em vigor, mas a criança
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o que precisa mais é de compreensão, amor, diálogo e, sobretudo do exemplo dos pais e da sociedade, embora esta peque mais que ninguém ao permitir-se, através dos meios de comunicação social, das redes sociais poder exibir-se toda a espécie de violência que mata o amor e a estabilidade emocional latente no coração de uma criança e crescer em ambiente sadio, de paz, ambiente sereno e calmo que inspire confiança no seu crescimento. Se a criança é motivo de esperança, então deixem sorrir a criança, deixem ser felizes os nossos petizes...
A FLOREIRA
As plantas em casa eram mais frequentes do que hoje e houve tempos em que existiam suportes em madeira, as floreiras, onde colocavam os vasos com plantas de diversificadas espécies nas salas e nas varandas das casas dando-lhes assim uma certa decoração e beleza. Quando recebiam visitas, faziam almoços de sarrabulho e festas da terra, onde as famílias ou os vizinhos mais próximos, se juntavam, conforme os casos, até amigos de longe que convidavam. Nessas salas grandes das casas, com tectos tipo masseira em madeira ou em gesso trabalhado, eram servidos os almoços de casamento até ocuparem as salas e as varandas, numa maior intimidade familiar, não só com a família, mas também com amigos. Aqui fica um desses suportes velhinho, abandonado e à espera de uma mão para a levar para o lixo ou para uma fogueira. Quem sabe se para um museu? É sempre prejudicado quem se encontra numa situação inferior, segundo Orlando Neves, eis o significado para este autor de um “Dicionário de expressões correntes”: “quem se lixa (trama) é sempre o mexilhão”.
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 CADEIRA PARA DEFICIENTE OU PESSOA SEM MOBILIDADE
Esta é uma estrutura de uma cadeira de rodas para um deficiente andar em casa ou em sítios lisos e acompanhado e empurrado.
DO ANTIGO LIVRO DE USOS E COSTUMES QUE SE GUARDA NO ARQUIVO PAROQUIAL
1. Era costume cada freguês pagar um frango de dízimo. 2. Era costume pagar-se dízimo de bezerros. 3. Também era costume dar-se um vintém de dízimo pelos jumentos. 4. Era costume pagar-se dízimo de melões. 5. Era costume, pelos filhos de maior idade que falecessem, fazer-se-lhe um ofício com sua oferta. 6. Era de costume, pelos filhos menores de 7 anos, dar-se uma obrada de pão, vinho e um tostão para uma missa chamada «a missa do Anjo». 7. Era costume dar-se oferta, pelos baptizados, uma vela e meio tostão e, daí para cima, o que cada um quisesse. 8. Era costume obradar-se no fim do ano. 9. Era costume, pelo recebimento de noivos, dar-se uma galinha e ...(ilegível). 10. Era costume dar-se de oferta, no dia do enterro, um carneiro, um alqueire de trigo e um almude de vinho; e esta oferta ia com o defunto à igreja.
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Nos dois ofícios se dava de oferta ao pároco o mesmo. 11. Era costume que os que fossem mais pobres dessem, de oferta, duas galinhas, um alqueire de centeio e outro de vinho, em cada ofício e no dia do enterro acompanhava o defunto à igreja. 12. Era costume fazer-se três ofícios por cada defunto a saber: ofício de corpo presente, de mês e ano. Estes conforme os bens de cada um. Salvo se no testamento deixava designado outra coisa. 10 de Novembro de 1969
ALGUNS APONTAMENTOS DE MAZAREFES
NOTAS SOBRE MAZAREFES
Os últimos fidalgos da família dos Pereiras em Mazarefes. É costume no dia de S. Nicolau, padroeiro da freguesia, abrir-se o jazigo dos Pereiras que se encontra na capela-mor da igreja e colocar lá duas velas acesas durante a missa em veneração de Gaspar Pereira e Família. Este G. Pereira foi o fundador do morgado de Mazarefes, no ano de 1579. Os restos mortais estão em Mazarefes no referido jazigo com a seguinte legenda: “Este jazigo mandou fazer o doutor Gaspar Pereira, senhor dos coutos de Mazarefes e Paradela, cavaleiro na ordem de Cristo, fidalgo-mor de El-Rei; nosso senhor, e o concelho do mesmo senhor, Chanceler da casa da suplicação. Ano de 1579. O Dr. Gaspar Pereira foi o fundador em 1579 no morgado de Mazarefes no sítio da Senhora dos Prazeres que passou a chamar-se mais tarde da Senhora das Boas Novas Vid. - «Família dos Pereiras» em «Serão» nº 44, pág. 4 O Doutor Gaspar Pereira casou com Bernarda Coutinho e foram pais de Nuno Alvez Pereira. Este casou com sua prima D.ª Isabel de Mesquita e teve entre outros filhos o Gaspar Pereira. Eis o assento de baptismo deste fidalgo de Mazarefes: «Ao primeiro dia de Maio de mil e seiscentos e dezassete anos – baptizou nesta igreja o Doutor Gonçalo de Abreu a Gaspar filho de Nuno Alvez Pereira e de sua mulher D.ª Isabel de Mesquita foram padrinhos Rui de Sá Pereira e Isabel Pereira da Madureira e eu DA (?) abbe desta igreja administrei o necessário e fiz o assento no dia mês, e era ut supra».
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Assina: Pe. D. (?) Alvarez À margem: nasceu a sete dias de Abril às 3 horas da tarde, pais de D.ª Isabel de S. Francisco que (segundo o «Nobiliário de Famílias de Portugal», de Felgueiras Gaio) veio a nomear os vínculos de Mazarefes e Paradella em João Malheiro senhor da casa do Castro em Ponte de Lima; mais tarde, revogou-a para fazer nova nomeação em Luís Manuel Correia Pereira Figueira, como consta da escritura lavrada na nota de tabelião Manuel dos Reis Gandávia de Vila do Conde, em 10-10-1737. Nesta altura passam os domínios destas terras para a família dos AZEVEDOS.  OS PADROEIROS DE MAZAREFES
O actual padroeiro da freguesia de Mazarefes é S. Nicolau, mas até ao séc. XVI foi S. Simão. Trata-se de S. Nicolau, bispo de Myra, no séc. IV, padroeiro dos meninos e o grande patrono da Rússia, e de S. Simão o Apóstolo. É incontestável o nome «S. Simão da Junqueira de Mazarefes» no Séc. XI, como verificamos em documentos do tempo do bispo D. Pedro. Era, portanto, o padroeiro da freguesia nessa ocasião. Foi terra do Julgado de Neiva. Há vários documentos além dos do tempo de D. Pedro, que designam a freguesia por « S. Simão da Junqueira de Mazarefes». Tais documentos são de 1220, de 1258, de 1290, de 1320, de 1528. O primeiro documento que nos diz haver certa mudança de orago, é de 1551: «S. Simão da Junqueira que às vezes também se chama S. Nicolau de Mazarefes». Isto não quer dizer que se trata de duas freguesias distintas, mas sim de uma freguesia que tinha a sua primitiva igreja paroquial, vindo a possuir outra com novo padroeiro devido a circunstâncias diversas. Uma delas seria o assoreamento do Rio Lima. As águas invadiam a parte baixa da freguesia onde hoje se chama «Veiga de S. Simão», obrigando os habitantes a viverem mais para o sul, parte mais alta. A igreja de S. Simão lá ficou abandonada, longe da povoação e de Inverno cercada de água. Portanto tornava-se mais fácil para os fiéis frequentar os actos litúrgicos na igreja sob a invocação de S. Nicolau, pertença do antigo convento beneditino. Isto mesmo foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro. Em 1551, o mosteiro e todos os bens vieram a pertencer aos fidalgos «Pereiras» os quais fizeram obras na igreja. Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores completando as obras que os «Pereiras» tinham começado.
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Entretanto a igreja de S. Simão foi-se arruinando e até que se extinguiu. A igreja de S. Nicolau passou a ser paroquial e, segundo diz o abade António Francisco de Matos, daqui natural e pároco durante 50 anos numa monografia que ele escreveu sobre Mazarefes, foi em 1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja. 12 de Junho de 1972.
O CRISTIANISMO E OS PADROEIROS DE MAZAREFES
S. Paulo teve intenção de vir à Península (Rom. 15,24-28), mas ninguém sabe se chegou a concretizar ou não a viagem. S. Tiago é o que se sabe. Não vamos falar dos caminhos de Santiago. (No entanto, um testamento do séc. XVII, suponho que da família de A. Forte, meus vizinhos e que li quando andava no Seminário, dizia que deixava bens a quem fosse por si a Santiago após a sua morte, uma vez que não o pôde fazer em vida). Por ocasião das perseguições de Décio, no Séc III havia várias dioceses na Península Ibérica. Em princípios do século IV houve um Concílio peninsular e no séc V o bispo de Braga esteve presente no Concílio de Toledo (ano 400). É, por isso, muito provável que no século V, houvesse já numerosos cristãos nesta zona da Península, inclusivé em Mazarefes surgindo a igreja em nome de S. Simão.
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Nessa altura já tinham passado muitas gerações sobre a quebra do mito a propósito do Rio Lima que o corajoso Décimo J. Bruto ultrapassou. A invasão da Península, em 411, não veio alterar muito os hábitos romanizados... No século VI, vindo do Oriente, S. Martinho, bispo de Dume, ajudou com zelo apostólico, firmeza e dedicação a conversão dos suevos e a purificação das superstições ainda conservadas do paganismo nesta zona. Também, em meados deste século, realizou o 1.º Concílio de Braga. S. Simão teria sido o primeiro padroeiro da freguesia, pois os castrejos, habitantes pré-romanos, teriam já deixado, há alguns séculos, os altos dos Montes e o vale do Lima teria sido procurado não só para a agricultura colectiva, como também zona habitacional e o rio para a pesca. S. Simão era o apóstolo, advogado das tempestades e dos afogamentos e não o S. Simão estilita, aliás, como é natural porque os cristãos de Mazarefes dedicavam-se também nessa altura, a actividades aquáticas (à pesca, à extracção do sal e ao transporte pelo rio...). A existência da actual Capela e documentos antigos, um deles de 985 (um dos poucos, anterior à nacionalidade), 1220, 1258, 1290, 1320, 1402, 1528 e 1551 mostram-nos que S. Simão de Junqueira era de tempos imemoriais; foi vila, foi couto, freguesia e a existência de dois padroeiros: “Sam Simam de Junqueira que se ora chama Sam Nicolau de Mazarefes.” Não se trata de duas freguesias, mas uma única freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes ou S. Nicolau de Mazarefes. Os seus limites, em 1063, seriam com Vila Franca, Sabariz, Vila Fria, Anha e Darque. O documento mais antigo existente e anterior à nacionalidade, é de 985, século X, segundo consta de alguns autores de incontestável mérito. Este documento é uma doação das terras da vila de Mazarefes aos frades beneditinos de Ante Altares de Santiago de Compostela.  “985”, doação do conde Telo Alvites «in hora maris villa vocitata Mazarefes cum domibus (...) et cum suas salinas», a que, em 1603, Fernando Magno deu carta de couto: «in villa Mazarefes incipimus terminis id sunt (...) inter Gundulfe et Mazarefes (...) dividet inter Savariz et Villa Fria et Mazarefes (...) dividit inter Agnea et Mazarefes (...) Rio Covo (...) illa Junqueyra et inde in derecto at Limia recto estariz de Foz Maiore» («Arq. Port.» XXVII, ps150-154). D. Fernando deu carta de Couto, na vila dos Arcos de Valdevez, a Mazarefes. A presença dos Monges beneditinos é incontestável, e não haverá dúvida que os monges deveriam ter propagado a devoção a S. Bento. Alguns achados, disso nos dão conta. Mas a Vila de Mazarefes já existia há mais tempo, e já se tinha perdido na memória dos “avoengos”.
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A subida das águas do rio, a inundação das suas margens devido ao assoreamento obrigaram os habitantes a refugiarem-se mais para sul, em zona mais alta e longe das águas. É tradição viva ainda falar-se do cemitério junto a S. Simão. A calçada romana entre S. Simão e o antigo Passal onde acaba a Veiga e começam as bouças, ainda a conheci. Fala-se da última casa de Mazarefes quando a população se distribuía à volta da Capela de S. Simão, como sendo no local onde hoje é a casa do “Necas Reis” e a primeira depois de toda a freguesia passar para cima. A primeira casa a construir-se mais a sul da casa do “Necas Reis” teria sido a casa das “Capotas”. É vulgar na Veiga, nos esteiros e nos muros encontrarmos pedras trabalhadas, antigos tranqueiros de portadas de quintais ou de casas. Como foram lá parar... não é difícil, apenas lá foram abandonadas e, caídas em ruínas, serviram, mais tarde, para parede umas, e outras estão, ou encontram-se, enterradas nos esteiros. Assim, observei na minha infância quando andava lá com o gado, e na minha juventude, quando comecei a interessar-me por estes assuntos. Depois dos habitantes terem abandonado a zona baixa e terem ao lado a Capela da Senhora dos Prazeres, no lugar “da Senhora”, que depois lhe deram o nome de Nª Sra. das Boas Novas, após a imigração para o Brasil, não admira que a igreja do ex-convento começasse a servir a população. Esta freguesia teve por isso dois padroeiros, talvez mais tempo usufruiu do patrono S. Simão desde o século X, se não remontar ao século IV ou V, até ao século XVI, altura em que passou a existir alguma dúvida entre S. Simão e S. Nicolau. Esta dúvida deveria manter-se até ao séc. XVIII, segundo podemos deduzir de escritos do abade Matos. S. Bento nunca foi padroeiro, mas sempre foi muito venerado na freguesia porque
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foram os Monges do Mosteiro de S. Bento que ensinaram doze casais da Paróquia a trabalhar a terra, pois estavam habituados à pesca e à extracção do sal e o seu dízimo à arquidiocese de Braga no século XII, era pago em sal.

ACTO DE CONTRIÇÃO OUVIDO DE UMA SENHORA COM 91 ANOS DE IDADE
Acto de Contrição Senhor,  meu Jesus Cristo,  Deus e Homem verdadeiro, criador e redentor meu por seres Vós Senhor quem sois; sumamente bom, digno de ser amado sobre  todas as coisas, porque vos amo e estimo de todo o meu coração, pesa-me por vos ter ofendido, mas proponho nunca mais  vos tornar a ofender. Peço e espero o perdão  das minhas culpas pela vossa infinita misericórdia. Amén.
MAZAREFES – S. SIMÃO DA JUNQUEIRA
Nos assentos de óbitos, em nota marginal, aparece o seguinte: «Uma mulher em traje de lavradeira pobre, com umas contas ao pescoço, apareceu afogada no Rio Lima e foi sepultada na capela de S. Simão. 1 de Junho de 1728.»
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AINDA DO TEMPO DE SEMINARISTA

Costumes que recolhi, ainda seminarista, na minha ALDEIA
TROVOADA Quando troveja, além de acenderem uma vela de cera em frente de um crucifixo ou oratório, costumavam rezar a seguinte oração:
Santa Bárbara Virge se vestiu e calçou Para o céu abrandar a trovoada. O Senhor lhe perguntou: - Bárbara onde vais? Senhor, ao céu vou Abrandar a trovoada Que em cima de nós está armada. E o Senhor lhe respondeu: - Vai, Bárbara. Leva-a para o monte maninho Onde não haja pão nem vinho Nem bafinhos de menino Nem coisas de cristandade.
 PORCO Quando se compra um porco, este, ao entrar pela primeira vez no portal do quinteiro, tem de o fazer ao recuo. De contrário, fica tolhido e não cresce.
FOLARES Os padrinhos costumavam (ainda há pouco tempo) dar aos afilhados pela Páscoa um ou dois «petins» conforme a idade deles. Quando atingiam os dez anos, então o folar passava a ser dado em prendas de maior valor ou mesmo em dinheiro.
PÃO Depois do pão enfornado e ao tapar a porta do forno, diz-se: «Deus te acrescente dentro do forno e cá fora, para te distribuir pelos pobres.»
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SAUDAÇÃO A caminho da igreja, seja de noite ou de dia, ao passar uns pelos outros, dizem: – Ora vamos lá! E respondem: – Vamos lá, vamos...
SANGUE Quando a alguém se solta o sangue pelo nariz, é costume fazer, qualquer outra pessoa, uma cruz pequenina (por exemplo com dois pauzinhos) e colocá-la na testa do padecente, inclinando este a cabeça para traz. A epistaxis pára.
OBRADAS No primeiro Domingo, depois do funeral, é costume «obradar-se». Vão obradar todos os amigos do falecido e oferecem um escudo. Antigamente a oferta da obrada era de um tostão ($10) e daí para cima o que cada um entendesse.
FUNERAL Quando os amigos vão apresentar pêsames à família dorida, ao entrarem na sala onde o defunto está depositado, esteja muita ou pouca gente, dizem sempre: – Louvado seja N. S. Jesus Cristo! E todos respondem com a fórmula usual.
CEMITÉRIO Ao Domingo, o cemitério apresenta-se muito asseado com novas flores em todas as sepulturas e todas elas muito bem alinhadas. Este trabalho é executado nos Sábados, de tarde. Aos Domingos, antes e depois da missa quase toda a gente, principalmente as mulheres passam pelo cemitério para rezar ao pé desta ou daquela sepultura, onde repousam familiares ou amigos. Ao cemitério chamam «Campo Santo». 4 de Março de 1968
PROCISSÃO DOS DEFUNTOS Qual a atitude que se deve tomar quando se topa com a temível «procissão de defuntos»?
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Em MAZAREFES havia um homem que se deitava imediatamente de barriga no chão, apertando a areia ou a terra com as mãos e enchendo a boca com ervas, terra ou areia... Este homem via a procissão, dentro de uma urna, aquela pessoa que estava próxima a morrer... N. B. – Foi assim que perdi o medo porque curiosamente fixava onde isso acontecia e saía de casa e às tantas lá estava para ver, mas nunca vi nada. Tirei a conclusão que só via dessas coisas, como os lobisomens quem tinha medo, isto aconteceu entre a 3ª classe e a 4ª. Perdi o medo dos fantasmas inventados pelas pessoas. 3 de Outubro de 1968
GALINHAS A dona de casa costuma deixar no ninho onde as galinhas põem os ovos um ovo. A esse ovo costumam dar muitos nomes. Eis alguns: inês, indês, endês, endes, aninhadouro, ninhadouro, chamadouro e chôco. 29 de Setembro de 1969
ORAÇÃO PARA DEPOIS DA SEMENTEIRA Deus te ponha a Sua santa virtude, Que eu cá de mim fiz o que pude.
COISA MÁ Quando de repente, se vê a coisa má, deve-se fechar as mãos e dizer:  Credo em cruz, Santo nome de Jesus, Eu cá bou... eu cá bou...
FORNO NOVO A primeira cozedura de um forno tem privilégios especiais, um deles é livrar de maleitas a quem comer desse pão.
VIUVEZ Ainda por 1920 era geral o costume de as viúvas não saírem de casa ao Domingo, para ir à missa, sem deitarem uma saia pela cabeça. Os viúvos deixavam crescer excessivamente a barba. Essa costumeira hoje está quase banida; dela resta apenas o costume de os viúvos andarem com a barba sem fazer durante os primeiros quinze dias.
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CRIANÇAS A luz da lamparina que assistiu ao nascimento de uma criança só se apaga depois do respectivo baptizado.
ORAÇÕES MARTÍRIOS DO SENHOR (Estes versos eram cantados e, ainda, hoje algumas pessoas de idade os dizem em casa).
 Ó meu Senhor do Cruzeiro Vossa Cruz é de oliveira Foi o mais bonito ramo Que apareceu entre a rozeira.
 Que o vosso é  Meu Jesus de Nazaré Eu protesto de morrer Pela nossa santa fé.
 Vosso Santíssimo cabelo Mais fino que o mesmo ouro, Minh’alminha, entrai por ele No vosso santo tesouro.
 Vossa Santíssima cabeça Besbotar uma coroa de espinhos Por via dos meus pecados Sofreu Deus tantos martírios.
 Vossa Santíssima testa Cheia de mil suores Por via dos meus pecados Sofreu Deus tantas dores.
 Vossos Santíssimos olhos Inclinados pelo chão  Por via dos meus pecados  Sofreu Deus tanta paixão.
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 Vosso Santíssimo rosto Cheio de escarros enojentos Por via dos meus pecados Sofreu Deus tantos  tormentos.
 Vossa Santíssima boca  Vos deram fel amargoso Por via dos meus pecados Senhor Deus todo poderoso.
 Vossos Santíssimos lábios Mais roxos do que os mesmos lírios Por via dos meus pecados  Sofreu Deus tantos martírios.
 Vosso Santíssimo pescoço Vos ataram uma corda Por via dos meus pecados Senhor Deus, misericórdia.
 Vossos Santíssimos ombros Besbotaram o madeiro Por via dos meus pecados Jesus Cristo verdadeiro.
 Vossos Santíssimos braços Vos abriram numa cruz Por via dos meus pecados  Ó meu amado Jesus.
 Vosso Santíssimo peito Vos abriram com uma lança Minh‘alminha entrai por Ele Senhor dai-lhe a confiança.
 Vossa Santíssima cinta Vos ataram uma toalha  Na hora da minha morte Ela me sirva de mortalha.
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 Vossos Santíssimos joelhos Arrastinhos pelo chão Por via dos meus pecados Sofreu Deus tanto paixão.
 Vossos Santíssimos pés Mais frios que a neve pura Eles vão vertendo sangue Pela rua d’amargura.
 Estas quinze partições Meu Senhor vo-las entrego  Na hora da minha morte  Me tenhais o Céu aberto.
 Quem as sabe não as diz (1) Quem as ouve não as aprende Lá no dia do juízo Verão como se arrependem.
(1) Vid. Serão nº 57, pág. 4, in «Oração ao entrar na Igreja».
NO DIA DA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Depois da seguinte oração conta-se o terço 3 vezes, dizendo: Senhora da Conceição.  Senhora da Conceição   Vós dissestes   Quem no Vosso Santíssimo Dia  Disser 150 vezes Senhora da Conceição  Que librarias da morte  Repentina e sem confissão (1).
(1) Vid. «Superstição» in Serão nº 68, pág.2. Esta está implicitamente incluída na espécie «NUMEROS».
         
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ORAÇÃO A NOSSA SENHORA Virgem Santíssima Não permitais que eu viva   e morra em pecado mortal. Em pecado não hei-de morrer  porque a Virgem Santíssima me há-de valer!
AO DEITAR Nesta cama me deito Com esta roupa me cubro Se a morte me perseguir Anjinhos do Céu me acudam.  Ou: Nesta cama me deitei  7 anjinhos nela achei 3 para os pés, 4 para a cabeceira E Jesus Cristo na dianteira.
AO LEVANTAR
 Ó Anjo da Guarda Ó Santo do meu nome,  Santo ou Santa deste dia Interceda a Deus Nosso Senhor Por mim e me guarde de todos os males E perigos que me possam acontecer nesta vida.  Ou: Ó Anjo da minha guarda Semelhança do Senhor Que do Céu vieste mandado Para ser o meu guardador. Peço-vos Anjo Bendito Pelo vosso divino poder  Que dos laços do demónio Me ajudeis a defender
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AO ENTRAR NA IGREJA
 Aqui me ajoelho, meu Jesus Tão triste e afligida Vós como divino Pastor E eu como ovelha perdida
 Aqui vos venho pedir  Salvação E remédio para a minha vida.
 Obrigado meu Jesus pelos benefícios  Que me tendes feito Durante a minha vida  E me tendes de fazer  Até à minha morte.
 P. N. Avé Maria, Estação e Terço.
7 de Setembro de 1970
ORAÇÃO PARA AS TROVOADAS
 São Jerónimo Santa Bárbara Virge! Santos Deus, Santos fortes, Santos imortais, Miserere nobis!...
ORAÇÃO PARA ANTES DA COMUNHÃO
 Salve Rainha, Rosa divina,  Cravo de amor, Mãe do Senhor, Dai-me juízo E entendimento P’ra receber o Santíssimo Sacramento.
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ORAÇÃO PARA DEPOIS DA COMUNHÃO
 Senhor: Pela minha boca entraste. Dela fizeste porta, Da minha língua altar, Do meu coração assento. Bendito e louvado seja O Santíssimo Sacramento.
ORAÇÃO PARA O DEITAR
 Ó meu Senhor Jesus Cristo, Amor do meu coração, Aos vossos divinos pés Faço a minha confissão. Perdoai-me os pecados, Sabeis quantos eles são. Dai-me neste mundo paz,  E no outro salvação. Pelas vossas cinco chagas, Dai-me a vossa salvação!                                                                                                                                                                                    REMÉDIO AO CAIR UM DENTE (infantil)
 Dente fora, C... na cova. Torne a vir outro, P’rá casinha nova.
REMÉDIO PARA OS SOLUÇOS Primeiramente, deve-se estar uns momentos sem respirar. Depois, bebe-se sete golinhos de água. E os soluços desaparecem...
TESOUROS ENTERRADOS Diziam os antigos que junto da ermida de S. Simão da Junqueira (MAZAREFES) havia um grande tesouro enterrado. E afirmavam isto apoiando-se numas luzinhas que viam nascer nas imediações do local.
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COISAS MÁS E também os antigos diziam que, junto das igrejas dos conventos, aparecia, pela meia-noite, um mouro a cavalo. Tal tradição era corrente em MAZAREFES, junto da igreja paroquial, onde, em tempos idos, existiu um convento beneditino.
EXPRESSÕES Quando se queria significar grande aglomerado de pessoas, era costume dizer-se em MAZAREFES: – Hem...Vem Perre e Santa Marta!... – Agora vai dizer a Perre e a Santa Marta!... – Convida Perre e Santa Marta!... – Ui! Foi Perre e Santa Marta!... 12 de Setembro de 1968
INCÊNDIOS Dizem os bombeiros que, quando há um incêndio em Mazarefes, não se interessam muito porque o povo da freguesia trata de o apagar. Dizem isto porque, quando chegam, geralmente, já encontram o fogo extinto. Logo que há indícios de fogo, as mulheres gritam o mais alto que podem, em cima de um muro ou às janelas. Logo uma pessoa dirige-se à capela e outra à igreja para tocar os sinos a «rebate». Toda a gente deixa o seu trabalho e corre ao sinistro com cântaros, cordas e outros utensílios na mão. Se for numa bouça todos procuram levar machados, sacholas, etc... Toda a freguesia está em autêntico alvoroço. Todos correm ao local e aqueles que não podem ir procuram informar-se do que se passa. Saem das casas e deixam tudo aberto para prestar socorros. Nestas ocasiões não há amigos nem inimigos; são todos um. Ainda que o incêndio seja em casa de gente pouco considerada, toda a freguesia se torna presente naquele transe.
FAMÍLIA DOS PEREIRAS É costume no dia de S. Nicolau, padroeiro da freguesia, abrir-se o jazigo dos Pereiras que se encontra na capela-mor da igreja e colocar lá duas velas
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acesas durante a missa em veneração dos restos mortais de Gaspar Pereira e Família. Este G. Pereira foi o fundador do morgado de Mazarefes, no ano de 1579. Os restos mortais estão em Mazarefes no referido jazigo com a seguinte legenda: - «Este jazigo mandou fazer o doutor Gaspar Pereira, senhor dos coutos de Mazarefes e Paradela, cavaleiro na ordem de Cristo, fidalgo-mor de El-Rei; nosso senhor, e o concelho do mesmo senhor, Chanceler da casa as suplicação. Ano de 1579.» 1 de Abril de 1968
COZER O PÃO Quando alguém tem pressa que a massa levede, costuma pôr no meio uma cebola devidamente estonada e rachada em quatro, i. e., em forma de cruz.
TRATAMENTO Os cunhados tratam-se uns aos outros por você, ainda que antes do casamento se tenham tratado por tu.
VEIGA DE S. SIMÃO É de costume chamarem «estacadas» a cada uma das propriedades que existem na Veiga de S. Simão. Dizem: - «Tenho uma estacada na Ponta da Veiga, outra na Junqueira, outra em S. Simão e ainda outra na Areia Cega». Depois estas «estacadas» são distinguidas pelo nome próprio.
TOLHIMENTO Quando uma criança passa por baixo duma pessoa, quer seja homem, quer seja rapaz, dizem que não cresce mais, ou então, que cresce pouco. – Um rapaz não pode lavar roupa porque isso impede que a barba cresça.
ORAÇÃO AO ENTRAR NA IGREJA Nesta igreja bou intrando, Água benta bou tomando, P’ra labar os meus pecados. Pecados, ficai aí Que bou ber a Jesus Cristo Já há muito que num o bi. Bou-lhe dezer que se sente, Qu’a minha alminha bai doente,
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 Carregada de pecados Que nunca foram confessados Nem a padre, nem a clérigo Nem a nenhuns cardiais. Três meninos de Jesus  Com três chavinhas na mão As portas do Inferno se fecharão E as do Céu se abrirão. Quem a sabe, num a diz Quem a oube, num a aprende Mas lá no dia do Juízo Verão como se arrepende.
ORAÇÃO Abre Santos, abre Santos três dias antes da Páscoa, desceu o Redentor ao Mundo e seus discípulos mandou chamar, mandou vir um a um, dois e dois se lhe juntaram, o Senhor lhes perguntara: qual de vós quer morrer por mim amanhã.
Olharam uns para os outros e nenhum dissera nada. Respondeu S.João Batista, que em tempos andava a pregar, por essas montanhas dentro, por essas montanhas fora: Ó Senhor, eu por Vós morreria, mas o cálice da amargura para Vós já está preparado, com muito fel e vinagre. Quinta-feira pela luz, padecia Cristo Jesus. Sexta-feira de manhã, já o Senhor caminhava, com a Santa Cruz aos ombros, de madeira bem pesada. Cada passada que dava, o Senhor ajoelhava. Ajuda-me aqui Simão: Ajudo, ó meu Senhor, com a força da minha alma e do meu coração, também.
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Sexta-feira, ao meio dia, já Jesus morrer queria, Herodes lhe perguntou: Tremes tu, ou treme a Cruz? O Senhor lhe respondeu: não tremo, nem tremerei, e quem da minha paixão e morte se lembrar, bem me souber meditar; e trinta e três credos me rezar, tudo quanto me pedir, tudo lhe hei-de entregar. Subiu ao Monte Calvário: Três-Marias lá estavam: uma era Madalena, outra era Virgem Pura, outra era Nossa Senhora que do mais alto se punha. Uma lavava os Santíssimos Pés, outras as Santíssimas Mãos, Nossa Senhora aparava o sangue que do seu lado caía. Este sangue que aqui cai, cai num cálice Sagrado. O homem que o beber será bem aventurado. Neste mundo será rei, no outro será coroado. Quem esta oração disser um ano continuado livra cem almas de penas, livra a sua de pecado. Quem a sabe que a diga, quem a ouve que aprenda, lá no dia de juizo verá que compreende.
TOPONÍMIA
A palavra topónimo, de origem grega, quer dizer “nome de lugar”. Os nomes dos lugares são dados através de nomes de pessoas, santos, arqueologias, geografias, geologias, plantas, árvores, hidrografias, zootecnias, nomes de lagos, rios, mares, oceanos, montes e outros relevos. Há os topónimos simples como: Perre; complexos, como Viana do Castelo, Freixo de Espada à Cinta; e compostos como Mazarefes, Portalegre.
MAZAREFES E A MAÇÃ DE ADÃO
Maza em árabe pode signifícar casa, mansidão, manzana, manzaneda e maçã. Aparece como topónimo em muitos e variados sítios por toda a Espanha, desde a Cantábria ao Sul, tudo depende do povo de origem com base na língua árabe. Não aparece apenas como topónimo na Espanha, mas em muitos outros lugares do Globo Terrestre desde o Oriente ao Ocidente. Este topónimo aparece quase sempre junto a locais de águas, lagos e rios, regos como Mazariegos, em Espanha. É, naturalmente, uma palavra pré-romana e significa também para os galegos uma arma que utilizavam para combater os inimigos ou os povos invasores.
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Essa arma era em forma redonda e de pedra, normalmente. Aparecem por aí. Foram encontradas na Serra d’Arga (quem sabe se no monte Medúlio de Paulo Osório?). Possuo duas espécies. Para além de Maza apareceu também o Mazo, Mazzo, Mazzola, na Itália Central e Maso. Também Mazariegas foi topónimo. Azo significa vegetação. Como Maçot e Maça (maza) uma pequena elevação de terrenos, como Montezelo e que, em Mazarefes, também existe como topónimo. Mazar queria dizer gigante em Kauplanês Mazar+I+Shariff seria a mansão ou o pântano mais o “i”, que, na língua indígena, significaria água e Shariff talvez o chefe. Neste caso seria a mansão de água do chefe. Esta palavra mazar-i-shari, é uma cidade que em 1990 estava nas mãos dos Talibans. No entanto, Mazarefes, é um topónimo de Viana do Castelo que não faltam interpretações poéticas para dizer que é uma palavra de origem árabe e significa terras lindas, mas não quero argumentar e desdizer nada do que tem sido dito a propósito da origem desta palavra. De topónimo a palavra Maza e Mazar deu antroponímicos implantados, sobretudo na Espanha. Assim houve a família Maza. Era a família de Maza. Este Maza entrou no sobrenome e deu origem a fidalgos, a nobres que utilizavam como símbolo a Maza em prata, espécie de maçaroca em Vila Marini, os nobres Mazas PEDRO de BARRIÉ de la Maza ou TERESA de Romero Refes Dinora. A Maza pode acrescentar refes, sobrenome árabe, que deu nome a empresas, a um Banco. Sempre ligado a este refes há proximidade de águas como Reggad(ia). “Ia” era significado de água em língua indígena.  Refes é topónimo, nome de empresa, povo de boa Jaez na República do Burundi.   Refes também foi uma espingarda no Brasil. (refis=refes). Crick Refes de Sousa aparece como nome na Palestina. Topónimo e antroponímico Refes no Irão, no Iraque, no Afeganistão, na Turquia, no Paquistão, na China, na Arábia. Refes aparece também como número de amigos que se reúnem para guiar nas cidades os turistas. Ainda tem a ver como topónimo que é frequente em Espanha, na Itália, de origem fenícia. Mazar-i-Scharrif, uma região, uma cidade. Mazar significou também maciar, golpear o leite dentro de um odre para separar a manteiga. Mazar é igual a Mazo na Corunha. Mazarete é um topónimo semelhante a Almáchar, em Málagar, Málaga, mostrando-se de origem árabe. Al-Mazar e Mazarete o seu plural são topónimos.
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Pode ter o significado de miradouro de pedra e também a extensa e fértil planície como topónimo de terras de Pedro Mazar de Ugas, de mazar, maçar o linho… A arqueologia Elat Mazar do ano 5 da nossa era oferece dúvidas para os hebreus. Os Migrantes afegãos começam a voltar a casa nas montanhas, tomando um significado de casa e não até da cidade. No Afeganistão existe o topónimo Mazar e Mazar-i-Sharif mesmo assim sendo uma cidade é a casa de qualquer Afegão. Mazar junto de água, de rio, existe mesmo o rio Mazar, junto de mansão.

Efes, em hebraico, quer dizer zero, e como sabem o zero por si não vale nada e só zeros nada vale a não ser à direita de um número ou à esquerda acompanhados de uma vírgula. Efes, o cromio e o ferro são metais com alta ou baixa de Effes, respectivamente. Também o túmulo do Máusolo em Efes é obra para admirar. De Maza devia ter vindo Samoza “alto da Mossa” como topónimo. Efes é o nome de uma cerveja turca. Um autor Françês coloca o topónimo Efes na montanha. Henrique de Oliveira diz que é o símbolo químico de alumínio, artigo antigo de origem árabe. Na Turquia não é só cerveja, é apelido e também uma cidade.
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Erite Mazo topónimo na Espanha, assim como, El Mazo, Mazariegos, Mazarete em Guadalajara e chamou-se Mazaref e Masdarete, de origem árabe, Mazagatos, Magalinos, ou el-mazon (o forte) manzana, mas Mazariegos chamou-se no séc. X “Osorno de Mazarefes” e depois Vila de Mazarefes e Mazar a significar também Moinho. Segundo Pancracio Celdran, no seu dicionário de toponímia. Em León, no Município de Valderas há o topónimo castro Mazaref, do tempo dos Visigodos junto do Rio Cea.
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Há ainda o filme Mazaref e é um nome muito utilizado na Itália, em África com o significado de operação. Assim como o termo Mazaraf. Portanto, falar da origem de topónimo Mazarefes não é fácil sem conjugar e sintetizar esta palavra sem documentos na mão. Foram os fenícios ou os árabes que nos deixaram este topónimo? Seria dado o nome de Rio Mazar nesta zona ao rio Lima, que passava nesta terra que até poderia ter outro nome? Ou do linho, de água, do Montezelo ou da Regadia ou da Conchada? Dark, Cabedelo, Conchada também estão ligados a proximidades de água. Não seria difícil inventar uma lenda agradável para nos sugestionar sobre a origem do nome da nossa terra, mas inventar não se pode. O que significa isto são mais umas hipóteses que só servem de reflexão. Uma coisa é certa há um documento do século IX, anterior à nacionalidade, que fala das terras de Mazarefes. Fico sem saber de onde vem, de facto, a palavra Mazarefes, mas de origem oriental e quase se identificam, assim como Mausoléu no Paquistão. Pântano traiçoeiro no Afeganistão e no Paquistão (Mazar+Shareef).
VIANA E A SUA LENDA !... NÃO VI A ANA
Viana não é... “ vi a Ana”. Qualquer lenda pode explicar também a origem de um topónimo. No entanto há sempre que duvidar e misturar lenda com base científica, é sonhar futilmente. Viana não se chamou só Viana, mas já para as distinguir de outras terras, chamou-se Viana do Minho, da Foz do Lima, do Adro. Já Estrabão, que muito nos conta dos povos primitivos desta zona e falou de um episódio militar, entre os Túrbulos e os Celtas, sobre uma discórdia ao atravessar o rio do esquecimento “O Lethes”, assim denominado por Tito Lívio, assim a explicou. Neste episódio houve sangue e foi o sangue do comandante, que junto ao dos outros, manchou as águas deste rio Lima. Uma lenda pode ser um conto, uma mentira, uma patranha, uma invenção, (há lendas de origem grega e latina, com o significado de tradição oral). Oral ou escrita, para dar uma explicação sobre algo que não se percebe, não se compreende, como um mito que tem de ter uma explicação ainda que seja uma invenção que se encaixe bem na mente popular. Há lendas mais antigas e mais contemporâneas.
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Quanto às suas origens é muito controversa. Muitas delas correspondem à realidade, a factos e preocupações legítimas, mas, às vezes são distorcidas, como aliás se diz “quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”. As lendas são tão antigas como a humanidade desde que o homem começou a ser sapiens e, de um modo particular, foram desenvolvidas na mitologia Grega e Romana. A origem da cidade de Roma, todos conhecem o Rómulo e o Remo e, quantas há a explicar a origem de muitos topónimos e até da origem de uma capela da Terra, do Chá, do Milho, etc…eram os velhos contos, antigas lendas contadas há 60 anos todos os dias à lareira, nas noites de Inverno, à volta da fogueira. “Tu viste a Ana?” “Eu vi a Ana”. A lenda de Viana é uma lenda como todas as outras. Conheço muitas “Vianas”, mas só conheço um topónimo Viana em Espanha e “Viena” na Áustria, apesar que há Viana no Brasil e na Malásia de origem antroponímica.  Há muitos topónimos Viana,  Viana disto ou daquilo. Em Portugal temos Viana do Alentejo. Em Espanha temos uma perto de Luso, mas há só Viana, Viana de Cega, Viana de Duero, Viana de Jedreque, Viana de Mudéjar, Viana do Bolo. Então quem são estes vianenses? Há um investigador que dá a seguinte explicação: o radical “via” é igual a caminho. Está ligado a vereda, breia e o sufixo “na” é um sufixo de relação, é via pertencente a, na duplicação deste “a” está a junção a um nome, a uma calçada, a um caminho, um caminho importante que vai ter a uma vila, a uma cidade antiga, a uma quinta, uma mansão ou fazenda romana. Quem sabe se um caminho para um vinhedo? Será que pode ter alguma coisa a ver com a “vinha” na Areosa? Há outro autor que defende a origem pré-indo-enropeia “vig” alusivo a água e o prefixo “anna” com o significado de mãe dando a forma de Vigganna, donde veio Vianna e Viana, como defende G. de Fuentes. Não me contentando com esta explicação mais plausível e melhor fundamentada para mim prefiro ir à origem da linguagem humana. A água é um dos fundamentos essências da natureza. Tudo é composto de água e até o homem desenvolve-se no meio do líquido, chamado amniótico. Aqui está, por exemplo a água mãe, aqua mater. O nome desta terra de Viana sem Castelo e a quem o foral de D. Afonso III lhe dá o título de vila e a quem lhe impõe o nome de Viana, não duvido que seja já com origem na lenda. Mas antes da lenda “Viana” simplesmente, é um vocábulo de origem gutural “i” que evoluiu para “vig”, sibilante, com o sentido exclamativo “eia!” ou”i”! tanta a (no rio)!” “hi! tanta á-á (no mar)”. Viggana
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com a queda dos duplos “gg” ficou Viana, então caminho para a água porque o “n” significa relação “água do rio e água do mar” É que “a” era o mesmo que água. É por isso que a maioria da toponímia nas palavras começadas na primeira sílaba pela vogal “a” ou na segunda sílaba tem um “a” aberto significa sempre um local onde nasce água, de onde se vê água do rio ou do mar ou do lago, ou são terrenos lamacentos, lugar de fontes, etc. Não é difícil, nem precisa de grande trabalho para descobrir, correndo a costa litoral dos continentes. Há topónimos até de palavras longas e constituídas apenas de sílabas com “a”, com vogais”a”, palavras com a única vogal “a” repetida 5 e 6 vezes. Acontece o mesmo com outros topónimos no interior e até no alto dos cerros e das montanhas. Sempre o “a” aparece nas palavras mar, mãe, pai, pátria e amor (este em quase todas as línguas). É que onde há Amor há vida e não há vida sem água. Eu não vi a Ana. Viana deve estar longe da lenda do ver ou deixar de ver a Ana. A fantasia está na Ana. Viana é caminho para a água. Toda a gente gosta de Viana e sobe ao monte de Santa Luzia, para ver o rio, riachos e a água do mar imenso. Do alto do monte de Stª Luzia: eia!... (ih!.... a!.... aaaaa!)
TOPONÍMIA E A ÁGUA, A LENDA DE VIANA? HI Á ÁÁ NA --VIANA E MAZAREFES
Se percorrermos o mundo a observar como a água é um dos princípios fundamentais da natureza e sem ela não há vida, nem haveria 80% da Toponímia. Dêem as voltas que derem, mas apreciem se tapada, estalada, estampada, patada, carvalhada, malhada, alagada, palhada, etc…não tem nada a ver com água! Olhem que têm... Na sua origem do Tupi, das línguas indo-europeias, através do latim, do grego ou do árabe etc, há referências de origem “a água”. Procurem topónimos destes e verifiquem localmente o que se passa. Não é o caso do Rio Guadiana wadi (“rio” em Árabe) mais Ana (nome original do rio = Rio Ana=Rio Guadiana, assim como bar em indoeuropeu significa Ribeiro. Tessalónicos (mares e oceanos), cronónimos (divisões administrativas; homónimos (lagos); orónimos (nomes dos montes e outros relevos); geónimo
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é um topónimo assinalando cada local determinado em geonímia como uma divisão geográfica. Há os topónimos simples e os complexos isto é, os de uma só palavra ou compostos de duas palavras ou mais “Alter do Chão”. Quando se fala nas Escolas e em Associações Culturais em educação ambiental não podemos começar pela cabeça, mas pelos pés. Onde estou, o que me envolve, os nomes das coisas e coisas que são mais belas se as cuidarmos. Isto é que dá razão a uma edução para um ambiente saudável e de bem-estar. A Toponímia também tem aí o seu lugar cultural. É o rio que tem nome, afluente ou de longe do alto da Serra que se vê água e, aí há um topónimo com origem em vista de água, fonte do ouro num picoto montanhoso, nascente, fontes, vertentes ou córregos de água. Seguem alguns exemplos de topónimos com origem em hidrónimos, locais de fácil acesso à água, com água, de origem celta, latina, grega, árabe que deram nome a terras, cidades, vilas, aldeias, lugares e sítios. Muitas aldeias, lugares, vilas ou cidades receberam o nome de um rio, fonte, etc… Deixando-nos levar pelo radical CAM que em celta significa arqueado, geograficamente Caminha é uma vila um pouco arqueada pela foz do Coura e pela foz do Minho. Assim como CAR de Carreço, eram os carroceiros que faziam cargas de Pedra, Car em língua indo-europeia também era pedra. No séc.XVIII muitas alcunhas e apelidos “carreços”- carretos. É uma regra que as palavras portuguesas começadas por AL são de origem árabe, mas há excepções porque há a palavra AL em celta e que por aqui ficou na origem directa ou indirecta em muitas delas. A Rio Agadão-afluente do Rio Águeda, ou Marateca e da margem do Rio Sado que nasce na Serra do Caramulo. Bade significa lugar de luta. Continuo a insistir que palavras que começam pela vogal “a” , como o rio Ala, rio Alão (Alenquer) Jacas (crustâceos) em Vilar de Mouros, Jaca junto ao rio em Pamplona  e em muitos outros lugares e sítios onde há água, ou na segunda sílaba com um “a” acentuado como em Assares ou Almaça e até à terceira sílaba com “a”, como em Calamares ou PAPANATA aqui tão perto tem sempre conotação com água. A sua origem toponímica tem a ver com água, fontões, fonte, nascentes, rio, mar, lagoa, ribeiro, “olho marinho”, meijão (mijão), isto é, também de terreno húmido ou lamacento como, por exemplo,Paço Vedro de Magalhães, Ponte da Barca, lama, onde há água, ou se vê água ao longe, ainda que seja do coruto do monte, etc. Apresento algumas das milhares de milhares de palavras de todo o mundo que são topónimos e hidrónimos. Estas começadas pela letra “A” tem na
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sua origem ver água, sítio de águas, nascentes, fontes, rios, terrenos lamacentos, como por exemplo: Abambres, Abrantes, Abreiro, Acuno, Adeganha, Admeus, Adões, Agama, Agodim, Aleixo, Ribeira de Pena, Sabrosa, Cardosa, Amarante, Armamar, Agrobom, Aguara, Águas Vivas, Agrelo, Agueira,  Aguieira, Ala, Alagoa, Alambique, Alambres, Alasca, Albufeira, Alcabideche, Alcácer do Sal, Alcaria, Alcobaça, Alcontrum, Alcoentre, Aldeia Nova, Alaruze, Alfeião, Alfeizerão, Alganhafes, Algarve, Algom, Agueiras, Aguieiras, Aljustrel, Almaça, Almacinha, Almada(Tejo), Almargens, Almedina, Almeirim, Tejo, Almargem, Alagosa, Alpedrinha, Alpiarça-Tejo, Alportel, Alsouce, Alter do chão, Alvarim, Alveca, Alverca, Amade, Ameal, Amendoeira, Amoriz, Âncora, Andaluzia, Anha, Aosta (Itália), Alprochão, Aquitaina (França), Arábia, Aragão(Espanha), Arcanses, Arcos, Areal, Areas, Areias, Areiais, Areosa, Aridegos, Arizona, Arouca, Arrasada, Arrentela, Arrifana, Arzila, Assares, Assusseira, Atouguia, Avidagos, Auvergne (Francês), Avámores, Avantes, Aveiro, Azare, Azinhosa, Bade, (Luta), Baleia, Banda, Baracais, Barca, Barcarena (Ribeiro), Barcel, Barcelos, Barracha, Barralheiras, Barranco da Figueira, Barravais, Braga, Bravas, Cabaços, Cabeça de Velho, Cabecinhas, Cachada, Cajido, Calabria, Calçada, Caldas, Caldo, California, Camarral, Caminha, Campelo, Camponia, Camtábria, Canarias, Canaveses, Caneiro, Cangas, Caravelas, Carcavelos, Caria, Carolina, Carreço, Carregais, Carreiro, Carvalhais, Catalamañas, Atalunha (Espanha), Chã, Chão, Chaveca, Chaves, Chaviães, Dafundo, Dakota, Darque, Fafafes, Famões, Fantaínhas, Fão, Flamenga- Fonte de Água, Fontão, Fonte, Fradizela, França, Galanares, Galeotes, Gamboa, Gandariças, Gandra, Guadiana, Guarda, Itália, Javali, Kansas, Ladeira, Lafafes, Lagoa, Lagoas, Lajas, Lama, Lamas de Orelhão, Lambrelas, Lamego, Lamela, Lameiras, Lameiro, Lapela, Latadas, Lavradas, Laxa, Lazio, Lima, Madorna, Mafamude, Magirá, Manga, Manta, Marateca, Sado, Maganha, Margem, Marialva, Marine, (França) Marinhas, Marmelos, Maryland, (Inglaterra), Mascarenhas, Massachusetts,  (América), Massarelos, Mazarefes, Mealha, Nabais, Navalhão, Olho Marinho, Olhos de Água, Palmães, Palmela-Mar, Papanata, Parada, Pego, Poço de Canas, Portalegre, Portimão, Porto, Prado, Ramada, Ramiras, Rana, Rio Alá-Lá-Ô, Sabariz, Sancha, Santarém, Tamandrá, Tamente, Tangil, Távora, Tareja, Torre da Dona Chama, Travanca, Trazariz, Valbom, Vale, Vale da  Parede, Vale Maior,  Valença, Valhelhas, Valverde, Walles.
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APONTAMENTOS E PROCURA DE SIGNICAÇÕES BASEADA EM DICIONÁRIOS E LIVROS DA MINHA BIBLIOTECA.
NÃO É TRABALHO ACABADO, É APENAS UMA PRIMEIRA ABORDAGEM JÁ EM TEMPOS QUE DEIXO À CONSIDERAÇÃO DOS QUE PUDEREM  CORRIGIR, ACRESCENTAR OU MELHORAR ESTE TRABALHO SOBRE MAZAREFES, APELIDOS, ALCUNHAS E TOPONÍMIA. NA ALTURA QUE FIZ ESTE TRABALHO CONHECIA A LOCALIZAÇÃO DOS TOPÓNIMOS
Açafrão - Topónimo Açafrão - Planta bulbosa da família dos Irídeos. Do Ár. Az-za’afran. O açafrão propriamente dito - crocus sativus L. - é uma planta da Ásia Menor, vinda até nós através da Itália. Os estigmas filamentosos da sua flor usam-se na culinária como condimento bastante apreciado. Apresentam-se de cor alaranjada e esse produto dá um paladar muito apreciado e de aroma característico. É evidente que se apresenta em pó. Durante muito tempo, o açafrão só se adquiria nas farmácias; hoje aparece em pequenos sacos de plástico em qualquer mini-mercado. Talvez este topónimo tenha origem no cultivo desta planta que seria utilizada nas caldeiradas de enguias, para lhes dar, além da cor amarelada, o seu sabor característico. A enguia era peixe utilizado na alimentação nesta terra de Mazarefes. Junto da Lagoa e a Lagoa abaixo das Fontainhas. Bem como era muito utilizado no arroz doce.
Agra - Topónimo - 1598 Agra - campo, género de insectos. Brejo, pântano. É um topónimo frequente em Portugal e Galiza. Fica entre o Passal antes da entrada na veiga e a Fábrica de Serração. Parece de origem latina, mas deve ser de origem celta.
Agrinhas - Topónimo Agrinha - Topónimo em Braga, Sto. Tirso, V.N. de Famalicão, Porto, Lugo e Galiza.
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Situa-se nesta terra sobre o Termo, junto do limite com Vila Franca. Junto de Lamas no caminho que vai da Regadia para Vila Franca.
Aguinha – Topónimo Topónimo em Odemira
Alfatorra – Alcunha – 1711 Igual a cousa livre, do árabe Alhorra. Aparece «o Alfatorra», como alcunha.
Alferes – Topónimo Alferes - oficial do exército, alcunha, topónimo em Belmonte, Elvas, Lisboa e Vila do Conde. Do Ár. Al-faris Entre nós significou, durante muito tempo, o porta-bandeira. Actualmente, designa o oficial subalterno, de posto imediatamente inferior ao de tenente. Em sentido irónico usa-se na região de Coimbra dizendo-se de um rapaz que começa a aproximar-se de uma rapariga, com atitudes de lhe pedir namoro, fazendo “pé-de-alferes”. Frei João de Sousa regista o termo, derivado do Ár. Alferes, com o significado de oficial que leva o Estandarte, ou Bandeira. Junto das Coutas.
Alto – Topónimo Alto - elevação de terreno, poderoso nobre, importante. Alto-topónimo frequente. Existe em V.N. Famalicão, Em Mazarefes é bem “alto” em relação ao lugar do Ermígio. Alto - alcunha, apelido.
Altozinho – Topónimo Trata-se aqui de um nome topográfico, porque o local é um alto, devido à elevação do terreno. Daí que não terá aqui a ver com nenhum antroponímico como Aldozinho, Aldozindo. Em português talvez correspondesse a Montezelo ( monte muito pequeno). Neste caso é limite entre freguesias.
Alvorada – Topónimo Alvorada - crepúsculo matutino, juventude, toque de trombetas e tambores... Topónimo no Brasil: Paraná. Conheci a Casa das Alvoradas, perto do Ribeiro que deu o nome ao sítio das Alvoradas.
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Ameal/Amial – Topónimo Lugar plantado de amieiros. Topónimo frequente, representado na toponímia portuguesa; na Galiza, em Pontevedra -. Situa-se a caminho da Veiga. Por baixo das Pereiras.
Amieiros – Topónimo Amieiros - espécie de salgueiro de eram feitos tamancos e socos. Topónimo frequente na Galiza. Aparece em Góis, Oliveira de Azemeis, S. Pedro do Sul. Na mesma zona do Amial.
Apruma – Alcunha Altivo, pôr aprumo, endireitar.
Areia Cega – Topónimo Topónimo frequente em Portugal e Brasil. “Areias” - muito representado na toponímia. “Areia e areias” - aparecem como apelidos. Em Darque há o “lugar da Areia”, o apelido “Areias” e a “Senhora das Areias” muito antigos Areia Cega fica na Veiga, perto do sítio do topónimo Lisboa e dos Boldrões. Na Ponte da Veiga, junto de Vila Franca.
Arjão/Arijão – Topónimo Arjão - pau que ampara as videiras, ervilheiras, os feijoeiros, etc... Almeida Fernandes escreveu nos Cadernos Vianenses: “Certamente o genitivo Ardilani ou Argilani sc. «villa de Ardila (ard+ suf. Ila) ou de Argila (arg «mau» ou harjis, e o mesmo sufixo). Só uma forma antiga poderia vir a decidir entre um destes hipocorísticos masculinos. O i de uma das formas é suarabáctico, e não etimológico”. Junto aos Areais. Entre a casa do antigo capador, Manuel Dias, casa do Correia. E o início da estrada da Senhora das Boas Novas.
Atafona – Topónimo Existe este topónimo não so em Mazarefes, mas também, pelo menos,na região da Bairrada. s.f. - Do Ár. At-tahuna. Moinho privado, existente em algumas casas de lavradores, essencialmente montado em madeira de sobro e movido por força animal. Pela sua constituição, tornava-se uma máquina bastante pesada e, por isso, chegou a ser substituída pela atafona de peças de ferro, muito mais leve.
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Também pode ser moinho movido por homens, ou por bestas.
Aterro – Topónimo Aterro - processo utilizado para cobrir lixos descobertos; porção de terra ou entulho destinada a nivelar ou altear um terreno. Junto ao Alhozinho , lugar onde se tirou terra e pedra para dar lugar à linha férrea e que serviu para aterrar na zona de Lamas em Vila Fria e alterar o terreno para a mesma linha férrea. Tem tantos anos como o Caminho de Ferro na Linha do Minho.
Azenha – Topónimo s.f. - Do Ár. As-sania. Trata-se de um tipo de moinho de técnica mais ou menos complexa, posto em movimento pelo aproveitamento da energia hidráulica, isto é, pela água conduzida pelo rego, pelo açude até cair nos copos da galga ou roda grande. Frei João de Sousa regista o vocábulo azenha, do Ár. Assanha, que indica ser moinho de água que serve para moer o trigo. Diz que há também azenha para moer azeitona, e que se chama lagar, afimando que, no foral concedido à cidade de Coimbra, se encontra escrito, sem corrupção assania. Alberto Sampaio, no I volume dos seus “Estudos Económicos”, informa que o engenho introduzido pelos romanos foi o que se chama “moinho” (turbina primitiva) que conserva a raiz latina (molinus, a, um), enquanto a roda hidráulica nesta aplicação pelo menos, foi empregada muito mais tarde, pois azenha, nome técnico, deriva do árabe.
Baba – Alcunha – 1649 Isabel Alves, a Baba
Baeta – Topónimo João Rodrigues, o Baeta. Baetas - pano felpudo de lã para afagar bebés. Baeta – no Brasil é apelido levado de Portugal. É top. no Brasil e em Portugal. Gonç. Rod. Filho de João Rodrigues, o Baeta e de M.ª Alves, sepultada no adro da Igreja velha de Viana do Castelo em 1669 e seu filho Antº R. Baeta, em 1670.
Baixo – Topónimo Baixo - apelido e antiga alcunha. Entra na composição de muitos topónimos de Portugal e do Brasil.
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Baixo, isolado em Esposende, Melgaço, Ponte de Lima e Valença... como aqui. Baixo – Topónimo – 1605 Gonçalo Alves, de Baixo.
Bandulha – Alcunha – 1650; Bandulho, uma parte das quatro partes do estômago do boi/vaca. Maria Miranda, a Bandulha
Bargiela ou Barziela ou Varziela – Topónimo Barziela - Topónimo em Braga. Varziela - pode estar derivado de Várzia, Varze e Várzea. Varziela - Top. frequente no Norte, Arcos de Valdevez, Ponte de Lima e Serra d’Arga... Na Conchada.
Barrolo – Apelido e alcunha – 1651 Domingos da Costa Barrolo - 1684 Domingos Pires, o Barrolo, marido de Maria Pires - em 1679. Maria Rodrigues, a Barrola - em 1764
Bate-Estacas – Topónimo Aparelho para cravar estacas. Situa-se na Conchada e refere-se ainda a altura da construção da linha férrea, no lugar da Conchada.
Beltram – Apelido Beltram ou Beltran - apelido derivado do espanhol Beltran equivalente ao português Beltrão. Beltrão - hoje quase só usado como apelido. Corresponde ao nortenho Bertrand com origem germânica, de “bert” (brilhante) e “rand” (escudo). Beltrão – top. na Covilhã.
Bernardas – Topónimo Bernarda - revolta, motim. Bernarda – Topónimo, em Bragança e outras localidades. Existe o topónimo Travessa das Bernardas em Lisboa. Aqui vem da Bernarda, e das filhas? Junto ao Miguel Forte.
Bértola – Apelido – 1979 Bértolo - Redução pop. de Bartolomeu, apelido também em feminino (Bértola). Topónimo em Freixo de Espada à Cinta. Junto ao Caminho do Conde.
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Betoca – Topónimo Topónimo também em Freixo de Espada à Cinta. Junto ao limite de Mazarefes com Darque?
Bica – Alcunha – 1920 Apolinário Rodrigues, o Bica.
Bicho/Bichos – Alcunha Bicho - verme, insecto, pessoa feia... Topónimo em Belmonte e Caldas da Rainha. No plural “Bichos”, topónimo em Almada e Lisboa... A Quinta do Bicho, no lugar do Ermígio, em Mazarefes..
Bispa – Topónimo Bispa - remote de calmo, variedade de fruta... Topónimo muito frequente. Na Regadia.
Boas-Novas – Topónimo Boa-Nova - borboleta branca. Apelido. Top. frequente em Portugal e Brasil. Em Vila do Conde. Em Mazarefes deve ter a ver com boa notícia. Era usado epistolarmente, nos testamentos e em registo de boas novas como boas notícias. Não foi difícil passar este nome à Senhora dos Prazeres, no Olival, ali junto da actual Capela... Boas Novas - Top. que tem origem na Senhora das Boas Novas.
Boavista – Topónimo Boa Vista - Topónimo muito frequente em Portugal e Brasil. Junto às «Boas Novas».
Bois – Topónimo Boi - espécie de mamífero ruminante da família dos bovídeos. Serve para alimentação do homem, e trabalhos vários, instrumento musical, prostituta, marafona... Do latim bos, bobis “boi”, que lhe seria aplicado por ser de grandes proporções, ou por ser zona de pastagens dos bois. Pode significar elevação no antigo europeu: bhou=inchar ou crescer.
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Bois - Topónimo com um caso em Alcobaça também chamado Monte de Bois. Almeida Fernandes diz que “Boi poderá ser também o próprio nome pessoal Bonoi, cuja terminação -oy aparece em numerosos antropónimos de origem germânica; mas não descubro o tema ou raiz bom - com esta origem (se bem que o antropónimo deve bastar para a garantir). Pode também ser a alcunha zoonímica documentada já no séc.XII”. (No CV tomo VI, pág. 289) Finalmente, também explicaria este topónimo o genitivo Avoli sic. «villa» de Avolus, que não creio de origem latina mas germânica (raiz av- de que falo em Aboria), ou mesmo Avoy (aquela raiz e a terminação -oy muito vulgar, a que há pouco me referi. Só a documentação antiga do topónimo poderia decidir- o que apenas acontece com o caso das ff. Moreira - Santa Leocádia, no séc. XVII Aboi. Apesar da falta de documentação para os outros dois casos e aparte a possibilidade da alcunha zoonímica, é de admitir também neles o nome pessoal Avoy, a solução para os três mais natural. Na f. Sopo (C.V. N. de Cerveira), temos também este topónimo 1258 Avoy IS 353: cp. 1258 Avoco IS 592, outro topónimo antroponímico com a mesma raiz (av+suf. Oco), e 1258 Avel IS 343 (av + el).
Boldrão – Topónimo Aparece Goldrões e se esta é a escrita correcta, então terá a ver com Goldres, apelido espanhol - Golderez. Junto à Areia Cega. Onde chegaram a vir barcos espanhóis, segundo a tradição trazer contrabando a Mazarefes. “A forma portuguesa de Beltrano. O topónimo não deve ser anterior ao séc. XII. Creio ser seu plural Boldrões = Beltrões, nesta mesma localidade”, ainda A. Fernandes.
Boldrões – Topónimo Também se diz assim. Idem.
Bolha – Alcunha – 1761 Bolha - Vesícula sobre a pele, patetice, mania, pancada... Bolhas - Topónimo na Lourinhã. Aqui trata-se de uma alcunha que desapareceu.
Bomburro – Alcunha – 1680 Manuel Rodrigues, pai do Padre Gonçalo Rodrigues, que abandonou...
Borralheira – Topónimo de origem na posição geográfia e exposição ao sol.
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Borralha – Cinzas. Lugar onde se junta a borralha. Topónimo frequente em Cabeceiras de Basto, Guimarães e Galiza. Entre a Capela da Senhora das Boas Novas e a antiga casa dos Galhofas.
Borras – Topónimo – 1659 Maria, a Borras. Alcunha. Borra - pequeno pássaro; soltura, diarreia, designação vulgar e antiga de certos frades... Existe o topónimo Borras na Anadia. Borra - Apelido, alcunha e top. em Felgueiras, Torres Vedras e Espanha. Possivelmente, Borras no plural deve designar também sítio para onde corriam os restos da lavagem do linho ou do fundo das pipas, os resíduos de recipientes de azeite, neste caso menos provável, os desperdícios da fiação da seda. Na zona das Lavandeiras.
Borre – Alcunha – 1662 Ana Rodrigues, a Borre – será Borra? Suja?
Bouças – Topónimo Bouça - Apelido, Alcunha. Top. muito frequente em Portugal e na Galiza. Terreno vedado com mato e pinheiros. Junto ao limite com Vila Fria.
Boucinha – Alcunha Boucinha - Apelido, Alcunha. Diminuitivo de Bouça do Espanhol Bouciña de origem toponímica em Pontevedra e Corunha.
Branca – Topónimo – 1730 Abranca (Celta).
Breias – Topónimo Breias - Breia (vreia?), veredas, antigos caminhos reais, vias romanas. Breias - Topónimo em Braga. Existe também como apelido. Junto ao limite de Mazarefes com Darque. Estrada antiga entre Viana do Castelo e Braga.
Brilhante – Alcunha Era um cavalo de pelagem luzidia para Leite Vasconcelos. Olhos brilhantes. Adorno.
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Broeira – Topónimo Broeira - planta, pessoa que tem corcunda... Broeiro - pessoa que vende broas. Broeira – No Alentejo e aqui como topónimo. No lugar do Monte de origem geográfica  com a forma de Borôa, Broth em germânico visigótico.
Cabacinha – Topónimo – 1648 Ana Pires, viúva, Maria Rodrigues Cabacinha - em 1669. Cabacinha - bolo de cera; cabaça pequena para levar águas para os campos; brincos das orelhas...Topónimo. A noroeste da Casa do falecido João Cunha. Cabaço – Topónimo Cabaço - nome de peixe, virgindade, faltar à promessa de casamento, aprendiz de caixeiro... Cabaço - Topónimo em Caldas da Rainha, Loures, Lourinhã, Portimão e aqui.
Cabanos – Topónimo Cabano - Boi cujas pontas são horizontais ou voltadas para baixo, alpendre, telheiro... Cabanos - Topónimo.
Cabecinha – Alcunha Cabecinha - farinha que fica na peneira... Apelido, Alcunha, topónimo frequente. Aqui aparece Cabacinha e cabecinha (?).
Cabreiras – Topónimo Cabreira - mulher que guarda cabras, planta leguminosa. Kabreira, séc.XII. Cabreiras - Top. em Guimarães. Na Regadia, junto ao limite com Vila Franca e Vila Fria.
Cachada – Topónimo. Pode ser fruto dum terreno inculto e desdobrado à sachola, começou a ser cultivado. Cachadinha - Topónimo frequente no Norte (Minho). Alcunha de família em Viana do Castelo. Apelido também. Cachadinhas existem em Amarante, Barcelos e Galiza.
Cagão – Topónimo Cagão - Topónimo em Évora. Alcunha tornada topónimo. Medricas.
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Caguelha – Alcunha – 1764 Maria Vaz, a Caguelha - 1764. Viúva de João Rodrigues Pisco.
Caipora – Alcunha Caipora - De origem brasileira? Terá a ver com os povos Cáporos, raça céltica na zona de Pontevedra? “Ka’a pora” morador no mato, místico ou “Kai pora” - o que tem fogo, o que queima. Os Cáporos ou Capóros eram um dos povos indígenas mais poderosos na Galiza, em Lugo, possivelmente de origem Celta.
Calçada – Topónimo Calçada - Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Calçada –“ O topónimo é frequente em diversas terras”.
Calvário – Topónimo Calvário – Topónimo frequente nas terras portuguesas. Aqui é na Conchada que começaria a via-sacra na igreja de S. Nicolau com 14 cruzes e terminaria, onde existem pelo menos 2 cruzes segundo conheci.
Calvete – Topónimo Topónimo também na Figueira da Foz. Calvet - Apelido de origem francesa. Junto aos Raindos.
Camelo – Alcunha Camelo - Apelido, Alcunha.
Camilo – Apelido Camilo - Topónimo em Vila Franca de Xira, apelido.
Campinho – Topónimo Campinho - Topónimo frequente em Portugal e Brasil. Apelido e alcunha. Também no plural. Junto às Moradas. Junto do Manuel Dias ( antigo capador) muito conhecido em toda a região). Campos – Topónimo – 1725 Isabel Rodrigues, viúva de Domingos Afonso Rato. Lugar dos Campos. Apelido.
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Cangosta – Topónimo Cangosta - Terrenos lavradios, campos de milho e vinhas; mas o mais interessante era ser caminho antigo, fundo, murado dos dois lados e estreito. Junto ao “Mira”, à Carniçaria, no Souto e nos Catrinos.
Capareiros – Alcunha – 1747 Boaventura Azevedo (Capareiros) Maria de Miranda, dos Capareiros – em 1750 Capareiros – Topónimo em Viana do Castelo.
Capela – Topónimo António Rodrigues, o Capela. Capela - Topónimo muito frequente em Portugal e Brasil, apelido... alcunha por viver junto à Capela.
Capelo – Alcunha – 1601 António Rodrigues, o Capelo. Francisco Rodrigues - 1654 Capa pequena (1355) e a meia capa de S. Martinho = Capela que deu ermida.
Capota – Alcunha Capota - Apelido, alcunha, topónimo. Também aparece Capote (José Gonçalves, o Capote, no lugar do Souto, avós do Carriço).
Caraças (Raça de boi, como o boi cabano...) ou como o boi escarchado, isto é, com as hastes abertas.
Caramuja – Topónimo – 1740 Caramuja - Topónimo em Portugal e no Brasil. Existiu o apelido Caramuja em Maria Rodrigues Caramuja, em princípio do séc. XVIII. Molusco, marisco das rochas do mar. Há o topónimo Caramuja na Póvoa de Varzim. Depois do Vermoim, não longe do Rio Lima.
Carapita – Alcunha – 1651 Maria Alves, a Carapita
Cardosa – Topónimo Cardosa - Top. em Aveiro, Braga, Évora...
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Cardosas - Aparece em  Alçácer do Sal, Arruda dos Vinhos, Beja... “Junto dos Muros”.
Carnacuo – Alcunha – 1775 Martim Gonçalves, o Carnacuo
Carnaquo – Alcunha – 1670 Domingos Gonçalves, o Carnaquo – 1679. Celta ou precelta Carn. Carr, Kar. Karn = pedra / rochedo (Pré-indoeuropeu?) Também daria Carreg = pedra em Celta. Carrasco = erva que nasce nas pedras e panasco, terreno alagado onde nasce erva. Karnacum = monte de pedras - Lugar Sagrado? Carnaque - Top. no Egipto - Aldeia no Egipto...
Carniçaria – Topónimo – 1530 Carniçaria – Topónimo em Lisboa. Razão. Junto à Igreja.
Carniceiro – Alcunha – 1617 Pedro Francisco, o Carniceiro. Carniceiro - Topónimo em Odemira.
Carnoto – Alcunha – 1746 Monte de Pedras (Celta)? Carnoto - Tribo Gaulesa, Carnutos topónimo. Bosque dos Carnutos - Centro Religioso de toda a Gália. Celebravam aí os druidas as reuniões anuais. Terá sido construida a Catedral de Chartre sobre o Santuário Céltico. Os Carnutos foram um povo gaulês, cuja a capital era a actual cidade de Chartres.
Carrapato – Alcunha – 1735 Manuel Fernandes Carrapato, Maria Ribeiro, viúva, no lugar do Souto. Deviam ser carpinteiros - agarrados à madeira. Carrapato - Topónimo em Caminha e no  Brasil.
Carraxel – Alcunha – 1759 Francisco Gomes, o Carraxel, lugar do Monte.
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Carraxel – Carrascal/Carrasco – Topónimo de freguesia em Portugal, Galiza e Brasil.
Carrega – 1689 Domingos Gonçalves, Carrega - 1698 Manuel Rodrigues Carrega, Lugar da Namorada - em 1737. Carrega - Top. no Brasil (Carregas) Apelido em Fundão. Ver Carnaquo.
Carriço – Topónimo Carriço - Topónimo frequente em Viseu, apelido, alcunha. O Carriço é erva dura e carrapatosa, do latim “macarrónico”, “carriceu”, ou pássaro, carriça.
Carvalhais – Topónimo Quinta dos Estivadas.
Casa do Forno – Era a casa do forno do Povo?
Casal – Topónimo Casal - Topónimo frequente em Portugal e Galiza, apelido, alcunha. Casalia - Era o lugar dos casarii. Os casarii eram os caseiros. Casalia toma, por vezes, o nome de casales. Fica quase sempre nos extremos da freguesia. Junto à Mata. Mazarefes no século XI tinha o Convento e “doze casales…”
Castelas – Topónimo Castelas – Apelido. Castela - Topónimo emigrado de Espanha? Para aqui terá vindo do Castelo do Neiva. Junto à Estrada de Cima.
Castelhana – Alcunha – 1663 Isabel Gonçalves – Oriunda de Castela.
Castelhanos – Alcunha – 1761 No Tombo.
Catrinos – Alcunha Catrino não sei a razão, mas Leite Vasconcelos diz que alguém ficou com o nome Catrino por ter levantado nos cornos, ou galhos, uma vendedeira de leite que se chamava Catarina.
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Catruc – Alcunha Séc. XIX. Alcunha dada pelo “Abade Velho”, Pe. Matos aos “Catrinos”.
Cavalo – Alcunha – 1720 Cavalo - Apelido - usava-se em 1258, hoje desconhecido... Topónimo em Portugal e no Brasil.
Cavezinha – Topónimo Estará por Cabecinha ...
Caxiones – Alcunha Caraças. Ver Caraças.
Cebe Cebes - gr. Rebés (nome do discípulo de Sócrates. Em 1978 publicou-se em Portugal “Cebes Thebeno - quadro da vida humana” ou Tábora de Cebes Thebano, filósofo platónico).
Cerqueira – Topónimo Cerqueira – Topónimo em Setúbal, Viana do Castelo, Galiza. Apelido e Alcunha. Top. também no Brasil, na Baía e São Paulo. Na Conchada.
Cetra Cetra - Arma particular dos antigos Lusitanos. Era um certo género de broquel de ferro ou metal que tocando-se resultava um som marcial. Almeida Fernandes diz: “ como a expressão toponímica actual Bouça do Cetra (a que se subordinou o antigo topónimo Cetre) pode, pois, sugerir coisa mais ou menos fantasiosa (qualquer coisa a que se deve o artigo, como em tantos casos), direi que será preciso, para eu abandonar a minha opinião, que se me prove essa mesma coisa. Enquanto não, eu entenderei em Cetra o mesmo que Cetre anterior (com assimilação), ou seja, o genitivo Caeteri sc. «villa» de Caeterus – do lat. Caeterus aplicado pessoalmente com intenção carinhosa: o último nado, por exemplo. Isto numa hipótese genitiva: no final, exporei a não genitiva. No que respeita à expressão actual «o Cetra» em complexo toponímico, realçarei que não é raro que alguma coisa de indefinido paire na imaginação de um ou outro dos utentes de um topónimo e o leve a aplicar a este artigo, de
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harmonia com a ideia que lhe liga (vaga ou precisa, mas naturalmente errónea), quando não mesmo a alterar-lhe a forma. Daí casos em que as leis fonéticas dir-se-iam frustradas como tais. Cetre (>Cetra) emparceira perfeitamente com o genitivo Caeterini, de Caeterinus (o diminutivo de Caeterus), origem do topónimo Cedrim (f. do c.Sever do Vouga,964 Ceterin DC 87, um «villa», de facto) e com o topónimo romano, ou seja, muito anterior, da «villa» 1113 Cedriniana DP 460> Caeteroniana villa, de Caeteronius (antropónimo ainda usado no séc. IX-X, 867-912 Cetronio DC 8), na região de Coimbra».
Chastre – Topónimo Chastre - Apelido de origem toponímica do francês Chastres. Referindo-se Almeida Fernandes a este topónimo diz: “Como no caso de Belindra, deve existir um grupo consonântico não originário, isto é, Chastre por, anteriormente, Chaste. O topónimo não vigora, mas existia ainda no séc. XVII. Creio poder admitir duas soluções antroponímicas genitivas: uma, germânica, o genitivo Flaciti sc. «villa» de Flacitus (séc.III Flaccitheus NG 20), gót. thlaqus, com síncope do -i- postónico que impedisse a sonorização da consoante anterior (como no caso de Cetra); outra, latina, o genitivo Placidi sc. «villa» de Placidus, também com o mesmo fenómeno de síncope (que evitou a elisão do -d-, como seria normal: cp. 1059 Placia DC 420). Na Veiga, junto a Darque.
Chossas
Chouso – Topónimo – 1599 João Alves do Chouso - 19.03.1599 Chouso – Topónimo frequente Sousos, Chousos - o mesmo que “tapada” ou ainda fechado (clausum) = (clausa) = (chousa). Sousos,Chousos – O mesmo que “tapada” ou ainda fechado. Daí que (clausum) = (clausa) = (chousa) (latim) deu o português arcaico chousa e chousos que também apareceu nestas formas em documentos antigos nesta freguesia. Normalmente são topónimos que podem significar um pomar fechado, ou ainda, com significação semelhante a “cortinhas”.
Claras – Alcunha Clara – Topónimo e apelido derivado do adj. Clara. Casa dos Claras, na Conchada.
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Codeçal ou Codessal – Topónimo Codeçal - Terreno lavradio, seco e bastante rochoso; bom para os codeços crescerem. Junto ao Barrolo. Codessal - Topónimo frequente no Norte de Portugal e Galiza.
Coita – Topónimo – 1804 Coita – Topónimo em Viana do Castelo. Na Conchada.
Coivindos – Topónimo – 1665 Ana Rodrigues de Coivindos e Gonçalo Rodrigues de Coivindos. Junto ao acesso da IC 1.
Coxo – Alcunha Maria Rodrigues, a Coxa, em 1804. António Rodrigues Barbosa, o Coxo – em 1838.
Comendador – Topónimo Comendador – feitor, provedor, director... Comenda – Topónimo frequente, apelido, alcunha. Junto aos Dias?
Comporta – Alcunha Comporta – Topónimo em Alcácer do Sal, Grândola e no Brasil – Paraíba. Apelido, Alcunha.
Conde – Alcunha – 1689 Francisco Dias do Monte, o Conde José Dias Novo, falecido em 1888. Conde – Topónimo frequente em Portugal e no Brasil.
Conde – Caminho “Este topónimo deve atribuir-se ao Conde Telo Alvites, que viveu na segunda metade do séc.X. Este mesmo prócer, deve ter sido também o causador do topónimo Conde (f. do c. Guimarães), inicialmente São Martinho 1009 DC 212 e já São Martinho de Conde em 1059 DC 420 (até que, hoje, apenas Conde): São Martinho do Conde e Caminho do Conde são, pois, topónimos com origem na mesma pessoa – e congéneres de muitos outros, que a outros magnates se devem (Vila do Conde, Vale do Conde, Oliveira do Conde, etc.)”. Sendo as terras de Mazarefes do Conde D. Telo de Alvites e doadas por ele
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aos Monges de Santiago de Compostela em 985, é perfeitamente aceitável. Localiza-se no lugar do Monte.
Cordas – Alcunha – 1699 Cordas – Apelido Topónimo no Brasil, Guimarães, Sta. Catarina, São Paulo e na Galiza. Cordoeiro – Alcunha Cordoeiro – Também apelido e topónimo. Uma alcunha como muitas outras de origem profissional. Consta que viviam os cordoeiros de negócio de cordas. Eles negociavam cordas trazidas por espanhóis de barco até ao Poço Tranquinho. Cordoaria – top. no Porto.
Corgas – Topónimo Corgas – apelido, alcunha, topónimo. Corga – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Junto ao Passal onde já encontrei  uma sucata.
Cortinha – Topónimo Cortinha – Terreno de cultivo, fértil, húmido, perto de casa. Em frente à minha casa, por exemplo, mas geralmente, fica por baixo. Topónimo frequente na Galiza: Lugo, Orense.
Cortinhais – Topónimo Cortinhais – Topónimo nos Arcos de Valdevez, Barcelos, Braga, Melgaço, Paredes de Coura, Mesão Frio, Ponte de Lima, V. N. De Cerveira, etc... em frente à fábrica de serração.
Costenha – Topónimo Costinha – apelido. Topónimo frequente em Portugal e Galiza e no Brasil.
Couta – Topónimo – 1734 Maria Rodrigues, a Couta, viúva de António Barbosa. Na Conchada. Couta – “coutada” e couteiro; na Conchada.
Coutada Coutada – Topónimo frequente na Galiza e Coutadas.
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Covo – Topónimo Covo – Topónimo frequente utilizado como adjectivo nos Arcos de Valdevez e em Barcelos. Limite de Mazarefes com Darque. Localiza-se a poente e junto à Veiga. Rio Covo.
Castra – Alcunha – 1659 Maria Rodrigues (Crasta).
Cuca – Alcunha – 1632 Maria Alves, a Cuca. Se foi topónimo seria de origem Celta com significado de monte ou elevação (Ken-K, de raiz).
Curta – Topónimo – 1771 Domingos Francisco Curto – Lugar da Fonte Branca, casado com Catarina Rodrigues. Curta – “Apelido – alcunhas das melhores antes de chegar ao apelido”.
D´Alem – Alcunha – 1670 Catarina Gonçalves, d’Além
Damarta – Topónimo Campo. Em 1802 morreu em Mazarefes, Joana Rodrigues Damarta, no lugar da Torre. Será este campo que se situa junto ao caminho de ferro e à estrada camarária que liga a N 202? à N 203? conhecido por Damarta por causa desta senhora.
Deiras – do lugar da Eira comum?
Devesa – Topónimo Devesa – Apelido. Topónimo frequente no Minho.
Do Souto – Alcunha – 1647 Justa Rodrigues, viúva, do Souto.
Domingos Vaz Junto à Camgosta dos Burros.
Donana – Topónimo
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Domna – Topónimo em Melgaço, em 1258 Segundo A . F. no CV tomo VI, pág.296: “O topónimo não vigora actualmente, mas usava-se ainda do séc. XVII para o XVIII, de antiguidade. Isto provaria, só por si, nada ele poder ter com Don’Anna (Dona Ana), pois que o uso deste nome hebreu é pós-medievo, largamente. Trata-se de um nome pessoal muito usado Donnanna (germânico, certamente), que apresenta formas em –i e em –e, qualquer delas podendo ter originado o topónimo – isto é, ou imediatamente Donnanna, ou então Donnanne (Donnanni) > Donanna: 927 Donnani DC 28 (978 Donani DC 124), ou 958 Donnane DC 156, ou 1075 Donanam DC 530 (certamente mal lido). Também se pode tratar de Domna Nanna: cp. Séc. X-XI «domna Nanna», com haplologia: cp. 1258 Nana (Nanna)  IS 1470-1471”. CV tomo VI, pág.296
Eira – Topónimo Eira – Topónimo frequente em Guimarães e Famalicão. Apelido. Eira – Normalmente é terreno adjacente ou próximo de casa, (eirinha e eirado) espaço destinado a malhar as espigas, a secar o milho, pátio de serviço... Ainda espaço livre entre o quinteiro ou eido e o lavradio do quintal, onde está o palheiro... Esta palavra vem do latim “area” = espaço livre, lugar para trilhar, pátio, como eirado (areactu). O sítio do Eirado e o lugar da Eira existiu noutros tempos nesta freguesia e hoje há famílias que são conhecidas como d’Eira ou d’Eiras. Localizar este topónimo lugar da Eira e Eirado não é assim tão fácil. É possível, mas não será para agora. No entanto, é possível que este topónimo tenha surgido no lugar das Penas, zona de pedra abundante. Algumas casas de habitação estão até construídas sobre pedras megalíticas. É uma zona alta e soalheira onde, em tempos recuados, haveria uma grande eira comum aos “Casales”, “Casalia” ou “Casares” que também, por sua vez deram o topónimo “Casal” existente em muitas terras. Os moradores junto deste topónimo receberam-no como apelido e assim surgiram apelidos como “Casal” e “Eira”. Houve “Deira”, apelido, vindo de Anha, mas já cá existia ao menos como alcunha «d’eiras». Eira comum dos caseiros. Os agricultores das Vilas romanas.
Eirado Eirado – Topónimo frequente na Galiza. Há Eirados também em Monção.
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Entre-Bouças
Ermígio – Topónimo Ermígio – Topónimo em Guimarães, Sta. Marta de Penaguião e aqui. Ermígio – Ermigius ou Hermigius, antroponímico de origem germânica. Antigo lugar de Mazarefes.
Escampado – Topónimo Escampado – Descampado, campo vasto desimpedido de vegetação. Escampar – estiar. No escampado pode deitar-se o junco ou a junça para secar e fazer as esteiras... Topónimo nos Arcos de Valdevez, em Barcelos, Guimarães, Monção e Pontevedra.
Espadanal – Topónimo Espadanal – Topónimo frequente na Galiza (Lugo). Alcunha. Da flora como Junqueira. Junto aos Ameais, a nascente.
Espadaneira Espadaneira – Topónimo frequente, apelido, alcunha.
Espinhal – Alcunha Espinhal – Apelido, alcunha, topónimo frequente na Galiza. Significa elevação. Espinhais em Reguengos de Monsaraz.
Estacada – Topónimo Topónimo de campos alagados. Veiga com estacas. Na Veiga de S. Simão.
Estacadinha – Topónimo Estacadinha – Topónimo, diminuitivo de estacada. Veiga de S. Simão.
Esteira – Topónimo Esteira – Topónimo brasileiro. Sulco, resto, albarda de junco, tecido de junco... Fica na Veiga.
Esteiradas – Topónimo Porrada ou corpo deitado na esteira.
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Estira – Alcunha Estira – Topónimo em V. N. de Famalicão. Destirar – esticar, dilatar, alongar… Do grego Styra.
Estivadas – Topónimo Estivadas – Topónimo nos Arcos, Ponte de Lima, Sto. Tirso, Viana do Castelo e Galiza. Tem a ver com a  estiva. A sul do Vermoim. Aparece em 1258 nas inquirições.
Estrada Velha – Topónimo Por ter sido a estrada que ligava Viana do Castelo a Braga. Também conhecida por Caminho Velho ou ainda pelo Caminho Grande. Ainda em relação à estrada nova, dos nossos dias.
Exposto – Topónimo – 1748 António, filho de António Araújo, o exposto.
Faneira – Alcunha – 1647 Margarida Gonçalves, a Faneira.
Fernande – Topónimo C.V. tomo V, pág. 166 “Nos dois casos, o genitivo Fredenandi sc. «villa» de Fredenandus (fridus+nanths), esta em Anha, pois o outro deve referir-se ao «porto». Quanto ao primeiro, é corrente a transformação –e> -a do genitivo, na toponímia; no que toca ao segundo, que hoje não vigora, notar-se-á que era um local onde existia uma passagem do Lima (um «porto», que havia sido (se já não era então) uma tão notável passagem no rio, que ficou agregado à designação «portus» o n. Pessoal (certamente do proprietário ou do instituidor do serviço de barcas), tal como 1086 «porto Ariulfi» DC 658, e tal como acontecia (quanto ao antropónimo) com uma «villa», ou um prédio notável análogo.”
Ferrais – Topónimo Ferrais – plural de adjectivo ferral, derivado de ferro. Ferral – Topónimo em Montalegre, Marco de Canavezes, Vila Franca de Xira e Pontevedra. Lugar da Freguesia.
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Ferreiro – Alcunha – 1602 João Pires, o Ferreiro.
Fontaínhas – Topónimo Fontaínhas – Apelido, alcunha, topónimo. Fontaínha – Topónimo frequente no norte e na Galiza. A norte de Vermoim.
Fontam – Topónimo Fontan – Apelido do espanhol Fontán, de origem toponímica (Corunha, Pontevedra). Tem a ver com Fonte como Fontaínhas e Fontelas. Grande volume de nascente de água. Junto às Cabreiras.
Fonte – Topónimo Fonte – Topónimo muito frequente em formas simples e compostas, apelido, alcunha. Fonte Branca – Topónimo O adjectivo é de origem germânica pelo latim alba (branca). Poderá ser também de origem Celta, branca? Junto à Quinta do Bicho.
Fonte dos Anjinhos – Topónimo Após a Fonte Branca, a também conhecida por Fonte do Ermígio.
Fontela – Topónimo Fontela, Fontinhas (Fontaínhas) – São lugares de fontes e são diminutivos de Fontana. Ficam todos à margem esquerda e direita da estrada nacional de Viana do Castelo a Ponte de Lima. Fontão fica a Sul, no lugar de Redondelo. Redondelo é um topónimo de origem limítrofe de freguesia. Topónimo frequente no Norte e Galiza. A nascente do Vermoim de Cima.
Fontela de Baixo – Topónimo Idem, a norte, do lado do rio e depois da estrada nacional. A nascente de Vermoim.
Fontela de Cima – Topónimo Idem, a norte, do lado do rio e depois da estrada nacional. A nascente de Vermoim.
Fontinhas – Topónimo Fontinhas a norte e Fontão a Sul. Fontela, fonte pequena.
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A norte dos Vermoins.
Fontões – Topónimo Fontão – Topónimo frequente no Norte e Galiza, apelido. Significando pequeno riacho ou ribeiro. Junto das Penas, fontes com grandes jorros de água.
Formiga – Topónimo Apelido, Alcunha, Topónimo frequente em Portugal, Brasil e Galiza (Pontevedra). Zona de cabras? É dificil determinar se a alcunha deu o apelido, se o apelido deu a alcunha e se o topónimo deu o apelido ou a alcunha, ou se estes deram o topónimo, assim José Francisco Formiga está dada como apelido, Francisco Martins, o Formiga é a alcunha e o que é certo é que como topónimo também  existe. Quem foi o primeiro? No lugar do Monte.
Formom – Topónimo Formão – Topónimo em Amarante, Guimarães. Origem obscura. Objecto cortante…
Forneira – Topónimo Forneira – Topónimo em Mafra, V. N. De Gaia e Ilha da Madeira.
Frade – Alcunha – 1715 +1731, Manuel Martins Frade, viúvo de Ana Rodrigues. Frade – Topónimo frequente em Portugal e Brasil, Galiza (Pontevedra).
Fraldeca – Alcunha – 1662 Catarina Gonçalves, a Fraldeca.
Franco – Alcunha Franco – Apelido, alcunha, topónimo em Alandroal, Cabeceiras de Basto, Estremoz, Figueira da Foz, Lousã, Mirandela, Penafiel, Sto. Tirso; na Galiza: Corunha, Lugo; no Brasil: Amapé, Ceará, Minas Gerais, Paraná, São Paulo. Francos.
Franjós – Topónimo Franjoso – Topónimo Estremoz. Apelido, Alcunha.
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Fritoza – Topónimo Fritoso – Apelido, Alcunha, do verbo fritar.
Funfuns – Alcunha
Fura-Mundo – Alcunha – 1756 Domingos Martins – Lugar do Monte, o Fura - mundo, marido de Maria Rodrigues.
Gabriel – Topónimo Gabriel – latim “Arcanjo da Anunciação” significa “homem de Deus”, “Varão de Deus”, Apelido, Topónimo em Alenquer, Lisboa, Odemira, Pinhel, Salvaterra de Magos, no Brasil (Baía, S. Paulo...).
Gaia/Gaio – Alcunha – 1710 Domingas Gonçalves, a Gaia (+ 1739). Lugar das Boas-Novas. Gaio – Topónimo e apelido. Alegre, folgazão, fino.
Galante – Alcunha – 1685 Manuel Rodrigues, o Galante, de Anha, esposa Joana Gonçalves, já viúva, 1747. Galante – Apelido no Brasil e em Portugal. É de origem italiana.
Galega/Galego – Alcunha – 1719 António Gonçalves, o Galego – em 1728 Galega – Topónimo fundado por Galegos. Galego é alcunha, apelido e topónimo.
Galhofa – Apelido Galhofa – Gracejo, risota, brincadeira, zombaria.
Galo – Alcunha – 1657 Francisco Miranda, o Galo.
Gamela – Topónimo Gamo (fauna). Configuração de uma gamela. O Poço da Gamela na Veiga.
Ganhador – Alcunha – 1622 António Rodrigues, o Ganhador.
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Ganhão – Alcunha – 1635 António Rodrigues, o Ganhão.
Ganhão – Alcunha – 1740 António Rodrigues Carvalho, o Ganhão. O mesmo foi pastor. Pastor da Veiga? 1755 – Alcunha.
Ginete – Apelido Ginete – Topónimo brasileiro e nos Açores. Gineto – animal carnívoro. Ginete – apelido em linhas de Elvas, tipo de Carvalho, combatente montado em Ginete. Do Ár. Zanala. Trata-se de um cavalo pequeno, esbelto e ligeiro. Todavia, na Bairrada existe esta palavra usada por alguns para chamar aos filhos ainda pequenos, mas irrequietos.
Goldroins/Goldrões – Topónimo Goldra (1258) – Topónimo em Faro, Loulé e na Galiza (Pontevedra). Goldora – No séc. XIV, Goldara, Guldres – 1090. Golderes, em 989. Goldres – Topónimo em Barcelos.
Grande – Alcunha – 1724 Grande – Topónimo Alcunha no séc. XV, quer dizer “Velho” em relação a moço.
Gregótios/Gregórias – Topónimo Gregório – significa vigilante, acordado 982 – Gregoriuo – Gregorio – Grigório 1480 – Guerigorio Gomez – 1980 – Gregória Apelido e topónimo no Brasil. Gregórios – Castro Verde, Pombal, Silves.
Grou – Topónimo Relativo aos gróvios (povos de entre o Lima e Minho) vizinhos dos límicos? Topónimo em Alenquer, Anadia, Cantanhede, Cinfães, Leiria e Pombal... Séc. XVI – Domingos Luís Grou – 1575 (Apelido)
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Fr. João Grou – 1633 e 1635. É um dos topónimos mais antigos. É pré-romano. Grou = muitos e gro = areia, na língua Celta.
Guingão – Alcunha – 1692 Guingão – tecido de algodão, borra da seda, excremento do bicho da seda.
Homem – Alcunha – 1772
Horta – Topónimo Horta – Cidade na Ilha do Faial, topónimo (Portugal e Galiza), apelido. Orta –   DCs: 1066, 1086 e 1140.
Infesta – Topónimo – 1737 Vivia neste lugar Manuel Alves Xastre e Vitória Pereira. Infesta – Topónimo em Amarante, Arouca, Arruda dos vinhos, Esposende... Há Enfesta na Corunha – 1258 e Infestas em Amarante e Cinfães.
Junqueira – Topónimo – 1598 Topónimo frequente em Portugal e Galiza. 1220 – Pio da Junqueira – 1258 Junqueiros (Galiza). Origem na flora. Zona de junco. João Rodrigues, o Junqueira (1598). Há Junqueira como topónimo junto ao Rio Covo, na Veiga a fazer limite com Darque. Zona de muito e denso junco.
Junqueirinha – Topónimo Na Veiga por baixo das Cachadas. Prados e muito junco ainda assim conhecido.
Labarda – Alcunha – 1632 Isabel Rodrigues, a Labarda.
Lagoa – Topónimo Lagoa – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. 1141 – Lacona, 1090, 1037, 1057. 1141 – Lacunam Ouium. 1167 – Lacunam de Gonsalvo Diaz. 1220 – Lagoa – apelido, alcunha.
Lamas – Topónimo Topónimo frequente no Norte e Galiza. Ausente no Sul. Também em 981 – 1050 – 1112, aparece como apelido e alcunha, 1745. Regadia.
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Lameiro – Apelido Lameiro – topónimo frequente Norte e Galiza. Lamario – 1258 e Lamedeiro e Lameiro. Lameiros – frequente no Norte, Centro e Galiza (Corunha, Lugo, Pontevedra).
Laranjal – Topónimo Topónimo frequente no Brasil, sobretudo em Minas Gerais. Laranjais aparece em Guimarães. Campos de larajeiras.
Lavandeiras – Topónimo Lavandeira – o ofício da lavadeira, vem do conhecido latim lavare “lavar”, do gerúndio lavandus. É zona de águas. Topónimo frequente no Norte e Galiza. Também há lavandeira na Corunha e Orense. Alavandeira em Cinfães e Valpaços. Lanuandeiran em 1008; Lavandaria em 1090; Lavandeira em 1220 e 1258; Levandaria – 1258.
Lavradio – Topónimo Significa “terreno que se pode lavrar” topónimo de Algezur, Barreiro, Caldas da Rainha, Pena Cova, Torres Vedras, na Galiza labradio (Lugo). Também é apelido, alcunha. Na Veiga.
Leites – Apelido – 1613 Francisca Antónia Leites.
Lenha – Alcunha – 1665 Ana Rodrigues, a Lenha.
Lima – Apelido Lima – Topónimo frequente em Portugal como nome de pátios, quintas, moinhos. Limia – 1081, 1114, 1124, 1125, 1129, 1130, 1132, 1136, 1140, 1141, 1258 e 1262. Lima – apelido em 1258, está por Limia. Forma Castelhana e Galega. Na mitologia é uma Divindade romana, feminina, que vigiava as soleiras das portas.
Limão – Topónimo
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Do Ár. Laimun, limun. Assim se chama ao fruto do limoeiro. Esta palavra relaciona-se com lima. É um fruto muito ácido; por isso, bastante usado na culinária, em refrescos e também para limpar objectos de cobre. O sumo de limão substitui, com grande vantagem para a saúde humana, o vinagre que contém ácido acético e que é prejudicial. No limite com Darque, na zona da Conchada.
Limoeiro – Topónimo Limoeiro – Topónimo em Coimbra, Fafe, Lisboa, Marco de Canaveses, Ponte de Lima e no Brasil (Ceará, Pernambuco...) 1979 – apelido, alcunha. No lugar da Regadia.
Lisboa – Topónimo Lisboa – Topónimo cidade capital de Portugal, origem pré-romana. Na Veiga com o limite de V. Franca.
Madonas Madona – Nossa Senhora, estatueta, imagem que a representa – Do latim Meo Domna (Minha Senhora). Modorra – prostração mórbida, sonolência, apatia, indolência.
Magano – Alcunha Maganão – Alcunha – 1590. De Magana do século XI. Maganos em Guimarães. Magães em Marco de Canaveses. Maganus, nome pessoal, em Lugo, 947.
Magna – Alcunha – 1600 Maria Rodrigues, a Magna. Maria Rodrigues, casamento em 4.09.1596. Magno – latim “magnus” (grande) – 1024 – 1047 Apelido, cognome de imperador, reis.
Mainarte – Alcunha – 1740/4 Lugar das penas e Lugar do Ribeiro Manuel Gonçalves Mainarte (+ 1789).
Maldisposto – Alcunha – 1711
Malhada – Alcunha – 1722
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Malhado – Alcunha Malhado – Apelido – 1980. Alcunha, do adjectivo que tem molhos ou monchos. Topónimo em Lisboa e Mafra.
Mamalina – Alcunha – 1657
Mangana – Alcunha Mangana – alteração de Magana?
Mangoa – Alcunha – 1656 Justa Pires, Mangoa Domingos Mangoa – em 1673
Maquário – Alcunha Maquário por Macário (Macarius, de origem Grega (séc. IV), feliz, bemaventurado. Sto. Macário foi Anacoreta.
Maqueiro – Alcunha – 1597 António Rodrigues, o Maqueiro, falecido em Castela.
Mariana – Topónimo Inicialmente “relativo a Mário” depois “relativo a Maria” – 1805 apelido, topónimo em Beja e Lisboa.
Marinheiras – Alcunha Topónimo em Arruda dos Vinhos, Castro Daire, Lisboa, Oliveira do Hospital, nome de ave.
Marta Nome da irmã de Lázaro e Maria Madalena, apelido – 1980, topónimo em Lisboa e Santa Marta; é frequente em Portugal – 1109, 1148, 1180.
Martelo – Alcunha Apelido frequente na Galiza.
Masmorra s. f. – Do Ár. Matmura. Trata-se de um cárcere ou de uma cadeia subterrâneos. Frei João de Sousa re
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gista o termo mazmorra, do Ár. Matsmora com voz africana e com significado de casa, cova ou prisão subterrânea à maneira de uma grande cisterna, sem ar, nem claridade, mais do que lhe entra pela porta ou boca, a qual se fecha com um alçapão.
Mazarefes – Topónimo Mazaral, Mazarel, Mazarefes – Topónimo Maçarefes – topónimo em Viana do Castelo Mazarefes – 1258. Nome da Freguesia.
Meal – Topónimo Sob as Pereiras e sobre a Veiga de S. Simão
Meia-Cara – Alcunha
Melo – Topónimo Topónimo. Merlo e Merloo em 1258, Melo em 1479, topónimo em Alcácer do Sal, Campo Maior, Lisboa, Torres Novas... e aqui. Limite com Vila Franca.
Menana – Alcunha Menana – apelido de origem espanhola Menona – deve estar relacionado com Menano
Miguel – Topónimo Miguel – Topónimo em Alandroal, Beja, Celorico de Bastos, Fafe, Guimarães e Rio Maior... Formas antigas – Migael em 1047, Migahel em 1083, Micael em 1098, Miguel em 1265. Campo de Miguel, nas Boas Novas.
Milheira – Topónimo Vendedeira de milho? Será de Milhão? Diz A.F. que «milhão» designa o milho grosso.
Milheiros – Alcunha. Pés de milho Topónimo em Oeiras.
Moleca – Topónimo Moleca – Moleque Moleque – indivíduo sem palavra ou sem seriedade, canalha, velhaco, patife...
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Moninho – Topónimo Topónimo em Celorico da Beira, Melgaço, Pampilhosa e S. Pedro do Sul. Munniu em 985. Munnio em 1013. Monneo em 1037. Moneonis entre 850866. Muneonis em 928. Moneoniz 985...
Monte – Topónimo Topónimo frequente sobretudo no Norte e na Galiza. Entra em Topónimo composto, alcunha muitas vezes “do Monte”. Lugar da Freguesia.
Montezelo – Topónimo Montezelo – Topónimo em Barcelos, Braga, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Penafiel, Ponte de Lima e V. N. de Famalicão. Montezelos – Topónimo em Guimarães, Vila Real e na Galiza (Corunha, Lugo e Pontevedra). Na Conchada.
Morada – Topónimo Morada – Topónimo Barcelos, Lisboa, Miranda do Corvo, Penacova, Vieira do Minho, Brasil (Morada Nova – Ceará, Minas Gerais). Moradas – apelido, alcunha. Na Regadia.
Morta-Topónimo Topónimo Alenquer, Montemor-o-Novo, Arga. Mortos – Topónimo Cabeceiras de Basto.
Mouro – Topónimo Mouro – Cognome romano hoje desaparecido. Apelido, alcunha. Topónimo frequente, isolado e em compostos. Mouros – Topónimo Alcoutim, Almodôvar, Arouca, Arraiolos, Cinfães, Penafiel, Lisboa, na Galiza: Corunha e Pontevedra. C. V. Tomo V, pág. 204 Não incluo aqui topónimos como Fonte dos Mouros, etc., pois significam apenas antiguidade (o modo popular de considerar esta materialmente), pelas razões por que foram incluídos no capítulo arqueonímico. Somente o caso da f. Alvarães, com o triplo complexo Alto da Moura, Calçada da Moura e Pulho da Moura, referentes a locais diferentes de um mesmo sítio, o da Moura, parece dever reconsiderar-se aqui à luz demonímica, e não arqueonímica. Esta toponímia pode respeitar a estabelecimentos de Mouros, se é que não mesmo de moçárabes ou cristãos arabizados (o contrário do anterior topóni
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mo, Moldes, os árabes cristianizados), podendo muito naturalmente ser escravos, ou prisioneiros de guerra. Topónimos mais importantes que estes, como 1071 Villare de Mauris IC 494 (f Vilar de Mouros, c. Caminha) e 1057 Sancto Martino de Mauris, é a essas populações que se referem, na Veiga de S. Simão.
Mudo – Alcunha – 1632 Pedro Rodrigues, o Mudo
Muro – Topónimo Topónimo frequente. Muros – Topónimo Alijó, S. João da Pesqueira; Torres Novas. Mures = ribeiro. Mûr = areias, indo-europeu ou iraniano? Almuro, olm = corrente de água. Alm + nuir = água parada (Celta). No lugar de Ferrais.
Namorada – Topónimo – 1676 Francisco Alves, da Namorada Isabel Alves, chamada a Namorada – 1683 Topónimo em Évora e Viana do Castelo Namorados – Topónimo Castro Verde, Mértola, Santiago do Cacém... Cantigas de Amigo? Antigo Lugar da Freguesia.
Novas – Topónimo Nova – Topónimo Arronches, Arruda dos Vinhos, Cabeceiras de Basto, Espinho, Lagos, Lisboa. Novas – Apelido, alcunha Novos – Topónimo em Alenquer, Elvas...= Notícias=Novidades?
Olival – Topónio – 1670 Topónimo frequente. Há na Regadia e na Conchada. Relativo à existência de Oliveiras.
Paço – Topónimo Palatiu (palácio), topónimo frequente em Portugal e Galiza. Apelido inicialmente atribuído a pessoas que frequentavam ou exerciam funções no Paço. A presença do Palatiu dos Pereiras e dos Azevedos deu o nome ao lugar.
Panasca – Alcunha – 1649 (Palerma) Isabel Alves, a Panasca
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Paraca – Alcunha – 1786 Francisca, exposta, a Paraca. Paracha – Topónimo, alcunha tornada topónimo. Em Sousel – o Monte da Paracha...
Pascoal – Topónimo Derivado do Latim Pasqualis (relativo à Páscoa). Topónimo em Évora, Ponte de Lima e Viseu. Topónimo “Monte Pascoal” no Brasil. Na Veiga de Mazarefes.
Passal – Topónimo Topónimo frequente. Passais – Feira, Paredes, Penafiel, V. N. de Famalicão em 1258. Por cima da Veiga, a sul de S. Simão.
Passos Freitas
Patriarca – Alcunha – 1677 Pedro Gonçalves, o Patriarca
Paúlla – Alcunha – 1635 Ana Rodrigues, a Paúlla, irmã de António Rodrigues, o Ganhão
Pedrinha – Topónimo Pedrinha – Topónimo em Braga, Melgaço, Póvoa de Varzim e Galiza (Corunha, Lugo, Orense, Pedriña). Resulta do latim petrínea (pedra), apelido, alcunha. Pedrinhas – Também como topónimo em Amarante, Oliveira de Azemeis e na Galiza.
Pelotes – Topónimo – 1258 Pelote – Topónimo em Castelo Branco. Apelido, alcunha em 1394.
Penas – Topónimo Penas – Topónimo frequente no Norte e Galiza, apelido, alcunha. Penas – é um nome Celta (penn/pinn), de rocha, pedra. Antigo lugar da freguesia.
Pereiras – Topónimo – 1656 Pereira – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Pera em 973, 978 e 1002,
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Pereira em 1115 e 1139. Pereiras – Do latim Pirun, Pira, Pera, ligado ao fruto.
Péres – Topónimo Peres – Topónimo em Évora, Lisboa, Melgaço, e na Galiza (Corunha, Pontevedra). Apelido Peres ou Pires não foi uma evolução geral, mas um tratamento especial incapaz de eliminar a forma Peres.
Pericas – Alcunha Perico, para Leite Vasconcelos, era burro.
Perneira – Alcunha – 1647 Engrácia Rodrigues, viúva.
Pernica – Alcunha – 1647 Isabel Afonso, viúva
Perua – Topónimo Peru – Topónimo - País da América do Sul. Topónimo em Torres Novas. Perus – Topónimo em Lamego. Peruão – Topónimo em Elvas.
Pimpão – Alcunha Pipeon em Galego, nas cantigas de Amigo, ou moeda pequena em Castela. Pombo e bobo em Português (pifopionis).
Pinhais – Topónimo Pinhal – Topónimo frequente no Brasil e Galiza (Pinel – Pontevedra e Pinan em Lugo). Pinhais – Existe em Leiria e Viana do Castelo.
Pintor – Alcunha – 1600 António Rodrigues, o Pintor
Pisca – Alcunha – 1789 Pisca – Topónimo em Guimarães, Lamego, Porto e Santarém.
Pisco – Alcunha O “boi pisco” deve ter dado a alcunha. Topónimo também em Perre.
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Piza Barro – Alcunha – 1774 Manuel Gonçalves, o Piza Barro. No lugar da Regadia existia a Casa da Piza, sinal de trabalhos ligados ao barro para a construção de fornos, ou pequena fábrica artesal de louça, ou ...? Esta casa era de Manuel Alves Salgueiro e Andreza Rodrigues, pelos fins do séc. XVIII.
Plotes … ver Pelotes – Topónimo Plotas – Topónimo do Grego Plotai (ilhas flutuantes – estrofodes), pelo latim plotos.
Poderoso – Alcunha – 1634 Maria Rodrigues, do Poderoso
Porta da Couta – Topónimo
Portos ver Fernande – Topónimo Portos – Topónimo em Amarante, Celorico de Basto, Melgaço, Miranda do Douro, Ponte de Lima, Viana do Castelo e na Galiza (Lugo e Pontevedra). Porthos, nome de um d’os três mosqueteiros tendo origem obscura. Na Veiga, junto à Areia Cega.
Possa – Topónimo – 1667 Ana Miranda da “Possa”
Possa/Poça – Topónimo – 1679 Manuel Velho da Poça – 07/05/1679. Poço – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Poços – Topónimo frequente na Galiza (Pozos) em 1258, apelido, alcunha existente no séc. XVIII. Possas – Apelido. Na Regadia.
Prado – Topónimo Prado – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Prado em 959, 1220, 1258. Apelido, Alcunha em 1443 e 1533. No Ermígio.
Preguinho Topónimo em Cinfães e S. Pedro do Sul. Está relacionado com Preguin da Galiza (Corunha).
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Prezas – Topónimo Preza – apelido Preso – Apelido, alcunha, topónimo frequente em Portugal e Galiza, em 1258.
Pulgas – Alcunha – 1980 Pulga – Topónimo em Alijó, Évora e Seia. Pulgas – Aparece em Évora e Setúbal. Em Mazarefes fica no caminho que leveva Darque a Ponte de Lima.
Pusca – Alcunha – 1642 Justa Rodrigues, a Pusca.
Queimada – Topónimo Queimada – Topónimo frequente, existente no Brasil. Alcunha de homem. Topónimo em Alenquer, Grândola, Lisboa, Ilha da Madeira e no Brasil (Baía, Paraíba).
Quinta – Topónimo Quinta – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Quintia em 1132. Apelido, alcunha em 1681.
Raboja ou Ramboia – Alcunha – 1677 Manuel Miranda, o Raboja ou Ramboia Tem a ver com raça de vacas.
Raindos – Topónimo Raindos – Topónimo em Barcelos e na Galiza (Corunha). Origem obscura. Rayindo em 1258. Será Galindus, povo godo do Báltico? Já vi escrito em documento antigo Gavindos.
Raposeira – Topónimo Raposeira – Topónimo frequente na Galiza (Corunha, Lugo e Pontevedra). Deriva de raposa no sentido de lugar onde há raposas em 1238, apelido, alcunha. Há em Lisboa. Na Veiga.
Rata – Alcunha – 1766 Joana Casada, a Rata, Lugar da Conchada. Topónimo em Beja, Castelo de Paiva, Espinho, Maia, Melgaço, Murça, San
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tarém, na Galiza (Corunha) e no Brasil. Para Leite Vasconcelos era também uma mula de cor  cinzento – escuro. Ratos – Topónimo (ilhote na Ria de Faro), alcunha, são os alunos do 1º ano na gíria do Colégio Militar de Lisboa.
Rata molhada – Alcunha
Rato – Apelido – 1851 Manuel Gonçalves Rato, casou em 1851 em Mazarefes, era sobrinho do Pe. Manuel Afonso Franco, natural de Sta. Marta, a irmã do Padre e mãe do sobrinho era Inácia Alves Franco. Em 1863, de 81 anos morreu no Lugar da Namorada. Rato – Topónimo frequente na Galiza (Lugo). Pode derivar de Reptus – Ralfts. Rato em 1499. Ratos – Topónimo em Pombal, Torre de Moncorvo, Torres Novas e Viana do Castelo. Pode-se tratar de referência a pessoas de famílias locais com o apelido Rato.
Redondelo – Topónimo Ana Ribeiro – 1801 Manuel Rodrigues Carvalho e Maria Ribeiro em 1793. Redondelo – Topónimo em Amares, Arcos de Valdevez, Caminha, Chaves, Fafe, Guimarães, Ponte da Barca... e na Galiza. Rotundelo em 1038 – Redondelo em 1093 e 1258. Pode derivar deste Rondelo em 1258. Redondelo – Prédios de lavradio e erva, húmidos e de regadios. São autênticos prados. Ficam junto à  estrema com Vila-Franca e a nordeste do Beco de José Liquito.
Regada – Topónimo Regada – Topónimo frequente no Norte e Galiza, em 1208. Apelido, Alcunha em 1979. Ragadas – Topónimo frequente no Norte e Galiza, em 1220 e 1258. Junto aos Couvindos.
Regadia – Topónimo Regadia – Topónimo Carregal do Sal, Peso da Régua, Ponte de Lima, Viana do Castelo, V. N. de Famalicão,  (de terra que é regada) em 1258. Lugar da Freguesia.
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Renda (Bouça da…) – Topónimo Renda – Topónimo frequente no Norte e Galiza (Pontevedra). Talvez de origem germânica, apelido, alcunha, em 1884.
Rendilha – Alcunha – 1781 Maria Soares, a Rendilha, Lugar do Ermígio. Renda – Render, tecido de malhas abertas, com textura delicada, cujos fios entrelaçados formam desenhos. Render – Entregar-se, retribuir, dar em troca. Latim rendere (class. Reddere) com influência de prendere.
Repeidade – Topónimo – 1749 Manuel Dias – 1749; Bernarda – 1802; José Dias – 1810; Martins, Meira, Conde. O Francisco Dias era do Lugar do Monte (+1758). O Domingos Dias do Souto era do Lugar do Monte – (1752). Repeidade – Topónimo em Guimarães. Revinhade – Topónimo em Felgueiras. Este topónimo encontra-se extinto, mas vigorava do séc. XVII para o XVIII. Nada tem a ver com Ribadade = Riba de Aade (n. Comum «aade» lat. Anate, n. Esse que era o de uma espécie de pato), tudo, em meu ver, indicando o genitivo Reparati sc. «villa» de Reparatus. É n. Latino que se repete na nossa toponímia (1220 Reparadi IS 31, e 1258 Reparadi IS 1427) e na galega (1122 Reparadi DR 60) A série fonética teria sido Reparati > Reparadi > Repedade > Repeidade (simples assimilações e dissimilações).
Retorta – Topónimo Retorta – Topónimo frequente em Portugal e Galiza. Em relação com características das povoações ou aos caminhos ou cursos de água em 960, 1169, 1258. Apelido, alcunha em 973. Arretorta – Topónimo sopal em Faro
Ribeiro – Topónimo Ribeiro – Apelido, alcunha, topónimo frequente na Galiza: Corunha, Lugo em 1220. Ribeiros – Topónimo em Fafe, Figueira de Castelo Rodrigo, Marco de Canavezes, Monforte, Oliveira do Hospital, Penafiel, Viana do Castelo, Vila de Rei...
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Rio Covo – Topónimo Rio Covo Topónimo em Águeda, Barcelos, Mealhada, Monção Pombal e Viana do Castelo, em 1220. Riocobo – Galiza (Corunha, Lugo) Riocovo – Galiza (Lugo). No limite de Mazarefes e Darque.
Roi Orelhas – Alcunha
Roicacos – Alcunha
Roleira – Alcunha – 1659 Maria Alves, Roleira
Roleiro – Alcunha – 1626 António Araújo
Roncal – Topónimo Ronca – Topónimo em Santiago do Cacém, Torres Vedras. Apelido, Alcunha. Ronco – Topónimo de Vila Nova de Gaia. Rugido de animal selvagem.
Ruça – Alcunha Por ser de loira?
S. Bento – Topónimo Bento – divergente de Benedito, apelido, Topónimo em Caminha, Chamusca, Coimbra, Leiria e Lisboa. S. Bento – Topónimo frequente no Brasil (Maranhão). Junto à Igreja Paroquial.
S. Joane – Topónimo Veiga
S. Simão – Topónimo Pela presença duma Igreja Antiga sob a invocação de S. Simão.Veiga.
Safrões – Topónimo Sanfrins – Topónimo em Paços de Ferreira Safra – Topónimo em Guimarães, Marvão, Pampilhosa da Serra, Portalegre. Em Espanha (Alicante, Badajoz, Cuenca, Orense). Ceifa.
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Diz A. Fernandes: “Creio que se trata de topónimo antroponímico arábico – nada de surpreender em Mazarefes: certamente o plural de um n. Pessoal a que corresponde o bem documentado n. de mulher 1059 Zahara DC 420, isto é, Çáfara: 907 «mancipias meas Mariamen et Sahema et Zafara» DC 16. Note-se que também Mazarefes é um plural: não admira, pois, sê-lo Çafarões.”
Sapagal – Topónimo Veiga
Saloa – Topónimo
Salo – Apelido de origem toponímica (região da Lombardia). Saloia – Topónimo de
Grândola. Saloio – Topónimo em Caldas da Rainha, Évora, Óbidos, Salvaterra de Magos. Apelido, alcunha.
Sales – Topónimo Caldas da Rainha, Cartaxo, Espinho, Lisboa, Montemor-oNovo, Oeiras. Topónimo na região de Seia em 919. C.V. tomo VI, pág. 315 Pode ser o feminino Sallõa da alcunha Sallom: 1258 Martino Salom IS 344 é, por exemplo, um morador na f. Facha, não muito longe. Cp. Melõa (f. Ucanha, c. Tarouca), feminino de Mellom.
Salta – Alcunha – 1693 Maria Rodrigues, a Salta, viúva de Tomé Rodrigues – 1741.
Salta – apelido, alcunha, topónimo, parece relacionar-se com saltar. Topónimo em Valongo e Viana do Castelo.
Santa Marta – Topónimo Zona da Veiga onde os Santamartenses têm muitas propriedades e a nordeste de S. Simão.
Santoinho – Topónimo Na Conchada. Limite com Darque.
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Sarda – Alcunha – 1651 Isabel Casada, a Sarda.
Seixal – Topónimo Topónimo frequente em 1514, apelido, alcunha de Seixal. Vem de seixo, do latim saxum. Junto ao Calvete.
Senhora – Topónimo Senhora – Topónimo em Baião, Barcelos, Lagos, Lousada e Miranda do Corvo. Aparece em muitos tops. compostos a invocação de Nossa Senhora. Nome dado à zona da Capela da Senhora dos Prazeres e depois da Senhora das “Boas Novas”.
Senhorinha – Apelido Semiorinus (senhorim) e Senhorinha  de Semiorina.
Senhorinha – Topónimo Santa Senhorinha do séc. X – religiosa sepultada na Igreja de Basto. Topónimo em Reguengos de Monserraz e Vila Franca de Xira. Desaparecido aqui.
Senras – Topónimo Senras em Arouca, Castelo de Paiva, Ponte de Lima e V. N. De Famalicão. Serra – Topónimo frequente no Norte e Galiza. Apelido, alcunha em 933, 943. Junto das Lavandeiras.
Simoa – Alcunha? Feminino de Simão (959 Simon DC 76). No entanto – embora menos de crer -, pode tratar-se de uma forma «alongada» do próprio nome Simom (forma arcaica de Simão), ou mesmo de 915 Sanmom DC ou até 928 Salomon DC 34. Como topónimo nada  poderemos estabelecer acerca da sua antiguidade, mas é de crer seja medieval. Aqui parece ter sido alcunha duma filha do Simão.
Sol – Topónimo Sol – nome de estrela, divindade em várias religiões. Do latim Sole. Cidade do Egipto, ilha perto de Taprobana. Topónimo em Arruda-dos-Vinhos, Évora, Lisboa, Lousada, Monção, Ponte de Lima, Porto, Póvoa de Lanhoso e Seia. Na
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Galiza (Corunha) e no Brasil (S. Luís do Maranhão). Apelido em 1695. Existe agora o Bairro do Sol.
Sorrobada – Topónimo
Sousa – Alcunha – 1598 Maria de Sousa. Sousa, topónimo frequente no Brasil. Apelido também frequente.
Sousos – Topónimo Souso – Topónimo de Pedrógão Grande. De Sousa, com mudança de género, por se julgar fem. Apelido Sousa.
Souto – Topónimo – 1596 Francisco do Souto, em 16.11.1596 – o Gonçalo Rodrigues do Souto, em 5.2.1679, Manuel Gonçalves do Souto – 1676. Souto é topónimo frequente em Portugal e Galiza (Soto em Lugo e Orense), Souto em 906, 950, 1014 e 1059. Solto em 1182, Souto em 1127, 1169. Apelido, alcunha em 1279. Soutos – Covilhã, Guarda e Guimarães. Regadio de Soito em Viseu.
Souto D´Abade – Topónimo Pomar ou zona de castanheiros cujo seu proprietário seria o Abade. Fica junto ao nó de acesso à IC1.
Souto Tapado – Topónimo Na Regadia.
Soutovado – Topónimo Na Regadia.
Sujo – Alcunha – 1655 Sebastião Rodrigres, o Sujo.
Sula Sul = teónimo (Celta).
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Tagarela – Alcunha – 1617 Na Bairrada aparece este topónimo: Do Ar. Takallan. Diz-se de uma pessoa que fala muito.
Tamanqueiro – Alcunha Tamanqueiro – Apelido, Topónimo. O que faz tamancos e em Mazarefes houve tamanqueiros.
Tapada – Topónimo Tapada é topónimo frequente, assim como, Tapades. Aparece também como apelido e alcunha.
Técula – Topónimo Ligado a uma família.
Teima – Topónimo Campo da teima.
Teima – Alcunha Teimão é apelido, alcunha, variedade de Timão. Timão é topónimo na Ilha Graciosa.
Termo – Topónimo Termo – Limite, ponto final, fronteira, marco que assinala o fim, o limite do território, remate. Termo – do francês Terme, do latim Terminus (Deus dos marcos dos limites). Topónimo em Braga, Guimarães, Peso da Régua e Ponte de Lima. Pode ser Termio de 1258. “Termos” é topónimo em Loulé, Odemira, Silves. É no limite de Mazarefes com Vila Franca.
Terra – Topónimo Terra – Planeta onde vivemos, Globo Terrestre, do latim Terra (Divindade). Topónimo em Felgueiras, Marco de Canaveses entra em vários compostos nacionais e estrangeiros. Apelido, alcunha.
Terra Velha – Alcunha – 1759 Antónia Ribeiro, a TerraVelha – em 1762.
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Terra Velhaca – Alcunha – 1752.
Testados – Topónimo Testado é topónimo em Barcelos, Caminha e Ponte de Lima.
Tetos Teto – Topónimo do latim Tetu (Rio Narbonense).
Tiro – Topónimo Tiro – Latim Tyru ou tiro (nome da liberdade de Cícero). Do Grego Tyro pelo latim Tyro (filho de Salmoneu). Topónimo cidade e ilha da Fenícia.
Togueira – Alcunha – 1651 Justa Gonçalves, a Togueira (erro de escrita?).
Tojeira – Alcunha – 1677 Manuel Gonçalves, o Tojeira (erro de escrita?).
Tomé – Topónimo Tomé – forma popular de Tomás. Topónimo em Barcelos, Tomar, Viana do Alentejo. S. Tomé é freguesia em Vila Real e Santomé na Galiza. Sancti Tome em 1050 e Santo Tome em 1081.
Tomom – Topónimo Almeida Fernandes nos C.V. tomo V, pág. 194, diz: (convém reparar que encontro na Galiza um «mons» 569 Timoni LF 553, pré-romano, nome que evoluiria no nosso romanço em Timom, Temom, Tomom, certamente; e o mesmo com Timom, nome de um santo de Corinto ou, portanto, grego, celebrado a 19 de Abril, nome esse que ainda se usa entre nós no séc. XIII, 1220 «Dom Timon» IS 17. No entanto, por mais conforme com a fonética que os casos se nos apresentem, trata-se de mera paronímia a excluir in limine perante o caso indubitável da nossa forma antroponímica local 1258 Toymundi IS 315).
Torre – Topónimo – 1623 Torre – Topónimo frequente em nomes simples e compostos em Portugal e Galiza. Turre em 1062, Turrem em 1112 e Torre em 1112. Também no plural. Pode significar ruina Castreja. Antigo Lugar da Freguesia.
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Torto – Alcunha – 1707 Torto é alcunha, “Vesgo”, tornada topónimo. Torto – Apelido, Alcunha do adj. Torto (de pernas ou olhos) em 1339. Topónimo Ribeiros, afluentes dos rios Degebe, Tejo, Mira, Douro... Francisco Alves, o Torto (1707).
Toureiro – Alcunha – 1725
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Palavras ainda em uso que vão cair e palavras com sentidos diferentes nas diversas regiões do Minho e outras que já caíram em desuso!...
Aba – Colo feito pelo avental. Abada – É o avental puxado para cima com algo recolhido. Abalear – Avaliar. Abanico – Era o abanador (instrumento) para fazer vento e “soprar” a fogueira ou reavivar as chamas da mesma. Abanico – O lume esperta–se utilizando–se um abanico. É um utensílio de cozinha, feito com um tronco de giesta fendido até certo ponto da sua altura e devidamente distendidas e encanastradas as delgadas fasquias. Serão Nº 82 Abarrotado – Cheio. Abécer – Apetecer. “Não me abéce fazer nada”. Serão Nº 84 Abecinhar – Avisinhar. Serão Nº 177 Abelhaça – Bico do arado Abém – Está bem! Abezar – Repetir, a ir longe de mais, abusar. Abisourar – Irritar. Serão Nº 88 Abnóxio – Confuso Abocar – Levar porrada. Aboiar – Vir à tona, andar à tona de água. Serão Nº 146 Abom – Está bom, admiração, espanto. Abondo – Bastante. Serão Nº 177 Aborralhar – Espalhar borralha em terreno de cultivo. Abranquear – Abranger. Serão Nº 177 Abrolhos – Abre os olhos, dificuldades, obstáculos. “Meteu–se em abrolhos”. Abucha – Come Açafate – Pequeno cesto que se deixava dependurado na janela da casa, ou pela manhã, se lançava à padeira para pôr o pão de trigo. Também era usado o açafate para dar alguma esmola a um pobre passante que se deixava dependurado na janela da casa ou pela manhã se lançava à padeira para pôr o pão trigo. Açapado – Agachado, escondido. Açapar – Bater, carregar no acelerador. Aceitamento – aceitar o casamento.
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Achegar – Aproximar, bater, sovar. Chegar. Achegar a vaca ao boi. Acirrar – Provocar os animais, o cão, por exemplo, com um silabar da letra s, entre os dentes, a língua e os lábios. Acomodar o gado – É à noite deixá–lo acomodado, calmo e sereno na sua corte. Acompanhante – Companheiro. Serão Nº 177 Acotoar – Amadurecer, fermentar (o pão), aperfeiçoar. Serão Nº 84 Acre – Azedo Acúcar – Dar um berro para chamar a atenção de pessoa que se encontra distante. Pode ser “ú–ú–úú” ou “ei–ei–ei–ei” ou de qualquer outra forma.  “Acuca daqui a ver se ela ouve”. Serão Nº 42 Açude – Também conhecida por levada serve para captação da água a um nível superior ao moinho. Adega – Lugar onde o lavrador guarda o vinho. Adelante – Adiante, para a frente, passar Ad–emais – Além disso. Adicar – Dedicar. Serão Nº 177 Adicar – Juntar. Serão Nº 178 Adicatória – Dedicatória. Serão Nº 177 Adubar – Temperar com unto o caldo. Advertir – Divertir; Repreender levemente. Afagadamente – com afago, carinho, macio Afeito – Afecto. Serão Nº 178 Afonsos – “Já é do tempo dos afonsinhos”, isto é, de tempos passados e recuados. Afracalhar – Enfraquecer. Serão Nº 177 Afuadouro – Peça incrustada sob o chedeiro através de um pino e que serve para passar a corda (rodar a corda que prende a carga). Agaços – Uvas que não amadurecem ficam verdes. Uvas de Outono. Agrícola – Actividade ligada ao campo e à terra. Agricultor – É o mesmo que lavrador. É o cultivador do campo (agri). Produção de vegetais e criação de animais. Agricultura – É a cultura do solo, do campo (solo arável). É uma ciência,  uma sabedoria na produção de vegetais úteis ao homem, criação de animais, etc. Agrupação – Agrupação. Serão Nº 178 Água assustada – Tépida, quebrada da frieza. Água benta – Proteção, ajuda.
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Água bórica – Aguardente falsificada. Água branca – Mulher sem sensualidade. Água bruta – Aguardente, cachaça. Água chilra – Diz–se de um alimento que não tem substância ou a uma bebida ordinária. Água choca – Água parada, dado, no Barroso, o nome de cerveja. Água Corrente – “Água corrente não mata gente”, por isso pode–se beber. Água d’unto – Deitava–se num pote com água a ferver, uma colher de sopa de unto de porco. Logo que derretesse, vertia–se essa água numa malga onde já estava broa migada à mão. Água da vala – Preguiça. Moleza. Água de castanhas” é o mesmo que “águas de bacalhau”, isto é, não presta, que se deita fora, sem gosto. Infusão de café ordinário. Água de gastar – A que serve para lavagens; rega etc. A água potável designa–se por água de beber. Água de lima – Água de rega. Água de Rega – Água da lagoa ou presa que serve para regar os campos, as sementeiras. Água do cu lavado – Há uma certa crendice quando as mães dão a beber aos bebés, da água do seu próprio banho. Água doce – Era o primeiro–almoço aldeão. Muito comum. Geralmente estava–se apenas com uma água d’unto até ao meio dia. Água morna –  Diz–se de pessoa com falta de energia, indolente, incapaz. Água na boca – É ainda uma água fervida com unto de banha de porco, utiliza–se com fins curativos. Água no bico – Refere–se a uma segunda intenção, a uma intenção reservada, a um perigo de traição. Água ruça – Fim; rol do esquecimento, extremidade. Água salgada – Água com sal, a água do Mar. Água suja – Café mal preparado. Água vai, água leva. – A água vai e até leva, ao mesmo tempo, madeira ou toros grandes de madeira de 60 ou 70 cm de diâmetro, como na cidade de Gyor, na Hungria, no rio Danúbio, onde tive ocasião de observar. Águaça – Enxurrada de água que escorre depois de uma chuvada. Águaceiro – Grande desgraça; infelicidade inesperada; alteração violenta; indivíduo que vive com dificuldades, estar em azar. Aguada – Pequeno descanso de um quarto de hora que o manajeiro dá aos trabalhadores para beberem ou fumarem.
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Aguadeira – Petisco que abre o apetite. Aguadeiras – Serventes de água. Aguadeiro – Vocábulo depreciativo do cocheiro que demonstra nulo conhecimento do que é conduzir. Aguadilha – Vinho fraco, aguado. Aguado – Desejoso, quando se deseja uma coisa e não se consegue; com água na boca; “desenxabido”, desengraçado; ficar por satisfazer o que pretendia; cabelo fino e levantado. Aguadouro – Cabaça aberta de um dos lados ou púcaro de lata a que se fixavam, na extremidade, uma haste de madeira para regar roupa, cebola, alfobres, etc. Lugar onde se demolha o linho e outras coisas que é preciso demolhar como o bacalhau, por exemplo. Água–Pé – Era vinho do bagaço já fervido e espremido juntamente com mais uma pequena quantidade de novas uvas e uma quantidade de água proporcionada que voltava a ferver pelo novo mosto lançado. Fervia menos tempo e era um vinho para serviço diário da casa.  O outro vinho era só para festas, para vender, para usar aos Domingos e oferecer aos amigos. Aguar – Adoecer por falta de algo que se deseja muito. Aguarentar – Censurar, reprovar. Aguarita – Caldo muito aguado. Aguarrada – Bebida fraca (vinho ou café). Aguarrás – Aguardente de ligo de cereais. Águas – Urina turva, sinal de doença. Águas carregadas – Prenúncios de zangas domésticas. Águas furtadas – Habitações existentes no forro do telhado. Águas turvas – Assuntos que não estão aclarados. Aguilhão – Vara com um ferro na ponta para instigar os bois. Aguilhoar – Picar com aguilhão. Ah sim – Sim. Concordo. Ah! – Interjeição, como quem enche os pulmões de ar e expira de uma vez só, é sinal de descanso, sentar, até que chegou ao fim, trabalho arrumado. Ah! bunda! – A satisfação de quem se senta para descansar. Reduzir a água, algo deslavado. Ai! – Interjeição gutural de dor ou alegria. Também significa sim, certamente, depende do modo de o pronunciar. Aido – O mesmo que eido, quinteiro. Aió! – Viva ó velho, com que então! Aire – Ar, vento.
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Airo – Ar. Aiveca – Peça de ferro ou de madeira que colocadas no arado servem para ajudar a virar a terra. No carro também há a aiveca que facilita a rodagem do eixo. Ala – Toca a andar, quinteiro. Alarado – Esfomeado. Serão Nº 76 Alarado – Tarado, tolo, larvado. Serão Nº 84 Albarda – Uma sela feita de palha para cavalgar, um carreto às costas de alguém. Albarraba – Torre, cebola, campo, monte de esterco, estrume. Alçaime – Açaimo, açaime, açame e açamo objecto normalmente de couro que envolve a boca do cão para não ferrar. Alças – No plural, eram duas as alças que seguravam as calças dos homens, umas golas de pano que iam de traz para a frente a passar sobre os ombros. Aldraba – O conjunto do aparelho que fechava uma porta. Antigamente era composta de um espelho, trinqueta, linguete e o dedão, onde se punha o dedo para movimentar com o trinqueta a lingueta. Aldrocha – Picadela de moscardo. Alén – Alem. Alevante – Almoço, alevantamento. Levante. Algibeira – Um bolso interior. Alguidar – Vasilha em forma redonda de barro de vários tamanhos para banhos, para ir ao rio ou ao avadouro para lavar a roupa, ou para na ocasião das matanças receber, como em gamelas, as carnes, o “fato” do porco e o resto do animal. Também utilizados para preparar as carnes para os enchidos, para os rojões, etc... Alheta – “Pôr–se na alheta” é fugir. Alhos – “Quem não come alhos não cheira a eles.” – O alho traz mau hálito. Alhos – Os alhos vendem–se aos molhinhos de 16, de quatro por quatro, devidamente atados pela rama. A estes molhinhos chamam–lhe réstias. Cada bolbo de alhos tem o nome de cabeça. Uma cabeça de alhos. E a cada parte dela chamam–lhe dente. Um dente de alho. À rama chamam–lhe: palha, ou melhor, palhas alhas. As palhas alhas são utilizadas para feitiçaria. A cinza delas é utilizada para remédios caseiros, misturada com azeite. Serão Nº 88 Aliça – Alice. Almário – Armário. Almazém – Armazém.
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Almoço – Almoço ao meio–dia ou pelas 13.00H, meio–dia velho ou meio–dia novo, conforme a hora de Verão ou de Inverno. Almoço da manhã – Comia–se então uma refeição mais abundante, entre as 9 e as 10.00H quando o sol começava a apertar, iam a casa e comiam uma tigela de sopa ou de leite com miolo de pão de milho.  No Verão, até às 15.00H dormiam a sesta. Aloque – um pouco de pano com açúcar dentro que substituia antigamente a chupeta ou um penso feito à volta de um dedo e fica  como um buraco onde o dedo entra e sai. Alpender – Alpendre. Alparcatas – Alpargatas, tipo de chinelo feito de tecido. Alpondras – Poldras. Pedras pela beira do caminho onde as pessoas passavam de pé em pé sobre cada uma delas. Às vezes, era andar aos saltinhos se as pedras estavam mais ou menos longe uma das outras. Estas pedras apareciam também no centro do caminho, ou transversais para atravessar um ribeiro, um lameiro. Normalmente usavam–se onde havia necessidade de andar pelo meio da água ou da lama. Alumiar – Mencionar. “Eu já o ouvi alumiar”. Serão Nº 76 Alvorotava–se – O mesmo que alvoroçar, alvoroço. Amadar – Depois do linho maçado e torcendo–o em espiral aos molhos. Também dispor (o linho) em pequenas porções, depois de maçado, para se espadelar. Amaneia–te – Mexe–te, amanha–te, anda… Amanhar – Trabalhar a terra. Trabalhar manualmente. Amanho – Cultivo. Amarar – Pôr–se em fugar, fugir Amassadeira – Era normalmente a mulher que cozia o pão, mas também existiam homens que faziam esse trabalho, e eram bons amassadores. Conforme as regiões, havia as que só o homem amassava e cozia o pão. Máquina de amassar. Amizade – “É na necessidade que se prova a amizade.” “É nas ocasiões que se conhecem os amigos.”. Amolar –  Aborrecer. Afiar. Amouxar (ou Amochar) – Abaixar–se; sujeitar–se. Serão Nº 88 Anau – Trabalho doméstico. Ancinho – É uma peça de ferramenta agrícola constituído por um cabo e uma travessa dentada (com dentes de madeira ou de ferro). Servia para arrastar, juntar palha ou feno. Era usado para muitos dos trabalhos agrícolas, jardinagens, roçadas, etc.
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Ancinho – Um pente de pau com cabo para ripar a azeitona. Andaço – Epidemia Andadeira – Algo que se usa todos os dias. Andar – “Quem muito anda, depressa se cansa”. “Andar ao Deus dará”, isto é, “sem rei nem roque”, sem objetivos, sem destino. Andar como uma sanfona – Anda numa “dobadoira”, isto é, não se tem paragem; trabalha–se sem qualquer momento de sossego.  Serão Nº 80 Andar na Lua– quer dizer que não sabe o que anda a fazer. Andar no Ai Larú – Andar no fanico ou fazer que faz. Andar nos bambozinhos – Andar por aqui e por acolá sem ter que andar.  Serão Nº 80 Andar numa rodilha – Anda numa “dobadoira”, isto é, não se tem paragem; trabalha–se sem qualquer momento de sossego. Serão Nº 80 Andas – Dois paus altos com uma base a meio onde as pessoas punham os pés e ficavam mais altas, equilibrando–se sobre duas “pernas de pau”. Ande bás – Aonde vais. Andolas –  O mesmo que andas e também sulipas para substituir os socos.  Uma tábua recortada à medida do pé e com uma fita de couro, bem besuntada com unto para se tornar mole, que é pregada de um lado ao outro deixando uma altura suficiente para entrar um pé. Era calçado de outro tempo e cada um fazia o seu. Andor – Desaparece! Fora daqui! Andorinhas – O mesmo que andolas. Aninha–te – Abaixa–te. Anónima – “Como diz o outro”, reafirmar com uma personagem anónima... Sem identificar um nome. Antão – Então. Antrambas – Entre ambas. Anzol do badejo – É constituído este aparelho pelas seguintes peças: baliza, a que prende a pernada para o fundo, rematada pelo piobeiro. Do moínhão parte a linha madre que é mantida em linha sinuosa por meio de bolas buçadas e xíxaros pela sua diferente flutuabilidade.  Da linha madre, partem os filais ou seja fios rematados pelo anzol e isca respectiva. Os filais têm todos a mesma altura: braça e palmo, e devido à sinuosidade da linha madre os anzóis encontram–se à altura correspondente o que permite apanhar o peixe que nada em qualquer altura. A partir da pernada, a linha madre desenvolve–se assim: 6 anzóis, xíxaros,
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12 anzóis, boia boçada, 12 anzóis, xíxaros, 6 anzois, pedra e depois novamente: 6 anzóis, xíxaros, 12 anzóis, boia buçada, 12 anzóis, xíxaros, 6 anzóis, pedra.  De filai a filai há uma distância de braça e palmo. As linhas madres têm diferentes comprimentos, mas uma menos de 200 anzóis (ou seja um cesto). Há–as de 5, 6 ou 7 cestos normalmente. Serão Nº 146 Ao léu – A descoberto ou a nu. Âp! – Interjeição para falar aos animais dizendo para parar ou afastar para trás. Apalhadoira – Forcada, Espalhadoura, Forcado para fazer o palheiro. Cabo de pau com uma travessa de ferro meia–dúzia de dentes compridos e de ferro. Apanhar nas bitáculas – Nas fossas nasais. Serão Nº 102 Apanhar nas bochechas – Na parte carnuda da cara. Serão Nº 102 Apanhar nos focinhos – Comparação deselegante da cara das pessoas com o focinho do porco. Serão Nº 102 Apanhas – Peças do tear onde a tecedeira coloca os pés para fazer subir e descer os liços alternadamente. Apara–peitos – Corpete, espartilho, “soutien” é estrangeirismo, desnecessário já que existe em português. embora colete é mais agasalho e tanto vale para o homem, como para a mulher. Também chamam apara–peitos os peitoris das janelas. Daí o nome de peitoril. Apartadiço – Solitário. Serão Nº 178 Apear – Deixar, sair da peleja, da luta. Apeiro – A correia que envolve a canga de madeira e que tem uma medida folgada para meter o cabeçalho e ser preso pelo chavelhão. Apesquisar – Pesquisar Apor – Pôr junto, aplicar ou justapor a junta de vacas ou bois ao carro, ajustá– la ao cabeçalho do carro e prender a junta, pela canga, ao mesmo. Apostos (bois) – Colocados ao carro. Serão Nº 84 Aquelar – Reunião de bruxas na Serra d’Arga. “Vamos aquelar.” É uma expressão de influência Galega. Aquelhar – Trabalhar em vão as mós do moinho porque o milho emperrou na saída da moega. Ar – “Ar mau”, “deu–lhe um arzinho”. Arado – É um instrumento agrícola, de tração animal, para lavrar a terra. Arar é igual a lavrar, cultivar. Aparece o nome no século X, mas só no século XIV como substantivo. Ainda recordo o arado de ferro que virava a leiva puxado por uma ou duas juntas de bois para ser mais fácil. Depois
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era a terra gradada. Como o arado não chegava até ao extremo, o resto, o “cabedulho”, era cavado com sachola. Hoje, o lavrador tem outra técnica tecnologicamente mecanizada e mais fácil. Um só lavrador, no seu mais estrito sentido, pode lavrar as terras todas duma aldeia, com o trator. Arar – Tornar arável a terra para semear. Arbe – Árvore. Arestas – Partículas inúteis e indesejáveis do canhe do linho e de que ele tinha de ser expurgado. Argadilho – Espécie de dobadoura. Arganel – Era um arame enfiado no nariz do porco e entrançado com as pontas abertas para o castigar quando ele quisesse fossar no estrume ou na terra. Deste modo picava–se. Arguidar – Alguidar. Arisca – Brava, agressiva, atrevida. Arrabunhar – Arranhar com as unhas. Serão Nº 76 Arrancar Batatas – É colher o fruto. Antes de lá chegar é preciso acompanhar o desenvolvimento com adubo ou com remédios para liquidar insectos que prejudicam o desenvolvimento do tubérculo. O maior inimigo é o escaravelho. Arrancar o feijão – Este nasce mais cedo e seca mais cedo. No meio do milho, o semeador semeia o feijão que também convém ser arrancado na hora certa.  Normalmente é arrancado muito cedo. Às vezes era trabalho começado às 5h da manhã e que terminava pelas 10h, pois a partir dessa hora o calor era grande. Até aí, com o orvalho da noite, o feijão estava menos agressivo e era mais fácil arrancar com a mão direita e colocá–lo sob o braço esquerdo, até ficar bem cheio e depois ir coloca–lo em local próprio. Às 10h da manhã o feijão estava já mais agreste e picava. Havia então necessidade de deixar o trabalho para o dia seguinte. Arrancas – Galhos de árvores que caem ao chão. Arranhar a cara – É pior do que apanhar bofetadas, porque faz sangue e pode originar infeções por causa dos micróbios das unhas... Serão Nº 102 Arrate – Medida de lã “ O Arrátel”. Arrátel – Peso antigo equivalente a 459 gramas usado para pesar o linho fiado ou dado para fiar. Peso equivalente a 16 onças. Arre! – Surpresa! Arrear – O mesmo que desistir, deitar abaixo.. Arrebate – Toque continuado de um sino como quem chama por socorro;
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para juntar gente; era o toque de arrebate dos sinos, por exemplo, para ir apagar um incêndio. Arrebitar – Erguer, levantar. Arreda – Afasta–te. Arremedar – Imitar. Arrenegar – Negar ao Diabo. Arrepenicar –O mesmo que picar e repenicar. Arrepicar –  O mesmo que a anterior. Arriba – Acima. Arribar – Subir, animar. Arrincar – Arrancar. Ás – “És um ás”, significa que é um barra, um indivíduo excelente, sabedor, competente, que “leva a melhor”, mas não quer dizer que seja em tudo. Asa – “Anda a arrastar a asa”, diz–se de um jovem que anda a querer namorar, como faz o galo às galinhas quando levanta a asa. Asa – Das aves para voar, de aldrava, das portas para puxar ou empurrar as mesmas, são uma espécie de ferro ou aro ou rectilíneas onde se deita a mão. Asa dos transportes aéreos... Ascordar – Acordar. Ascordar – O mesmo que acordar. (S. M. Portuzelo) Serão Nº 76 Assapar – Também significa bater ou dar sapatadas, coça. Asseideiro – Lugar onde se demolha o linho. Assentada – Trabalho feito de uma só vez Assentar – Sentar. Assobalhar – Envilecer. Serão Nº 177 Assonegado – sossegado. Astrar – Astrar o gado é fazer a cama com mato, ou outros arbustos, palha, para os animais. Astrever – Atrever–se. Atacadores – Cordões de apertar os sapatos. Atalhar – Responder, cortar a conversa. Atalho – “Quem se mete em atalhos nunca se livra de trabalhos”, isto é, pensa que chega depressa e vai perder mais tempo ou arranjar problemas. Atar – Apertar, amarrar, prender as videiras, ervilheiras, feijoeiros… e guiá– las para melhor desenvolvimento. Apertar os molhos de palha milha ou centeia. Atarantado – Espantado, como o tolo no meio duma ponte, sem saber o que fazer.
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Atazanar – Agir com tenacidade contra alguém em algumas terras portuguesas. Atazar – É uma terra espanhola, sede municipal perto de Madrid e também se usa como sinónimo sincopado de atezanar. Atensa – Reforma, soldo. Atestar – Encher. Confirmar. Atibanco – Arquibanco. Serão Nº 84 Atilho – Fio que ata uma coisa à outra, o fio que ata em vida ao nascer os bebés depois de o cortar. Atinar – Acertar. Atinar – Ajuizar. Serão Nº 177 Atiradeiras – Tirantes em borracha presos a uma forquilha e ao centro da borracha colocava–se, por exemplo, uma pedra que ia longe e, às vezes, chegava aos pássaros, o mesmo que fisgar. Atopar – Encontrar. Serão Nº 177 Atravessado – É aquele que tem um comportamento oposto ao normal. Atricar – Levar, conduzir. Serão Nº 177 Atristecer – Entristecer. Serão Nº 177 Auga – Água. Auga boroa – Água morna. Aurdeia – Aldeia. Autópsia – Furtar alguém enquanto dorme. Avaluar – Avaliar. Aveia – Também botanicamente da mesma família do centeio, com grãos altamente nutritivos, muito aplicado, por isso, na alimentação humana e animal. Com o caule da aveia como o de centeio, depois de bem seco, é feito o palheiro que no Inverno, no tempo da chuva, serve para alimentar o “gado”, os animais, ou o “vivo” como se diz na Serra d’Arga. Aveela – Viela, caminho estreito, quelha. Avestruz – “És como a avestruz”, isto é, enterras a cabeça na areia e ficas com o corpo à vista, portanto não ficas escondido. É tapar os olhos com a peneira e entrar em perigo. Avezar – Acostumar, habituar, ter, possuir. Aviar – Arranjar. “Estás bem aviado”. Serão Nº 84 Avia–te – Mexe–te, despacha–te. Azedém – Azevém. Azevém – É uma erva cespitosa, da família das gramíneas. É cortada a 1ª e a 2ª vez. Depois é deixado crescer e dar semente. Corta–se. Seca–se e é ba
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tido como o centeio e a aveia na eira. A semente vai ser aproveitada para semear. Volta a rebentar e serve de pasto para os animais, enquanto não se lavra a terra e se lança a semente normalmente à mão. Azeite – Óleo da azeitona, proveniente da oliveira. Azenha – O mesmo que o moinho, só que se distingue dele por ser movido de forma vertical. Azevieira (ou Zevieira) – Moça alegre e espevitada. Serão Nº 88 Azude – Açude. Bá – Pronto. Acabou! Babujar – Bichanar, dizer asneiras que ninguém ouve, cochichar. Baca – Vaca. Bacas boas – Não se vendiam as melhores vacas, essas não saíam da aldeia, como as raparigas mais bonitas tinham de casar com alguém da terra. Bacelo – Videira nova e pequena. Bacoco – Burrinho, pouco esperto. Em maiato é plural de cocos. Bácoro – Filhote da porca ao nascer. Badalhoqueiro – Badalhoco, pessoa suja e que não se cuida. Badameco – Não presta e também não vale nada, pequeno, é um… Badamerda – “Vai à merda”. Badana – “ Asas”, membros posteriores do bacalhau, ou dos peixes, barbatanas. Pessoa palerma. Badano – Alguém que não sabe o que faz, não presta para nada, um cavalo velho. Também, em outros sítios, “um badano” e “um banano” está por uma bofetada. Baeta – Baleta Bafio – Cheiro desagradável da humidade, a mofo. Ver Mafio. Bagaço – Era o que restava do brolho imprensado que dava vinho, mas diferente daquele que se retirava directamente para os tonéis. Aguardente que vem do brolho. Baganha – Casulo que envolve a semente do linho. Bágoa – Choro, lágrimas. Serão Nº 177 Bai – bai! – Adeus, influência inglesa. Baixidade – Baixesa. Serão Nº 177 Balança – As balanças baloiçando o fiel entre dois pratos dependurados a uma haste horizontal por três correntes. O equilíbrio entre um peso e o que se quer pesado leva o fiel a ficar ao centro. A balança com os pratos para estarem em equilíbrio, o fiel que marca o peso tem de ficar na vertical. Balanças decimais: cada kg. posto no prato dependurado e o objecto
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na base da balança valia sempre mais 10. Um peso de 500 gramas, valia sempre 5Kgs.  5 Kg valiam 50 Kg 10 Kg valiam cem quilos;  100 gramas valiam 1 quilograma. Balcão – Cacharolo, pequena couvela no terreno, cacharolete Balda – Ao calha, sem “rei nem roque”. Baldar–se – Fugir ao trabalho ou à responsabilidade. Baldroca –  Pessoa simples e sujinha. Badalhoca. Baliza – A baliza é constituída por: 1) pela haste – vara de pinho com cerca de 3 metros, aproximadamente; 2) a um terço da haste estão confiados 4 retângulos de cortiça, o conjunto de forma piramidal seguros uns aos outros por pinos ou tocos de madeira que desempenham as funções de pregos; 4) a haste é rematada superiormente pela senha, que pode ser uma bandeira de pano, um ramo, dois ramos, etc., colocados de diferentes formas e feitios, que é o sinal individual do arrais ou da campanha; 5) as cortiças, além de enfiadas na haste estão também amarradas por meio de um cabo delgado, o cote, que acompanha a haste até à parte inferior onde está amarrada uma outra corda, a asa disposta em forma de anel. A este anel prende a pernada ou seja uma outra corda, o moinhão, a que está amarrado o piobeiro. Serão Nº 146 Banda – Do outro lado. Bandeiras – Medas de Palha. Às vezes eram postas uma bandeira no remate de cada Meda. Bandeirinha – Um bom jogo para correr e espevitar a concentração. Bando – Pregão. Serão Nº 177 Bandulho – Ventre bem saliente., ou estômago deleitado, dilatado, parte do estômago dos ruminantes. Banho–maria – Aquecer em água quente. Bantal – Avental. Baraço – Atilho de vergas torcidas para molhos, feixes. Também se diz baraça, sobretudo para o fio que se enrola no pião. Barato – Pouco dispendioso. Mas o barato às vezes sai caro. Barbas – A barba era um símbolo de honra e “empenhar as barbas” a alguém era a palavra de honra no negócio. Bardasca – Desajeitada e pouco limpa. Baril – Varonil. Serão Nº 177 Barje – Vagem. Barra – “É uma barra” porque é inteligente, competente, etc.
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Barra da cruz – Régua ou cana que divide os fios da teia nos teares. Barraca – Armar barraca é estatelar–se e ficar mal perante o grupo. Barraco – Cabanel, coberto para guardar alfaias agrícolas alguma coisa ou até habitação de um pobre. Barrela – Caixa quadrada de madeira de fundo de ripas com fendas, ligeiramente suspensa pelos topos dos caibros dos vértices para escoamento da água. Aí dentro acamava–se a roupa branca, mais suja e manchada. No cimo estendia–se uma toalha ou pano velho, sobre ele peneirava cinza e depois ia–se jogando água quente, a ferver. A roupa ficava ali recozendo até esfriar e ser levada para o rio onde era passada em água fresca e posta a corar ao sol. Por isso se diz “estás com necessidade de levar uma barrela, quando se está sujo”. Modo de trabalhar tradicionalmente a lavagem da roupa. Barreleiro – Dobar o linho chama–se dobadoura. Recipiente onde se procede à operação da barrela. Cinza com que se faz a barrela. Ligar–se aqui o que se diz “andas numa dobadoura”. Local onde se fazia a barrela. Barreleiro – Recipiente onde se procede à operação de dobar o linho, também se chama dobadourada. Barrica – Recipiente alto ovalizado, com a forma de um pipo ao alto. A cal em pedra vinha em barricos de madeira. Barrigudo – Pessoa com barriga grande. Barril – Exactamente a mesma coisa que pipo, pipa, mas apenas para 100 ou 50 litros. Barronco  –   O mesmo que barranco. Barulho – Zaragata. Basculho – Feixe tosco de panos molhados para limpar ou varrer o forno depois de aquecido e de retiradas as brasas e restos de lenha e cinza. Também serve para limpar o pó ou as teias de aranha. Basculho – Rolo de tecido ou ervas que se usava para pôr no rego da água fazendo–a transbordar para regar o linho. Basófia – Falar muito, fazendo filosofia barata…e trabalhando pouco. Bastacão – Pedra para a água passar em forma de U. Batata – É um tubérculo rico em amido. É alimento normal de todos os dias, na mesa portuguesa. Confeccionada de diversos modos. É um trabalho para o lavrador escolher o melhor terreno que é lavrado e, depois, à sachola é feito o rego onde é plantada a batata, ou “pôr batatas”, ou ainda “prantar batatas”, plantar batatas, estrumadas ou adubadas e com a mesma sachola tapar com terra fofa, isto é, com pouca pressão.
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Batelada – carregador de barcos. Batente – Pica portas porque batiam nas portas e com o tempo ficava uma poça no sítio onde batia. Veio mais tarde o quebra–mar ou a escora. E o termo “pica portas” desaparece. Também se usam argolas pequenas com cerca de 5 cm de diâmetro. Batoque – Utilizado mais na marinha. Na adega corresponde a um tampão de cortiça envolvido em estopa ou pano, para tapar o furo superior da pipa, ou dos tonéis. Batota – Roubo no jogo. Beateira – Beata. Serão Nº 177 Bêbedo – Bêbado. Aquele que se intoxicou com bebidas alcoólicas. Bebesil – Um golinho, um nadinha (de líquidos). “Bote–me aí um dedalzinho de aguardente.” Serão Nº 84 Bedelho – Ferrolho, “meter bedelho” é meter–se onde não se é chamado. Intromissão inadequada. Beiças – Andar trombudo, isto é, mal–humorado, chateado. Refere–se aos lábios. Beiço – O mesmo que lábio. Beirada – Primeira restinga de pedra que se encontra na costa de Viana, para quem vem do mar e corre de NW para SE. Serão Nº 146 Bençado – Avençado. Bender – Vender. Bentas – Frente do Rosto (lábios e nariz). Bento – Vento. Berço – Caminha de bebé, lugar de origem, terra natal. Berlim – Jogo antigo para as crianças ou jovens. Berma – Margem da estrada. Bernardo – Estúpido. Berrante – Cor viva e quente. Berregar – Berrar. Bés – Vês. Besantes – Rodela de couro ou ferro por onde passam os fios. Besta – Uma égua. Besuntar – Untar com gordura, sujar com substância untuosa ou gordurosa, como unto. Untar muito, sujar com substância untuosa, gordurosa Beto – O mesmo que veto. É um jogo. Béu–Béu – Só fala, mas não faz. Muito paleio e poucas obras. Bezeiro – Uso e vezeiro, é repetitivo, para fazer algo… acto repetido.
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Bezerro – Vitelo, novilho até aos dois anos. Bezunte – O mesmo que besuntão, sujo de gordura. Unte. Biana – Viana. Bibos – Galinhas. “Vai dar de comer aos bibos, rapariga”. Serão Nº 84 Bica – Fontanário Público na Abelheira e chávena de café no norte. Bich! Bich! Bich! – Era outra forma para chamar o gatinho. Bichana – Gata. Bichanar – Dizer, falar em voz baixa, cochichar. Bichaninho – Uma forma de chamar o gatinho. Bichano – É um gato manso, doméstico ou um gato novo. Bichinho – Quando chamavam pelos gatos, era esta a palavra utilizada, ou outra mais curta, sem dizer nada... Bichinho do mato – Criança com muito medo, envergonhada, foge de tudo. Bicho careta – Pessoa sem importância, mal encarada. Bicho de sete–cabeças – Problema que parece insolúvel ou de difícil resolução. Bicho do Monte – Pessoa rude. Bicho–da–seda – O bicho que faz a seda. Bicho–do–mato – Pessoa impossível, intolerável, envergonhada. Bico – “Levar água no bico”, “trazer água no bico” ou “ter água no bico” deve significar que virá algo de perigo, de traição, de golpe...desconfiar. Bifar – Comer bifes. Bigorna – Peça de ferro, com o corpo central quadrangolar com extremidades cónicas ou pirâmide sobre a qual se bate e molda o ferro. Bimba – Mau feitio perante algo sério. Biola – Viola. Biqueiro – Mau comedor, franzino, pontapé. Birra – Teima, zanga. Insistência na presunção do que faz ou diz. Biscate – Pequeno serviço fora de serviço do horário normal de trabalho. Muitos fazem biscatadas. Bisouro/Abisouro – Abelha brava. Serão Nº 88 Bispo – “Entrou o bispo na cozinha” quer dizer que a comida esturrou no tacho. Bitaite – Palavra que fugiu e não devia ter sido dita. Em maiano bitaite quer dizer três. Palpite. Bitoque – Bife pequeno. Bitote – Palavra que fugiu e não devia ter sido dita. Em maiano bitato quer dizer três. O mesmo que bitaite ? Bivaque – Gorro em forma de barco virado ao contrário para cobrir a cabeça. Bô – Bom.
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Bobo – O centro do jogo, o centro da festa, o centro do gozo. É o bobo da festa. Bôço – Amarrilho. Serão Nº 146 Boda –Celebração do casamento, referindo–se ao almoço e convívio. Bode – É o macho da cabra. Bodega – Comida, grosseira e mal feita. Qualquer coisa pouco agradável. Não presta. Adega. Boémio – Estroina, valdevinos, vagabunda, estoura–vergas Bofetada – Pancada com a palma da mão no rosto, insulto, ofensa. Boi – Um mamífero da família dos bovídeos, com um par de cornos, não ramificados, que domesticado se destina a trabalhos diversos da lavoura, à produção de carne, etc. Ruminante que se utiliza no serviço e na alimentação do homem. Boi de cobrição – Boi onde o lavrador leva a vaca quando estava com o cio. Boi do Povo – Em Trás–os–Montes existe o Boi do Povo que é guardado numa casa tipo capela com adro à volta onde aos Domingos se reúnem os jovens para tratar de arranjar mantimentos para o Boi que uma vez no ano sai em luta com outros bois de outros lugarejos e aquele que ganhar na luta fica a ser o Boi do Povo naquele ano. Boiça/bouça – Terreno que só produz mato, termurado, onde se cria mata ou lenha. Grande fogueira. Boieira –  A vaca com o cio e quer boi. Bola de Farrapos – Eram as bolas de outros tempos. Cada um fazia a sua ou as suas com uma meia velha e farrapos atados arredondados lá dentro.. Depois metiam–se bocados de borracha, por exemplo da câmara–de–ar de pneus da bicicleta para as bolas saltarem. Bola – As bolas de vidro que fazem o papel de boias para as redes são de uso recente na Ribeira onde a sua introdução deve datar, mais ou menos, de 1930. Usam–se muito na Galiza e os nossos pescadores apanham–nas no mar. A sua flutuabilidade tem, porém, inconvenientes, dizem os velhos pescadores. As cortiças, uma vez aberradas de água, mantinham as redes mais ou menos no mesmo sítio, onde as deitava. As bolas de vidro, ao contrário, mal elas se desprendem por qualquer razão, deixam– nas arrastar ao sabor das correntes. As bolas são de vidro grosseiro e vulgar; o seu diâmetro regula por 10 cm. Serão Nº 146 Bolo da Telha – É o bolo feito na telha aquecida onde se punha a massa coberta com folhas de figueira e tapada com brasas e cinzas. Era de sabor diferente. Na Madeira é o bolo típico.
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Bolo do Lar – Era o bolo preparado na lareira: limpava–se a pedra quente do fogo, punha–se a massa, cobria–se com folha de figueira, colocando brasas e remualho (brasas pequenas com cinzas à mistura), à sua volta para cozer. Bolo do Tacho – O bolo feito no tacho e virado, voltado o tacho com o fundo para o ar para cair num prato ou travessa redonda. Era depois cozido do lado de cima, voltando o tacho ao lume brando. Isto é como fazer uma tortilha. Bolor – Conjunto de fungos que se encontra em matéria orgânica em decomposição e cheira a mofo. Bolorento – Coberto de bolor – o pão está bolorento. Bolsa – Saquinho de pano ou pele onde se traz o dinheiro. “Puxar os cordões à bolsa” para pagar. Algibeira. Bolso – Espaço reservado numa peça de roupa para quem a utilizar poder guardar algum objecto pessoal. Bolso no casaco ou nas calças. Bombazina – Tecido aveludado de algodão. Bonda! – Basta! Serão Nº 84 Boneca – Duas peças de ferro ovadas e juntas que se prendiam entre as cocões do carro para o eixo das rodas andar. É a chiadeira. Boneco – Croqui ou também pessoa que ninguém lhe passa “cartão”. Bordoada – Pancada com bordão, vara ou cajado. Cacetada, pancada. Borga – Aquele que vive da pândega, farra, vida airada. Borolento – O mesmo que bolorento, coberto de bolor. Borra – Fezes, lia, sarro. As borras de figo, resultantes da destilação para o  fabrico da aguardente. Borracho – Bêbado. Pombo novinho, implume. Borralha – Borralho, cinza acumulada. Borralheiro – Local onde se deitava a borralha e as cinzas que serviam para alcalinizar as terras, para fazer as barrelas das roupas e ainda para usar como emplastro terapêutico em algumas situações. Este local normalmente era por baixo do pilheiro atrás da lareira, onde havia um fundo em toda a extensão da lareira, antiga para onde eram lançados os restos que ficavam da combustão da lenha. Borralho – Brasas ou brasido quase apagado de qualquer fogo (fogueira, lareira, braseira) …cinzas com algumas brasas. Borras–  Sarro (Borras do vinho). As borras de vinho, resultantes da destilação do fabrico da aguardente. Borrego – Carneiro normalmente com menos de um ano. Borrento – Coberto de bolor
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Bostelo – Não presta para nada. É bosta, excremento. Tu és um bostelo , és um nu. Bota cá – Dá cá isso. Bota o Burro – Era o burro de cobrição ou cavalo. Bota–cá – Dá cá isso… Botão – Pequena saliência nos vegetais, da qual nascem os ramos e os frutos. Olho, gomo, renovo. Pequena peça, feita de vários materiais e normalmente arredondada e achatada, que serve para unir diferentes partes de peças de roupa entrando numa abertura chamada casa, botoeira ou aselha. Jogo de rapazes que se praticava atirando botões contra uma parede. Jogo antigo com botões que tiravam da própria roupa. Botar – Deitar, “botar o gado”, levar as cabras a pastar. Levar o gado a pasto. Botas – Botas de borracha e de cano alto até ao joelho (calçado). Botica – Lugar onde se preparam, conservam e vendem os medicamentos, onde se aviam as receitas. Botija – Garrafa antiga de grés, com um gargalo baixo, e que servia para levar água para aquecer os pés na cama. Jarro. Bouça – Terreno inculto que dá mato e pinheiros. Braçadeira – Espécie de uma argola inteira de feltro preto que o homem trazia na manga do casaco quando andava de luto ou aliviava o luto pesado. Braçado – Braçado de couves, de lenha. Braço – “Não dar o braço a torcer” quer dizer que se é teimoso até ao fim; porque se tem um carácter muito forte, uma personalidade bem vincada. Braço de Cebolas – O mesmo que cambo de cebolas, Cebolas entrançadas de ramo ou ramos, chamam–lhe cambo. Braços – “Baixar os braços” é não fazer nada. Não estar para trabalhar. Desistir. Braga – “És de Braga” diz–se a todo aquele que deixa uma porta aberta. Brasa – Pedaços de madeira no final da combustão. Também em sentido figurado: É uma brasa, é ser quente como o calor do lume. Brasedo – É o mesmo que braseiro, conjunto de brasas, madeira ainda em combustão, mas sem chama. Braseiro – Fogo de carvões ardentes. Lar, lareira, fogareiro. Conjunto de brasas. Bravielho – o mesmo que freio Bravo – Gado que não esta domesticado, o gado bravo. Brece – Berço (Santa Marta de Portuzelo). Em Mazarefes dizem Brêce. Serão Nº 76 Brecha – Abertura em qualquer vedação, murro ou sebe.
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Breque – Era o pau avantajado, uma tranca, como um caibro grosso que servia para travar a zorra nos caminho–de–ferro. Briga – Luta, desavença, combate, rixa, discussão, disputa… Broa – Pão de milho, talvez de origem visigótica. Broca – É um instrumento para perfuração de madeira ou pedra. Hoje todos estes instrumentos estão substituídos por meios elétricos mais fáceis e que o lavrador também possui e até uliliza na pedra,ou no ferro. Broco – Pessoa que não “goza” de inteligência, palerma. Brutamontes – Homem rude, forte, de quem se tem de ter cuidado Bruxa – Mulher proada porque alguém pensava ter pacto com o diabo e que podia conhecer o futuro e de influenciar pessoas e coisas por meio de encantamentos, malefícios, feitiçarias ou outras artes mágicas. Buber – Beber. Buçar – Amarrar uma coisa a uma linha ou a uma corda. Bola buçada. Bola de vidro devidamente amarrada que serve de boia no anzol do badejo. Serão Nº 146 Bucha – Pedaço de pau, papel, pano destinado a tapar um buraco ou uma fenda. Lembra–me também, antigamente, nos brinquedos dos tirotes e nos pipos ou toneis de vinho. Pode–se comer uma bucha, isto é, um pão que se come com qualquer coisa. Budamerda – Ver badamerda Bufar – Soprar. Buligar – Bulir. Serão Nº 177 Burra – Fêmea do burro. Bancada. Cavalete em que os serradores vão serrando os rolos de madeira. Trave traseira do tear onde as tecedeiras firmam as costas e empurram a queixa e carregar nos pedais. Travessas de madeira que seguram entre si, superior e inferiormente, os dentes do pente do tear. Burrasca – Problema, discussão, acontecimento desagradável. Trovoada. Burrecos – Eram umas espécies de copos de barro usados pelas bruxas, preparando feitiços. Neles eram usados elementos como: o alecrim, arruda, bosta seca, palha de alhos, palha–de–aço, água benta roubada” na igreja, terra do cemitério, etc. Burrico – Um burro pequeno. Burro – “Burro como uma porta”, isto é, o burro precisa de ser conduzido e a porta também só abre ou fecha quando queremos. Burro – Mamífero da família equídeos, domésticos e mais pequeno que o cavalo, geralmente, de cor cinzenta, orelhas compridas, crina curta, de crinas na extremidade da cauda. Busílis – Aqui está o busílis, isto é, a solução do problema foi encontrada ou o
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contrário, descobriu–se o problema no meio da confusão, dificuldade. A maior dificuldade de alguma coisa Bx! Bx! Bx! …..– Forma mais simplificada para chamar os gatos. Cabaça – Qualquer espécie de abóbora. Cabaço – Medida de vinho (20 litros). Cabal – Quer dizer igual. Total. Cabanal – De cabana. Uma cabana pequena para abrigar produtos de lavoura. O mesmo que coberto. Ver cabanel. Cabaneira – Homem ou Mulher dada a meter–se na vida do semelhante. Serão Nº 88 Cabaneira – Mulher coscuvilheira. Serão Nº 84 Cabaneirar – Cortar na casaca; falar dos outros. Serão Nº 88 Cabaneiro – Nas aldeias limianas, chama–se cabineiro aos humildes trabalhadores agrícolas que não possuem terras próprias e que, por isso, mourejam nas alheias. O termo cabaneiro provém, certamente, de habitante de cabana, uma chavola onde os pobres trabalhadores moravam com a família. Hoje, praticamente, não há cabaneiros, devido à promoção social, lenta mas seguramente adquirida. Mas ficou o termo, ainda corrente, indicando pessoa de baixa instrução e consequentemente despida dos elementares princípios de civilidade que o nosso lavrador tanto aprecia. Por extensão chama–se ainda cabaneiro às crianças mimalhas, ou àquelas muito apegadas às mães. De cabaneiro, vem cabaneirar, ou seja: bisbilhotar e cabaneiredo bisbilhotice. (Geraz do Lima). Serão Nº 76 Cabanel – De cabana. Uma cabana pequena para abrigar produtos de lavoura. O mesmo que coberto. adega, loja. Cabanice – Ato de cabaneirar. Serão Nº 88 Cabano – Touro pequeno. Touro com as hastes descaídas e abertas. Cabano – Espigueiro. Serão Nº 84 Cabar – Cavar, ou revolver a terra, fazer um buraco com uma enxada, picareta ou sacho. Cabeça – “Ter a cabeça a prémio” é estar ameaçado de morte. Cabéça – Cabeça. Cabeçalho – Peça dianteira dos carros de tração animal, onde se apoia a canga nos animais. Esta peça normalmente vai da dianteira até à traseira em todo o comprimento do carro. Cabeceira – Extremidade do terreno onde o arado não chegava e era necessário ser cavado à sachola. Também lhe davam o nome de “cabedulho”, “cadabulho”, cardulho”, cardaço”. É normalmente o topo, uma tira de terreno onde o arado não chega e é preciso alguém que cave com uma
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sachola. Este nome não o encontrei, mas o povo usa estes todos. Depende da região. Testeira. Cabeceiro – O mesmo que cabeceira. Cabelo – “Andar pelos cabelos”, não estar contente com aquilo que se pensa ou não corresponde à realidade; estar cansado com algo. Cabidro – Termo antigo, muito utilizado nas crónicas monásticas, significando alpendre. Mas ainda hoje se ouve, pelo menos na freguesia de Santa Marta de Portuzelo. Serão Nº 76 Cabo do Mundo – Trabalhos muitos...onde acaba a terra e começa o mar. Cabresto – Era a corda que substituía as rédeas do cavalo na vida privada. Çaga – Zaga Caçapo – Filhotes das aves. Pessoa muito nova. Cacete – Toro de pão, petins. Cachaço – Parte de trás do pescoço do animal, normalmente. Cachadolo – Leirinha murada, onde mal se pode semear um punhado de milho. Há, também, em relação com o tamanho , os diminutivos: Cachadolinho e Cachadolito (Outeiro). Serão Nº 84 Cachar – Cavar fundo terrenos bravios. Serão Nº 84 Cacheira – Bengala. Serão Nº 84 Cachola – Cabeça. Caco – Também se diz quando se leva na cabeça (ver coco). Caçoar – Escarnecer. Cadera – Cadeira. Caderar – Enquadrar, quadrar,  de quadro. Cafeteira – Utensílio para preparar café normalmente de uma liga metálica, de zinco ou chapa de folha–de–flandres, feita pelo funileiro. Cafua – Coisa que não presta, cheira mal, coisa ou lugar porco,sujo, cufua. Cafuso/a – Confusão talvez de origem brasileira. No Brasil chamam à união de um negro com uma índia, ou o contrário. Cagaço – Medo. Caganeira – Diarreia. Caganço – Vaidade. Não vale nada, mas pensa que não há ninguém melhor. Cagarela/Cagarola – Medroso. Cagópio – Larva, pisciforme, dos batráquios anuros como a rã, o sapo ou a salamandra. Caibro – Pau de madeira que sustenta a armação de arame de uma vinha. Cair – “À terceira é de vez”: à primeira cai quem não quer; à segunda quem quer cai e à terceira só cai quem quer ou é tolo.
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Caixote – A mesma coisa que joelheteira, joelheira. Cala – Altura da borda do barco ao anzol lançado para o fundo do mar. Serão Nº 146 Calafate – Aquele que se ocupa de tapar todos os sítios por onde possa entrar água na embarcação. Calcanhar – “Não chega aos teus calcanhares”, isto é, é tão pequeno, tão pequeno que pouco vale. Pode ficar sob os teus pés. Calção – Peça de vestuário semelhante aos calções atuais, de tamanhos e feitios variados. Caldear – Mudar algo. Caldo – sopa. Calendas – “Vai para as calendas gregas” porque já passaram e não chegarão jamais. Os gregos não tinham calendas, essas eram dos romanos. Calha– Rego feito em madeira, pedra ou metal para facilitar o curso de qualquer coisa (neste caso o grão). Calhau – Pedra. Calota – Superfície esférica que serve de tampão. O solidéu tem essa forma e é colado sobre a cabeça, mas com outro sentido. Caluda! – Calado, silêncio. Camareiro – Valado. Cambão – Instrumento de madeira com um gancho que serve para apor uma junta de gado a puxar o arado, a grade ou um carro. Às vezes os carreteiros, quando a carga era pesada, ligavam várias juntas e com diversos instrumentos que unia umas juntas às outras. Éram os diversos cambões. Cambo de Cebolas – É um conjunto de cebolas ligadas por um trançado de palha ou outro material. Há locais onde lhe chamam um braço de cebolas. Cambotas – São as peças laterais das rodas que são presas ao centro da mesma, onde está o eixo. Ao andar vai dando a cambalhota, isto é, roda sobre si mesma. Cambulha – Molho de chaves. Camisa – “Meteu–se numa camisa de 7 varas”, porque se meteu em assuntos que não lhe não lhe diziam respeito, sem resultados, ou difíceis de se desembaraçar deles. Camisa – Peça de vestuário interior para as mulheres até ao joelho, com mangas justas; e exterior para os homens. Campaneiro – O que toca a campana, o sino. O homem, o campanário, o sineiro. Camurro – Casmurro. Pessoa pouco esperta, introvertida, calada, teimosa. Can – Cão. (pl. CANS). Serão Nº 178
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Canasco – Gueiró. Canastro – O mesmo que espigueiro. Cancela – Entrada mais larga com uma grade de pau para entrar o carro de bois. Cancelo – Entrada estreita com uma porta de grade de pau para uma pessoa. Candeeiro – Instrumento de formatos variados que contem líquido combustível. É provido duma mecha ou torcida destinada a iluminar. Candeia – Pequeno aparelho de iluminação de folha–de–flandres ou de vidro e folha–de–flandres. É com petróleo ou com azeite que alimenta a mecha que arde e ilumina. Caneco – No séc. XVI, ia–se, em Viana, buscar a água para usos domésticos ao chafariz do Campo do Forno, hoje, Praça da República). As mulheres transportavam à cabeça um caneco e uma longa cana com os nós furados, ao ombro. Subiam os degraus, apoiavam os canecos no rebordo do tanque e, por meio da cana, conduziam a água que jorrava das bicas para dentro dos recipientes. Pode ainda verificar–se as antigas lajes do patamar raiadas em losangos, para que as socas ferradas ou os pés descalços não escorregassem nos lismos e até o bordo do tanque com as arestas limadas pelo atrito secular das cântaras e dos canecos. Mais tarde – já no séc. XIX – o chafariz foi alindado; gradearam o tanque (para lhe impedir o acesso), cortaram a escadaria em quatro pontos, e ali colocaram torneiras metálicas com o seu poial acessível e prático. Até à criação dos serviços municipalizados de água e eletricidade (mais ou menos 1929) salvo as raríssimas famílias que tinham pena própria. A cidade vivia abastecendo–se dos chafarizes da cidade e das fontes, ou iam as mulheres da própria casa, ou as criadas ou contratava–se uma aguadeira que diariamente arrastava tantos canecos de água. Os canecos eram feitos por tanoeiros e assemelhavam–se a pequenas pipas destampadas de um lado. Constituíam–nos aduelas de carvalho e cintas de ferre, com duas asas: uma minúscula na aduela inferior (para meter no dedo) e outra, grande, entre as duas cintas superiores, para ser agarrada por toda a mão – e ambas, claro, para facilitarem a colocação da vasilha à cabeça depois de cheia. Para que não magoasse a cabeça da portadora, e mesmo para melhor equilíbrio, usavam uma rodilha, ou seja qualquer pano torcido e depois enrolado. Mas havia lindas  e artísticas rodilhas à venda, muito bem enchumaçadas. E também para que, durante o transporte, a água não extravasasse, usava–se colocar à superfície uma rodela de cortiça, de palmo de diâmetro. Serão Nº 76 Canela – Pequenas secções de cana com fio enrolado, uma para cada cor.  As canelas encaixam–se. Lançadeiras.
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Caneleira – O mesmo que caneira, canela. Caneleiro – Para encher carrinhos e canelas com fios. Plataforma retangular com suportes verticais onde encaixa e roda uma haste metálica com um tambor para mover com a mão. Uma roda que faz de roda de balanço e o resto da haste onde se enfiam as conchas e os carrinhos vazios. Peça que liga à moega que gira, faz sobre si e gira com o movimento, fazendo trepidações, para  facilitar a saída do grão. Canelha – Quelha, caminho entre dois muros mas muito estreito. Canelho – Caminho estreito e repetitivo. Canga – Instrumento de madeira adaptado a colocar sobre o cachaço dos animais e a levar dois aros por baixo do pescoço do que eram presos sobre a canga com umas fivelas presas à canga por uma corrente. Havia vários tipos de cangas: canga para uma junta de bois, artística, mais pesada; canga para uma junta de vacas mais leve; canga de margir era mais larga para os animais ficarem mais afastados por causa das margens e a canga de um só animal para puxar o sachador, uma carroça, etc. Jugo, armação de madeira para prender um animal a uma carroça ou uma junta de bois, ou de vacas, a um carro ou a um arado. Cangados – Bois postos com a canga sobre o cachaço. Cangar – Colocar a canga sobre o cachaço dos bois ou das vacas. Canhamaço – Grande conjunto de livros, calhamaço. Canhoto – Tronco de carvalho ou de pinheiro–bravo destinado ao fogo, sobretudo, o guardado para o fogo na lareira na noite de Natal. O que escreve com a mão esquerda. Cano ou Canucho – Ramo de árvore, despegado de árvore, que serve para deitar ao lume. Serão Nº 76 Cântaro – “Tantas vezes que vai o cântaro à fonte que alguma vez parte” ou lá fica a asa. Cântaro – Recipiente para líquidos, geralmente de barro, usado pelas aguadeiras. Cântaro do Carvão – Usava–se o Cântaro para a água do poço e havia também aquele que se destinava ao carvão. Canteiria – Cantaria. Serão Nº 178 Canzil – Uma canga simples de um só animal para sachar o milho, por exemplo, ou comprida para dois animais ou os bois ficarem mais distantes e puxarem o margidouro para abrir os regos entre as leivas, por exemplo no cultivo do centeio ou da aveia. Cão – “Cão que ladra não ferra”, pois não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Se ferra, então é daqueles que mordem pela calada. É como
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as pessoas que muito falam, mas nada de sumo.  Mamífero carnívoro da família dos canídeos. Guarda a porta e o quintal do lavrador. De noite e de dia. Ladra e ferra no desconhecido que entra no seu espaço.  Mamífero carnívoro da família dos canídeos. Guarda a porta e o quintal do lavrador. De noite e de dia. Ladra e ferra no desconhecido que entra no seu espaço. Capado – Castrado Capador – Castrador de animais. Capão – O galo rei castrado. Capar – Castrar os animais. Capelo – Capa com barrete ou capuz pregado, abrigava a cabeça e o pescoço. Capilota – Sova, derrota. Capítulo ou alto – Dar um tombo a qualquer coisa no sentido do comprimento. “Se levarmos um toro de pinheiro a rolar diz–se assim mesmo: que vai a rolar ou que vai de rolo. Mas se o levantarmos sobre uma das extremidades e o deixamos cair para o lado oposto diz–se que lhe demos um capítulo ou um alto. Quantas vezes se pergunta: Não será melhor dar–lhe um capítulo?” Serão Nº 42 Capoeiro – Lugar onde os galináceos se recolhem à noite. Capote – Capa descida até aos pés com colarinho e capuz. Capuz – Resguarde de cabeça. Caraças – Porra, caramba. Caramba! – Espanto. Caraminhola – Uma manha, felustrias,ver falustrias– v. em Ponte de Lima. Carapuça – Barrete de lá ou pano em forma cónica. Carda – Instrumento com que se carda, composto por dois quadrados de tecido cheio de pregos miúdos. O fio vai passando de uma para a outra carda, até ficarem aptos para serem enrolados na roca. Cardar – Desenredar e limpar fios com a carda. Careto – Uma pessoa mascarada. Carga – “Deitar a carga ao mar” é o mesmo que vomitar. Quem vomitar sente alívio de uma carga que tem no estômago, por causa de uma digestão mal feita, com uma fermentação que causa enjoos. Carnélia – Remate da roca, por vezes, artisticamente torneado. Este nome popular talvez venha da forma da roca. Carocha – O mesmo que Meda. Carôço – Carolo do milho. Carolinas – O mesmo que andorinhas. E andolas talvez pelo barulho que fazem ao andar, como as andorinhas onde estão dão sempre sinal de si.
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Carolo – Pedaço de pau, papel, pano destinado a tapar um buraco. Uma fenda lembra–me também, antigamente usado nos brinquedos dos tirotes, nos pipos ou tonéis de vinho. Pode–se comer uma bucha, isto é, um pão que se come com, qualquer coisa, para enganar o estômago. Pancada na cabeça, a maçaroca do milho depois de debulhada. Carolo – Caroço da espiga de milho. Serão Nº 84 Carranca – Gesto no rosto de desagrado. Carrapata – Carraça, espécie de problema desnecessário. Carrapatos – Pessoas ligadas a cavalos. Carrascão (Vinho)– Muito encorparado, com acentuado sabor a taninos. Carrasco – Pessoa cruel. Carvalho rasteiro. Carregadeira – O mesmo que carrela, Padiola. Carregadouro – Espécie de tambor onde se coloca o que se vai fiar – linho, estopa, etc. Carregar – Virar no caminho. “Vais por aqui abaixo, carregas à mão direita…”. Serão Nº 76 Carreira – Espécie de tambor onde se coloca o que se vai fiar – linho, estopa, etc. Carreira – Camioneta. Autocarro, caminho percorrido pelas formigas, pelas pessoas. O rasto de alguém que faz caminho. Tocar o sino a defuntos por várias vezes. Pelos homens tocava mais uma carreira. No dia, a gente da aldeia sabia se se tratava de uma pessoa do sexo feminino ou masculino. Carreiro – Lugar apertado de passagem. Carrela – A padiola é transportada por duas pessoas ou 4 mãos. A carrela é como uma padiola, transformada num carrinho com uma roda e duas pegas (rabiças) para ser conduzida por uma pessoa só, isto é, (duas mãos). Carreta – Pequeno carro de duas rodas puxado por animais, carro pequeno ou carroça. Carretos – Transporte de cargas. Encaixam–se nas ciganas para tecer. E premindo as roldanas no tear por onde passa o fio que prende os liços que permite o seu movimento consoante se carrega nos pedais. Carrinho – Carro pequeno para ser puxado ou empurrado à mão. Carro – Veículo de duas rodas para transporte de tudo que o lavrador precisava, de tracção animal. Um corpo mais largo com cabeçalho à frente com o tamanho necessário para que os animais pudessem ser “apostos” no princípio com um chavelhão que prendia a canga dos animais. Havia o carro de vacas com uma canga mais leve; o carro de bois com cangas maiores, mais ou menos trabalho artístico.
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Carro de bois – O carro levantado ao alto podia ficar em descanso “sentado” no recavém, isto é, no traseiro o fim do cabeçalho, da maca, encravado pela travessa que une estas às chedas. Parte posterior do carro de bois. Carro de pão – Correspondia a 40 rasas de milho. Carroça – Normalmente era apenas de tracção de um só animal e em vez de uma canga, havia dois varais laterais no seguimento do maior, terminando estes varais numa canga de um só animal. Tanto o carro como a carroça no corpo central, do carreto, eram usados os fueiros ou as tabuletas e as cordas para prender as grandes cargas. Carrouço – Um que faz como a carraça. Cartão – Dar cartão, dar licença, autorização, dar isso com grandeza. Cartilho – Era um quarto de quilo, ou 1/4 de litro. Ir buscar o cartilho de café que vinha num cone de papel de costaneira. Cartola – Borracheira, bebedeira. Também utilizado como protecção. Cartoleiro – Usa cartola ou vive à custa de favores alheios, arranjistas. Cartucho – Saco de papel. Caruma – Garavalha e também aplicado para caroço. Carunho – Caroço, casulo, carulo, carunha. É a base que sustenta e faz crescer o milho. Há diversos nomes. Carolo, em Riba de Mouro; caroço em Monção, casulo em Melgaço, carunha em Paredes de Coura, carabunda em Arcozelo, tanto para o carunho como para os caroços de outros frutos; carrolos ou fernandos, em Ponte de Lima. Carunhos – Os carunhos ou carolos, eram queimados na lareira, serviam para substituir a lenha debaixo dos potes ou dos fachos e também quando ainda verdes serviam para alimento dos animais. Carvão – Era usado para passar a ferro e para assar sardinhas, outros grelhados. Eram as brasas abafadas para não chegar à combustão total e ficarem reduzidas  a cinzas. Normalmente fazia–se das brasas que saíam de aquecer o forno para fazer o pão. Casa – “Casa arrombada, trancas à porta”, isto é, servir de lição. Há que fechar bem as portas e as janelas. Casa da Joana – Entrar e sair sem disciplina, sem educação. Casaca – “É um vira casacas”, aquele que agora diz e faz e, logo a seguir, diz completamente o contrário. Sem carácter. Casaco – “Roer no casaco” é falar de outro, mas na sua ausência. Casca grossa – É rude. É bruto. Casco – Barril. Caseiro – É de casa, é doméstico, que se usa em casa. Inquilino ou arrendatário ou do que se cria em casa. Também se diz da pessoa que gosta de ficar
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por casa e evita sair à rua. É caseirinho, isto é de casa, feito em casa com muito amor. Casinha – Em alguns sítios, era a retrete. Noutras regiões era o lugar onde o lavrador guardava as batatas. Casmorra – Utilizado também para chamar a uma pessoa que só anda a fazer mal, pessoa que deve ser posta de lado. Diferente de Casmurro. Casmurro – Teimoso. Casório – Casamento. Castiçal – Utensílio de material diverso como base de apoio e, em cuja parte superior há um bocal onde se coloca uma vela para iluminar. Castiço – Engraçado. Castilhos – O espaço deixando entre as linhas que compõem o liçado. Castrocho – Pau ou fueiro com que se dá uma ripeirada ou fueirada, castrochada. Casulos – Lugares onde se colocam os carrinhos dos quais cairão os fios para urdir a teia. Catano – Algo que não presta. Não é bom. “Vai pró catano”. Catar – É procurar parasitas. Catraia – Menina adolescente. Também uma égua fraca. Catrapus – significa queda repentina ao chão ou a algum buraco. Catulo – Despido, nu, acabado de dar à luz. Cebolo ou Cebolinho – É ceboleira pequena. É da família das aliáceas, com bolbos truncados, folhas cilíndricas, ocas, muito compridas e flores esbranquiçadas, em umbelas. Ceia – Era a refeição ligeira antes de ir dormir, pelas 22.00H–23 horas. Era a última refeição do dia. Ceibo – Baldio. (Você julga que isto é Ceibo?) Serão Nº 84 Ceibo – Térreo. “Entrava–se a porta e era tudo ceibo”. Serão Nº 76 Celeuma – Levantar celeuma, é o mesmo que levantar alvoroço, confusão. Celinho – Usado este nome também para o cambão, talvez por ser um instrumento que passava entre os ventres dos animais, vindo, nesse caso de celi (o) que quer dizer ventre. Centeio – Normalmente como o milho cresce entre 1,70 e 2 metros. Também é da família das gramíneas, vindo do sudeste asiático. Também tem espigas e grãos que são ricos em glúten. É usado na confeção do pão, de pães e substitui a cevada na feitura da cerveja. Este era debulhado à molhada batida sobre um carro de bois ou sobre tábuas, ou bancos. Também era trabalho feito com certa cadência.
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Centrímetro – Centímetro. Corresponde a 10 milímetros. Cepa – Origem. Cerdeira – Cerejeira. Cerrar – Fechar. Cesto da feira – Cesto que à cabeça das mulheres, levavam para vender e expor os produtos na feira. Cesto de lavoura – Tamanho normal que levava duas rasas. Cestos – Recipientes de material diverso entrançado, de vários tamanhos, utilizados na lavoura não só para as vindimas, como para cereais e outras coisas. Chacha – Conversa sem interesse nenhum. Chaço – Parte do arco onde se sobrepõe uma ponta sobre a outra para apertar os arcos dos pipos. Chafarrica – Pipo ou objecto na vertical onde se queimava  a cal para a mistura com o sulfato das vinhas, ou pura e simplesmente para caiar uma casa de branco, ou de outra cor juntando–lhe, por exemplo, pó de ocre, outros pigmentos para escolher uma cor ao gosto. Chafarrusca – Choque, curto–circuito entre pessoas, pancadaria ou só palavras. Chalupa – Chamavam a quem dizia disparates, era maluco ou velhinho. Chamuscar – Apanhado por algumas labaredas, chamas que não fez grandes queimaduras. Chamusco – Algo que se passa sobre uma fogueira ao de leve. Como chamuscar o porco para não rebentar a pele ou o couro. Cheira a queimado. Cheiro próprio de uma fogueira, algo que se queima ou se queimou. Chancas – Botas de palha e couro e cobriam só os pés e os tornozelos, também botas com sola de madeira e revestimento a couro Chanções – Chancas, soques, socos. Chão – Terreno plano e fértil. Algo por onde se passe, onde se põem os pés. Charola – Um andor de procissão. Charrete – Carro mais pequeno, mais leve e também mais fidalgo de tracção animal. Charrua – Arado, carro puxado a burros. Chastre – Alfaiate. Chata – Pessoa maçadora, superfície plana. Chavelha – O mesmo que chavelhão. Chavelha de Apôr – É uma chavelha pequena que prende a canga ao cabeçalho.
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Chavelhão – Tanto é chamado ao pigarro que fica sob o cabeçalho, a meio, como à chavelha grande para colocar o carro em descanso e nivelado. É também chamada a chavelha de descanso. Chavelho – O mesmo que chavelha. Chéché – Pessoa que já não sabe bem o que diz ou o que faz. Chedas – Cada uma das pranchas fortes que lateralmente limitam os carros de tracção animal, onde levam os fueiros. Também lhe chamam ao leito dos carros de lavoura. Chedeiro – Leito do carro dos bois. Chegar a roupa ao pêlo – Bater em alguém, fazer justiça pelas próprias mãos. Chegatocarro – Põe–te em posição normal para puxar melhor o carro. Cheia – Prenha, a vaca cheia. Está grávida. Cheira a esturro – Significa desconfiar de alguma coisa que está errada. Cheirufe – o mesmo que serufe ou xerife Chen…ah! – Estimular o animal a saciar a sua sede bebendo a água. Chet…ah! – Levar o gado que puxava o carro a parar e a recuar. Cheta – Sem dinheiro.  Não ter um cêntimo, ou outra coisa qualquer. Chi…li – Era um código antigo usado, em Mazarefes, para depois do assobio para chamar alguém. Terminava com um longo Chi…liiiii, isto é, eu vou aqui, a sair de casa, aparece. Ainda hoje nós apitamos o carro numa estrada estreita com curvas e contracurvas para se dizer cuidado! “Eu vou aqui”, cautela ou “eu vou e não vou só”. Chiadeira – As peças de ferro que em contacto com a madeira do eixo, quando seco começam a chiar, ouve–se cantar, ouvindo–se longe. Também se lhe chamam a boneca. Chibata – É um pau, normalmente, de oliveira com que se batia em alguém. Era sempre um pau maleável. Normalmente rebento de oliveira dos mais finos e compridos para bater. Chibatado – Aquele que é chutado. Ter dado com a chibata pelas costas, pelo fundo das costas ou nas pernas. Chibo – Macho da cabra ou da ovelha. Chica – Uma adolescente elegante, chique. Chicha – Carne de porco. Chícharo – Conjunto de pedaços retangulares de cortiças, enfiadas num pau que serve de boia no anzol do badejo. Serão Nº 146 Chícharos – Feijão–frade ou feijão miúdo. Chicho – Carne de porco. Também um uso noutras regiões. Chico – Francisco
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Chicos – Porcos Chieiras – Vaidades. Chileta – Depois do porco morto queimado e lavado bem douradinho era tirado o anus à volta e mais o sexo fosse porco ou porca e davam –lhe esse nome.Também lhe tiravam o fel, a vesícula, depois de aberto e lançado fora. Era venenoso. Chiolas – Carro de bois desconchavado. Chiscar – Mexer e remexer a fogueira para arder melhor, mochicar. Chispa – Brevíssima, muito veloz. Faísca. Chispa – Pessoa tão nervosa que até “dá chispa”, circuito, flechada... Chiu! – Silêncio Choca – Galinha choca é a que está a tirar pintos. Chocolateira – Era a cafeteira de barro, com uma pega, onde se preparava o café ou a cevada. Choio – Trabalho doméstico. Trabalho eventual, passageiro. Choninhas – Pessoa amarga, não faz nada, fraca. Chorar – “Chorar mais que Jeremias”, isto é, chorar muito. Chorinho – Música popular de origem brasileira. Chorões – Flores, os que cantam o chorinho, também são chamados chorões. Chotar – Afastar algo. Chouriça de cebola – Praticamente era só cebola, sangue e condimentos… Chouriça Sanguínea – A chouriça sanguínea levava mais sangue, menos cebola e levava carnes misturadas e condimentos, forma de arco. Chouriço – Chouriça só de carne e condimentos mas rectilínea, sem ser em forma de arco e em intestino (tripa) de porco. Chover – “Chove a céus abertos”, pois chove muitíssimo. “ Chove a cântaros” Chu – Interjeição usada para mandar calar alguém. Silêncio. Chucharro – Peixe. O mesmo que Chicharro – Carapau grande. Chuço– É um pau curto e não maior que o cabo de uma vassoura. Um pau aguçado. Chumaço – O mesmo que monelha. No caso de um carro de bois é o conjunto que amacia o funcionamento do eixo do carro. Também a entretela dos casacos especialmente no sítio dos ombros. Churrascadouro – Era uma vara com uma lâmina de ferro, pedaço de arco de uma pipa para não só retirar também as brasas, mas também para remexer a fogueira dentro do forno a fim de arder melhor e espalhá–o pelo forno todo. Chuscar – Bater com o coto do pau de chuço; Chus, mais e mais, bater com o toco de um pau, reforçar o chu – chu. O mesmo que chuçar.
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Ciganas – Peça de madeira onde penduram os Carretos, no tear. Ciganas ou Pombinhas – Peça de madeira onde penduram os Carretos. Cio – Apetite sexual dos animais que demonstra querer machear. Cirrar – Fazer cirro, barulho. Cisco – É poeira ou pó, grosso microrganismos ou peças que só servem para deitar fora. Claro – “Passar as noites em claro”, quer dizer passar a noite sem dormir. Também se diz: “Passar a noite em branco”, “De noite não cerrei olhos”. Cloaca – Caneleira que faz de sanita. Antiga retrete. Orifício ano–genito–urinário das aves. Coador – Coar, separar líquidos para que os resíduos sólidos  fiquem no objeto que lhe chamam o coador. Coberto – Local resguardado, tapado, protegido, defendido da chuva, das intempéries. Normalmente era contíguo à casa ou noutro lugar, dentro do quintal. Por ser semelhante a uma cabana nas zonas do interior, também lhe chamavam cabanel. Cobrir – Prenhar, tapar. Coca – Estar à espreita. Estar à coca. Cocão – Espécie de fueiro mais robusto do chedas para baixo a fim de prender o eixo das rodas. Eram quatro cocões, dois de cada lado. Cocar – À espreita à escuta, vigilante, estar à coca, estar a cuscar. Coceira – Comichão Cochiné – O mesmo que cachiné, lenço da cabeça usado pelas mulheres. Cocho – “Com sua licença”, o porco. Serão Nº 84 Coco – É de partir o coco (a cabeça) a rir, ou levar porrada e levar no coco. É o mesmo que levar na cabeça. Cocões – Peças de madeira entre as quais roda o eixo. Cócoras – Bogalho (fruto do carvalho) e aninhado. Cofo – É um instrumento feito de arame, em forma de rede que envolve o focinho dos animais, das vacas, por exemplo, para não comerem no meio de uma horta. Coirão – Duro, malandro, mau. Coiro – Oh, que coiro! Mau carácter; ou Coirão que é mais grave. Pessoa infiel e traiçoeira. Coisa de nada – Coisinha de nada Insignificância. Serão Nº 84 Colher – Colher de pau não é a que hoje é usada na cozinha. Refere–se à colher da sopa para comer o caldo. Ainda possuo destas colheres de pau bem usadas que encontrei em casas de amigos.
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Colmo – Era o nome dado à palha centeia e que servia para encher os enxergões das camas, fazer as tochas para iluminar no Inverno o caminho para a missa e chamuscar o porco na matança. Colo – Seio, regaço. Colorar – Dar cor. Comadre – “Quando se zangam as comadres, descobrem–se as verdades”; o que sabiam dos outros e andavam ambas a esconder, é posto ao léu. Comer – Comer muito ou pouco, tudo vai de começar; que “o comer e coçar tudo vai do começar “ e “o coçar e o comer, tudo vai do muito querer”. Como dizia o outro – É querer citar um provérbio, citar alguém, referir–se a outrem. Como é que chamam à maçaroca da espiga depois de desfolhada? – Há diversos nomes na região de Viana, mas só consegui recolher estes: Carucho, Carôlo, Caroço e Carulo. Serão Nº 80 Companhia – “Diz–me com quem andas, dir–te–ei quem és”. Cada um escolhe os amigos que quer, naturalmente, são sempre do mesmo jeito. Comprida (maneira comprida) – Mais compridamente. Serão Nº 177 Comua – Caneira da retrete. Concensa – Consciência. Serão Nº 177 Conchichina – Que vá para a cochinchina, isto é, para longe. Conhecer – Conhecer Contas – “Está a contas com...”, isto é, está ativo ou passivo, à espera de algo. Copa – Molho de palha “milha” ou “centeia”. Coração – “Fazer das tripas coração” é saber sobrepor–se a algo desagradável, dissimular o medo, “dar o peito às balas”. Corar – Branquear a roupa ou o linho, também se cora, muda de côr. Corda – “Estar com a corda ao pescoço” é estar atrapalhado, ter a vida a prémio. As coisas vão mal. Cordelinhos – “Puxar os cordelinhos a alguém” é chamá–lo à razão para o negócio em causa. Coreiros – Aqueles que põem a roupa a corar, barreleiros. Lugar onde se põe a roupa a corar. Corimbos – Flores com forma de eixos que partem de um eixo principal elevando–se à mesma altura. Corja – Garganta… Bando de pessoas indesejadas. Correr a congreira – Levar boa vida. Também se diz com o mesmo significado “Levar vida flauteada”. Serão Nº 88 Correr a coxia – Andar sem sentido de um lado para o outro. Serão Nº 88 Côrte – Eido.
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Cortelho – Côrte pequena normalmente usada para os porcos. O mesmo significado de curral, pocilga. Cortiça – Casca de sobreiro e de outras plantas lenhosas. Designação dos vários objectos feitos de cortiça. Cortiço – Casca cilíndrica do sobreiro para espadelar o linho. Também servia de colmeia para as abelhas. “Levar no cortiço é levar porrada”. Cortinha – Terreno junto, ou muito perto, de casa e do logradouro ou do quintal. Coruto cimo do monte – Formas derivantes: corito, corutelo ou coritelo. Serão Nº 76 Cós – Uma tira das alças ou do vestido que rodeia a cinta. Costado – “Quatro costados”, isto é, por todos os lados. Costar – Constar. Serão Nº 177 Costas – “Olha se tens as costas guardadas (largas) “, isto é, olha se te acautelas para te defenderes, podem acusar–te de tudo. Tens inimigos. Cotio – De todos os dias. “Isto é roupa de cotio”. Serão Nº 76 Cotovelos – “Há quem fale pelos cotovelos”, isto é, fala muito e gesticula muito com os braços e não diz nada. Couba – Couve. Coube – Couve. Coupo – Manchão do carro. Cova – “Vai do caixão para a cova”. É até matar. O normal é ir para o caixão que o transporta para a cova. Covabade – Cova do Abade. Crachá – Ter crachá é ser importante. É ter cartão. Homem de chapéu… Crase – Classe. Serão Nº 177 Credo – “Andar com o credo na boca” quer dizer andar com medo, ter dúvidas e vir como que acreditando não haver perigo. Crepides – Crespo, encarrapichado, crespins, peúgas, chinelos. Crianço – Criança do género masculino. Serão Nº 177 Crivo – Espécie de peneira para limpar o grão. Coador. Separador ou coador de cereais ou outros para sair a terra, areias, etc… separa o trigo do joio. Croca – Acto de dar, com as costas dos dedos uma crocada na cabeça. Croça – Capa de palha, o mesmo que caroça (“coroça”). Crocada – Levar na cabeça, mocada. Crocodilo – “As tuas lágrimas são de crocodilo”, isto é, são falsas, fingidas, por sentimento que não existe. Cronha, Coronha – Cara, focinho, mariz. Cruxa – Molho de palha de centeio que se põe no cimo da meda de palha de milho para não entrar água.
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Cruzes – Refere–se às vértebras lombares (dores nas cruzes), cruzamento, entre os rins e a coluna vertebral. Cuaca – O mesmo que cloaca. Cúbalo – Vem de cubo, passagem apertada no final da regueira (com a forma de um cone torneado) em granito. Cubicar – Popularmente usava–se uma fórmula que correspondia à medida do batoque a uma ponta de uma das bases em diagonal. Tive essa fórmula oferecida pelo carpinteiro Simplício, de Mazarefes. Era uma fórmula para com facilidade cubicar um tonel, barril. Cuco – “Está como um cuco”, quer dizer que está satisfeitíssimo, ainda que  se sirva dos ninhos dos outros pássaros para lá pôr os ovos para chocar. Cueiros – Os panos, às vezes farrapos, que serviam para fazer fraldas para os bebés. Cufinhos – Cestos feitos em arame que colocam no fucinho do gado para não comerem as sementeiras. Cufua – cheiro a morte. Falecer ou morrrer em maiaco Cumareiro – Calçada ou socalco Cúmio – Trave mestre. Cunca – Tigela grande. Cunca – Malga. Serão Nº 84 Cuprimido – comprimido. Curjildoso – O mesmo que cursidoso. Serão Nº 177 Curral – Lugar onde se guarda o gado. Cursidoso – Curioso. Serão Nº 177 Cuspes – Cuspir. Cuspir na cara – Gesto de desprezo e de desonra que faz sofrer moralmente. Serão Nº 102 Cutoline – Lápis hemostático para estancar o sangue num pequeno golpe. Dá–lhe corda e verás aonde ele chega”; ou seja, deixa–o falar, ouve–o, interpela–o, ele não se cansará e poderá ir longe demais. Dali para Cristo Morre assim mesmo – Morre assim mesmo. Assunto acabado. Assunto pronto e acabado. Não tem outro remédio. Serão Nº 88 Dar a cana – Ensinar. Dar a ganho – Entregar uma rés a alguém para criar e tirar lucros divididos. Dar a mosca – Ataque aos animais na hora mais quentes. Preguiça. Dar água sem caneco – Não fazer trabalho útil; andar  despreocupadamente de um lado para o outro. Serão Nº 88 Dar com um trapo na cara – Para que o paciente fique bem marcado, com o rosto sujo. Serão Nº 102
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Dar nas bufas – Nas barbas, nos matacões. Serão Nº 102 Dar nas trombas – Faces salientes da cara. Serão Nº 102 Dar nas ventas – Nas janelas do rosto. Serão Nº 102 Dar o fanico – Desmaiar, morrer. Dar pé – Dar origem. Serão Nº 177 Dar um panásio – Tanto pode ser uma bofetada, como um pontapé. Serão Nº 102 Dar um par de galhetas – Uma bofetada de cada lado da face. Uma representa a galheta do vinho e outra a da água, mas com sabor bem diferente. Serão Nº 102 Dar um tabefe – É uma palavra de origem árabe, designando leite grosso.  Um castigo paternal faz tanta falta como o leite. Serão Nº 102 Dar uma bofetada – É o vocábulo mais usado. Serão Nº 102 Dar uma estalada – Chama–se assim pelo ruído, pelo estalo que produz na atmosfera. Serão Nº 102 Dar uma estampilha – Porque a palma das mãos cola–se momentaneamente nas faces da cara, como as estampilhas (selos fiscais) ao papel selado. Serão Nº 102 Dar uma lambada – Bofetada com lomba da mão. Serão Nº 102 Dar uma lamparina – À espanhola. Serão Nº 102 Dar uma pastilha – Como quem come uma pastilha. Serão Nº 102 Dar uma solha – Pela analogia da palma da mão com o peixe, chamado solha. Serão Nº 102 Dar uma ventosa – Uma bofetada bem tangida que faça acudir o sangue à epiderme do rosto, como se fosse o efeito duma ventosa. Serão Nº 102 De pantanas – Isto é, de pernas para o ar, tudo ao contrário. Dêbeda – Dívida. Serão Nº 178 Debonçar – Dar a primeira espadela no linho, separando–o dos verdascos. Deboiçar. Debouçar – Dar a primeira espadelada no linho, separando–o dos verdascos. Debruar – Guarnecer com um friso. Debrum – Fita que guarnece a borda de um tecido. Decagrama – 10 gramas. Decâmetro – Corresponde a 10 metros (10.000mm). Decantação – Acto de verter o vinho da garrafa original, para outro recipiente, por exemplo. Decigrama – Era o correspondente à décima parte do grama. Décima – Imposto predial.
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Decímetro – A décima parte do metro (100mm). Decruar – Era a primeira sacha do milho, quando este ainda era pequeno, isto é, com 10 a 15 cm de altura. Usava–se o sacho ou o sachador com dentes de ferro mais finos. Normalmente o sachador não era o homem que sachava o milho ou decruava o milho, era o sachador puxado pelo animal, normalmente uma vaca. Hoje acabou. Decruar era o mesmo que sachar para limpar as ervas daninhas. Fazia–se isso 2 ou 3 vezes. Dar a primeira lavra a terreno que estava em pousio. Delante – Diante. Delepido – Fraco, adoentado. “Está delepido de todo, coitadinho!”. Serão Nº 84 Demeniar – Administrar a casa. “Fulana nem sabe demeniar!...” (Areosa). Serão Nº 88 Dentamia – Dentição. Serão Nº 178 Dentuça – Dentadura. Depenar – Tirar as penas, todo o dinheiro a alguém, ficar sem nada. Derradeiro – Último. Desafir (fio) – Dificuldades, dificultar. Desalmado – Indivíduo sem alma, isto é, sem coração. Indivíduo desnorteado. Desanca – Sova. Descanso – Licranço, licanço, da ordem dos répteis. Descantes – Cantiga ao desafio, cantigas do Povo. Discantes. Desembaracilhar! – Desembaraçar. Desenconchavar – O mesmo que desconchavado. Partido, desligado, desarmonizado. Desfolhar – É a hora do despojo da folha que cobre a espiga do milheiro, onde a espiga nasceu. A espiga, isto é, o fruto fica descamisada. Vai apanhar mais sol para secar melhor e poder ser debulhado. Este trabalho é outro motivo de solidariedade entre os vizinhos e os amigos e ocasião para grande festa. Cantava–se e brincava–se à procura do milho–rei. O Milho–rei era a espiga vermelha que poderia surgir e quem descobrisse uma tinha que dar ou levar um beijo ou um abraço de todos ou a todos. Desgracia – Desgraça. Desinfecta – Ala, desaparece daqui… Desmancho – Aborto. Desmerdar–se – Desenrascar–se, sair do sarilho ou da m…. Desparir – É o abortar de um animal, “ou perigar”, como noutras regiões se diz.
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Despois – Depois. Desprocatar – Descuidar. Serão Nº 177 Destemperar/Destemperado – Destemperar, usa–se no Alto–Minho, no sentido de sofrer de diarreia. “Tenho andado muito destemperado” ou “Tenho um destemperamento”. Destemperar também se aplica a tempo demasiado quente. É forma clássica, utilizada pelos nossos cronistas. Vd p.e. a notícia da trasladação do corpo de Santa Isabel, na Lenda: “Por aquele Julho muito destemperado”. Serão Nº 80 Desumano – Aborto. Desvairado – nervoso, sem rumo ou com mau objectivo. Determinança – Determinação. Serão Nº 177 Deus – “Se Deus quiser”, para o Bem sempre Deus quer, para o Mal só o homem o pode querer, é livre. Devandito – Dito acima. Serão Nº 178 Dia – “Todo o santo dia”, pois se trabalhou a fazer algo que rendeu mais tempo que aquele que se esperava. Dianho – Diabo. Dica – Dizer dicas (informações úteis e precisas antecipadamente). Dino – Digno. Serão Nº 177 Dionysus – Deónis. Direito – Obrigação. “Quando quiser o dinheiro da renda da casa que venha aqui recebê–lo que eu não tenho o direito de o levar lá”. Serão Nº 42 Dobadoura – Aparelho com que se doba – passar de meada, a novelos. (Aparelho giratório para dobar as meadas (eixo vertical). Dobar – Enovelar ou enrolar em novelo o fio da meada. Dormir – “Dormir como uma pedra” é ter um sono profundo. Dorna – Estes recipientes são constituídos por aduelas em madeira, sem tampa, mais ou menos altas, para uso não só para receber as uvas nos campos dos lavradores, mas também para pisar uvas, esmagá–las até criar o mosto, deixar ferver e tirar o vinho. Substitui um pouco o lagar que leva mais quantidade. É de se lhe tirar o chapéu – Uma coisa difícil e importante. Serão Nº 80 Echarpe – É um lenço para cobrir o tronco sobre os ombros à volta do corpo. Ectemar – Separar, fazer limite, fronteira. Eh! – Interjeição para chamar a atenção. Ver eia. Eia! – Força! Vamos, outra interjeição na linguagem com os animais. Admiração. Eih! – Vamos…anda…usada para os animais não pararem.
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Eira – Local soalheiro, de terra batida, de cimento, ou de pedra próprio para debulhar, trilhar, secar e limpar os cereais. Há “os sem eira, nem beira” que quer dizer miseráveis. Em muitas terras as eiras comuns medievais deram origem a topónimos. Lugar da Eira, ou o sítio da eira, ou os da eira. “Eira Barrida” – quer dizer que depois dos trabalhos devem ser limpas as eiras. Eira Barrida – Trabalho concluído. Com o mesmo sentido se usa também: “Eira raída”, Eira varrida depois do trabalho concluído. Serão Nº 88 Eiro (sufixo) – Em Geraz do Lima (Santa Maria) é muito vulgar ouvir–se aplicar–se este sufixo. “Telheira – uma telha; Mateiro – um ramo de mato; Caneiro – um ramo de árvore; Espinheiro – um pico de roseira, ou de mato; Pregeiro – um prego”. Serão Nº 80 Eixo – Algo que atravessa um corpo em torno dele e esse corpo faz o seu movimento como, por exemplo, o eixo que une as rodas de um carro que rodam e fazem mover o carro. Embuchar – Enfonar. Amuar. Ementes – Enquanto. Empacotar – Meter em pacotes, deixar alguém entalar–se. Empancar – Parar. Não conseguir falar. Empar – Suster com estacas a água, as videiras. Empécer – Estorvar. Na Ribeira de Viana, diz–se Empachar. Serão Nº 84 Empronho – Vaidoso. Emproado. Encinho – O mesmo que ancinho. Encorpado – Pastoso e espesso, dizia–se normalmente do linho e do vinho quando bom. Encosto da tecedeira – Barra de madeira, normalmente ao correr do banco, onde a tecedeira podia encostar–se. Parte mais grosseira do linho resultante do debouçar. Enfornar – Meter o pão no forno. Enfunado – Irado, irritado, zangado, mal humorado fruto de amuo. Engaço – A mesma coisa que o ancinho, mas de tamanho maior, normalmente. Ver ancinho. Engamiar – Cair de cama por doença impeditiva de movimento dos membros locomotores. “Fulano? Lá está, engamiado...” Serão Nº 82 Engenho – Máquina formada por grande cilindro estrias ao centro cercado por outros cilindros estriados menores por entre os quais passava o linho para o converter em mantas. Separar as fibras das arestas. Engrácia – “Obras de Stª Engrácia” são aquelas que não têm mais fim. Enguiço – Algo que está a estorvar.
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Enjeitar – Recusar. Enovelar é enrolar em novelo o fio da meada. Enrabar – Se o carro, por ter a rabadilha muito comprida, se não inscrever nas curvas do caminho, diz–se que não passa porque enraba. Serão Nº 42 Entrar sempre com o pé direito.” –  É supersticioso: para muitos entrar a primeira vez em algo com o pé esquerdo dá mau agouro. Entrementes – Entretanto. Entrepostos (bois) – A andar sem ninguém a pegar à soga. Serão Nº 84 Entretela – Tela que reforça o sobretudo ou outro tecido. Envida – Porção do cordão umbilical. Enxada – Sachola, instrumento para cavar a terra. Enxertar – É fazer um enxerto, isto é, inserção de uma gema, um ramo de um vegetal em outro vegetal para que se desenvolva na planta que o originou. Enxofrar – Preparar um composto químico com enxofre e pulverizar as vinhas ou as árvores para afastar ou matar os fungos que prejudicam a produção e secam a planta. Epitáfio – Inscrição tumular. Esborracar – Estampar–se. Andar de diarreia. Esborreca – Sujeira. Escabelo – Banco de assento. Escadairo – Escadaria. Serão Nº 178 Escaleiras – Escadas de pedras. Escaninho – Normalmente dentro de móveis antigos, zona que levava duas prateleiras altas e com a face interior de uma prateleira escondia a segunda, onde era fácil esconder dinheiro ou ouro. Escanho – Escano. Escapulir – Fugir da mão. Escaravelho – Há várias espécies. Este é o escaravelho da batata. O escaravelho é da ordem zoomórfica dos coleópteros. Põe ovos e desenvolvem–se larvas. Escarno – Banco comprido e com encosto. Escoitar – Escutar. Serão Nº 177 Escordar – Acordar. Serão Nº 84 Escova – Vassoura de giesta. Escupir – Cuspir Esfrega – Grande cansaço; esforço de muito trabalho. Esfueirar–se – Borrar–se de diarreia. Esgaçar – Puxar ou fazer algo muito depressa e à força.
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Esgalhar – Tirar ou cortar a rama de uma árvore ou rebentos que lhe chamam ladrões. Esgana – bronquite. Esganhudar – O mesmo que esgadunhar. Esgraviar – O mesmo que esgrimir, lutar, discutir. Esguicha – Recipiente cheio de líquido que fura e logo esguicha, se tiver pressão. Sem pressão, chama–se derrama. Esmagalhar – Esmagar. Espadana – Era outro género de ibídeas com folhas em tipo de espada, como o peixe–espada. Esta folha servia para atar vinha e para outros trabalhos que o lavrador precisava. Em todos os quintais havia o espadanal. Espadela – Instrumento de madeira em forma de cutelo para separar os tomentos do linho (cutelo triangular de madeira), afiado com pedaços de vidro da janela ou de garrafa para sacudir os tormentos do linho. Espadilha – Lâmina de madeira com 12 orifícios correspondentes com fios de cada ramo da teia que se vai medindo. Espalhadoira – Espécie de forquilha com quatro dentes grandes que servia para pôr os rolos de mato ou estrume no carro ou campo. Espantalho – Para afastar os pássaros ou outras aves das sementeiras eram colocados espantalhos. Dois paus ao alto como o de duas pernas vestidos de umas calças, mais um tronco e uma cabeça com um chapéu e um outro pau em cruz como o de uns braços abertos vestidos com mangas de camisa. Eram assim os espantalhos para enganar os animais. Enfim, era um manequim. Especavam – Paravam, estacavam, amparavam. Assentavam Espécie de dobadoura. Cesto grande em Trás–os–Montes. Espelho – Algo que reflecte o objecto que se põe na sua frente. Às vezes era bom não nos ver ao espelho, outras vezes, até é preciso para virmos para a rua com mais paciência. ( Boa aparência) Espertar – Despertar. Serão Nº 177 Espeto – Um jogo antigo das crianças ou jovens. Espicha – Peça de osso, em forma de ponta de seta, na extremidade da correia que liga a estriga à roca, cravando–se na estriga. Espicho – Era o buraco ou o tampão de madeira com estopa para tapar no tampo cilíndrico e plano da frente do pipo (barril, pipa ou tonel). Espigado – Crescido. Pessoa com maturidade suficiente. Espigas – Espécie de garrotes empregues nas rodas ou nos eixos. Espigueiro – É normalmente um sequeiro construído junto às eiras e perto das
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casas, lugar onde se guardam cereais, como as espigas de milho. Também lhe chamam o canastro ou tulha. Vem de Espigo (spicus) com o plural spica, igual a espiga, isto é, a haste terminal do milho, do trigo, onde se encontram os grãos. Espirituoso – Vinho rico de aromas e álcool. Espuma – fulo. Esqueimar – Queimar brandamente, como chamuscar o porco, isto é, queimar o pelo sem rebentar o couro. Está levantada – Está boieira, a vaca quer boi, está groula. Está com o cio. Esta raiz Camb... – Meu caro: Dei–me a reparar neste conjunto de palavras formadas da raiz CAMB... Não sou filósofo e não sei donde deriva. Mas parece significar um conjunto de coisas da mesma espécie. Ora repara: As cebolas vendem–se tradicionalmente em CAMBOS, ou seja, umas doze ou dezoito, com os caules (PÉS) metidos num encanastrado de palha. Às vezes, para lavrar uma terra, há necessidade de duas juntas de bois; para tal, utiliza–se um CAMBÃO ou digamos um tronco de madeira com um gancho e umas correntes de ferro para ligar à canga dianteira. As solhas pescadas no Lima vendem–se em CAMBOS, espetadas pelas guelras (umas seis ou doze, conforme o tamanho) num raminho de giesta; em Ponte de Lima, para venderem o peixe do rio usam umas varinhas de carvalho e chamam–lhes uma CAMBULHA; CAMBULHA também lá chamam a um conjunto de pinhas que raramente surjem do mesmo tronco de pinheiro. Estas pinhas são tidas como propiciatórias de boa sorte. Dantes viam–se nas tabernas e casas de negócio, junto do nichinho de Santo António estas cambulhas e igualmente as tecedeiras as amarravam aos teares. CAMBAS se chamam às partes laterais do chadeiro dos carros de bois. Veio tudo de cambulhada por aí abaixo, é costume dizer–se quando, por exemplo, um conjunto de indivíduos invade subitamente uma casa. CAMBADA é um grupo de pessoas mal–educadas. Temos, por conseguinte: CAMBO, CAMBÃO, CAMBULHA, CAMBULHADA, CAMBA, CAMBADA. Serão Nº 82 Estabanado – Estavanado, estouvado, valdevinos, irrequieto e meio louco. Estadículo – Estádio, peça que recebe algo de peso, como os pés de Jesus na cruz. Estafermo – estavanado. Estampar–se – Borrar–se, esborraçar–se. Andar de diarreia e não ter tempo de chegar à sanita ou a outro lugar procurado. Estapulho – Bandalho.
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Estar à espera do pio pardo – Estar à espera de algo que não chega. Estar a expedir – Estar à morte. Serão Nº 84 Estar de furrica/Andar de furrica – Padecer de diarreia. Serão Nº 88 Esteio – Uma coluna que sustenta a latada ou outra coisa qualquer, como o palheiro ou uma vinha, a meda da palha. Esteira – Tecido de palha ou madeira entrelaçado para reter um determinado volume de carga, por exemplo: deitar–se. Estendal – Espaço “achãozado”, plano onde se estende roupa para corar. Estercar – Estrumar. Esterco – O mesmo que estrume. Esterqueira – Lugar de esterco, algo sujo. Estica – Bem apresentado. Estopa – “Não meter prego nem estopa” é não interferir, não tomar partido. Lavar as mãos como Pilatos. Estopa – Parte do linho retirada pelo sedeiro, tecido feito de estopa. Estopa de 2ª Sedeiro grosso – dentes ralos; estopa de 1ª Sedeiro fino – dentes vastos. Parte grossa e emaranhada do linho separado pelo sedeiro. “Isto foi uma estopada” quer dizer que foi duro. Estouvado – Maluco, doido ou leviano. Estradão – Caminho grande. Estrelecer – Nascer das estrelas. Serão Nº 177 Estribeira – “Perdeu as estribeiras”, porque saiu do lugar que lhe ficava bem, ou não pôs os pés exatamente no estribo e caiu. Teve um comportamento não desejado, perdeu a calma. Estriga – Porção de linho que se põe na roca para fiar. Estrigão – Uma porção grande. Estrovar – Estorvar. Esturnicar – Destruir, retorcer, queimar, esturricar. Esturpícia –  O mesmo que lésbica. Facadinhas – Cabelo mal cortado, o mesmo que cabelo às escadinhas. Falar – Falar de mais, é resvalar, dizer coisas a mais. Falar à política – Falar à moda da cidade. Serão Nº 84 Falar demais – Em Ponte de Lima, o povo, interrompe, directamente a inconveniência das más–línguas desta maneira:”–Ah sim? Você quer conversar? Pois então compre um c... e fale p’ra ele!!!”. Serão Nº 83 Falar ou conversar – Namorar. “O Zé agora fala ou conversa para a Maria do Chico. A Maria é a conversada do Chico”. Serão Nº 42 Falsia – Falsidade. Serão Nº 177
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Falustrias – manhas. Fanico – Andar para a frente e para trás sem grandes motivos. Pessoa mexida. Desmaio ou chilique. Fardo – Algo pesado que se carrega, o saco ou muito trabalho pesados. Farfalho – Sem dinheiro. Farrusca – Zaragata com navalha ou faca (arma branca). Fartada – Animal já bem acomerado. Fartota – Bem cheia de comida. Fato – As tripas do porco envolvidas pelo peritoneu. Ou simplesmente o peritoneu. Favas – “Olha, foi com as favas contadas”, isto é, foi com o dinheiro certo, por exemplo, ou muito escasso. Fazenda – Pano, tecido. Fazer dó – Dar pena. Fazer o  impossible – Até faz impossível que tal sucedesse. Serão Nº 42 Fazer vir água à boca” – Ter desejo de algo ou desfrutar apetite para comer o que se vê ou se recorda. Feble – Firmeza. Serão Nº 178 Febre – Substantivo masculino no Alto Minho. Toda a gente diz o febre em vez de a febre. A febre vem em crescentes. “Esta noite deu–me um crescente de febre...”. Serão Nº 82 Fedelho – Criança que quer ser grande. Feijão–– O feijão é constituído por uma vagem, como a fava. São legumes muito importantes e ricos em ferro e outros minerais. São substâncias leguminosas. Há uma quantidade enorme de espécies destes legumes. Feira – Bom negócio, coisa barata. “Que feira!” Serão Nº 82 Feirodo – O mesmo que ferodo. Feitiço – O melhor era sempre dar um pontapé nos Puchelos ou Pichelos. Como se fosse coisa que não interessa, não presta… Só assim se vence o feitiço ou o bruxedo. Feno – Planta ceifada e seca da família das gramíneas servindo de alimento para os animais. Fêrodo – Cheiro a ferro de tanta tracção e a queimar. Ferrão – Uma ponta de prego no coto da vara para chuscar ou picar o animal. É diferente de levar uma chibatada ou uma “varada”. Também vários animais têm um ferrão diferente, algo, que ferrando deixam, às vezes venenoso. Férrea – Uma pá de ferro para tirar as brasas do forno.
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Ferrelha – Pá férrea de levar o pão ao forno. Ferro do Monte – Um ferro grosso aí com 3–4 cm de diâmetro e com 80 cm de comprimento para rolar pedras ou esburacar… Ferro Velho – Agora ecoponto. Havia pessoas ambulantes que recolhiam coisas velhas e até as compravam. Aquilo que parecia não…. Ferrol – Orifício ou lugar para o batoque do pipo. Ferrolha – O buraco da fechadura, onde entra a chave. Não vale espreitar pelo ferrolho. Ferruge – Ferrugem. Fertuna – Fortuna. Serão Nº 177 Fêvera – Fio, fiapo, filamento de carne, normalmente, de porco. Também filete referindo–se a peixe. Fiar – Transformar em fio qualquer matéria filamentosa. Reduzir a fios substâncias fibrosas. File – filete, fio de renda. Filho da Polícia” – Quando o povo usava esta expressão era para evitar chamar um nome feio. Agora esta deixa cai em desuso porque também há mulheres polícias. Finta – Taxa, Contribuição. Fios de água – Os pescadores da Ribeira denominam, assim, qualquer corrente marítima. Serão Nº 146 Firmidia – Firmeza. Serão Nº 178 Fisga – O mesmo que flecha. Fita – Não é verdade. Algo virtual. Não corresponde à realidade. Fitar – Um engano – olhar fixo. Flecha – Arco que puxado, tendo centrado uma vareta de guarda–chuva, se disparava e ia longe. Foi – Por  fui. Foice – Objecto de aço de lâmina curva, dentada e com cabo de madeira que serve para ceifar erva para o gado ou ceifar as cearas; outra há que corta as silvas. Fôlego – “O gato tem sete fôlegos”, isto é, tem sete vidas, é difícil morrer. Diz– se: “Aquele tem fôlego de sete gatos.” “Os gatos tem sete folgos”. Folhelho – Películas que revestem a espiga do milho sobrepostas e que também utilizada no enchimento de colchões ou dado aos animais. Também o casulo do bicho–da–seda. Fome – “A fome é inimiga da virtude.” Fona – “Andar numa fona”, isto é, andar tão atarefado como a fona. Frenético. Não estar parado. Também é um jogo brasileiro.
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Forcado – Fazia o mesmo serviço que a forquilha, mas só tinha três dentes: dois laterais e um ao centro levantado. Forçudos – Fortes, robustos. Formas – Os botões que servem nas apostas em alguns jogos. (No dicionário de Augusto Moreno dá–se–lhes o significado de “botões de osso”. Em Viana vai–se mais longe ao determinar–se–lhes a aplicação nos jogos infantis). Serão Nº 88 Forno – Antigamente era feito de pedra e de barro, ou tijolo burro e barro aquecido com lenha. Cada casa de lavrador tinha o seu e cozia pão para 15 dias, duas rasas de pão ou uma rasa. Forquilha – Era um utensílio agrícola de cabo grande com uma travessa de ferro e quatro ou cinco dentes compridos para lançar o mato ao carro, estrume, etc. Também servia para espalhar o estrume pela terra, a espalhadora. Forró – Andar no sanico. Dança para todos. Forrobodó – Pessoa que anda acima e abaixo. Atarefada. Sanico. Bagunça. Fortalhaço – Rapaz ou homem muito forte. Serão Nº 88 Fossa – Antigamente não havia sumidouros. A fossa recebia tudo e tudo era aproveitado quando cheia para usar como adubo nos campos para as hortas, a cebola, etc. Fox – Lanterna. Francesa – “Despediu–se à francesa!”, isto é, fugiu, saiu sem se despedir; com pressa ou para não dar nas vistas. Saiu discretamente. Frangalho – Algo sem valor, farrapo. Algo desfeito. Fraudilha – Peça de pena que envolve a zona genital. Cueiro. Frialdade – Frieza. Serão Nº 178 Frioleira – Lançadeira Fritir – Fritar. Frol – Flor. (Plural – flores). Serão Nº 177 Fronha – Cara. Fruita ou Froita – Fruta. Serão Nº 76 Fueiro – Um conjunto de paus de 70 ou 80 cm aproximadamente, que se colocam no chedeiro do carro de bois para segurar a carga, as tabuletas ou as esteiras. “Fugiu que até com os pés dava no rabo”, isto é, correr muito. “Dar ao pé” é fugir. Fungar – Torcer o nariz e a respirar fundo. Algo vai mal. Funil – Utensílio em forma de cone terminando por um tubo que é usado para despejar líquidos em recipientes de boca estreita. O funil por onde se metia as carnes misturadas de cebola e condimentos na tripa do porco para fazer chouriças…
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Furreta – Aquele que tem, mas não dá. Fuso – Instrumento cónico terminado com ponteira de aço dobrado em caracol, utilizado para fiar manualmente. Instrumento roliço e pontiagudo utilizado para fiar. Fussas – O mesmo que benta e, normalmente, quer dizer: levar um murro nas bentas. Cara na zona da boca e do nariz. Futricas – Pessoa sem valor. Gabança – Elogio. Serão Nº 178 Gabardina – Peça de vestuário próprio para agasalho do frio e da chuva no Inverno. Gábedo – Gávito. Recipiente para levar, transportar uvas, cereais, etc. (gamelas ou cestos). Gadanha – Grande colher para tirar o caldo em forma de concha. Também espécie de ancinho, mas todo em ferro que servia para cavar o estrume nas cortes para espalhar no campo. Gadanhar – Amaciar a terra com engaço, desfazendo pequenos torrões. Gadanho – Engaço. Gado – Bovino, rebanhos é o “bivo”, (“o vivo”),  animais domésticos como a vaca, o boi que davam carne, leite e peles para o lavrador. Gadunhar – Esgaravatar. Andar com gadunho. Gadunho – Instrumento de trabalho para remexer a terra. Gafeteira – Cafeteira e leiteira. “A gafeteira do café e a gafeteira do leite”. Serão Nº 42 Gaipo – Pequeno rebento do cacho de uvas só  com alguns bagos. Antigamente não havia quem não andasse aos gaipos depois da vindima feita há algum tempo. Aí é que sabiam bem as uvas encontradas nas vinhas como cachos esquecidos ou meio esquecidos, ou ainda pequeninos cachos com alguns bagos. Gaiteira – Pessoa bem vestida de vestes de cores garridas alegres.. Gaiteira – Espalhafatosa. “Onde vais tu, toda gaiteira?”. Serão Nº 76 Gajo – O mesmo que ladrão. Galante – mentiroso Galeira – Abertura numa parede para entrar ar ou um gato.Também se se dá o nome de gateira. Galeira – ver gateira. Galheiro – O mesmo que fueiro. Galheta – Bofetada Galinha – É a fêmea do galo. Ave leve que não voa normalmente e que se criava para alimento nas festas ou curar as mulheres parideiras, isto é,
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acabadas de dar à luz. Dá ovos. Choca os ovos e dos ovos vêm pintainhos, novas gerações. Os ovos são usados na alimentação. Ricos em tudo. Os ovos chocos sem serem chocados pela galinha só servem para cheirar mal, muito mal...Antigamente as mulheres parturientes, eram tratadas com caldos de galinha e carne de galinha. Era também petisco do Domingo, de festas de família e festas da terra. Não sai do sítio, burra. Burra vagarosa, paiôra, lenta... Algo engalinhado, isto é parado e com dificuldade. Também há a mãe galinha – A mulher–mãe que quer sempre os filhos ao pé de si e, às vezes não os deixa ser como são. Tornam–se mimados. Galinheiro – Lugar onde se encontram as galinhas. Também pode ser o criador de galinhas ou vendedor destes animais. Há várias espécies de galinha. Já para não falar de “galinha” no sentido de infelicidade, andas com galinha. Estás engalinhado, isto é, não desenvolvas, não saias do sítio. Galo – “Outro galo cantaria”, isto é, melhor sorte teria. Galo – Da família das aves galiformes, da família dos fasianídeos, doméstico, com crista vermelha e carnuda e rabo longo e de penas grandes e coloridas, em relação à galinha, erguidas... Antigamente era o melhor petisco para a festa na casa do lavrador, ou para fazer dinheiro. O macho da galinha. Ao raiar da aurora canta e dá sinal que quem manda no capoeiro é ele. E, por isso, é difícil haver dois galos no mesmo capoeiro. Servia de relógio ao lavrador. Gamela – Recipiente retangular ou poliédrica cuja base tem uma medida de 30x52 cm e na base superior cerca de 50x70 e de altura cerca de 25 cm. Esta era a gamela normal, mas existiam outras com medidas inferiores e superiores. A gamela usava–se muito nas vindimas ou recolha de cereais. Gamelão – Vasilha rectangular de madeira onde se iam acomodando as peças no sistema de fole da concertina. Gana – Desejo, vontade, apetite, força, raiva Ganapo – Criança. Gancheta – Um pau comprido que termina numa cruzeta do mesmo pau que foi cortada no ramo. Gancho – Pau comprido com uma ponta curva ou ferro curvado de topo para chegar a alguma coisa alta. Garbalha – Caruma usada as folhas do pinheiro para acender a lareira. Gardo – Guardo Gardunha – Farinha, bicho gadelhudo carnívoro inimigo das aves. Garfo – Garfo de arame ainda até à década de 30 do século passado era muito usado o garfo feito de um arame.
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Garnizé – É um galináceo de pequeno porte. Também para uso caseiro e para fazer dinheiro, voa mais que a galinha. Garoto – Um rapaz malcriado, ou homem que tem atitudes de rapaz. Garrochos – Nome usado no tear: dois paus que se engancham nos Órgãos e servem de alavanca. Um grande que permite desenrolar a urdura (o que está urdido), e um pequeno que faz a peça já tecida, esticando–a simultaneamente. Gás – Petróleo. Serão Nº 84 Gasalheiro – Agasalhador. Serão Nº 177 Gasalho – Cogumelos comestíveis (Magueije, Lamego). Gata – O menino já anda de gatas, isto é, está a começar a andar. Gateira – Abertura na parede de uma casa, ou de uma adega, abertura ainda por baixo duma porta para entrada e saída dos gatos. Eram eles os principais predadores dos ratos. Gateira – Abertura para entrar ar e luz, gatos… Gatenho – Tojo, mata. Gato – mamífero carnívoro, doméstico, de família dos felídeos, vem da África. Zoologicamente é um animal predador dos ratos...e inimigo do cão. É raro o cão e o gato, darem–se bem, por isso, se ouve dizer, “dá–se como o cão e o gato”, isto é, dão–se mal. Figurativamente costuma significar erro. E uma prisão que prende uma peça a outra. Gaudério – Vagabundo, parasita, vive à custa dos outros. Generoso – Vinho muito rico em álcool e doce. Genica – Força, vigor, energia. Gitar – tocar guitarra Girino – Ver Cagópio Goidos – Seixos, ou sejam, calhaus rolados. (Alvarães). A certa louça fabricada outrora na freguesia de Lanheses e que era alisada exteriormente com um seixo, chamavam: louça godada. Estes seixos eram previamente polidos. A louça de Alvarães deixou de fabricar–se por 1945. Serão Nº 76 Gola – Parte do vestuário junto ao pescoço. Também colarinho ou cabeção da camisa. Gorra –  Boina, boné Gorro – Espécie de barrete e carapuça, boina. Gosma – Indivíduo que quer viver à custa dos outros. Gostos – “Os gostos não se discutem”, são relativos, o que é bom gosto para um, pode ser mau gosto para outro. O que seria do amarelo!... Gradar – Depois de lavrar a terra ela é gradada, isto é, aplanada com grade.
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A grade tem uns dentes de ferro e desfaz os torrões da terra e cobrindo as sementes lançadas. Grafo – Garfo Grama – Era a milésima parte do quilograma, 1000 gramas. Gramilo ou Gramilho – A peça que cerrava as portas antigas por dentro. Ou gramilo fixo o que espera a lingueta que fixa a porta, fechando–a. O gramilo móvel que por dentro fecha a porta aos de fora ao cerrar sobrepondo–se ao fixo. Um gancho. Grandecho – Maior. “O meu irmão grandecho.” Serão Nº 177 Grandor – Grandeza. Serão Nº 177 Grangear – Além do sentido próprio significa também levar a fêmea do animal doméstico a ser beneficiada pelo macho reprodutor. A sua porca está cheia ou vazia? Conto com ela cheia; levei–a ao granjeio e não tornou a alevantar”. Serão Nº 42 Grão – “Grão a grão enche a galinha o papo”, pouco agora e pouco depois começa a fazer muito, e “migalhas dão pão!”. Grego – “Até me vi grego”, isto quer dizer que encontrou dificuldades e foi difícil sair delas. Grilar – Deitar grelos como as batatas. Griteiro – O mesmo que gritaria. Barulho. Grola – O mesmo que cio “a vaca está grola”, isto é, está boeira, precisa de ir ao boi. Grolo – Ovo choco. Serão Nº 84 Guilho – Espigão, bico. Guita – Pressa ou sem dinheiro Há bem – Está bem. Sim. Hábito – “O hábito não faz o monge, mas protege–o”, quer dizer que é secundário. O monge não está no hábito, mas na pessoa que mesmo com o hábito pode não ser verdadeira. Habitude – Costume. Emprega–se no masculino. “Isso não é meu habitude”. (Vila de Punhe). Serão Nº 80 Hectograma – 100 gramas. Hectómetro – Corresponde a 100 metros (100.000mm). Hei! – Interjeição Herdamento – Herança Herdança – O mesmo que herança Herdo – Herança. Serão Nº 177 Hoi! – O mesmo que oi, depende do gesto que acompanha.
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Homêla/Homêle – Essa é boa. Serão Nº 80 Homem – “O Homem que não fala ou fala muito pouco ou é perigoso ou é “mula”, pode “morder pela calada”. É como os cães que não ladram, são os que mais ferram. Horta – É o terreno, normalmente, muito perto das casas onde se cultivam as hortaliças, os legumes. É o horto primitivo até ao século XIII. O horto significa também o lugar onde há vegetação variada. Uma casa com uma horta à beira, já tem que comer sobretudo para gente pouco exigente e pobre. Houbar – Fechar um portelo, uma porta pequena. Passagem estreita entre paredes. Houvar um portelo – Fechar um portelo. Humildoso – Humilde. Serão Nº 177 Igualha – Identidade de posição social, socialmente no aspecto da idade, da cultura, etc…não têm a mesma identidade. Ih! – Interjeição de admiração, Surpresa, ou ironia. Imbés – Avesso. Imentes  – Em vez de paredes. Imo – Íntimo. Serão Nº 177 Impinguelhar – Insistir com um hipotético problema, levantar mais problemas. Inconar—Trabalhar com insistência e sem sucessso Incubar – Meter na cuba. Encher a cuba de vinho. É tirar o vinho que antes era levado ao caneco de “folha–de–flandres” e agora é tirado a motor. Inda nun sabes – Ainda não sabes. Indês – Ovo que se coloca para levarem as galinhas a porem os ovos sempre no mesmo lugar. Infuste – Comilão. Serão Nº 76 Infuste – Funil, embude. Serão Nº 84 Ingaço – Ancinho. Ingano – Engano. Inguento – Unguento. Inorar – Criticar e reprovar. “O Sr. F. tem sido muito inorado por casar com a velha só por ela ser rica. Toda a gente inorou que ele, para não pagar, alegasse a prescrição”. Serão Nº 42 Instrumentos de medidas – Metro, Peso e razão. Insultar – Incitar. Serão Nº 177 Inté – Até. Intrudo – Entrudo. Intrugir – Enganar. Inturjão –  Intrujão, Mentiroso.
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Inundar – Encher de líquido, de água… Invija – inveja. Ir à casinha – Ir à retrete ou ao WC, à casa de banho. Ir à loja – Tanto pode significar ir à mercearia, como ir à adega duma casa de lavoura. Serão Nº 80 Ir aos fagotes – Bater na cara como se fora um instrumento de música. Serão Nº 102 Ir de caminho – Imediatamente. “Anda, vai de caminho”. Serão Nº 80 Ir para o céu – Sarcasticamente, quando se quiser dizer que alguém é um hipócrita, ouve dizer–se: “Fulano? É um songuinha! É dos que vão para o céu vestidos e calçados. É só lavar–lhes os pés e pronto!”. Serão Nº 88 Irra – É demais. Já chega. Isso–tô rola! – Isso não pode ser. Era o que faltava!... Serão Nº 80 Já banda – Já basta! Janota – Manata, pessoa com boa posição social, manda mais. Jantar – Às 20 horas jantava–se, era outra refeição pelas 19/20 horas ou a começar a noite, ao toque das Trindades. Era a refeição pelas 20 horas. Jasus – Jesus Javardo – Indivíduo grosseiro. Jinela – Janela Joelheteira – Era um caixote feito com mais ou menos arte, com uma aba ao alto à frente e uma no fundo, sendo fechado dos lados. Servia para as mulheres se joelharem junto do lavadouro do rio, onde esfregavam a roupa e a lavavam com sabão, assim como lavavam o soalho das casas com uma escova de piaçá. Jogo das covas – Usavam–se paus pequenos e batendo–se neles procurava–se que caíssem na cova. Jolda – Pândega, vadiagem. saída com companheiros para a borga Jornal – Salário, paga de cada dia de trabalho ao jornaleiro. Jungir – Juntar, unir, ligar, emparelhar os bois ou as vacas ao arado ou ao carro. O mesmo que cangar. Junta de bois ou de vacas – Par de vacas ou bois a trabalharem juntos. Junta – Significa parelha. Serão Nº 42 Juntança – Ajuntamento. Serão Nº 177 Jurgo – Julgo Labrego – Lavrador, rural. Labresco – Grosseiro, pouco ou nada. Ladeira – Mulher ladeira. Mulher que fala muito depressa e em voz alta. (Paredes de Coura). Serão Nº 82
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Ladrão – Aquele que nunca é apanhado a roubar, passa sempre por ser pessoa honrada. “Pessoa que rouba o ladrão tem 100 anos de perdão!” Lagar – Lugar adequado para espremer frutos como a uva, a azeitona, reduzindo–os a líquido. É como um tanque normalmente de pedra. Há, também, o vinho de maçã, pouco vulgar nesta região. Lagareta – Pia pequena para onde sai o vinho do lagar. Lagartos – “Diz cobras e lagartos”, o que significa que foi muito injurioso ou indecente, mentiu ou falou demais. Lambada – bofetada. Lambão – Guloso. Lambaz – Indivíduo muito forte e desajeitado (encontro este termo registado em dicionários com o significado de “comilão”). Serão Nº 88 Lambesão – Lambeta, indivíduo guloso ou que repete atos impróprios. Lamiré – Repreensão, expectativa, “espirito santo de orelha”. Lampadeiro – O que acende as luzes, os lampiões. Lampião – Grande lanterna com combustível portátil ou fixa, pousada sobre uma mesa ou fixa a um tecto para iluminar. Lançadeira – Espécie de naveta de extremidades iguais dentro da qual se põe a canela que indo da direita à esquerda e vice–versa vai distribuindo a trama ou tapume no tear. Lançadeiras – Peça em forma de barco com uma cavidade ao meio que permite as Canelas. É com as Lançadeiras que se passa o fio por entre a teia. Landras – Bolotas (fruto do sobreiro). Lanhada – Abertura com uma faca desde o pescoço do porco pelo lombo até ao rabo. Lanterna – Aparelho para iluminar, portátil ou fixo, constituído por uma caixa que leva a matéria–prima própria para provocar uma fonte de iluminação. É um aparelho para iluminar. Lão – Diz–se por lã, o pelo, cabelo. Laparota – Manhosa, mafiosa ou tola. Lar – Não com o significado de agora, o aconchego quente da família, mas era usada esta palavra também para significar a pedra quente depois da fogueira na lareira, onde se cozinhava, se aquecia a família e a casa inteira nos serões de Inverno. Aqui se preparava também o bolo do lar. Lar toucinho – Esfolar; ficar em carne viva. “Raspei a perna numa pedra e ficou tudo num lar toucinho”. (S. M. Portuzelo). Serão Nº 76 Laracha – Conversa barata, paleio. Larada – Fogo grande. “Deita grabalha ou caruma ou garavalha na lareira; quero uma larada”. Serão Nº 76
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Lareiro – Pedra grande, mas transportável. Serão Nº 76 Larica – Fome. Laroto – Quem tem leiras, leiroto. Larpar – Levar porrada. Lata – Cara;  descaramento. Latir – Ladrar do cão. Lavadura – A comida dos porcos com os restos da comida da casa ou da primeira lavagem da louça e dos potes. Lavadura – Farinhas escaldadas em água. Os restos da comida da casa alimentavam também os cães, os gatos, os porcos...não havia casa de lavrador sem um cortelho destinado à criação de um ou mais porcos com os restos de comida ou a lavadura feita com couves, farinhas e água… Lavareda – É o conjunto das chamas altas de uma fogueira. Labareda. Lavrador – Normalmente é o que lavra a terra, terra própria ou de outrem. Dá–se também este nome àquele que possui terras de lavradio ou dono de grandes quintas. São os proprietários que têm os seus criados que lavram a terra, ou fazem o pastoreio do gado. Labor em latim significa trabalho. Como laborar em italiano é trabalhar, laborar também em português significa fazer obra, ocupar–se de um ofício, quer esteja ligado à agricultura, quer não.  “Casa de lavrador sem eira, nem espigueiro, é casa de cabaneiro.” Lavrar – Arar a terra. Preparar a terra para lançar a semente. Lecas – Moedas, palavras ocas, coisas fúteis. Ledicia – Alegria. Serão Nº 177 Leichuça – Passarinho. Leira – Terreno pequeno também de cultivo. Leiroto – Que tem leiras. Leitão – Filhote da porca até desmamar. Leito – Leito do rio para a “Mãe d’Água”. Cama. Leituga – Espécie de erva muito procurada para os coelhos. Leiva – Elevação de terra entre sulcos. Terra amontoada por enxada ou arado. Normalmente é nivelada com a grade com um peso sobre ela e puxada pela junta do gado. Às vezes para fazer peso sobre este instrumento do trabalhador o gradador, isto é, o homem ou a pessoa que ia agarrado à rabiça da grade, punha–se sobre ela para gradar a terra. Leivas – Porção de terra que arado vira ou porção de terra que fica entre dois sulcos. Leixar – Deixar.
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Lemento – Alimento. Lenço cai–cai – Uma roda de rapazes e raparigas voltadas para o centro e um pelo exterior deitava o lenço aos pés de quem entendia, se este não o apanhasse a tempo de este dar outra volta levava umas palmadas. Léria – treta. Lésero – Paralítico de braço e perna, pessoa a quem deu o “malzinho”. Serão Nº 84 Letra – “Sem faltar uma letra”, quer dizer, tudo escrito ou dito com correcção que nem uma letra faltava. Levar a sanfona; Andar como uma sanfona – Andar numa rodilha Anda numa “dobadoira”, isto é, não se tem paragem; trabalha–se sem qualquer momento de sossego. Serão Nº 80 Levar gato por lebre”, cliente que foi enganado na qualidade de alguma coisa. Levar para tabaco – É o mesmo que “Ora toma!”. Quando a coisa não está bem, costumam dizer: “O diabo leve o diabo” e, muitas vezes, em vez de diabo dizem diabo, porque certas pessoas piedosas mas sem instrução religiosa dizem que é pecado pronunciar o nome do demónio. Tendo isto em vista, costumam dizer, em vez de “Diabo leve o diabo”, “o dianho leve o dianho”, “o dianho leve o diabo”, e “o diabo leve o dianho”. Serão Nº 80 Levar para trás na pavana – Ser vencido ou ficar sem razão nenhuma. Costuma–se empregar mais esta expressão para mostrar a derrota de um indivíduo com uma certa bazófia. Serão Nº 80 Levar uma vida airada”, ser licencioso, livre, fazer o que lhe apetece. Não fazer vida normal. Não ter leme. Liços – Fios entre duas travessas através das quais passa a urdidura que, elevando–se e descendo à passagem da lançadeira vai fabricando o tecido. Espécie de grande fio preso a duas canas, com uma série de nós que estabelecem o “programa” de todo o padrão que irá ser realizado. O seu número corresponde sempre ao número de pedais: mantas grandes quatro tipos; mantas simples levam dois tipos assim como as toalhas de linho. O liçado é a própria rede de nós que se dispõe consoante o tipo de trabalho que se deseja tecer. Também chamavam ao fio que atava a tripa do chouriço, fio de liço. Limpador – Depois do milho separado dos carunhos era limpo pelo limpador. O limpador chamava–se a um artefacto utilizado pelo lavrador para limpar o milho, através de uma roldana de ferro que posta a andar à volta mondava um eixo com umas penas que faziam vento caindo o milho de um trapézio aberto por trás (portinhola). O milho passava à peneira que
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andava de lado a lado e caía limpo em frente ao dito “limpador” no chão. Atrás caiam restos de carunhos e sobretudo a moinha que caía e era junta para encher travesseiros das camas. O milho levava outra secagem na eira antes de ser guardado nos celeiros. Muitas das espigas em vez de levarem uma secagem eram guardadas nos espigueiros ou sequeiros. Ali passavam uns meses e acabavam de secar e de alimentar. Muitas vezes era ambiente favorável aos ratos e também aos sapos. Limpadura – Limpeza. Limpar – Dar a segunda espadelada no linho, separando–o dos tomentos. Língua – “Pagar com língua de palmo” significa que pagou bem, pagou tudo e muito bem pago, sem dó nem piedade. Língua – Ter língua de palmo é ter espada afiada, fala muito e diz o que não deve. Não se cala. Lingueta – Uma peça com um eixo moída pelo trinqueta para cair ou levantar do gramilo de espera, o fixo. Linhaça – Semente do linho. Para semear e também serve para fazer óleo de linhaça, ou emplastros. Linhol – Barbante, fia dos foguetes antigos. Fio grosso, resultante da torção e torcedura de fios. Liso – Sem dinheiro. Lobo – “Meter–se na boca do lobo”, é quando a pessoa se mete com o inimigo, pondo–se em perigo; estar a falar mal de alguém que se aproxima. Loio (Mandar ao) – Ganhar todas as formas na posse dos adversários. O mesmo que “levar à Glória”, os parceiros do jogo. Serão Nº 88 Loja – Adega, onde o lavrador guardava o vinho, o azeite, os cereais, a salgadeira. Lonas – “Está nas lonas”, quer dizer que está sem dinheiro. Lopes – Modo simpático de falar do ânus. Lorbo – Gordo Lorvo – Diz–se do pão quando leve e fofo. Serão Nº 88 Lostra – Bofetada. Loubança – Louvor. Serão Nº 177 Lua – “Lua–de–mel”, a primeira lua depois do matrimónio é de mel (?) ou é presumível que, depois do casamento, os primeiros tempos sejam sempre de júbilo e de muita felicidade. Lucelinha – Luminária. Serão Nº 178 Lume – Fogo. Lumes prontos – Fósforos. Serão Nº 84
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Luvas – Peças que cobrem as mãos. Luzir – Brilhar. Má criação – Pessoa mal–educada. Macaca – Jogo mais para as meninas. Macacadas – Brincadeiras para rir, ou também de mau gosto. Macaco – “Para macaco, macaco e meio”, quer dizer que não vale a pena “a mim ninguém me leva”, não me leva a melhor. Vingança. Macacoa – Doença fácil e fácil de passar. Maçanetada – Levar com a maçaneta, espécie de martelo que bate de um lado ou de outro, isto é, tem dois batentes iguais. Mação – Maçã. Maçar – Pode ser o tirar da casca do linho. Maçarico – Novo no trabalho. Maçaroca – Quantidade de fio enrolado no fuso. Machadinha – Era uma pequena machada, para trazer à cintura e que tinha muitas finalidades. Machado – Instrumento constituído por uma cunha de ferro cortante num dos lados e, no outro, um buraco, onde encaixa um cabo de madeira. Serve para rachar madeira, ou árvores. Era o instrumento também dos antigos carrascos. Machear – Relações sexuais entre animais. Macho – Animal quadrúpede filho de burro e égua. Não é procriativo. Machucho – Pessoa rica e influente. Machudo – Finório, espertalhão. Maço – Espécie de martelo de madeira, um paralelepípedo de madeira com um cabo. Martelo. Mafarrico – Diabo Mafio – Cheirar à mafia, isto é, pão mal cozido ou mal fermentado que ao abrir vêem–se fios e cheira mal porque tem mafio. Magacia – Grandeza. Serão Nº 178 Magicar – Andar pensativo. Magote – Um grupo. Magricelas – Pessoa muito magra, físico para o magro fora do normal ou pessoa de poucas forças. Mais que magriço. Magusto – Merenda de castanhas assadas. Mai – Mãe. Malhadores – Utilizavam o malho para debulhar a espiga, ficando os carunhos ou os carolos, onde o grão estava preso e sob o carunho ficava o milho.
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Alguns carunhos ficavam com grãos e havia que fazer isso à mão. Eram as malhadas ocasião de ligar as pessoas em solidariedade, ajudando–se umas às outras, acabando sempre em festa. Para a malhada ser boa tinha de ser ritmada. Malhar – Cair, sovar ou bater com o milho ou o trigo com o malho. Malho – O Malho era um instrumento de trabalho com um cabo e na ponta um anel com uma correia de couro  a agarrar um bom e pesado pau de madeira de oliveira, castanho ou carvalho que cadenciadamente os malhadores davam nas espigas, em monte, na eira. Mangal. Malina – Mau cheiro, fedor. Mamar – Explorar. Mamata – Mamão, espertalhão. Manadas – Porções de linho em que se transformavam as mantas chegadas do engenho para espadelar. Manata – Janota, pessoa de boa posição, rico. Manda mais – O patrão é o que mais manda, é o manda mais. Manduca – Quem não come não manduca, isto é, não toma a comida. Manducar – Comer. Maneia–te – Anda trabalha rápido. Manel – Manuel. Manelo – Depois de sedado o linho é feito o maço em forma de algodão em rama. Maneta – “Mandar para o maneta” é o mesmo que dar cabo de algo, destruir alguém. Manéu – Manuel. Manga – Terreno alargado entre dois montes que serve para cultivar o pasto dos animais. Normalmente lugar de água e de corrente de ar. Leito de água, mãe de água. Mangano – O mesmo que magano, mariola e malandro. Mangedoura – Lugar onde era lançada a palha, o feno, a erva ou outros alimentos para os animais na corte. Uma manjedoura serviu de berço a Jesus e de cama para Maria dar à luz. Manjedoura ou Manjedoira. Manguito – Algo que fez sair o tiro pela culatra. Saiu ao contrário. Manjar – Troçar, comer. Manjedoura – Lugar onde era lançada a palha, o feno, a erva ou outros alimentos para os animais na corte. Uma manjedoura serviu de berço a Jesus e de cama para Maria dar à luz. Manjor – Maior, Major, Manjor localidade na Malásia. Deturpação, comer, comedor, para rimar manjor.
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Mano – Irmão. Manta – Pasta de linho macerado e parcialmente liberta de arestas, quando sai do engenho. Mantas de Gatenho – Rolos de tojo. Manto – Espécie de capa grande com cauda. Manualidade – Manejo. Serão Nº 177 Mãos – “Estar em boas mãos” quer dizer que está nas mãos da pessoa certa, competente, capaz de resolver o problema. Maquia – Uma porção de farinha que fica para pagamento do trabalho de moer o milho, ou outro.... Maralha – Gangue, multidão anónima Maranhado – Enredo, enredado. Maranhoso – O mesmo que marranhoso , algo intrigante, caminho tortuoso. Marar – Fugir, ver amarar. Marau – Espertalhão saloio, mania que é esperto, homem mau. Maridar – Juntar. Serão Nº 177 Mariola – Pessoa que faz coisas sem interesse. Mariquinhas – Maria. Mariquinhas – Uma senhora que se chama Maria, é a D. Maria. Marmanjo – Velhaco. Marosca – Tratantada, tramóia. Marouço – Tolo. Marouga – Depressão “Andar com a marouga”, é andar depressiva. Marrafas – O mesmo que recacho. Marranhoso – O mesmo que maranhoso, algo intrigante, caminho tortuoso. Marrano – Porco de engordar para abater. Marreco – É pequeno. “Homem pequeno fole de veneno”. Na região do Neiva usava–se muito “eco” como diminutivo em muitas palavras. Marta – “Bem canta Marta depois de farta”, de barriga cheia não falta cara alegre. Marlelos – O mesmo que girinos, cagópios. Ver cagópios Marujar – Chover pingas miúdas, tipo nevoeiro cerrado. Mascar – Abrir e fechar a boca, característicos dos ruminantes que mastigam depois de terem enchido a pança. Mascarra – Mancha. Mascato – Ave de grande envergadura que anuncia a presença do sorêlo e consequentemente da pescada que muito gosta de tal peixe. Ao mascato também chamam alcatrazes. Serão Nº 146
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Masgadeira –  Aparelho que esmaga as uvas para o lagar ou outro recipiente, como uma dorna. Esmagadeira. Masgar – Esmagar. Serão Nº 84 Masseira – Era como uma mesa que abria o tampo e havia um tabuleiro fundo o lugar onde era preparada a farinha, escaldada com água quente, amassada, com os braços e as mãos, espremida com as mãos. Depois era lançado o fermento que fazia levedar a massa. Depois de levedada era tirada massa para uma gamela e batida para lançar em forma oval sobre uma pá que levava ao forno. Também nos padeiros é um tabuleiro grande para conduzir o pão ao forno. Amassadeira. Mata – Bicho – Algo que era a primeira coisa que se bebia ou comia ao levantar, às vezes, no Verão, às 4 ou 5 da manhã para aproveitar a fresca da manhã para fazer trabalho mais duro no campo. Uma bebida por cálice pequeno de aguardente, aguardente com mel, jeropiga, aguardente com mel e canela antes da primeira refeição. Matalote – Pessoa grande, alta e forte. Matança – O tempo da matança era entre o mês de Novembro e Março, por ser a época mais fria... Era um tempo em que, em cada casa, havia sempre uma matança de um ou mais suínos. Era também este trabalho uma grande tarefa cheia de entreajuda da vizinhança ou da família. Era a carne guardada para o ano, mesmo sem frigorífico, em salgadeiras. Matar o Bicho” é quando alguém, pela manhã, antes de comer, ingere uma bebida alcoólica. Matilha – Conjunto de cães. Matinar – Tentar. Serão Nº 177 Mato – É uma vegetação que não tem outra vantagem a não ser servir de abrigo a espécies animais e a ninhos. Serve depois para o lavrador aproveitar para astrar as cortes do gado, fazer estrume e servir–se deste para adubar naturalmente os campos, as sementeiras. Hoje tudo ultrapassado pelos adubos artificiais. Matutar – Pensar. Maurga – Malga. Mazela – Defeito. Meada – Porção de fio enrolado no sarilho com o respectivo constado para não se tramarombrar. Formada no sarilho, desfeito na dobadoura. Passar a trama entre os fios da urdidura. Porção de fios das maçarocas colocadas no sarilho para serem fervidas com cinzas, batidas, lavadas, coradas e secas, depois colocadas na dobadoura para se transformarem em novelo. “Estás metido numa meada que não te safas”.
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Meão – É o centro do eixo que entra nas rodas do carro e mantém agarrado ao carro. Meca – O mesmo que o jogo da macaca. Meca – Jogo de rapazes. (Na maior parte de outras regiões é conhecido por Mêja – Mesa “Mancha” ou “Macaca”). Serão Nº 88 Meco – Jogo da malha ou meco. Meda – É um amontoado harmonioso de palha milha. Ao desfolhar o milho, fazem–se molhos de palha e um milheiro serve ele mesmo para atar o molho, ou então, aproveita–se azevém. Estes molhos põem–se a apanhar sol até ficarem bem secos. Depois fazem–se as medas e esta palha serve para os animais no tempo do inverno, do frio ou da neve. Medida (Primeira) – Devia ter nascido à linha, ou utilizado algum objecto de comparação. Medida à linha – Medida com precisão. Ainda me lembra de quando o lavrador emprestava pão a outro e este era medido à linha. No retorno tinha de corresponder à mesma linha em cruz. Agora seria a peso. Medida a olho – Ao calha, a olho, sem precisão. Medidas – Há medida, a metro, a peso da razão sobre a rasa, meia rasa, um quarto. Rasa – Um recipiente de medida cujo volume corresponde a 35 de largura, 35 de comprimento e 14 cm de altura. Medrar – Crescer, engordar. Mei dia – Meio–dia, Meia – Peça de vestuário com que se calçam os pés e as pernas. Meia Rasa – Metade de uma rasa; a medida é de 28,5 cmx28,5 cmx10cm com o peso em grão de 6,5 kg. Meidia – Meio–dia Meio por meio – Metade por metade, 50/50. Está a ser utilizado o estrangeirismo fifty – fifty. Caírá em desuso? Meio quarto – 1/8 de rasa, a medida de 17,5x17,5x7 cm. Meio–dia novo – Sempre às 13 horas com refeição (mudança da hora). Meio–dia velho – Sempre às 12horas com refeição (mudança da hora). Meja – Mesa. Melão – Fruto. “Por cima de melão, vinho de tostão”. Vinho fraco. Mena – Filomena, …. Menistro – Ministro Mente – Intenção. Serão Nº 178 Mercar – Comprar, daí o mercado.
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Merecente – Merecedor. Serão Nº 177 Merenda – Uma ligeira refeição pelo meio da tarde. Lanche. Mesas – Traves laterais do tear. Meter–se em casa”, muitas vezes significa fugir à realidade ou à responsabilidade. Metro – É a medida padrão existente em Paris numa liga que não está sujeita a contracções com o frio ou a dilatações com o calor. Corresponde a 1.000 milímetros. Mia – Maria. Micas – Maria. Migalhar – Migar, fazer miolo. Migalho Bocadinho – coisa muito pequena. “Isto é um migalho de gente”. Serão Nº 76 Migas – Pedaço de pão migado; sopa. Antigo pequeno almoço, água de unto ou água com pingue, alguns arrozeiros e, às vezes, acrescentavam uns pedaços de broa, ou miolo de broa, e, ao Domingo, umas sopas de trigo. Milho – Pertence, na biologia, à espécie das gramíneas com folhas lanceoladas. Há muita variedade de milho. É consumido, cozido ou assado. Produz a farinha que faz o pão e as famosas papas de sarrabulho, ou as papas de vinho doce, etc. Pode daí fazer–se álcool, xarope e óleo. A espiga escondida por brácteas verde–claras e (barbas de milho) que secam e dos quais antigamente se fazia também o “rapé” para fumar. Não só a barba de milho, como da folha mais interna e seca, próxima da espiga. No século XIII já havia milho no Minho, do latim millum. Cortar o milho impõe–se quando a espiga está acabada de medrar e começa a folha do milheiro a secar. Cortava–se o milho com muita festa. Servindo–me da foucinha, foi trabalho que muitas vezes fiz desde os meus oito anos. Milho–Rei – Há uma variadíssima quantidade de espécie de milhos. O melhorei não é mais que milho vermelho muito utilizado ou, pelo menos, aparece na nossa região, o que dá origem a certa satisfação e alegria, quando aparece uma espiga vermelha em centenas das desfolhadas. Miligrama – Corresponde à milésima parte do quilograma. Milímetro – Corresponde a um milésimo do metro. Minganas – Papas de farinha, minganças. Minhoca – Bicha para iscar o anzol. Minhoteiro – Pau. Mintideiro –  Mentiroso –(Brasil–mentideiro). Mirrar – Mingar, minguar.
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Misericórdia –  Dar o “golpe de misericórdia”, ou seja, foi posto o ponto final à vida terrena, ou o remate da obra, ou fim de uma dependência do álcool ou da droga, do vício. Misgada – Fisgada, pitada, olhadela com o olho meio fechado para parecer que não vê. Migar –  Misgar os olhos, espreitar. Mismo – Mesmo. Missa – “Não sabe da missa a meio”, isto é, não sabe nada do assunto ou muito pouco. Tem muito que aprender. Mistro – Fulminante de arma de carregar pela boca . “Tenho que ir comprar mistros prá raiuna”. Serão Nº 84 Miudezas – ver chileta. Mó – Pedra circular que gira e mói o grão. Moageiro – Moleiro. Moca – Levar porrada de alguém, à traição sobretudo na cabeça, crocada. Mochiscar – O mesmo que chiscar. Moço – Chavelhão do carro de bois. Moço – Chavelhão. Criado de servir. Moedinha – O nome dado ao jogo com moedas que se batiam na parede para cair num buraco. Moedura – Moagem. Moega – Era não só o recipiente que recebia o grão para moer no moinho, saindo por uma calha mas também o mesmo para, no limpador, com uma portinhola abrir e deixar cair o grão e ser limpo da moínha. Era também o nome que, em alguns lados, davam quando aplicado à masgadeira de moer as uvas. Moega – Peça do moinho onde se deita o grão e por onde sai pela calha. Moínha – É o pó que fica do milho limpo com que antigamente se enchiam os travesseiros e travesseiras. Usava–se para encher os travesseiros. Moinho – Era o modo mais prático do que aquele que era usado nos tempos primitivos. As mós romanas que moíam à mão. O moinho é movido a água de forma vertical ou horizontal. Moinho de Vento – Em vez de ser movido a água é movido a vento. Mojetes – Arco com estrias utilizado pelos fazedores de cordas. Molha–tolos – Chuva miudinha. Molhelha – Corda que ajusta a canga do gado ao cabeçalho do carro que puxa como uma espécie de almofada entre o cabeçalho e o cachaço ou o pescoço dos animais.
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Molhinhos – Fazem–se de feno, erva, de palha de milho, centeio, aveia, cevada, mato, vides e linho. Momelo – Rolo de estopa ou de lã formado pelas pastinhas que saem das cardas. Monco – Ranho. Secreções que saem pelas narinas. Mondar – Quando o milho já vai a crescer muito junto um do outro, o que está a mais vai–lhe comer o sustento da terra e o lavrador tem a tarefa de ordenar que seja mondado. Quer dizer que algumas ervas têm de ser arrancadas, quer seja no meio do milho, quer no meio de outros cereais. Monecras – Estará por meneca? Tem a mesma haste. Separada as flores femininas das masculinas. Monelha – Chumaço do carro preenchido com estopa, farrapos ou outra espécie de tecido ou algodão para ornar, defender, amolecer o choque da canga e dos cachaços e a base dos cornos dos animais. Corda que cinge a canga ao pescoço. Cabo que roda os mastros... Monelho – Rolo de estopa ou de lã formado pelas pastinhas que saem das cardas. Mongir – Mungir, tirar o leite às vacas. Mono – Algum resto de coisas que já ninguém as quer… Sem par, algo isolado. Montanha – Esperava–se um grande problema ou uma grande sorte e por fim só foi: “Uma montanha que pariu um rato”, não foi nada de especial. Montaria – Almotolia. Serão Nº 84 Morcão! – Pessoa palerma, parada, taciturna. Mordiscão – É o mesmo que beliscão. Morrão – Na maçaroca de milho aparece o tamorrão como batata negra ou acinzentada, doença do milho, um fungo. Mortalha   – O   papel que envolve o tabaco, o cigarro. Cinza do tabaco. Morte – “Já está a fazer tijolo”, quer dizer que já morreu e está sepultado. Mortinha (Farinha) – Bem moída. Serão Nº 84 Morto – Não tem onde cair de morto, isto quer dizer que é pobre, nem terra tem para o cobrir. Mosca – Jogo de rapazes. Serão Nº 88 Moscatel –Vinho licoroso, com grande com grande percentagem de uva moscatel. Mosto – Fruto da uva em fermentação e que liberta gás carbónico. Mostrengo – Pessoa mal amanhada. Mourão – Doença do milho, morrão. Mouro – “Andar mouro na costa” significa que anda entregue à sua sorte, ao acaso.
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Mucufo – As costas de uma faca. A lombada da mesma. Muda de côr – Tira as nódoas. Mudar a água às azeitonas – Urinar, mais de uso popular e masculino Mugir – A vaca ou o boi muge. Dar mugidos. É a sua voz. Mungir, ordenhar. Mula – Animal quadrúpede filho de cavalo e burra. É um animal híbrido. Mulina – Mau cheiro, fedor. Munto – Muito. Munuges – O mesmo que muges. Muquir – O mesmo que munquir, mastigar com a boca fechada. Murete –  Marco, um baixo muro, divisória. Murrão – Parte do cigarro que já ardeu. Murrinha – Doença contagiosa, moleza, preguiça. Chuva  miudinha. Murujar –  O mesmo que chuviscar, marujar, merujar. Musgar – Espiar. “A obrigação dos gatos é musgar os ratos”. (S. M. Portuzelo). Serão Nº 76 Na ponta da Unha – Afinado como deve ser. Naco – Um “naco de pão” é um pedaço de pão uma porção de pão algo grande. Não é uma bucha porque bucha pode ser algo mais simples. Também se for um naco pequeno é porque se pode dizer que é um naco avarento. Nairo/Nairinho – Suave, brando. Vento Nairinho – diz–se de uma brisa suave. Registe–se que este termo também tem sido usado, inclusivamente, para designar certa maneira de jogar futebol, tanto que até houve jogadores vianenses a quem serviu de crisma consagrador. Serão Nº 88 Namorar ou deshonrar ; Desflorar – Aquela moça já está namorada; namorou–a o filho do Sr. F.. Ou já está desonrada. Serão Nº 42 Nanar – Dormir. Nando – Fernando. Não há fome que não traga fartura.” – Isto é na fome às vezes a solidariedade  traz mais do que fazia falta. Não se prega a estômagos vazios.”, ou seja, primeiro dá–lhes de comer e depois fala–lhes. Nata – A fina flor. Navete – O mesmo que naveta ou objecto em forma de nave como aquela que leva o incenso na liturgia. Navios – Até “ficou a ver navios”, não conseguir aquilo que se pretende. Nebrinas – Tempo borrasca constituído intervaladamente por ventania e chuveiros. “Fazia nebrinas na barra” e foi por causa delas que naufragou o Rodolfo, veleiro vianês. Serão Nº 146
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Negócios – “Depois de negócio fechado não faltam compradores”. Negro – Está negro. “A fome é negra”, isto é, está mal, não vai bem. Luto. Nel – Manuel. Nemigo – Inimigo. Serão Nº 177 Néné – Manuel. Nenice – Meninice. Serão Nº 177 Nesgo – Curto, pequeno. Néu – Manuel. Neura – Andar triste, aborrecido, depressivo e, ao mesmo tempo, criando situações de conflito desnecessários, é “andar neura”. Neúu – Manuel. Nico – Quando o peão era lançado sobre outro dava–lhe uma nicada. Era o jogo do Nico. Nim – Nem. Ninho – Cama, casa. Nó – Laço apertado de extremidades de fios, fitas ou cordas. Há uma grande variedade de nós entre eles, o nó de tecedeira. Noiva – “Depois da noiva casada,  não lhe faltavam noivos”. Nôte – Noite. Nove – Ir a nove,  é ir depressa se o máximo for 10. Novelo – Bola de fios enrolados circularmente. Novo – Vinho ainda cru e com sabor a mosto. “Só por São Martinho se prova o vinho”. Nubes – Nuvens. Num – Não. Nun chei – Não sei. O caneco – Cântaro em folha–de–flandres. Com medidas diversas. A normal era de 20 litros. O Peso – Conteúdo volumétrico, um corpo, massa que é atraída pela gravidade da terra. O Zé – Era o povo entre as classes clero, nobreza e povo. Ó! – Interjeição de chamamento. Obnóxia – Servil, baralhado. Obrar – Para a criança é fazer cocó, para o adulto é o mesmo. Defecar. Obtuso – Confundido Oh q’isso! – Que estás a fazer! Olha agora! Admiração. Oh que caneco! – Exclamação aflitiva. Oh que caramba! Serão Nº 80 Oh teta e lume – Ora essa!
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Oh tio, tem lume – Ora essa, vá à casa que tem fume! Oh! – Interjeição de admiração ou pasmo, dor. Oi! – Primeira reacção ao que se acaba de ouvir de alguém, espanto, ou para indicar que se pede para repetir. Oio – Óleo, qualquer gordura. Olha palha – Toca a comer a palha. “Toca comer agora palha”. Olha se tens as costas largas” – isto é para levares uma boa desforra, ou desculpas apadrinhadas. Olhapalha – “Tocacomer agorápalha”. Olhar – O “olhar” era também o lugar da lareira, onde se punha a lenha para usar na cozinha. Era preciso estar com atenção, com os olhos em cima que não fosse “o diabo tecê–las e incendiar a casa com o lume aceso ao lado. Olhar – Sítio onde se coloca a lenha na cozinha. Olho – “ Tirar o olho à presa” de água era abrir a presa toda. Olho – por ânus. Olhos – “Deitar areia nos olhos” é querer esconder algo com uma peneira, ou o sol com a peneira. Olhos nos olhos” – É falar pela frente, pessoa a pessoa, pessoalmente, sem telefone. “Estar cheio até aos olhos “quer dizer que está farto do mesmo problema. Omolete – Não se fazem omeletes sem ovos, sem quebrar ovos. Ongir – Ungir. Ora Viva! – Saudação, aplauso. Orde – Ordem. Ordenhar – Mungir. Orgo – Orgão instrumento musical. Órgãos – Duas traves móveis onde se encontram respectivamente a teia ainda por trabalhar e o trabalho já tecido. Ornear – Zurrar. Serão Nº 84 Oubiar – Uivar de lobos; falar sem nexo: “Que estás tu p’raí a oubiar?”. Também se emprega a forma ubiar. Serão Nº 76 Ouh!.. – Para vaquinha! Parar os bois. Ourela – Margem, orla lateral da peça de tecido, onde se fixa, no tear, o tempereiro (os dentes). Espaço situado no contorno externo imediato de algo. Ourelo – Esperteza, atenção. “É preciso ourelo” quer dizer: é preciso cuidado. Serão Nº 88 Ourentação – Orientação. Serão Nº 177 Ouro – “Nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo que brilha é prata”, o que significa que se não deve fiar nas aparências.
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Ouvidos – “Fazer ouvidos de mercador” porque não queres ouvir o que não te agrada. Ouvisto – Ouvido. P´reira – Pereira árvore cujo fruto é a pera. Pá – Em madeira para amassar ou escaldar a farinha. Em ferro para rapar a maceira. Utensílio de madeira com uma vara grande e terminada em forma cilíndrica e laminosa larga para levar a massa ao forno para fazer as broas ou os bolos, conforme os gostos dividido em lâminas, composto de lâminas. Pacá – P’ra cá. Pachochada – Conversa sem fundamento Pachorra – Paciência demasiada. Padieira – A parte superior de uma porta. Padiola – Espécie de tabuleiro que dois varais, um de cada lado, que se estendem para além do mesmo e onde duas pessoas possam pegar com as mãos e que serve para transporte de qualquer coisa que o agricultor precisa. É como se fosse uma maca para levar doentes. Padricar – Apadrinhar. Serão Nº 177 Padrinho – Ter padrinhos é ter sombras, costas protegidas, pedidos, amigos ou subornos que resolvem os problemas. Pagar – “Há–de pagá–las!”, isto é, vai chegar a ocasião em que vai ser feita justiça, ainda que seja a de Fafe, ou com língua de palmo. Pagar a carta – Dizia–se dos jovens que quisessem entrar numa aldeia para namorar. Pagode – Reinação, povo. Paióra – Vagarosa. Pairar – Parado, à espera de oportunidade, aguardar ocasião Pairas – Párias. Paisana – Vestido sem farda oficial Palá – P’ra lá. Palavrão – Palavra que é obscena, fora do contexto. Paleio – Muita conversa, muito falador. Palha – “Por dá cá aquela palha”, isto é, por qualquer pretexto se levanta uma discussão, uma confusão, uma colisão relacional. Também “todo o burro come palha, a questão é saber dá–la”. Palha que já foi – bosta,  excremento das vacas ou dos bois utilizada para tapar a porta ao forno na cozedura do pão. Palhada – Mistura de erva com palha para alimentar o gado, usada pelo lavrador.
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Palheiro – O palheiro é também monte de lixo, aglomerado ou monturo de palha de centeio, aveia, azevém que é colocado sobre um estrado para que a água não apodreça a palha que, depois de bem seca, foi lançada cada vez mais para o alto em estilo de “cebola” voltada ao contrário à volta de uma vara que depois leva em espécie de tampão (por exemplo, num cântaro de barro) para a água das chuvas não entrarem dentro da palha e correr por ele abaixo. Erva da família das gramíneas. Palheta – Paleio, uma boa língua para falar Palhete – Vinho muito descolorido, água–pé, vinho tinto com pouca cor. Paloicha – Pouco esperta Pampilhos– Chamam às flores mal–me–queres  pampilhos. Panal – O panal é o nome dado a um grande pano, com alguma resistência, que se estende sob as oliveiras para que a azeitona caia nele e seja assim fácil de juntar no fim. O pano era resistente como o das velas de um moinho de vento ou de um barco. Panasco – Homem que é meio tolo. Pessoa estúpida. Panasquice – Asneira, marotice. Pança – Barriga Pançudo – O que tem um estômago grande,sobressaido (pança) e barriga grande. Pandilheiro – As volantes têm, na parte inferior uns chicotes armados em seio onde se prendem as pedras que mantém a rede afundada. A esses chicotes ou amarrilho dá–se o nome de pandilheiros. “Pandilheira à rede!” é, por vezes, a voz do arrais, indicando ao moço que tem de preparar uma pedra para imediatamente colocar no sítio onde ela falta por qualquer motivo. Serão Nº 146 Pandorca – Mal trajada. Panelo – Uma panela de barro. Paninhos do Senhor – As alfaias usadas na Eucaristia pelo sacerdote, sobre o altar: sanguíneos, pala, corporal, manutérgio. Devem ser esses nomes por servirem o Senhor na Eucaristia. Pano – Sinais no rosto próprios das grávidas Pantanas – Tudo fora do sítio, desfeito. Pantomina – Algo que se diz, mas sem valor ou uma história para enganar. Pantufas – Pequenos sapatos para usar dentro de casa. Papa–açordas – palerma. Papão – Palavra usada para pôr medo às crianças. Paparico – meiguice
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Papéis – É como “andar aos papéis”, aquele que remexe os caixotes do lixo de noite, ou ver–se em dificuldades de qualquer origem. Parangonas – Letras grandes, letreiro de dimensões fora do normal. Parasita – “És um parasita”, isto é, vives à custa dos outros. Parcimónia – Lentidão, sem pressa, cerimónia. Pardal – Indivíduo esperto ou com astúcia Parece que anda mouro na costa”, isto é, há qualquer coisa que se deve descobrir porque parece algo que está escondido ou também se diz “há gato com o rabo de fora”. Párias – Placenta e anexos expulsos depois no parto. Parlapiar – Falar. Parra – Muito paleio sem sumo. Videira. Parréca – Pequena. Partes – Órgãos íntimos, órgãos moles, genitais. Partidista – Partidário. Serão Nº 177 Partir a cara – Trata–se duma força de expressão, muito em voga. Serão Nº 102 Parva – Palerma, só faz asneiras. Parvónia – Um nome dado a uma freguesia pequena, longínqua e do interior. Terra onde se nasce, aldeia. Pascácio – O mesmo que pacóvio, pessoa meia lorpa. Passar – Morrer. Passar as passas do Algarve, isto é, foi algo custoso, duro. Passarão – Pessoa manhosa. Pássaro – “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, agarra o pouco, que logo podes não ter nada. Daí também o ditado: “quem tudo quer, tudo perde”. Passejar – Passear, dar passadas andando. Pasta – O mesmo que dinheiro. Aquela pessoa é pessoa de pasta, isto é, é rica. Pata – “Meteu a pata na poça”, porque se enganou, meteu–se onde não devia. Pataca – Pataco, dinheiro de pouco valor. Pataco – “Andar sem pataco” é andar sem moeda, sem dinheiro. Patacoadas – Disparates Patavina – Não sabe nada do que se lhe diz: “tu não sabes patavina disso”. Pateira – O mesmo que pateta. Patela – Jogo da malha. Patranha – Mentira. Patuá – Muita conversa.
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Patusco – Extravagante ou brincalhão. Pau da Ordem – Era o pau que se entregava ao rapaz que pagasse a carta e da roda do vinho com o respetivo papel e o símbolo de uma chave. Paúlo – Paul. Paveca – Mouta ou paveia. Paveia – Molho de erva. Pavona – Mulher apavonada, inchada como um pavão. Paxura – Pássaro. Pé – “Dar um tiro no pé”. Ao querer fazer algo para atingir alguém, deu nele mesmo. Vira–se o feitiço contra o feiticeiro. Quer dizer um objectivo não atingido e com reverso. Pé de cabra – Um ferro para levantar pedras ou penetrar em algo duro para se remover. Esse ferro terminava em duas unhas afiadas para dar/ir ao fundo das peças. Pé do moinho – Grande pedra redonda onde gira a mó. Peanha – Peça de tear onde a tecedeira assenta os pés para fazer subir e descer os liços. Também há as peanhas para colocar as imagens ou outros objectos. Peanhas ou Pedonis – Peça de tear onde a tecedeira assenta os pés para fazer subir e descer os liços. Pêbeda – não vale nada, peva Pechisbeque – A algo sem valor, pessoa pequena, pessoa que se julga importante. É utilizado na linguagem popular para designar uma criança que já quer ser grande, ou tem atitudes própria de adultos. “ Olha aquele pechisbeque”. Peçós – (Peçonhosa) Fios da urdidura que ficam sem trama no fim da teia, usados para coser, alinhar, alinhavar, ou fazer torcidas. Fios entrosados que se aproveitam ou se deitam fora. Pedais – Há pedais de muitas coisas e estes pedais são os de tear, onde os pés agem para pôr o tear a tecer. Pedraço – Granizo Pedrês – Galinha preta e branca. Pedro – Chouriço de uma só peça de carne ou lombo enfiado no intestino grosso ou perto do Anus… Pega–ladrão – Seria outro ferrolho, uma corrente que corre um suporte fixo à ombreia da porta ou à folha fixa para abrir apenas o suficiente para reconhecimento de quem bate ou chama à porta. Peitoril – Soleira da janela, ou parte inferior da janela onde quem se debruça encosta os peitos. Também chamado parapeitos.
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Pejadoiro – Tábua por cima do rodízio que não deixa baixar a água nas penas (tirar a pujanças – força da água). Levanta ou baixa a mó para que a farinha seja mais moída ou menos moída. Pêla – Pela. Peladela – Queimadela (Queimadura). Pelegrino – Peregrino. Pregrino – Peregrino. Peligar – Implicar. Pelintra – Pobrete. Pêlo – “Ter pêlo nas bentas”, isto é, de barba rija, mulher com força, frontal. Pelote – O mesmo que nu. Pelotense – Vestuário antigo de grandes abas, pelote, nu. Pelotes – Peça de vestuário como um casaco fechado usado pelos joelhos. Penas – Peças que fazem parte do rodízio, do moinho; têm forma de concha para melhor receber a força da água e movimentar o rodízio. Pendão – É como a bandeira de um campo com milho. O milheiro cresce e, para além da espiga que dá o fruto, fica–lhe muito acima a flor que cresce bem alto dando a impressão de um fruto anunciado com uma bandeira a que o povo chama pendão. Pendão quer dizer estandarte que vai à frente das procissões, o guião. O lavrador, depois da espiga estar medrada, corta o pendão, não só para dar mais força à espiga, como para servir de alimento para os animais. Penduras – Colchas penduradas. Serão Nº 178 Peneira – Objecto separador de forma redonda normalmente. A do limpador era de forma quadrada ou rectangular. Chamava–se o ato de peneirar, passar pela peneira. Assim se separavam o que não prestava do que se devia aproveitar. Peneira do Feijão – Objecto para peneirar o feijão com buracos mais largos para que caíssem as areias. Quem diz o feijão, outro legume qualquer. Peneira fina – Peneirar a farinha para separar o farelo ou outro objeto estranho, por isso tinha buracos fininhos de separadores sólidos de líquidos. Peniche – Os “amigos de Peniche serão traiçoeiros”, isto é, prometem e faltam com traição. Tu “és amigo de Peniche” quando és falso e perigoso. Pente – Caixilho com aberturas (fendas) por onde passam os fios da teia. Penteador – Lugar onde se penteia o cabelo ou o pano que os barbeiros usam para pôr sobre os ombros no corte do cabelo. Pequeno–almoço – Era a refeição das Migas antigamente ou caldo de unto. Pequerrucho – Muito pequeno.
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Pêras – “A pêra quer vinho, assim o quer o passarinho, o pêssego, sobretudo, se comeres muito”. Perder – “Quem tudo quer tudo perde”. É bem verdade que no perder muitas vezes está o ganho e no ganho muitas vezes está uma perca. “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, também se diz. Perra – “Porta está perra”, isto é, move–se com dificuldade precisa de óleo nas dobradiças ou inchou se é de madeira ou dilatou pelo calor e prega no chão. Perre e Outeiro – “Aí vem Perre e Outeiro”, o mesmo que uma multidão de pessoas. Perrice – Amuo ou raiva, perrar. Pertunhas – Algo perturbável. Peru – Mais raro. É o macho da Perua. Veio da América. Maior porte, mais corpulento que as galinhas ou os galos. Mais penas e mais coloridas. Cuidado com “o pareces um peru” que quer dizer que é alguém orgulhoso, emproado, presumido. Pés – “A pés juntos”, isto é, com firmeza. Pesar figos – Dormir de pé, sentado...hora de trabalho. Estar a dormitar. Peso– Pequena pedra pendorada nos liços para os manter direitos enquanto se tece. Peso – O que pesa, prata, ouro… Algo, massa que é atraída pela gravidade da terra. Pesos das balanças – decimais: 5Kg – peça de ferro e chumbo para colocar nas respetivas balanças decimais. 2Kg – Peça de ferro com chumbo que na balança decimal correspondia a 20Kgs.1Kg – peça de ferro com chumbo que colocada na balança correspondia a 10kgs. Quinhentos gramas – Peça de ferro e chumbo que corresponde a 5kgs. Duzentos e cinquenta gramas – 2,5Kg. 100 Gramas – 1Kgs. Franza – Pestana. Pestanas – “Já tem as pestanas queimadas” significa ter muitos anos de experiência. Ter trabalhado muito, ter estudado muito. Peste – Alguém demasiado bom (com ironia a maior parte das vezes). Pestinha – Bonzinho Petim – Toro de pão usado muito para rabanadas e para os padrinhos antigamente darem de folar aos afilhados. Peva – Morta Pião – Jogo muito usado pelos rapazes. Picado – Alguém que foi molestado, que se irritou com alguma conversa deselegante.
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Picar – Tocar o sino para atos religiosos. Picar com uma badalada no fim de uma pausa significa a primeira vez. Com duas badaladas, a segunda vez. E só com três para informar que o ato estava a começar. Pichel – Aos antigos copos, com asa, de estanho (que precederam os copos de vidro e até os de louça exatamente do mesmo formato) chamavam–lhes picheis. Deviam ter desaparecido há séculos do número dos nossos utensílios caseiros. Mas ficou o nome Pichêlo, para indicar uma vasilha quase imprestável e pichelada, indicativa de qualquer comida mal preparada e vinda para a mesa menos decentemente. Pichêlo era a alcunha de um antigo sacristão da matriz, há muitos anos falecido, figura muito característica que mereceu a honra de ser retratado por mestre Joaquim Lopes quando aqui esteve em 1940. Serão Nº 83 Pichelo – Recipiente pequeno, geralmente de barro. Serão Nº 84 Pichelos – O mesmo que pichelos, dependendo da região. A “rainha dos pichelos” era a bruxa, praticava atos de bruxaria. Era conhecida uma de Viana ou trabalhava em Viana? Pifar – Acabar; perder utilidade. Pifar – Roubar. Falhar! Serão Nº 76 Pífaros – Era um objecto de barro talvez com 12 a 15 cm para apitar; brinquedo antigo das crianças feito normalmente em cerâmica. Pigarro – É o chavelhão que se encontra ao centro no inferior do cabeçalho, fora da mesa do carro, onde o carro pode ficar em descanso defendendo a biqueira, a ponta da frente. Pijadoiro – Tábua usada no moinho por cima do rodízio que não deixa baixar a água nas penas (tirar a pujanças – força da água). Levanta ou baixa a mó para que a farinha seja mais moída ou menos moída, mais grossa ou mais fina. Pilhar – Roubar. Pilhar – Apanhar. Roubar! Serão Nº 177 Pilhas – Podem ser de mato, rimas de “postas de mato” mas sobre as outras num grande montão, ou também de palha, ou estrume, adubo natural. Também se chamam pilhas a cargas com energia que são feitas de metais sobrepostos, onde há transferência de energia entre os pólos. As pilhas de mato que se faziam para estrar o gado no inverno. Pilheiro – Em algumas regiões, esta palavra significava uma espécie de balcão de pedra sobre ou por trás da lareira e a cova do borralheiro. Serve de poiso de algo quando necessário. Pilheiro era também a pilha de lenha. Pinchos – Aparelho de congro, pargo, cabre, etc. Serão Nº 146
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Pinga – Golo ou um copo de vinho… Pingão – És um chorão. “Estás pingão”, com pingo no nariz. Pingarelho – “Armar ao pingarelho” é comum ouvir–se para significar que não corresponde à realidade ou pretende chegar onde não pode.  Algo que parece cair, pelintra. Pingona – mulher mal vestida Pingue – São gorduras, de porco, banhas cozidas, ficando como uma pasta mole e branca e guardava–se para todo o ano. Para além disso serviam para preservar rojões para uns meses. Pinguilhar – Insistir com um hipotético problema, levantar mais problemas. Pinta – Utilizada para designar uma identidade: “ Tirei–o pela pinta” , ou seja, reconheci–o pelos sinais do rosto, semelhança. Pintar a cara – A Polícia, quando utiliza as mangueiras para dispersar os motins, as caras ficam pintadas para os devidos efeitos. Carnaval! Serão Nº 102 Piorreta – Pequeno pião de mesa com quatro faces para jogar–tira, põe, deixa  e rapa. Pipa – É um recipiente bojudo de madeira ou inox para líquidos sobretudo vinho. Era feita de aduelas. Normalmente era usada nas adegas deitadas com um furo pelo lado de cima com cerca de 4 cm de diâmetro e era tapado com o batoque. Servia este furo para colocar o funil e lançar com o caneco o vinho na pipa. No final era tapado com o batoque, de madeira ou cortiça envolvido em pano ou estopa. Pelo lado da frente levava também um outro furo para retirar o vinho, onde era metida uma torneira quando o lavrador achava que chegava a hora de encetar aquela pipa a cerca de 5 cm da aduela do fundo devido ao acento. Ao centro levava também um furo de 0,5 a 0,7 mm que era tapado com estopa ou metido um espicho. A pipa levava normalmente 500 litros. Piparote – Pontapé. Pipo – Era a mesma coisa, só que levava menos quantidade, 250 litros por exemplo, 100, 50, 20 litros. Piqueno – Pequeno Pirafitos – Eram os antigos pífaros de barro. Ainda existem na zona de Barcelos artesãos que fazem pirafitos de barro. Pirar–se – Fugir, desaparecer. Pirata – Avarento. Piro  – Salto, fuga, fogo. Piroga – Era um barco estreito e comprido, mas que antigamente era feito de um tronco de árvore.
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Pirtego – Ligação do mangual do malho ao respectivo cabo. Serão Nº 84 Pírula  – Pílula. Pisada – Na lavoura chamam–lhe a pisada das uvas para dar mais cor ao vinho... Pisco – “É um pisco a comer”, quer dizer que nem tudo lhe serve para se abastecer. Come muito pouco. Pistolete – Pistola pequena. Pitada – Pequena porção. Pitos – O mesmo que pintos, filhotes das galinhas. Piuço – Furoso Pivete – Mau cheiro, odores desagradáveis. Pocilga – Lugar onde se criam porcos. Podar – Cortar os ramos das árvores ou das videiras, aparar folhas ou ramos. Do latim “putare”, purificar. Cortar os ramos que não interessam e estão a mais…não deixam desenvolver, medrar, convenientemente os frutos. Podente – Poderoso. Serão Nº 177 Poio – Monte  formado por excremento. Poiso – Mó estática que fica por baixo da mó dinâmica do moinho. Local impercetível onde a família de casa guardava a chave de casa e esta estivesse à mão de todos, podia ser buraco numa parede. Pola – Ramo de arbusto. Serão Nº 76 Poldras – Égua nova; pedras de pé a pé em caminhos lamacentos. Passadeiras por meio de água ou lama. Pombinhas – Outro nome dado as peças de madeira onde no tear, se colocam os Corretos. Pondão – O mesmo que pendão. Ponteira do Milho – A mesma coisa que pendão. Pontos – “Pôr os pontos nos is” é pôr tudo esclarecido. Se faltar qualquer ponto não é i, porque i não se escreve sem levar um ponto em cima. Pópó, pipi – Ainda hoje nós apitamos o carro numa estrada estreita com curvas e contra–curvas pri–pri (ou pró–pró) parece dizer cuidado! “Eu vou aqui”, cautela ou “eu vou e não vou só”. Pôr as mãos no fogo” –  é provar a razão do que afirmamos, é ter a certeza. Por môr de – Por causa de. Por pé – Perto de ou ao pé de... Pôr uma pessoa nos cornos da lua” –  é enaltecê–la demasiado, isto é, colocá– la em alto posto, louvá–la em excesso. Porcalhão – Pessoa mal asseada, sujo, porco.
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Porco – Suíno. Animal mamífero e doméstico, (de dois dedos em cada um dos quatro membros, 2 posteriores e 2 anteriores e uma unha em cada dedo) que o lavrador criava e servia de base da alimentação, conservando as suas carnes com condimentos em salgadeira, isto é, uma caixa de pedra ou de madeira que levava as camadas de carnes e sal como elemento conservador. O porco era alimentado sobretudo com lavaduras ou couves ou marinhas escaldadas em água. Os restos da comida da casa alimentavam também os cães, os gatos, as galinhas...Não havia casa de lavrador sem um cortelho destinado à criação de um ou mais porcos com os restos de comida ou a lavadura feita com couves, farinhas e água. Porco de cobrição – Berrão, a mesma coisa que se disse do boi. Porco–bravo – É o mesmo tipo de porco, mas não domesticado e do monte que se alimenta do que apanhas ainda que seja da plantação ou frutos que encontra nos campos quando desce do monte para o vale. Este porco é mais magro e a carne menos gordurosa. É um bom petisco Porcos – “Deitar pérolas a porcos” é fazer bem a quem não merece. Pormôr de – Por causa de… Porquice – Porcaria. Porta – “Porta sim, porta não”. Alternando, porta a porta, ou porta sim e porta não. Vai–se a uma e passa–se à frente outra. Porta do Forno – O forno era fechado com uma abertura e a porta era fechada e lacrada, para que o calor não saísse do forno, com bosta de vaca ou de boi. Na Serra d’Arga havia uma contra porta que podia ser de madeira ou xisto e tinha um buraco ao centro para poder espreitar e ver se o pão estava ou não já cozido. Portal – Porta de madeira de uma quinta. Portão – Porta de ferro de entrada de uma quinta. Portas adentr – Isto é, o que fica em todo o espaço ou recinto fechado. Portinhola – Uma porta pequena; era a porta da charrete, do coche, armário, adegas (nos tonéis), etc.… Posta – Pequena porção. Parte de uma grande unidade. Postigo – Janela pequena nas portas de casa. Uma abertura de ar para zonas fechadas. Também gateiras por onde os gatos passavam entrando e saindo para esses espaços. Posto – É um lugar onde se guardava a chave de casa do conhecimento da família. Pote – Vaso de ferro fundido de duas asas junto à boca e três pernas no jeito de tripeça. Neles se cozinhava e se fervia a água para gamelas, comida
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do gado e preparo da massa da fornada (escaldar a farinha da cozedura). Pessoa baixa e gorda. Pranchada – É o fio programado do tear segundo o padrão escolhido para peças de mantas grandes ou simples e toalhas. Pranta – Couve tronchuda. “Traz–me da feira para plantar: – Meio cento de couves lombardas; – Um quarteirão de repolho; – Meio cento de pranta e etc.” Serão Nº 42 Prantar – Plantar. Prata – Dinheiro. Sinal de riqueza. Prato – “Comemos do mesmo prato”, isto é, há familiaridade. Precurar – Procurar. Serão Nº 177 Pregão – Anúncio público. Pregar o cão – É deixar algo por pagar, é fazer um calote. Pregar uma rebendita ou Fazer uma rebendita – Fazer uma coisa por vingança. “Fulano vingou–se de ti, então, vinga–te tu dele, em rebendita”. Serão Nº 80 Prego – “Dar ao prego”, quer dizer, abrir falência. Arrumar com as coisas dependurando–as num prego. Prensa – Aparelho que comprime, espreme a baga da uva e a grainha depois de ter fermentado. Presa – Espécie de tanque muito grande onde se juntava a água para regar. Um lago artificial para rega. Lago artificial de água para rega, animal caçado. Pressura – Sarapatel com arroz, isto é, uma mistura com miudezas de órgãos de animais como rins, fígado e sangue. Presunto – “O presunto velho tem que ver o novo”, isto é, tinha de dar para um ano. Agora não faz falta. Preto – “Preto no branco” é assinar ou escrever e assinar algum documento de compromisso. Prôa – Vaidade Probe – Pobre. Procissão – “A procissão vai na rua”, então tem de chegar ao fim, não se desiste. Também se diz de algo que não está tudo sabido e mais se descobrirá no futuro. Promessa – “Prometer mundos e fundos” significa oferecer ou prometer tudo, sem cumprir nada. Prova de vinho – A prova de vinho era feita na loja (adega) do lavrador com uma tigela vidrada e o vinho tinha mais álcool ou menos. Provar – Ver se gosta ou não de algo. Prove – Pobre.
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Pruma – Caruma, garvalha. Puchelos – O mesmo que pichelos que eram postos nos cruzamentos dos caminhos em número de quatro. O melhor era sempre dar um pontapé nos Puchelos ou Pichelos. Como se fosse coisa que não interessa, não presta. Só assim se vence o feitiço ou o bruxedo. O mesmo que pichelos, dependendo da região. A “rainha dos pichelos” era uma bruxa, praticava actos de bruxaria. Era conhecida uma de Viana ou trabalhava em Viana? Pudera! – Desejo e também desprezo, algo sem novidade, tinha de ser. Pujança – A mesma coisa que o Pijadouro no moinho. Esta peça era puxada ou descida por um arame que chegava quase às moegas. Fartura. Pule, pule, pule – Era uma outra linguagem utilizada para chamar o mesmo “vivo”, as galinhas. Deve ter influência francesa, de poule? Em quase todas as línguas germânicas e eslavas “pull” é puxar. Pulinha – Era usado conforme as regiões para chamar os gatinhos. Pulso de uma cana! – Homem valente. Aos ossos do antebraço chamam canas. E dizem que os homens de muita força os têm reunidos num osso só. Serão Nº 80 Puque – Porque. Puto – Rapaz pequeno. Puxa! – Interjeição de impaciência. Puxente – Pujante. Serão Nº 178 Quarteirão – Um quarto da medida. Também se diz de um espaço cercado por todos os lados, por ruas. Quartilho – Um quarto do litro. Quarto de rasa – 1/4 do volume de uma rasa. Quedulo? (Que é de ulo?) – Onde está ele? (Havia em Outeiro um indivíduo que tinha alcunha de Tio Quêdulo). Serão Nº 84 Quêdulo? Onde está ele? – Quêdulo emprega–se apenas com referência a pessoas. Manuel de Boaventura, no seu livro Zé do Telhado no Minho, emprega a forma CADULO. Serão Nº 82 Queixo – Queijo. Queixa – Peça onde se encaixa o Pente. Serve para bater cada volta de fio na teia de encontro ao já tecido de forma a mantê–lo apertado. Queixas – Travessas de madeira que seguiram entre si superior e inferiormente os dentes do pente do tear. Quejo – Queijo. Quem de novo não morre, de velho não escapa. Quererdes – O mesmo que quiserdes.
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Queto – Quieto. Quiá – Linguagem para chamar as galinhas: Quiá! Quiá! Quiá! Que há. Quilograma – 1000 gramas. É um quilo. Quilolitro – Correspondente a 1000 litros. Quilómetro – Corresponde a 1000 metros (1.000.000mm). Quinhão – Uma parte de um todo. A parte que toca a cada pessoa, feita a divisão de um todo na partilha. Quinhas – Maria. Quintal – Pequena propriedade com jardim e horta junto das casas de moradia, onde aparece a eira, o espigueiro e talvez a estrumeira já mais antiga, onde eram lançadas as águas sujas e outros restos da casa, o local do lixo. Quinteiro – Não é só o indivíduo que guarda uma quinta (terreno) ou trata dela como caseiro. Local onde se junta o mato, folhas para adubo ou para servir antes de cama aos animais, “astrar o gado”, ou ainda o hall da corte do “vivo” (isto é, dos animais domésticos). Quitanga – O mesmo que traila. As coisas da feira. Quites – Estamos arrumados. Quito –  Assunto resolvido. Problema acabado, ponto final. Quite. Rabadilha – Parte da carga de um carro de bois que excede em comprimento o recadém. Serão Nº 42 Rabiça – Cada um dos dois braços de um arado. Também lhe chamam rabela. Rabicho – Animal sem rabo. Rabo – Rabo–de–palha é o mesmo que ter algo semelhante a mel. É preciso ter cuidado quando se “aponta o dedo” ou acusa alguém sem olhar primeiro para si próprio, porque pode ter “rabos–de–palha”, isto é, não tenha os mesmos erros escondidos. Rabos–de–palha – Uma pessoa que não tem por onde se pegar. É verdadeira. Às vezes há disparates, falsidades que se escondem e que um dia se podem descobrir. São os rabos–de–palha. Racha – Lasca de bacalhau cru, ou presunto, utilizado nas casas dos lavradores para puxavantes de vinho. Serão Nº 76 Rachão – Bruto. Serão Nº 84 Rachão – Para utilizar nos fogões, compra–se lenha em rachões. Cortam–se os troncos de pinheiro em secções de cerca de meio metro e cada uma destas secções racham–se em quatro. Cada uma destas partes chama–se rachões. Serão Nº 76 Rafeiro – Cão de guarda. Raia – A raia, quando calha de ser amarrada, pelo anzol, dá ao pescador a ilusão de que a linha se prendeu a uma pedra do fundo. Serão Nº 146
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Ramalho – Ramo. Serão Nº 177 Ramo ou Raminho – Hemiplegia. “Vossemecê que teve? –Deu–me o raminho...” Serão Nº 82 Ranhoso – O que anda com ranho ou pouco apresentado. Ranilha – Parte traseira do carro. Rasa – Um recipiente de medida com o peso de 13Kgs de grão ou cereais. Estes 13Kgs dão cerca de 12 Kgs de farinha. As medidas interiores são 28,5 cm 28,5x10 cm. Rasca – Não presta. Pessoa duvidosa. Raso – O mesmo que cheio. Rastelo – O mesmo que restelo, ver sedeiro. Instrumento para limpar ou separar o linho da estopa. Rato – Gatuno, ladrão. Também tem significação de esperteza, “Fino como um rato”. “É esperto como um rato”, é que estes são difíceis de apanhar. Razão – Nome dado ao rolo que corria sobre as abas laterais das medidas da rasa, meia rasa. Rebendita – Revindita ou vingança Rêbo – Pedra grande, mas transportável. Serão Nº 76 Recabem – O mesmo que traseiro ou nádegas. No caso do lavrador refere–se ao traseiro do carro. O carro levantado ao alto podia ficar em descanso “sentado” no recavem, isto é, no traseiro o fim do cabeçalho, da maca, encravado pela travessa que une estas às chedas. Parte posterior do carro de bois. Recavem. Recacho – Um pouco de cabelo caído  pela testa. Recadém – Terço posterior do carro de bois. Serão Nº 42 Re–chéu–chéu – Reprimenda. Reco – Porco. Reco–reco – Modo de chamar o porco. Refinar (Refilar) – Resmungar. Regadio – Zona húmida com muita água à volta ou perto. Pode haver várias penas de água que regam estes terrenos. Regador – Objecto utilizado para muitos fins, feito de folha–de–flandres, como um caneco com um pescoço antes da gargantilha e um ralo (ou raro) por onde passa a água sem ser de enxurro (enxurrada), mas como de chuva miúda e rara. Regar – É o acto de encaminhar água para dar humidade aos terrenos de cultivo, às plantas; ou também se rega a roupa quando está a corar ao sol para não secar sem primeiro tirar bem a nódoa pela acção de sabão e do sol ou
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da luz do dia e lavá–la de novo no tanque para a colorar na secagem. Há quem regue, neste caso com o regador ou uma espalhadora. “Olha que estás a regar”, isto é, “estás a mentir”. Regato – Rego de água. Rego – Fissura no terreno onde correm as águas bravas. Mais comum: água de rega, por isso o rego pode estar seco e sem água. Enxurreirra, o mesmo que enxurdeira. Regueira ou Regueiro – É o canal natural ou artificial em granito para condução das águas do açude ao moinho. Reguila – Esperto, refilão. Reima – A humidade na salgadeira. Reimoso – Popularmente se usa para as carnes gordas, carnes de porco, chouriços, ou chouriços que apanham fumo e antigamente duravam por muito tempo. Conservação através do fumo, do sal e de condimentos. Tudo isto reima e quando até essas carnes estão no fumeiro e começou a pingar o povo diz que estão a “reimar” e aconselham a não apanharem com uma dessas pingas na cabeça que faz cair o cabelo. Reira – Dor lombar junto aos rins. Há locais onde as juntas de gado estão a puxar mal porque costumavam puxar do lado direito ou do lado esquerdo e se algum dia, os trocavam, costumavam puxar mal porque “estavam com a reira”, isto é, estavam a fazer esforços que não estavam habituados, estão trocados os hábitos. Reito – Reto. Serão Nº 177 Relhas – Peça do arado que à frente perfura e levanta o solo. Normalmente é uma peça de ferro. À frente do arado facilita o trabalho às aivecas do margidouro, ou da aiveca do arado que vira a leiva. Peças que fazem barulho ensurdecedor, relhas do carro, pessoas resmungonas. Relojo – Relógio. Remate – O final de uma obra, construção de uma casa, colocando–se sobre o ponto mais alto num ramo de loureiro. Rendar o milho – Com a sachola ou o sachador para chegar a terra ao milho. Neste caso o sachador levava as empenas grandes e largas para que o milho ficasse com muita terra junto do pé. Rens ( Reins) – Zona das costas entre os  rins. Rente –Resolvido. Assunto arrumado. Acabou. Fim. Cortar o cabelo e deixa– lo muito curto. Limite, fronteira, encostado. Repicar –  Segundo toque do sino para um acto litúrgico. Acabava com duas badaladas.
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Repouso – Placa de dentes afiados por entre os quais se passa o linho para o separar dos casulos (baganha com linhaça). O nome deve vir por se tratar de algo pesado – deitado – com os dentes voltados para cima e no chão ou sobre algo mais alto para ripar o linho. Represso – Refresco, qualquer bebida (às vezes com mistura) para aliviar a sede e o calor. Rês – Gado ovino, caprino ou bovino. Resbalar – Resvalar, cair por uma ribanceira, fugindo a terra de baixo dos pés. Restilho – Espécie de pente formado por duas réguas ligadas entre si por pauzinhos (torno) ou pontos de arame para distribuir o fim da teia urdida para o tambor. Restilo. Restinga – Pequeno terreno como um montezelo (montinho de mato) junto de uma área fértil e junto a um rio. Retorcido – Torcido, homem difícil, teimoso. Retrete – Antigo espaço pequeno onde se defecava. Revazar – Substituir, deitar  fora. Rexeuxéu – O mesmo que Rexoxó. Rexoxó – Levar uma repreensão ou reprimenda. Ribeirinho – Rego grande com água corrente de nascente várias e de águas bravas. Normalmente está seco. É um pequeno rio. Rijões ( Rojões) do Rossô – São o mesmo que torresmos e toucinho frito. Ril – O mesmo que rim. Rimas – Uniformidade de sons na terminação, em sequência, poética. Assim na lavoura a palha atada aos molhos e sobreposta em montão também lhe chamam rimas. Rinete – Faz ranger. Ringer – Ranger. Ringleira – Fileira. Serão Nº 178 Ripagem – Passar os molhos do linho pelo pente. Ripar – Separar do linho a baganha ou sementes. Separar a azeitona da oliveira, etc...Este trabalho é feito com um ripe. O povo chama–lhe pente, normalmente de madeira. Ripe – É como um pente feito de madeira com um cabo e depois uma travessa encavada no cabo e com dentes feitos na mesma travessa com intervalo suficiente para passar pelos ramos mais finos e apanhar a azeitona que cai em panais. Um pente de pau preparado para ripar ou pentear. Ripeiro – Sarrafo com ripas ligadas que tem o fim também de ripar. No repouso era ripado o linho.
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Riso – “Esse riso amarelo” leva–me a desconfiar que não estás a ser verdadeiro. É apenas um riso fingido. Riu–se de tal forma que até se mijou”. Morreu de riso. Roca – Cana ou vara com um bojo numa das extremidades, em que se enrola a estriga ou outra substância têxtil, para se fiar. Ou ainda uma haste aguçada de madeira ou couro com a outra extremidade bojuda onde se enrola linho ou têxtil para ser transformada em fio (bojo). Roçadas – Ação de cortar o roço ou o junco para servir de astro, isto é, servir de cama para o gado. De facto depois de muito sujo e já estrumado o local onde o gado se encontra, depois de lançar mato, roço ou junco é como se, entrasse numa corte celeste. Roçar – Limpar silvas, mato. Roçar – Cortar (mato) à sachola. Serão Nº 84 Roço – Planta nascida em terreno húmido e duro que atinge uma altura de 30 cm aproximadamente. Entre esta planta nasce também o junco. Roda de vinho – Pagar a rodada num grupo de amigos; agora eu pago, depois pagas tu, na Taberna. Também era a isso sujeito o rapaz estranho à aldeia que quisesse namorar uma rapariga na terra e todos assinavam um papel de costaneira e carimbavam com o fundo da malga de vinho. Rodana – Roldana. Rodilha – Pano de limpeza ou pano enrolado utilizado na cabeça das mulheres quando levavam cestos ou cargas sobre a cabeça. Rodízio – Peça de moinho de água que faz rodar a mó no qual estão presas as penas. Rodo – O mesmo que razão, talvez por rodar sobre a medida, em forma cilíndrica para que a medida da rasa fosse justa. Daí dar–lhe o nome de razão. Rodo – Utensílio de madeira para juntar cereais. Em alguns locais era substituído pelo ancinho de dentes para o ar. O mesmo que razão, talvez por rodar sobre a medida. Rojão do banco – As “miudezas” dos porcos quando eram mortos tiravam–se e deitavam–nas fora. Rola – Vai–te embora! Rolo – O mesmo que razão, rodo por ser uma peça redonda e comprida, em forma cilíndrica. Rolos de tojo  – Mantas de gatenho. Romãs – É a zona do chedeiro onde se encontram as peças onde encaixam as rodas do carro de bois. Ronha – Pessoa que pode ser falsa, mafiosa, maliciosa.
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Ró–Ró – Interjeição para indicar a direção do rebanho. Rossô – Véu do “fato do porco”, assim chamado o véu que envolve os intestinos. Roupa – “Quem o alheio veste, na praça o despe”. Só se compra com dinheiro, logo, nunca deve andar a dar nas vistas com roupa por pagar. Roupa da Festa – Um fato melhor para usar nas festas. Roupa de Cotio – É a roupa de vestir à semana ou em dia de trabalho. A roupa do dia–a–dia. Roupa domingueira  – Uma roupa melhor que só se vestia ao Domingo. Roupa velha – Comida que se arranja no dia de Natal, aproveitando o que sobra da ceia anterior: bacalhau e batatas cozidas, que se passam no tacho com um fio de azeite. Serão Nº 83 Roupa–de–ver–a– Deus – Era o fato que se vestia ao Domingo para “ir à missa”. Rua! – Mandar embora para a rua. Ponha–se lá fora. Rumper – Romper. Runhir – cochichar, falar com ronha, malícia, falar suspeito...malicioso, resmungar, ou também  grunhir como os porcos. Ruque–Ruque! – Interjeição para chamar os leitões. Rutáceas – Planta da família das dicotiledóneas semelhante à arruda. Sabência – Sabedoria. Serão Nº 177 Sabichão – “Doutor da mula russa”, isto é, um sabichão qualquer, pessoa sem importância, mas que se acha muito importante. Saca–rebites – O aparelho que arranca os rebites. Saca–trapos – O mesmo que saca–rolhas, objecto para tirar as rolhas das garrafas. Sachador – Não é só o que sacha a terra, mas refere–se também a um instrumento de trabalho para fazer o sacho do milho mais depressa. Sachar – Lavrar, escavar a terra com o sacho, depois de se começar a ver o milho. Sacho – Pequena enxada que dispõe sobre ela uma espécie pontiaguda ou bifurcada para mondar. Sachola – Pequena enxada de boca larga para cavar a terra ou enxada. Saco – “Despejar o saco”, pôr cá fora o que esconde ou guarda. Confessar–se, desabafar. Safa! – É o mesmo que safra. Safado – Atrevido, safadeza, safadeza. Safarrusca – Confusão, safadeza, discussão, pancadaria entre um grupo.
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Safios – Os safios comem a isca de uma forma tão singular que o pescador logo percebe tratar–se de um “big–wine” que está lá no fundo. A linha é puxada verticalmente com intervalos muito curtos. Imediatamente o pescador vai baixando a linha até sentir um estremeção forte, sinal que o peixe está engatado. Para alar depois a linha é necessário cuidado e força, pois o peixe faz uma pressão terrível e se consegue cruzar o rabo com a quilha do barco é um caso sério para o tirar dali. Uma vez dentro do barco dá– se–lhe uma machadada no degoladouro para lhe tirar a força. Em alguns sítios (Póvoa) bate–se–lhe no umbigo uma forte paulada, e o peixe fica quebrado. Toda a força do safio reside no rabo. Apoia–se nele para saltar para fora do barco ou para se atirar aos homens como fera. Serão Nº 146 Safra – É o mesmo que Safa. Vem da bigorna do ferreiro que serve de pouso ao ferro em brasa e às marteladas para fazer do ferro o que se quer! Sainte – Saliente. Serão Nº 177 Salamaleque – Variações corporais sem necessidade. Salapismo – Emplastro. Salgadeira – Lugar onde as carnes eram guardadas e conservadas com sal (salmouras). Uma camada de carne e uma camada de sal até ficar cheia. Havia salgadeira de madeira e as de pedra. Saloio – “É um tipo de esperteza saloia”, isto é, vive de artimanhas. Salú – Saúde. Serão Nº 177 Salvação – Cumprimento, saudação (nem me deu a saudação...). Serão Nº 84 Sanfona – Trabalhar muito é andar numa sanfona que é um instrumento musical. Sangria – “É uma sangria desatada”, isto é, toda a gente correu para evitar algo trágico. Também se chama a uma bebida com frutas. Sanico – Chilique ou desmaio. Andar para trás e para diante sem ter que fazer ou fazer tudo. Pessoa mexida. Santeira – Pessoa que está sempre na igreja. Pessoa que faz santos. Santeiros – Trabalhadores em esculturas de santos. Saragoça – Fio de estopa ou lã escura. Sarável – Saraiva. Sarilho – Alguém que se mete num sarilho quando entra num labirinto e não sabe como sair dele. Sarilho – Espécie de cilindro de eixo horizontal para transformar as maçarocas em meadas. Instrumento giratório de eixo horizontal. Andar no Sarilho é estar envolvido em algo. É bom não entrar no sarilho ou ser ensarilhado. Sarrabulho – Algumas famílias aproveitavam a ocasião da matança do porco, para fazer uma festa no Domingo seguinte, convidando os amigos para
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um sarrabulho, onde se comiam os rojões, as papas de sarrabulho e o arroz para além de outras iguarias. Na Serra d’Arga não havia o costume do sarrabulho, mas no próprio dia da matança, à noite, havia um jantar para os amigos e os ajudantes da matança com as carnes frescas do porco... Sarrafo – Um pau ou vergasta que tem o fim também de ripar. O povo também diz que “ levas com um sarrafo”, isto é, levas uma coça com um pau, uma régua. Sarrar – cerrar, fechar. Cortar. Sarronco – Grito de monstro que põe medo às crianças. O ronco que dava o farol para os barcos do mar ou para o pessoal do litoral saber que o mar estava mau ou nevoado e servia como direcção aos pescadores. Sarruscadouro – Sorrascadouro, pau grande para atear o fogo, aliviar a lenha para arder melhor no forno. Sastre – Alfaiate. Sebastiana – Pessoa mal vestida. Secar – Depois da espiga seca, é debulhado o grão através da debulhadeira, hoje: porque antigamente era à força do malho. Secar a Espiga – Depois da espiga seca é debulhado o grão através da debulhadeira, ou à mão espiga contra espiga, mas antigamente  era tamém à força do malho. Sedeiro – Placa crivada de paus dispostos em fileiras por onde se passa o linho para o separar da estopa (ficar assedado). Havia um mais fino, outro mais grosso. Tem a ver com sedeiro. Também conhecido por eixo do carro de bois. Segredairo – Secretário. Serão Nº 177 Segurelha – Peça que une o ferro que segura a mó inferior no moinho. Peça enfiada no espigão do pé (mó inferior) para tornar uniforme o movimento do superior. Seguro – “O seguro morreu de velho” porque não adianta ter seguro, o que é preciso é assegurar–se. Ter cuidado. Seiteira – Parte em madeira em forma de cana (troncado) que liga o cúbalo para que a água saia com pressão para fazer rodar o rodízio. Também “seteira”. Seixo – Pedra rolada branca e dura, onde apoia o rodízio para rodar sobre si e uma outra de base. Selha – É uma tina usada não só pelos marítimos, mas também pelos lavradores para vários fins. Era de madeira e de aduelas com vários tamanhos, mas o normal era 50 cm de diâmetro e 20 cm de altura. Selipas – Por sulipas? Calçado de madeira e cinta ao peito do pé em couro.
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Selipas – Sapato leve, sandálias Sembrante – Semblante. Serão Nº 177 Semeador – Aquele que lança a semente à terra. Antigamente era à mão. Depois passou pelo aparelho artesanal, passando hoje a ser lançada a semente através de aparelhos eletrónicos. Na Bíblia a palavra semeador também queria dizer lançar a Palavra de Deus. Dizemos hoje que quem lança ódios, colhe tempestades, guerras, por exemplo. Semeadura – Sementeira depois de realizada quando se espera a germinação. Semente – Aquilo que é semeado na terra para dar fruto. Ser um chinchorro – Significa uma coisa muito complicada. Serão Nº 80 Serenar – É o ar da noite, está a vir o ar da noite. Sereno – Calmo. Serote – Um susto. Serra – Instrumento de cortar madeira, pedra ou metal constituído por uma lâmina fina e chata ou disco de aço, com uma fiada de dentes afiados que atacam e cortam. Serrote – É uma serra portátil, constituída por um pequeno cabo operável apenas com uma mão. Sertã – Um tacho redondo com abas em toda a volta e serve para fazer: omeletas, fritar sardinhas, bolos de bacalhau, pastéis, sonhos, rabanadas, etc. Setão – Se estão. Singela – Quando não há necessidade de solejar diz–se que foi à singela. Serão Nº 42 Sino – “Cinco tostões para a corda do sino”, isto é, não se sabe para o quê hoje, mas é um dizer antigo, pois o dir para a corda do sino?!... Soalhar – O mesmo que assoalhar, pôr um chão de soalho com tábuas de 2 cm de espessura. Soba – Coça. Sobar – Bater. Dar um soba, isto é, dar uma porrada. Sobrado – Chão de casa feito de madeira, de soalho. Socairo – Recanto abrigado do frio ou dos ventos. (Encontro este termo registado em dicionários com valor mais limitativo: abrigo no sopé de um monte). Serão Nº 88 Sogra – Rodilha que se põe à cabeça debaixo do cântaro da água, ou de outra carga. Serão Nº 84 Soldada – Mensalidade. Soldo – Pensão, reforma. Soleira – A parte inferior de uma porta, o chão onde pousavam as ombreiras ou os tranqueiros.
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Solejar – Deitar mais do que uma junta (parelha) de gado a um carro carregado. Além da primeira, todas as juntas que forem necessárias vão a solejar. Serão Nº 42 Solerado – Chão de soalho (madeira com cerca de 2 ou mais centímetros de altura). Solinho – Uma viga torneada com um comprimento suficiente para que, através duma corrente seja ligada à grade, ao margidouro, ou o arado, e onde a canga ou o canzil, conforme o caso servia de apoio, a força da tracção animal fosse exercida para puxar o aparelho. Somítico – avarento, semítico. Songuinha – Criatura fingidamente pacata. “– Aquele? É daqueles que parece que não quebram um prato e deitam o louceiro abaixo!”. Serão Nº 88 Sopa – “Por cima das sopas molham–se as bocas”, bebe–se a primeira pinga. Sopa com vinho faz o velho menino. Soquetas –  Socos de senhora, mais pequenos e leves Sorelo – O mesmo que carapau ou chicharro pequeno. Sorto – Solto. Sótão – Lugar de arrumos nas casas antigas, por baixo do telhado. Spilro – Espirro Sulfatador – Era um objecto rectangular em forma de caixa com uma abertura por cima e de um lado um manómetro, uma peça movida à mão que fazia pressão para o sulfato sair por uma mangueira que a outra mão usava a fim de espalhar sulfato sobre a rama e a folha da videira. Sulfatar – Borrifar com sulfato de cobre ou de ferro as vinhas ou as plantas para afastar ou matar bactérias, fungos, etc. Sulipas – O mesmo que andolas. Pedaços de madeira com a forma de pé, para calçar e com uma asa de couro sobre o peito do pé. Só por defeito poderíamos assemelhar a uma travessa de caminho–de–ferro ou tamanco. Surra – Uma coça. Tabardo – Moscardo, da família das moscas; mais agressivo. Mosca do gado. Tabelião – Notário. Tabuleta – São esteiras feitas de madeira, de forro à volta do chedeiro para segurar a carga miúda. Tachos – Potes ou panelas param cozinhar. Havia os de cobre, onde era feito normalmente: a marmelada, o arroz doce, etc  Os de esmalte eram muito ricos. Tagarela – Nunca está calado. Tala – Utensilio de madeira, em forma de seta com a cauda seccionada por largo sulco, servindo para colocar duas fieiras de anzóis. Serão Nº 146
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Talha – Vaso ou vasilhame em grés para guardar o azeite. Servia também para no meio de unto conservar rojões para o ano, ou ainda para salgar as sardinhas. Em algumas regiões usam como medida de vinho de 10 litros. Tamanqueiro – Fazedor de tamancos, andolas. Também se diz da pessoa que gosta de ficar por casa e evita sair à rua. É caseirinho, isto é de casa, feito em casa com muito amor. Tambor – Cilindro grande do tear onde se enrola a teia. Tamem – Também. Serão Nº 177 Tamoeiro – Apeiro. Tamoeiro – Canga baixa para bois. Serão Nº 84 Tamorrom – O mesmo que morrão do milho. Tana – “É o tanas”, ora essa! Só isso faltava! Querias? Tanaze – Tenaz. Tantisimos – Tantíssimos. Serão Nº 177 Tapar – Esconder, cobrir. Tapona – Tareia, coça. Tapume – Talvez a “caneleira” que leva a lançadeira. Taramela – Nome dado no moinho, também ao caneleiro, quando a peça é um simples pau, furado num dos extremos e que ligava à calha para fazer passar o grão. Era caneleiro quando a peça tinha uma roda de cortiça que rodava sobre si. Pessoa que não pára de falar. Peça de Moinho. Coisas miúdas, vestuário, miúdo e velho. Tarde a mal – Dali a pouco (S. M. Portuzelo). Serão Nº 76 Tarecos – Coisas miúdas, vestuário, miúdo e velho. Tascar – Também o tasco onde se vende vinhos e se usa o verbo tascar para falar da espadelagem do linho. Tata – Pai em maiato. Diz–se de quem quer dizer , mas não sabe bem o que diz... Tchau! – Adeus, influência germânica. Té – Teresa. Tear – O aparelho, o engenho em madeira para tecer. Todas as casas que cultivam linho o tinham em casa. Tebaida – Lugar normalmente solitário para trabalho ou oração, lazer. Teimosia – “Quem não teme, não vence”, pois dos fracos não reza a história. Temão – Ter na mão, à mão – o mesmo que Timão. Tempereiro – Peça metálica, ajustável com dentes nas extremidades que se fixa nas ourelas, daquilo que se quer tecer, para que se mantenha o pano sempre esticado. Utensílio com que as tecedeiras esticam o pano no tear. Cada um dos paus fixos à nora.
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Tempero – Temperamento. “O tempero de meus filhos...” Serão Nº 177 Tempestade – “Quem semeia ventos, colhe tempestades”, o que significa que nós só colhemos o que semeamos. Semeamos coisas boas iremos colher algo bom. Semeamos coisas más iremos colher algo mau. Muitos não vivem em paz porque sempre semeiam a guerra. Temprar – Temperar. Tenresa – Ternura. Serão Nº 177 Ter a cobra – É o mesmo que ter preguiça. “Fulano tem a cobra!”. Serão Nº 80 Terigo – Trigo. Terminhos – “Tem terminhos” significa ter modos, saber comportar–se. Teso – Pessoa sem dinheiro. Chuço. Tesoura – É um instrumento de trabalho para muitas profissões, talvez para todas. A tesoura para o lavrador é a mais conhecida. A tesoura de podar as árvores ou as vinhas. É um instrumento cortante formado por duas lâminas de aço que se unem por um eixo, sobre o qual se movem, abrindo em cruz e fechando, começa a cortar. Tetas – Às vezes, chamam–se teta aos mamilos. Teto – Com “e” fechado. Costumam chamar a cada um dos mamilos da vaca; mamilos grandes, saliência arredondada. Com “e” aberto é o telhado da casa. Tibanco – O banco sobre a lareira da casa, normalmente, era ocupado pelos os tios avós, tia avó, para os avós, os mais velhos da casa. Timão – Tirante de algo para prender ou ser guiado pelas mãos, peça de arado. Tino – Constantino, Diamantino… Tino – Juízo. Tirote – Pau de sabugueiro, tirando o miolo metiam–se buchas de estopa, papel e com um pau interior encostado ao peito dava um pequeno tiro, daí o tirote. Titubiar – Duvidar, gaguejar. Tó rola – Queres ser esperto? Ora essa! Tojeiro – O mesmo que tojo. Tojo – Mato. Tóla – Rego que rega as leiras, uma por uma. “O nosso rio nasce numa tólinha...”. Há também o verbo TOLAR, significando regar as leiras por meio das tólas. “Vou tólar o campo; vou tólar o milho”. (Rio Frio – Arcos de Valdevez). Em Santa Comba (P. Lima) existem os termos TÓLA, TÓLE e também o verbo TÓLAR, mas com significado ligeiramente diferente de RIO FRIO. Assim, tóla, tóle ou atóle quer dizer o próprio desvio da água
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nos regos. Tóla–se o rego. A água vem pelo rego e aqui ou ali, conforme a necessidade, desvia–se (tóla–se) com um torrão grande, ou com um pigeiro, para outro sector da leira. Noutras aldeias de Viana chama–se a esta operação: TALHAR. TALHA–SE a água, isto é, encaminha–se, nos campos, para onde faz falta. Serão Nº 83 Tolher – O mesmo que engamiar. “Fulano? Está na cama, tolhidinho de todo.” Serão Nº 82 Tomba – Remendo. Tomentos – A fibra mais áspera do linho, espécie de estopa grosseira. Resultado da 2ª etapa da espadelada. Parte lenhosa e mais áspera do linho. Tomentosas – Estopa grossa. Tona – Superfície. Tone – António. Tonel – “Tonel mal lavado, vinho estragado”. Tonel – Era um recipiente semelhante à pipa, só que este era preparado para levar duas, três ou quatro pipas de vinho. Esses à frente tinham uma portinhola para se entrar lá dentro e fazer a respectiva lavagem. Tonelada – Peso de 1000 kg. Ou 10 Quintais. Tonho – Pessoa palerma. Tonico – António. Tónio – António. Topar – Encontrar, descobrir. Topar – Tocar com a mão. Torcedura – Fuso preso à cinta e fios a passarem pela boca ou pelos lábios e humedecidos para torcerem. Tornadouro – Normalmente chamava–se assim por ser torneado. Era o instrumento que encaixava na grade e assim era conduzido pelo homem ou mulher que fosse a tornear também a grade, virando–a e guiando–a. Torneador – Um pau normalmente torneado, preso à grade para gradar. O homem com ele conseguia tornear a grade, virá–la, ou ajudar a seguir um caminho mais necessário. Torrão – Pedaço de terra …ou pequeno volume de terra. Toutiço – Monte de pedra. Também o mesmo que cabeça, cérebro, o cume do monte. Trabucar – Dar fogo com arma de fabrico caseiro, de um só tiro, dançar. Trabucar – Trabalhar. Serão Nº 177 Trado – É uma grande verruma para abrir furos mais largos, onde fizer falta. É imprescindível ao carpinteiro.
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Tralha – Miudezas, conjunto de várias coisas que acompanham as pessoas. Trama – Fio que a lançadeira conduz através da urdidura da teia e que cruza no sentido transversal de um tecido. Tramar – Atravessar–se a alguém, intrigar. Tramoia – Trama como o grão de milho ou de centeio no tramoio do moinho. Trampa – Dejectos humanos, excrementos. Tranca – Peça de madeira ou ferro para fechar a porta por dentro. Hoje é conhecida por cremalheira como fecho vertical movida pela própria fechadura, o ferro pode estar à superfície do bordo e por cima ou por baixo da fechadura ou pode ser incrustada na madeira. Trancelim –  Trançado estreito mais grosso ou como um fio, normalmente em ouro. Tranqueiros – As ombreiras laterais de uma porta. Trapalho – Roupa velha, já imprópria para aparecer em público.”Sabes? Fulana ia à missa com uns trapalhos”. Serão Nº 83 Trasfega – Passagem de um recipiente para outro muito usado no vinho da passagem de um pipo para o outro, quando parece que o vinho a mudar as suas características. Trasnada – Traquinice. Serão Nº 177 Traste – “Fulano é um traste!”, isto é, é maroto, mafioso, é preciso ter cuidado com ele.   Coisa que pouco vale. Está à espera de ir para o lixo ou arrumos. Tratantada – Actos feitos por brincadeiras relacionadas com gozo, canalha, etc. Travado –  Pessoa que não fala correctamente, plissa nas palavras, não tem a língua solta, não está destravado. Travessa – Uma bacia grande onde todos metiam o garfo ou a colher e comiam. Era na família, nos grandes ajuntamentos dos trabalhos do campo, como: debulhada, desfolhada, a podada, a vindima e apanha da azeitona. Trazer/Trazer uma terra – Cultivá–la; pagar dela renda. “Quem traz esta terra? Esta terra é de Fulano; mas quem a traz é Sicrano.” Por terra deve entender–se um terreno de cultivo; um campo ou uma leira. Serão Nº 82 Tremonha – Peça do moinho em forma de pirâmide invertida e por cuja extremidade inferior deixa passar o grão. Trempes – Havia as grandes, rectangulares e com quatro pernas para colocar várias panelas. Também as pequenas com um tripé para uma chocolateira, um panelo ou uma pequena panela. Trepés – Trempe de três pés. Treta – Fala mas diz pouco. Não interessa ou diz coisas disparatadas.
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Tribua – Tribuna. Serão Nº 178 Trilhar – Aleijar suavemente, a pisar os pés de alguém. Trincar – Morder ou fechar a porta. Trinque – Andar nos trinques é andar a dar nas vistas, bem arranjado. Trinquete – Trinco. Uma trinqueta pequena. Triste Só (ou reforçar o só) – “O médico quer que eu passe um mês com o triste leite e mais nada.” Também pode dizer–se: “ – Só com o triste leite”. Serão Nº 42 Tristeiro – Triste, melancólico. Serão Nº 177 Triz – “Foi num triz!”, isto é, foi rápido, passageiro, fugaz. “Por um tris” escapou à sorte ou à morte. Troça – Gozo. Troca–tintas – Pessoa que diz e desdiz, nunca se sabe de que lado está, cana agitada pelo vento. Trombalazana/Trambalazana – Indivíduo desajeitado, de gestos desordenados e deselegantes. Serão Nº 88 Trombas – O mesmo que fussas (focinho). Tropeiro – Recoveiro, torpedo, tiro, barulho. Trotinete – Brinquedos em geral que tivesse a ver com movimento de roda ou rodas. Trouxa – O mesmo que bagagem de roupa suja. Pessoa mal entrajada. Tuca – Já está. Pronto. Tule – Tecido transparente. Tulha – Grandes arca onde se guardam cereais. Tumprar – Temperar. Turbe – Lenço por cima da cabeça que envolve o cabelo. Turra – Dar com a cabeça em qualquer lado. Uã – Uma égua. Uê! – Admiração, espanto, apelo. Uf! – Interjeição que significa fogo, cansaço, ou também alívio do que se desembaraçou, ou aborrecimento com algum sarilho em que se meteu. Ufa! – Alívio. Ufe (a) – O mesmo que interjeição “fogo”! É forte como o fogo. Por esta não esperava. Uh! – Algo que repugna, dor. Ui! – Interjeição de medo, nojo, espanto… Ulo? (adv. u+artº lo) – Onde está ele? Serão Nº 84 Um quarto – 1/4 da rasa de pão cuja medida normalmente de 21,5cm x 21,5cm e 9,5cm.
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Umberno – Inverno. Un – Um. Unha – Uma. Unhar – Roubar, deitar a unha. Unhas – Quando a uma criança crescem muito as unhas, as mães dizem que, quando for grande vai ganhar muito dinheiro. Serão Nº 76 Untar – Subornar alguém é “untar as mãos”. Unto – Banha, pedaço ou pinga de gordura. As gorduras de porco que envolvem os intestinos do mesmo porco, sobre a carne branca. Pingo. Uó – Algo de mal, de ruim. Que não agrada. Upa – Encorajar para levantar ou fazer algum esforço. Interjeição para animar alguém a levantar–se. Também quem levanta a bunda do assento diz “upa”. A pé! Mais alto! Ups! – Até eu me vi atrapalhado. Urdidura – Espécie de dobadoura enorme, formado por duas peças paralelas e cruzadas em forma de madeira em que se urdem os ramos da teia. Dispõe os fios para tecer. Urdir – Conjunto de fios por entre os quais, no tear, passa a trama também chamada tapume. Vacas – “Estamos em tempos de vacas gordas”, é só por ironia porque significa fartura, enquanto o “tempo de vacas magras” quer dizer tempo de fome, de dificuldades. Vaga – Onda do mar, ondulação do terreno, espaço vazio, lugar para mais um. Vaguedade – Ligeireza. Serão Nº 178 Vai abaixo de Braga – Quer dizer ir a Frossos, para onde iam os esgotos da cidade de Braga antigamente. Vai às favas – ou seja, cala–te, pára de atrapalhar. Vai com um grão na asa, o mesmo que cambaleando, um embriagado. Vais pagar as favas ao dono – isto é, ficaste a dever. Valdemunhano – Vadio. Validar – Tornar válido. Serão Nº 177 Vara – Medida de comprimento usada para medir peças de pano equivalente a 11 (onze) decímetros. Ou ainda um pau de lodo ou de vime para pôr os animais a andar, batendo. Vara da palha – Aquela que serve só para lançar a palha para o palheiro. Vara de gancho – Pau comprido que leva o gancho de ferro. Varrisco – É varredouro com que se varria o forno depois de aquecido, isto é, uma vara com tecidos molhados com que rapidamente se punha o forno
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limpo para levar as broas. Tenho a impressão que ouvi também chamar ao varrisco “o vasculho”. Vasculho – Também escrito com b, (basculho), vassoura de cabo comprido para limpar coisas altas... Vá–se–me! – Vá–se! Ponha–se a andar! Rua! Velho – “Quem de si se cura cem anos dura”, Idoso, sénior. Venda – Loja de compras na aldeia. Vento – “Vento galego” vento vindo do nordeste da Galiza que é muito frio e indesejado. Veraz – Verdadeiro. Serão Nº 177 Verdascos – Parte mais grosseira do linho resultante do deboucamento. Verga – Padieira parte superior de uma porta. Verruma – Instrumento de aço que tem a sua extremidade inferior aberta em espiral e terminada numa ponta, para abrir furos na madeira. Se ao carpinteiro é insubstituível, ao lavrador também lhe faz falta. Veto – Jogo que fazia correr atrás de uma bola lançada por uma peça parecida com uma régua ou pá de madeira. Viajeiro – Viajante. Serão Nº 177 Vida – “Ter sete vidas como um gato”, pois aconteça o que acontecer ele sempre aparece em casa. Ainda “está para dar e durar”, quer dizer que ainda tem muita vida. Vide – Bacelo, igual a vinha. Videira – É biologicamente da família das vitácias cujos frutos são as uvas. É cultivada desde a antiguidade. Há várias qualidades. Vide + eira. Videira – Mulher muito ativa. Serão Nº 84 Víderas – Aparas de videira. Quando secas, ardem admiravelmente e dão grande calor (S. M. Portuzelo). Em Mazarefes chamam Vides. Serão Nº 76 Vidras – O mesmo que vides. Pouco vulgar, mas na margem esquerda do Lima até ao Minho é vulgar. Vidras – Vides depois de podadas. Serão Nº 84 Vidrinho de cheiro – Pessoa muito sensível. Vieiro – Caminho. Serão Nº 178 Viltança – Velesa. Serão Nº 177 Vinagre – Vinho que se tornou azedo e é usado como condimento normalmente era de vinho. Agora é de maçã e de tudo. Vindima – “Então não sabe que enquanto não se lavarem os cestos as vindimas continuam?”. Só se lavam os cestos no final da vindima. As coisas ainda não estão terminadas.
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Vir água à boca – É ter desejo de algo. Visor – Óculo de uma porta por onde se vê de dentro quem está fora e pode abrir a porta com segurança. Vivo – Vacas, ovelhas, cabras, galinhas, animais domésticos, etc. Você – Assim se tratavam mutuamente os cunhados, como os filhos para os pais ou tios. Vorta – Curva, volta Voz– “São mais as vozes que as nozes.” Há pouca substância. Diz–se mais do que aquilo que é. Palavras, leva–as o vento. Xargão – Colchão de Palha. Xastre – Alfaiate. Xenreira – Rancor. Serão Nº 177 Xestiós – Sugestões. Serão Nº 178 Xêt Xêt Xêt – Outra forma diferente para dizer aos animais para beber água da pia. Xeu Xeu Xeu – Era a forma de animar o “vivo”, o gado, as vaquinhas ou os bois a beberem. Xieira – Vaidade. Xiola – Sulipas. Travessa de linha de comboio onde pousam os carris, ou os suportam. Xisqueira – Aparelho de faneca. Serão Nº 146 Xô! – Afugentar. Xotar – Empurrar. Enxotar, expulsar, chutar para longe. Chuto. Zaganeiros – Ratazanas. Zarapilheira – Pedaço de farrapo que limpa o chão, normalmente de um trançado de fios que constituíram os sacos para o transporte de batatas, etc.... Zaquelitraque – Instrumento sonoro, usado pelos rapazes de Carreço e Afife durante a Quaresma e até à Serração da Velha em que os zaquelitraques aparecem na sua máxima força. O que vi (e era infantil) era constituído por uma tábua de pinho rectangular de 0,34cm X 18,5mm, com duas ordens de martelos, feitos também de madeira a que chamam maciços. Estas duas ordens de maciços são enfiadas em dois pedaços de arame; os maciços têm 0,10 de comprimento. Há também zaquelitraques com três ordens de maciços e estes são a maioria. Pega–se lateralmente e com as duas mãos. Depois imprime–se–lhe um movimento rápido e enérgico de cima para baixo (é preciso jeito e força) e obtêm–se o som característico. Na freguesia de Afife chamam–lhes Triquelitraques. (Vide o verbete Serração da Velha). Serão Nº
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Zarelho – Dar ao zarelho é trabalhar. Zarolho – Cego de um olho. Zé – José. Zeca – José. Zeco – O mesmo que diminutivo “zinho” ( homeco = a homenzinho). Zico – José. Zimpela – Erezipela. Zinho – O mesmo que Zezinho. Zipela – Erezipela. Zorra – Carro que acompanhava os trabalhadores nas vias–férreas, dos comboios e servia para transportar carris, travessas e mais ferros. Inicialmente empurrava e depois de ganhar balanço era só preciso travá–la. Zurrapa – Vinho estragado ou de má qualidade.
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OUTROS
QUEM SE LIXA É O MEXILHÃO
Este ditado é tão antigo como a humanidade porque tem a ver com a água do mar que teima em vir à costa com mais ou menos força, bater nas pedras, na rocha, mas “quem se lixa é sempre o mexilhão” e o mais pequenino porque o maior esse está lá no fundo e longe das batidas da água. E porquê o mexilhão? Era o mais abundante. Para além disso, era a comida dos mais pobres do litoral. Senão havia que comer, recorria-se ao mar e traziam-se baldes de mexilhão, lapas, ouriços e já se passava. O mexilhão não é rico em calorias e sódio, mas é nutritivo. Os crustáceos e os moluscos são ricos em proteínas, vitaminas e minerais; e o marisco contém sempre ácidos gordos.
No entanto, quando o mexilhão vai para o tacho e começa a ferver, talvez sinta maior tormento que o bater da água do mar... O atum era outro alimento das classes mais pobres, no entanto, segundo o ditado que citamos, vamos ao que se anicha na rocha, como o mexilhão, para apanhar com a água.
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É vulgar alijar as responsabilidades para cima dos outros. Sacudir a água do capote. É fácil ser líder, responsável, coordenador, director, ministro, quando a água do mar está calma porque não é difícil ir ao leme. O pior é quando o mar está bravo. E até aí não se sonha ser líder nem responsável, nem coordenador, nem director, nem ministro. Nessa altura arranjam-se todos os meios para sacudir as “vespas” e atirar as culpas para os outros. Lançar a albarda ao chão. O mar é teimoso e “quem se lixa é o mexilhão”, isto é, o inferior. Quem paga as favas é o pequeno. Esse é o culpado de tudo. Que vá “badamerda” que pague e não bufe, era assim que se dizia noutros tempos, ouvia eu dizer, na minha terra, e não era o Alentejo; ainda hoje se ouve este termo... É preciso ter em conta que quem paga é sempre o pequeno, o inferior, isto não é cristão, mas é esta a forma de estar nesta sociedade, onde parece que as vítimas sofrem e os criminosos andam à solta...
PALHA-PALHADA-TRAPALHADA

A vogal “A” entra naquilo que é fundamental na vida como é a água, em quase todas as línguas. É também significado de sistemas de unidades na matemática, are, no ângulo… e invertido significa universal; na física é sinal de Ampere, usado como prefixo latino é sempre matemático de quantidade em números. Nas línguas é a primeira letra do alfabeto e significa princípio e vem da água; astronomicamente pode significar estrela de uma constelação chamada alfa; na vida do mar significa banco ou serra de areia… A letra “a” significa em matemática, ainda a hipotenusa do célebre teorema de Pitágoras cuja fórmula - ela “é igual à soma dos quadrados dos catetos. A primeira letra que o homem começou a pronunciar foi o “a” das vogais e a primeira letra da maioria dos alfabetos Conf. topónimo Viana em  acoutinhoviana.blogspot.com. Assim como uma das consoantes seria o “m” labial, mamã (Conf. o mesmo blog), veio depois o “p” papá e o “t” de tatá. Ainda hoje dizemos de alguma criança que já vai juntando letras “já quer dizer tatá”. Como é que daqui passamos a pá, espécie de colher; pã, instrumento de sopro para chamar; pal de raiz pré-indo-europeias que significava torcer ou curvar; dando origem a plek em grego para significar entrançar e em latim dúplex ou complexus para significar duplicidade, complexidade, questão difícil. Fazem-se tranças de palha para o cambão das cebolas e tudo é complexo porque não faltam misturas de palhas.
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Ora a raiz da permitividade de pale, pala, (Conf: wikisowrce, bibliotecalivre), significava lutar, dobrar, abater. Toda a palha dobra e é abatida e dá para a luta brincando… Uma pala para nós não é uma luta, mas pode ser usada com o nome de escudo de defesa, como uma defesa do sol, da chuva, do sol ou do vento nos olhos. Enquanto da palha é radical, pal aparece pale, pala, palha, planta da classe dos armínias? Que se torce, curva-se, entrança-se e abate-se por si, ou por outrem. Segue-se a palhada como mistura de palha cortada, traçada com erva para alimento dos animais. Este tipo de mistura com outros ingredientes, também os humanos a usa não com palha e chamamos-lhe “salada”: salada de alface, de tomate, de agriões, etc. Não é igual à palhada que só tem uma mistura de erva e palha ou cozida com farelo para as bestas. No entanto, à salada ninguém lhe chama uma palhada. A palavra palha em alemão, basco, holandês, norueguês, estónio, inglês, escocês, sueco, maltês, é traduzida sempre por um tr, como stroh e straw. Até no latim é stramen. Também a palhada tem nestas mesmas línguas como radical “tra”. O prefixo latino “tra” de palhada, dá trapalhada e vem reforçar a mudança do claro para obscuro; vem trazer a confusão, a mistura, a palhada de uma palhada reforçada, de um imbróglio, de um problema, bagunçada, mistura de muitas coisas que, em vez de clareza, traz apenas confusão. Há o mercado dos trapalhões na ilha de Angola que é conhecida por um local de singulares refeições. Como transpassar que significa ir além de… e perdemo-nos, por isso, no sentido que queríamos levar por diante… Também “palhada” é um topónimo de um bairro em Iguaçu, no Brasil. Em Trás-os-Montes tramalho é uma espécie de rede para trancar, isto é, criar obstáculos, como trama ou tramar. Traila, trailará, traitraico, trantapiwe, (Trukw (neblina), Travassos é outro topónimo, trucokw…) É como dizer-se que “todo o burro come palha, a questão é saber dar-lha”. Não é o que quero neste momento, mas sim trazer ao de cima que não faltam trapalhadas, que podem ser perigosas e não têm nada a ver com palha, nem palhada ou palheiro onde os ratos fazem os seus ninhos e se escondem. Cuidado, por isso, com as trapalhadas. Não sou etimologista, por isso, se me disser que isto que acabou de ler é mais uma trapalhada, serve, ao menos, para o ajudar a definir, ou descrever, o que são trapalhadas.
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“POR DÁ CÁ AQUELA PALHA”
O significado desta expressão é fácil, pois quer dizer que não vale nada, coisa de pouca monta, de pouca importância. A palha é uma haste seca já livre do grão (centeio, cevada, aveia, milho, etc.) usada na alimentação dos animais; agora também industrializada. Com a palha faziam-se, antigamente, as tochas para iluminar, de noite, os caminhos enlameados da aldeia, para ir à missa às 6 horas da manhã ou 7, do Inverno, há décadas atrás. Para andar de noite, uma das iluminações naturais era a tocha de palha. A palha era utilizada também para o fogo que queimava o pêlo do porco, para arder pois é de fácil combustão. Do mesmo modo, são utilizadas várias expressões como “dormir nas palhas” (dormir no chão), “palha de aço” (esfregão), “tirar uma palha” (dormir uma soneca), “dar palha a” (enganar outro com palavras mafiosas), “todo o burro come palha” , (o que é preciso é saber dar-lha), “não mexer uma palha” (não fazer nada). Pede-se agora uma palhinha para beber. Portanto, usar palha no “por dá cá aquela palha” significa sem valor, é como dizer “por dá cá aquela M”.
Há sessenta anos, o pai e a mãe, a família eram os donos dos filhos, e por “dá cá aquela palha” davam-lhes porrada. Por “dá cá aquela palha” o professor, na escola, usava a régua, a palmatória, a “cana preta da índia” para dar umas sarrafadas nos alunos. Por “dá cá aquela palha”, hoje, os pais já não mandam nos filhos, não lhes podem tocar e os professores em vez de respeitados, por “dá cá aquela palha”,
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são vítimas de vinganças; os pais levam pontapés, são mal tratados e por “dá cá aquela palha”, “mata-se” e esfola-se na escola, fora da escola, invade-se a escola. “Por dá cá aquela palha” empunha-se uma pistola, ainda que seja de plástico, para assaltar, violentar as pessoas, também no aspecto sexual e, por “dá cá aquela palha”, até um doente é abandonado ao “Deus dará”, um idoso já está a mais, e uma criança, se não for ao jeito, também pelos motivos do “dá cá aquela palha” se liquida e ninguém tem direito a ser respeitado na sua consciência, nem no direito à vida. Os filhos telefonam para a polícia por causa de um castigo dos pais, tudo por “dá cá aquela palha”. Por “dá cá aquela palha” se namora de qualquer jeito e com qualquer feitio, assim como ainda pelo “dá cá aquela palha” se aceitam as palavras estrangeiras, mesmo que tenham uma tradução fácil. Por “dá cá aquela palha” é bonito, na linguagem ou na frase, aproveitar palavras estrangeiras de algum evento. Em Portugal é assim, mas nem sempre acontece nas outras línguas. Em Espanha, há palavras que cá são usadas em inglês e lá deram-lhe a tradução imediata, isto é, em Portugal tudo o que é inglês sabe bem; é assim que se mudam expressões linguísticas, retirando-lhes só, “por dá cá aquela palha”, a sua pureza da língua portuguesa. Por “dá cá aquela palha” levanta-se com facilidade uma zaragata, se irrita, se zanga, se afronta, se grita, se acusa, se persegue, se aldraba, se torna corrupto na sociedade e, por “dá cá aquela palha”, a justiça é só para os pequenos que têm que cumprir a lei até ao último cêntimo, porque os grandes estão imunizados por “dá cá aquela palha” de toda a pena da lei e arranjam argumentos e aldrabices para se libertarem. Quanto não vale o “por cá dá aquela palha” para quem pode. E quem pode? Também é costume dizer-se que “quem sempre sofre é o mexilhão”. Por “dá cá aquela palha” se vê, por todo o lado, excrementos de cão, nos jardins, nos passeios, nas praças... É uma falta de civismo por “dá cá aquela palha” que se faz tudo menos respeitar e ser educado para com o semelhante.
 MANUEL FREITAS E O OURO DE VIANA DO CASTELO
Joaquim Simões de Freitas, em 1920 comprou a ourivesaria a um familiar aveirense, de Requeixo, concelho de Aveiro. Portanto, os aveirenses
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começaram a instalar-se em Viana, a adoptar Viana do Castelo como terra sua. Era com graça que D. Júlio Tavares Rebimbas dizia baixinho para se rirem: que os de Aveiro eram os colonizadores de Viana do Castelo. Recordo o Eugénio Pinheiro, o João Ponte, o dono do café Aveiro, a esposa do Francisco Cruz e outros haverá que não conheço. O João Ponte e o Eugénio Pinheiro já faleceram, mas todos eles deram e dão de comer ainda a muita gente de Viana do Castelo. Todos muito solidários. Homens de negócios, mas deram e dão trabalho a muita gente. A ourivesaria Lopes ficava no prédio onde está a Marisa, mas o tio do Dr. Manuel Freitas veio tomar conta da ourivesaria, que era sobrinho do Joaquim Simões Freitas. O Dr. Manuel Freitas era inspector do Banco Pinto de Magalhães, mas tomou conta deste negócio depois do tio construir este prédio de raiz e montar aqui a ourivesaria. Foi um serviço a que se adaptou muito bem. Em África, Moçambique, quando lá esteve na Guerra Colonial escreveu um livro sobre o ouro em Moçambique. Era algo que já apreciava e gostava de aprofundar compreendendo os princípios da cultura do ouro e dos seus artífices.
Aqui em Viana do Castelo, então, bem se adaptou. Conseguiu ser o que melhor sabia e entendia desta arte e desta riqueza, desta cultura no Alto Minho e no país. Obteve, no princípio, muito apoio de Amadeu Costa, já falecido, e sobre a arte do ouro e a sua história é coisa que domina.
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Por outro lado, o Dr. Freitas era filho de pais humildes. No entanto, uma prima que era surda-muda teve a felicidade de casar com o que, na altura, era o maior ourives em Portugal, também surdo-mudo, de Almada, mas já falecidos. O Dr. Freitas gostava de criar jóias inspiradas na nossa cultura mediterrânica e Celta. O papel e o lápis está sempre com ele, como os livros sobre o ouro. Colaborava com a grande escultora Vasconcelos. Sentia-se realizado, apesar dos revezes que a vida lhe trouxe, mas como sempre tentou lutar para vencer, agora Contribuiu uma vez mais para nobilitar na arte, uma arte de que os portugueses são os maiores e melhores artífices deste mundo e as jóias portuguesas que são intemporais. Ofereceu à cidade de Viana do Castelo todo o espólio de ouro para o Museu e publicou um livro cujo tema é o ouro. Este espólio é o maior do país e criou a fundação EDUARDO FREITAS, seu filho, satisfazendo ao mesmo tempo  um objectivo também dele. Um livro cheio de conteúdo escrito e imagens fotográficas de peças raramente ou nunca vistas e apreciadas por nós. Trata-se, pois, de um notável tesouro. Ofereceu parte da sua publicação para o Berço de Nª Srª das Necessidades, o CAT do Centro Social Paroquial de Nª Srª de Fátima, como aliás fez quase sempre a favor do Berço. Foi o primeiro Presidente da Assembleia Municipal de Viana do Castelo e foi vereador da Câmara Municipal e quase “vitalício” presidente da Assembleia Política do PSD. Estes gestos são bem eloquentes do saber repartir, partilhar do que se tem pelos outros, como o provou na entrega a Viana do Castelo de Ouro do seu museu e outros bens.
“OLHO À BELENENSES” OLHO DE OLHÃO - TAPA OLHOS
“Um olho à Belenenses”
Um dia um senhor, no ano de 1969, ia com andar apressado a ler o Jornal, com ele aberto entre mãos e braços no ar quando, de repente, bate com a cabeça num poste da luz pública… na cidade de Braga. Ia tão depressa que ficou com “um olho à belenenses”. Embora tivesse ficado com o “olho à belenenses” e não à bracarense, não deixou de ser quem era e continuou a viagem a pé até se tratar em casa. O
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pior é quando se fica com “um olho à belenenses” com um murro que se levou vindo de outrem. O Senhor a quem isto aconteceu, continuou a ser do Benfica e quis jogar naquele Clube lisboeta. Era meu parente e foi um santo sacerdote. Alguns até preferiam “um olho à belenenses” que um outro problema mais grave, como não ter pernas para andar ou os dois olhos à belenenses. O olho é, em primeiro lugar, um órgão de visão que é singular no corpo para ver as cores, as coisas, mas há muitas formas de ver e até de sentir e há quem tenha olhos bons e não veja, nem sinta… Habituámo-nos a gemer por causa de um olho magoado, mas era pior se andasse com os dois ou se não tivéssemos olhos como a toupeira e ela lá vai trabalhando por baixo da terra… O que custa “os olhos da cara” é duro, mas se for para o “olho da rua” um trabalhador, é sinal de fome. Olhar como um boi para um palácio é ficar espantado, admirado. A olhos vistos, isto é, rapidamente, ou olhos de lince é ter boa vista. O que tem olho fino e pé ligeiro, sabe fugir às dificuldades a tempo; o que vê um argueiro na Índia, vê longe. Os olhos são o espelho da alma, por eles descobrimos a verdade, a mentira, a raiva; o que por um olho chora azeite e por outro vinagre é um fingidor. Pode ser de Olhão ou Boavista, mas também pode ser um vegetal como por exemplo um “olho de couve”, ou um olho fora do rosto, o “olho cego”, de trás e há uma espécie de animal que só tem um olho, enquanto a toupeira não tem nenhum. Não se deve deitar areia nos olhos não só porque pode cegar, mas às vezes, não consegue os efeitos que deseja, isto é, esconder algo. Há quem coma com os olhos o que tem debaixo do olho, pode-se piscar à direita ou à esquerda do olho a alguém que se gosta, ou fazer brincadeiras espúrias e tratar em dar uma vista de olhos mesmo que lhe custe os olhos da cara. Aquele que diz: desviou os olhos, mas viu tudo, tudo foram olhos, olhinhos. Pode-se encher o olho, mesmo que seja de lágrimas, de paixão ou de lágrimas de prazer. Há o que tem olho clínico, nas mais diversificadas actividades da vida, como quem leva um tapa olhos, fica às escuras e até vê as estrelas. Também se passa a noite sem pregar olho, isto é, sem dormir. É preciso ver bem “com olhos de ver”, porque há olhos que não vêem! Alguma coisa de ver mesmo boa, até os olhos ficar em bico. Aquele tem olho, isto é, é esperto. Esta expressão “olho à belenenses” que tem a ver com os de Belém entre tantas outros. Tem um olho à belenenses, mas não deixou de ser de Olhão, de ter olheiras e de ser do Sporting Club de Portugal.
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A expressão “olho à belenenses” deve ter ligação com algum episódio, algum facto, algum sinal do Belenenses ou até com o olho azulado antes de ficar roxo, ligado às cores azuis do seu emblema. Tão simplesmente isto. Não conheço a história do Belenenses para dar uma explicação mais clara, por isso, antes, não vá levar no olho (?), deixa-me acabar para que não fique com algum olho à vianense por ser de Viana, cidade singular, de paisagem soberba sobre o rio Lima e o mar como acontece aos habitantes de Belém sobre azul do Tejo. Não veja isto com maus olhos porque aqui não reside o mau-olhado.
A PORTA NA VIDA POPULAR
A porta sempre tem uma história tão longa como quando o homem começou a conquistar e a querer o que era seu. Achou que descobriu a privacidade, o privado, diferente do que é dos outros ou do público. A porta é lugar de passagem, é fronteira, fechada ou aberta, linda ou feia, mais encaixilhada ou menos ou só com enxalço, com mais ou menos decoração, preparada para mais ou menos segurança. É diferente, a porta de um cofre ou de uma caixa forte de um Banco, de outras como de uma casa ou de uma gaiola, mas todas com o seu objectivo comum: abrir ou fechar; deixar passar ou não dar passagem.
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Na linguagem proverbial, popular, se diz ainda: “Quem deixar a porta aberta é sinal que vem de Braga” e para brincar com o trocadilho: “Quando se abre a porta  aberta, quando a Berta bate à porta?”. É verdade que a porta é sempre uma passagem morta quando indefinidamente se encontra fechada, por isso é uma parede. Mas a maldade leva a consolidar: “Porta fechada a pessoa malamada”. Cuidado, sobretudo hoje, pois: “Porta aberta é preciso estar alerta”; “Porta fechada, alma descansada”. Nem sempre é verdade: “Porta fechada, pele guardada”. O surdo, como não ouve, pode-se bater com força: “À porta de surdo bate à vontade”. “Portas arrombadas, trancas reforçadas”, pudera “não que gato escaldado de água fria tem medo”. “Portas arrombadas, trancas de ferro”, reforçar com ferro; a tentação é um impulso que pode não ser controlado sobretudo porque “Porta aberta tenta um santo”. “Tem cabeça dura como uma porta”, quando se é duro em compreender ou “é burro que nem uma porta”. “Veio de Braga porque deixou a porta aberta”. “Deus nos livre de maus vizinhos ao pé da porta”; “Em Maio, nem da porta de casa saio”; “Quem vier atrás, feche a porta”. “Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta” e “Estar com o pé atrás da porta é estar de pé atrás”. No entanto, na porta, para os supersticiosos, há que entrar com o pé direito e, se for um animal, deve entrar a recuo, isto é, de marcha atrás. Por uma porta entra o burro e o homem, mas o cão, o gato, aves de estimação como o papagaio, o canário, entram e saem pela porta, como os galináceos na capoeira e os bovinos, caprinos e suínos nas cortes. Há portas maiores ou mais pequenas, mais altas ou mais baixas mais largas ou mais estreitas. As portas tipo acordeão, ou de uma folha única, ou várias, de correr e fixas às dobradiças também são normais.
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Há-as de madeira, de ferro, de chapa, de alumínio, de vidro, etc… Também podem ser giratórias, a abrir a 360º, as que abrem a 180º e 90º, com padieiras alongadas, arredondadas, em bico e rectilíneas de pedra ou de madeira. Daquela porta para fora não sais, porque se o fizeres, não tentas voltar, é só uma vez. É por aquela, não é por outra, por onde queres, pois quem manda aqui sou eu…
Uma porta tem muito que se lhe diga, para o bem e para o mal, tanto na entrada como na saída. Há sempre uma porta por onde podemos entrar pelo nosso pé, pela nossa vontade, mas um dia pode chegar que, sem querermos, saímos aos ombros de alguém que podem ser dois ou quatro para nunca mais voltar. Por trás de uma porta, às vezes, é guardado lixo, ferramentas de alguns serviços domésticos, ou um sarrafo para receber as pessoas que venham, por mal, querer entrar, ou outro instrumento popular de segurança! Uma porta é sempre um espaço de passagem, pronto para sair ou para entrar. É ainda como uma chave de uma casa. Não há porta sem chave, nem a chave tem outra razão de existir sem ela. Neste sentido, Deus é Amor, por isso, é chave e porta para tudo. Há ainda a porta do forno de cozer o pão e, antigamente, com fogueiras de achas e canhotas, também simbolizava o sofrimento do que se passava dentro das portas largas do inferno.
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Mas a porta “estreita” (a porta do céu) para uma vida nova, eterna e feliz, graças à bondade e misericórdia d´Aquele em que acreditamos como ser absoluto, transcendente e do qual dependemos, é aquela que nos espera para o gozo eterno. 
LARGO BOM HOMEM, SANTO HOMEM BOM
A grande razão e sabedoria do homem estão bem expressas nas palavras de Jesus Cristo: “Se o grão de trigo, cai à terra e não morrer, fica ele só, mas se morrer, dá muito fruto”. Por isso, o sábio vive em permanente alegria porque sabe que veio ao mundo para irmãmente, com todos os seus semelhantes, construir mais sabedoria e descobrir a racionalidade do que vive, isto é o que lhe dá alegria, felicidade, optimismo e que tudo depende de cada um. A nossa grande virtude está na alegria que ilumina e se torna parte integrante do nosso caminhar. Esta alegria vem do Alto, que sabe tolerar e abandonar o fanatismo porque o mundo é um só, como Deus um só e, sem nos envolvermos em doutrinas estranhas, apenas nos resta um coração cheio de graça que sabe discernir e conviver em harmonia. Cumprir o seu dever é o único direito que lhe cabe e, da experiência, vejo que alguns dos que mais lutam pelos seus direitos, são os que menos cumprem os seus deveres. As obras boas de cada um de nós são as que podem falar por si e converter alguém ao cumprimento do dever. Numa altura de crise juntaram-se à sua porta tantos pobres que deram tudo o que tinham na despensa da família da casa. A esposa estava fora porque ela era contra este modo extremo de ele proceder. Nesse dia quando chegou a casa e tendo sabido que por ali tinha passado muita gente, foi logo à despensa ver o que lhe restava e afinal estava cheia como a deixou. O primeiro milagre em vida foi este. Faleceu em 13 de Novembro de 1187, quando o sacerdote na missa a que costumava assistir com muita devoção manifestada também em gestos, aconteceu que ao sacerdote proclamar Glória In Exeleis Deo ergueu os braços e cruzando-os caiu assim no chão, mas os participantes não se importaram muito, pois seria mais um gesto da sua vivência, mas ao fim do Evangelho foram até ele e, de facto, ali estava, mas era morto. Depressa o papa Inocêncio III o canonizou e a sua festa litúrgica celebrase a 13 de Novembro. A devoção a este Santo Homem Bom expandiu-se por toda a Itália, França e restante Europa. No Brasil, mais tarde construíram-se Capelas e
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Igrejas. Também conheci uma que fica  em Roma por baixo do Capitolino. É o patrono dos alfaiates, dos costureiros e dos comerciantes de tecido. Outro dia, numa conversa com o Dr. Francisco Carneiro Fernandes avivou a minha vontade de ver uma imagem do Santo Homem Bom na capela da Senhora das Candeias. E lá fui e gostei do que vi. A Senhora das Candeias estava ladeada pelo Santo Homem Bom à esquerda de Nossa Senhora e do lado direito S. Miguel Arcanjo. Na rua dos Manjovos e no Largo do Santo Homem Bom, hoje, Largo Vasco da Gama, tinha eu andado há anos à procura de descobrir onde teriam estado os Carmelitas descalços antes de entrarem no Convento do Desterro, Jesus Maria, José, bem como se haveria algum registo de ter havido a capela de Nossa Senhora das Necessidades. Não foi fácil, mas chamou-me a atenção a imagem do Santo Homem Bom e de escrever sobre ele este pequeno apontamento. Donde veio este Santo? Precisamente de Cremona onde nasceu, cidade da Lombardia que conheço, em 1140 de uma família modesta e baptizado “Homobono” que significa Homem Bom, talvez um sinal profético porque em vida alcançou, de facto, a santidade através de uma vida austera, cheia de bondade, caridade, justiça e amor, sempre com medo de explorar os outros e antes pelo contrário dando aos que precisassem a sua ajuda, desprendido como era dos bens deste mundo. Casou e foi pai de família e “pai dos pobres”, assim lhe chamam os cremonenses. Seu pai não o mandou para a escola, mas ensinou-lhe a arte mercantil de tecidos. Foi alfaiate e sobretudo o pai incutiu- lhe as virtudes da probidade, da integridade e a virtude da simplicidade e da justiça no amor.
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Santificou-se a cumprir os deveres da diligência, da honra por motivos sobrenaturais, com uma devoção extremíssima ao santíssimo Sacramento, à Eucaristia sem esquecer a família e os pobres.
UMA VIDA FELIZ SÓ VALE QUANDO É FEITA DE GRATIDÃO
Sonhei que estava com inúmeras pessoas felizes, alegres com muito movimento, dinâmica, muita festa. Afinal era uma diocese, com o Bispo, colegas e leigos a celebrar o ano da gratidão. Estava a passar um filme no meu inconsciente tão forte que me acordou e observei que não sonhava. Afinal até era verdade. Era uma realidade e, acordado, me perguntei a mim mesmo se eu próprio estaria a celebrar a gratidão, esse tesouro das pessoas humildes que lembram com felicidade o passado, com alegria e mais alegres com o presente sempre apostados na luta por um futuro com coragem e sem medo, com uma memória larga e não tão curta que depressa passa e esquece. Se a gratidão é um ato nobre, ela é também fruto de uma cultura, não muito vulgar porque não há nada mais belo na vida que a gratidão. Não é algo que se possa escrever no chão, no pó da terra, nem no vento, nem na água, nem em qualquer material consistente, tem de ser escrita e, sobretudo, vivida e gravada no coração. Quem não é grato tem sempre motivos para explicar o inexplicável, pois não compreende que quem agradece um dom está a pagar a primeira prestação de uma dívida impagável. Por isso também não é desejado e, pelos outros, desprezado. É um ingrato. Não quero passar por isso e tenho falhado. A quem se encontrar magoado por mim, peço perdão e gostaria que mo dissesse para que me corrija.
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Neste ano jubilar de 40 anos de Diocese seja uma oportunidade de expressões sublimes com palavras e gestos, ou atitudes, em relação aos nossos antepassados, aos nossos contemporâneos com quem vivemos e trabalhamos pela fidelidade à Comunhão, à Unidade sem esperarmos outra recompensa a não ser a d’Aquele que nos permite viver estes momentos de felicidade e amor. Adormeci. Quando pela manhã acordei, descobri que tinha passado por um grande silêncio por causa dos que falam, falam, e falam alto que até me remeti ao silêncio, como refúgio, como aqueles que também se refugiam na tolerância por causa dos intolerantes. E agradeci a noite a Deus… Continuei a rezar, como de costume! Orar é fazer comunhão. Não merecíamos nada, mas através de Jesus temos tudo! Todos os dias são dias em que devemos dizer “Obrigado ó meu Deus, muito obrigado!...”. Ou como diz o salmista: Como é bom dar graças ao Senhor e cantar os seus louvores ao nome do Altíssimo; e anunciar de manhã o seu amor leal e de noite a sua fidelidade. Sl. 92. Este é o dia que o Senhor fez; alegremo-nos e exultemos neste dia. Sl.118 Que a nossa gratidão não azede como a comida que se estraga, ou como o vinho destapado. Era boa, mas deixámo-la estragar porque a esquecemos. Quando a gratidão é consciente e responsável a sua memória está no coração. Nunca esquece, azeda, ou fragiliza porque será sempre uma memória que não arrasta consigo remorsos, como aqueles que, depois da morte, vão oferecer flores aos mortos porque, em vida, nunca foram gratos, ou tão gratos como deviam em relação aos benefícios recebidos. Lá estou eu a divagar!... Então não posso oferecer uma flor aos que morreram e tenho saudades? Claro que sim, sobretudo, se são frutos da memória do coração que amou e continua a amar com palavras e atitudes de oração. E a flor pode ser uma dessas expressões. Estamos todos em festa e desde os primórdios do cristianismo nesta região até hoje temos muito que agradecer a mortos e vivos o facto de sermos uma diocese a celebrar 40 anos.
COGITAÇÕES DE UMA ALMA
É impossível que um homem contemplando a terra e o Céu seja um ateu e negue a existência de Deus.
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Não vemos a Deus, mas é fácil reconhecê-lo por meio das suas obras, já dizia Cícero. Quando S. Paulo diz: “morro em cada dia” apenas queria dizer que é verdade que todos morremos e nascemos todos os dias e é, na descoberta de Deus, que se compreende o que Stº Agostinho disse: “minha alma arde”
porque quero aprender. Olhamos em redor e tudo se condensa num único grito para afirmar que Deus existe. Então há uma religião, há várias religiões(!) e o que tenho de experiência é que quem só estudou filosofia pela rama é capaz de se inclinar para o ateísmo, mas quem vai ao profundo da filosofia, então o homem é conduzido à religião “aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra”(…) de S João. Só existe uma religião, mas há muitas versões, e aí está o respeito por cada uma, porque por detrás está o mesmo Deus, Criador. Foi assim que o ladrão, no mesmo dia, subiu com Jesus Cristo ao Paraíso porque Deus criador é amor e tudo que nasceu de um amor-perfeito gera família que é a maior beleza que podemos ter à face da terra. Por isso Deus quer que: “honremos o pai e a mãe e amemos o próximo como a nós mesmos”. S. Mateus ensina-nos que a nossa oração deve ser tão humilde, tão confiante e perseverante que nos conduz ao recanto
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do nosso quarto, ao isolamento, a subir a montanha e a sair do rebulício do mundo. Não é a falar de Deus ou rezar em público que vamos fazer dos não crentes, crentes. Eles se farão crentes pelas obras que verão em nós. A concentração profunda leva-nos à abstração de tudo o que nos envolve, não nos cansa e faz com que o amor cresça, harmoniza-nos com o divino e leva-nos a participar nesse poder, isto é, no domínio do pensamento em Deus. Fomos feitos para pensar com dignidade, mérito, dever e sinceridade. Assim nos fazemos grandes e encontramos a grandeza e nobreza da nossa alma. Imaginar é mais importante que conhecer porque ao imaginar podemos ser criativos e também chegarmos ao conhecimento  que nos leva a descobrir por nós o Deus que nos criou. Segundo um autor brasileiro “não há riqueza igual à saúde do corpo, nem prazeres que se comparem com as alegrias da alma”. O segredo da saúde do corpo está na sobriedade;  assim como, os dons em actos, são remédios da alma e do corpo. As duas coisas estão ligadas como o corpo que conduzimos segundo os dons da alma. “Amai-vos uns aos outros” Há diferença entre Amor e amizade, embora imanentes. O amor reina, é mais elevado, como a arte é mais elevada, é devoção. A amizade é a virtude de quebrar a solidão, de dar a mão e diz o povo “ que quem tem amigos, não morre na cadeia”. O Amor é a teia com que se urde a vida, portanto há que Amar e não perder tempo pois onde está o Amor está a Amizade por isso irmanam. Há que tratar os amigos como queremos que eles nos tratem. O Pe. António Vieira disse “é bom ser importante, porém, é muito mais importante ser bom”, ou, como Stº Agostinho, dizia “aquele que tem caridade no coração, têm sempre qualquer coisa para dar”. Assim o matemático Pitágoras também nos “Versos de Ouro” apela: cada dia antes de dormir, “Faz o teu exame de consciência” em pormenor na corrida das horas do dia e, no fim, pergunta: que fiz? E a propósito da humildade e bondade acrescenta: “ cala-te ou diz coisas que valham mais que o silêncio” O que fiz verdadeiramente, fez alguém feliz? É que o silêncio depois da palavra é o segundo poder do mundo. Às vezes ao falar demais, afastámo-nos e afastamos Deus, enquanto o nosso calor silencioso, mas dinâmico clama a aproximação de Deus. “Só quem se integra em Deus sabe o que é Deus, dizia o “Gandhi. A nossa confiança nos outros deve revelar que desejaríamos que eles tivessem a mesma relação connosco.
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Cantar é sinal de alegria. S. Paulo recomenda aos Efésios ficai cheios do Espírito Santo, falando de vós mesmos em hinos e cânticos, cantando e louvando o Senhor. A arte pode parecer uma mentira, mas sempre revela uma verdade. Pintar a morte parece dramático, mas afinal revela uma dor de menores males. Para alguns artistas é considerada como um dos maiores bens, pois sendo este modo terreno uma prisão, onde o espírito está aprisionado ao corpo físico, não há prisioneiro que não deseje a sua libertação. Para melhor entendimento peguemos na Bíblia e abrir no livro Eclesiastes, ele dá-nos outro sentido. Cícero dizia que somos hóspedes neste mundo e quando morremos não saímos da nossa casa, mas da hospedaria. A morte é a verdadeira e grande chave da nossa felicidade. Somos um incessante nascer e morrer em cada dia, hora e momento. S. Escrivã de Balaguer como S. Francisco de Assis chamam-lhe a irmã morte. Seja portanto, bem-vinda quando Deus quiser. Não tenhas medo que o pai Amor, não castiga, é tolerante e espera, não lhe fujas, aproxima-te e a felicidade estará contigo para sempre.
DE CARÁCTER PESSOAL COMO É QUE SOU PADRE?
Eu era muito rezador, ajudava à missa com 7 anos; para além do terço em família e, no dia do baptizado da minha irmã disse no convívio familiar: “Eu quero ser padre”. Não saberia bem o que estaria a dizer, mas o que é certo nunca pus de lado esta ideia enquanto não me habituei ao Seminário, a estar longe da Família e dos amigos. Na minha decisão final teve muita influência o meu trabalho na Legião de Maria. Como cheguei a discernir que Deus me chamava para servir os outros na cadeia de Braga, no Hospital de S. Marcos a visitar os doentes e nos acampamentos dos ciganos, sobretudo, no acampamento de S.João da ponte!... Desde que me comecei a conhecer, lembro-me sobretudo, das muita hiperactividade que naquele tempo se chamava irrequietude, “criança irrequieta”. Era um irrequieto e as irrequietudes, muitas vezes, nessa altura, pagavam-se caras: e a gente ia-se afazendo ao que desse e viesse, pois, não me deixava ficar sem que desse uma resposta diferente. Os meus pais nessa altura, mesmo na escola, não se falava de psicólogos. No entanto, tinha uma família compreensiva.
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Se era para avançar, avançava mesmo desse o que desse, pior já não poderia ser. Assim, depressa, às 6 horas da manhã lá ia eu com o gado para a veiga de S. Simão, para a Ponte da Veiga ou para as bouças dos Raíndos, onde havia bom pasto e se fartava depressa, isto é, depressa ficava com a pança cheia e pronto a vir embora. Às vezes ia de tarde, e isso era um forrobodó. Levava-se lanche, o gado fugia para as sombras dos amieiros e salgueiros e, entretanto, brincávamos uns com os outros. Às vezes, ouvindo as histórias das pessoas mais velhas, como o primo da minha mãe o Manuel Araújo, da Regadia, a Vitória casada em Mazarefes com Manuel (Costa?), a Vitória ou outras moças mais velhas que acompanhavam também o gado ao pasto. Nos dias bons, das grandes marés, então os homens e os rapazes iam preparados para tomar banho nos esteiros, sobretudo no poço da gamela, no poço tanguinho, etc… O banho era feito com os calções com que nascemos. Já antes trabalhava na lavoura, não era proibido. Mas não perdi nada com isso. Acho que disso, só não rocei mato, mas carreguei com o meu irmão carros de mato. Podei vinhas, em tudo entrei como activo como os jornaleiros ou os membros da família, até lavrar, cavar, cortar erva, milho, apanhar feijões desde as 4.30h até cerca das 10.00h., quando o sol de verão começava a aquecer e os feijões começavam a picar. Experimentei trabalhar com a pólvora que havia em casa para carregar os cartuchos da arma caçadeira do meu avô, ou do meu tio, foguetes, pintar e brincar com os outros. Recordo como criança e adolescente organizar festas religiosas. Tinha de ser eu sempre o pregador, ainda que não dissesse nada. Era o padre enquanto os outros pegavam no andor de Santo António ou de S. João, ou simulavam pegar em lanternas ou no pálio feito de papel e paus a servir de varas e até a fazer a figura de anjinhos. Sempre fui muito rezador e adormecia a rezar sozinho, mesmo depois de rezar o terço em família. Um ano pensamos num fogo preso a ser estourado de noite. Era eu o especial engenhoca, bombas de carnaval, foguetes de cana de junco, etc. (subiam aí uns dez metros). Armamos um espantalho para parecer um homem carregado de bombas e era dependurado no meio da estrada.
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Fiz um cartaz, pois tinha jeito para o desenho e pintura, herdando alguns dons do meu pai em papel grande de fazer cartuchos, mas em tamanho grande mais que um A3 de hoje, melhor do tamanho do papel que hoje se compra para fazer embrulhos, mas muito mais grosseiro. Foram esses cartazes distribuídos pela freguesia. Não sei a razão, mas nesse dia apareceram os guardas-republicanos de bicicleta a perguntar quem era o Artur Coutinho e foram bater à minha casa. Não sabia para o quê, mas como o meu pai estava no “lugar”, isto é, pelo quintal fui-lhe dizer que os guardas estavam à portinha de casa. Afinal um deles, debaixo do côncavo barrete que enfiava na cabeça naquele tempo, tira um desses cartazes e eu fiquei a observar de longe. Não podíamos fazer o fogo preso. Fica sem efeito. Dei explicações ao meu pai e, por fim, sob a sua responsabilidade podíamos fazer tudo. Resolvemos estourar o espantalho, em vez de vir para a estrada foi estourado no meio da eira com a presença dos colegas. Tinha o meu pai andado a abrir um poço para água de rega no quintal e no campo do cruzeiro. Não me recordo como a água ia ter ao campo do cruzeiro, mas talvez pela valeta da estrada. Portanto, fez-se toda a festa e o rastilho que eu sabia que tinha sobrado ao meu pai para dar fogo em pedra no fundo do poço, foi usado na mesma para ir do coberto para a eira e inundado de fogo lá chegou ao espectáculo. Aquilo é que foi estourar! Também a pólvora que o meu pai utilizava para o meu avô ou o meu tio usar na arma de caça e preparar os cartuxos para o efeito, ela foi estourando de vez em quando por trás da escola primária, entre o desnível do muro da escola e o valado do fundo. Ouvia-se em toda a freguesia. As professoras às vezes assustavam-se, mas não havia ninguém metido nisso, pois nem um, nem os que me ajudavam queriam receber umas reguadas, ou chicotadas com canada-índia, chibatadas ao jeito do tempo. Uma ocasião ia mostrar aos colegas como a pólvora ardia, mas, essa brincadeira saiu-me cara porque, por causa do vento, queimei as pestanas e o cabelo sobre a testa, pelo que para não haver grandes castigos, todos foram unânimes em defender-me com uma fogueira de outra coisa. Enfim… Havia uma coisa boa de que eu gostava de ver e ter provado uma vez. Era o tempo da toma de óleo, de fígado de bacalhau, para combater o raquitismo nos meus colegas mais pobres. Talvez me tenha sensibilizado para o discernimento entre pobre e rico e dar a mão aos colegas pobres. Então despertou em mim a vontade de levar os colegas da escola mais pobres, na hora do recreio ou do lanche a minha casa, que ficava ali a cem
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metros. Normalmente, os meus pais, a essa hora, andavam pelos campos com as jornaleiras. Levava os colegas comigo para a adega para comer presunto, toucinho com pão milho do forno. Às vezes iam os chouriços e a fruta nem se fala. Quando não havia uma coisa havia outra. Quanto ao tempo das castanhas, tínhamos 2 castanheiros no nosso quintal e outro no campo do cruzeiro. No entanto, havia o tempo de varejar as castanhas e elas, nessa altura, desapareciam. Como o vizinho, Senhor Daniel Liquito, tinha também um bom e alto castanheiro na sua propriedade, atrasava-se no varejamento e uns dias levei os rapazes para as castanhas do Senhor Daniel Liquito, Deus o tenha agora no céu, pois era um bom homem e, naturalmente, reagiu daquele modo porque era uma questão de abuso porque se os colegas lho pedissem era capaz de lhes dar… Eu ficava no campo do cruzeiro debaixo do nosso castanheiro com as sacolas da escola dos colegas e eles lá iam para as castanhas. O vizinho já se teria apercebido disso. Um dia, escondeu-se debaixo de uma vinha do lado nascente, e quando eles estavam a apanhar castanhas apareceu ele a ralhar e os colegas, alguns fugiram até casa, outros ainda vieram buscar as sacolas, mas eu não pude segurar uma. Esse colega teve de ir ele ou a família buscar a sacola que o Senhor Liquito ma tinha tirado das mãos. Era roubo e eu era cúmplice, mas era por uma causa boa. Eram filhos de pobres e não de ricos que esses levavam bom lanche para a escola e iam para casa. Os outros, o que viesse “à rede era peixe”. O que mais me fazia sofrer, era saber que aquele ou aquela passava fome, não levavam lanche para as aulas e tinham cara e rosto de mal passados na vida, bem como o manifestavam no corpo. No entanto não deixei nessa altura de ser recriminado pelos meus pais. Fiquei na dúvida: fiz bem ou fiz mal? Ficamos todos bem e éramos amigos como hoje, embora cada um no seu canto e em trabalhos tão diversos e distintos. Todos com a mesma dignidade e distinção. Quando não havia mais nada, era pão molhado em azeite e assim muitos matavam a fome, isto é, porque em casa não havia fartura e eu, embora tivesse fartura fazia como eles para que não se sentissem obrigados para comigo. A minha oração não falhava pela manhã e ao deitar, depois de rezar o terço em família, liderada pelo meu avô materno, ou pelo meu pai. As orações
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eram fáceis: “Avé-marias e Pai-nossos”. No Seminário fui aprendendo a rezar outras fórmulas e a orar com o coração. Sempre aprendi, até hoje, a rezar de muitos modos e cada vez mais com Amor e a trabalhar com a oração, ou a estudar de modo que todo o meu ser se envolva na intimidade com o Senhor da Vida e na caridade com os irmãos. Veio o tempo do seminário. Os meus pais queriam que eu estudasse, fosse no Seminário, ou em qualquer outra escola, fosse onde fosse, para o pai, a preferência era o Seminário. Não disse nada à professora para me preparar para o exame de admissão. Meteu-me no Colégio do Minho e fiz exames de admissão em Viana e em Braga. O de Braga foi uma provação negativa que me tirou a vontade de ser padre, pois estar uma semana sem saber da família e dos amigos, isso custaramme lágrimas de dor: “Já não vou para o Seminário.” “Não quero ser padre” e quando chegou a carta de chamada com o meu número, a data, horas de entrada e o enxoval a levar, escondi essa carta aos meus pais. Já lhes tinha dito que não ia. Cinco dias antes de dar entrada no seminário, o padre José de Jesus Soares Ribeiro, o abade de Mazarefes nessa altura, perguntou-me: Então o enxoval já está pronto? Eu disse que não porque não ia para o Seminário. Deu-me um “ronco” de tal forma que até me assustei e disse ele que ia falar com os meus pais. Resolvi apresentar a carta aos meus pais porque isto não tem volta atrás. Naquela semana, os meus pais, a minha madrinha e as criadas de servir do meu avô e dos meus pais compraram tudo e puseram tudo em ordem, passado a ferro, com o respectivo “nº 92” em cada peça: nos lenços, lençóis, travesseiros, cobertores, cobertas, guardanapos, pijamas, meias, calças, etc… Chegou o dia, para lá fui contrariado, mas fui, não podia ser de outro modo. Há que aceitar esta prisão. Queria ser padre, mas não preso e longe da família, mas enfim… Os dois primeiros anos passei-os mal de classificação, mas no terceiro ano, diferente do ensino público, era ano de exames e passei com média geral de 13 e sem negativas, como nos anos anteriores, com 2 negativas possíveis, a matemática, música ou latim num ano. Já estava mais conformado. Regras para tudo, disciplina quase militar e até a educação física (a ginástica) era dada por um alferes do Comando do Exército de Braga. Gostava. Lá fui andando melhor ou pior e fiz o Curso de Humanidades. No entanto, entrei na Legião de Maria e já frequentava Filosofia. Os meus
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directores espirituais foram sempre excelentes e nunca me deram ou tiveram para comigo um gesto negativo. Eu gostava de lhes falar e de os ouvir. Assim me ia amoldando aos poucos. Porém, a Legião de Maria foi aquele movimento que me deu um sentido diferente à minha vida no sentido pastoral e nos 4 anos de teologia praticamente passava as tardes no Hospital de S. Marcos, junto dos doentes mais isolados, ou na Cadeia com os presos ou nos ciganos do acampamento de S. João de Braga ao lado direito da Avenida. Sentava-me dentro das tendas deles ou das celas na Cadeia, via e ouvia coisas que não gostava e como se diz ”quem entra numa casa vê e ouve” e quando se sai “é cego e mudo”. Assim fazia, embora o meu coração pulasse de alegria e de tristeza, vivendo experiências que me levaram a pensar como quando tinha 5 anos, no dia do baptizado da minha irmã: “Quero ser padre”. Sendo Padre faço mais e melhor e dar-me-ei totalmente, por Deus e por Maria aos outros. Acabei por andar no meio deles à vontade. Organizei uma catequese para as crianças ciganas na Capela de S. João e atrás das crianças iam as irmãs jovens. A catequese chegava a todos. Organizei uma peregrinação de ciganos à Senhora do Sameiro. Depois de falar com o patriarca deles que era o Senhor Isacc, era o mais velho dos ciganos dos três acampamentos de Braga, e vivia no acampamento do sopé do Picoto. Passaram a mensagem, vieram de Famalicão, Póvoa de Varzim e um grupo mais a poente destes que nunca o visitei. A pé ao Sameiro era difícil diziam eles. Então arranjei os carros da Câmara. Levaram os ciganos até à Senhora de Falperra e dali seguiram todos a pé para a Senhora do Sameiro, respeitando sempre a devoção deles…. Grande e inesquecível esse dia para eles, para o Cónego Quintas Neves e para mim que ainda não era diácono, não só no aspecto religioso como no convívio e na partilha dos farnéis e danças num espaço sagrado que a GNR
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interveio, mas a minha presença foi o bastante quando me dirigi aos agentes e lhes disse: deixem lá são ciganos. A festa continuou. Em Viana já me conheciam quando aqui cheguei e até sou padrinho da Luzia Silva. Aqui trabalhei algo com eles, mas não podia repartir tanto, nem tinha poder para isso. Essa pastoral só indirectamente me tocava. Nos 40 anos dos direitos Humanos organizei na Paróquia esse aniversário, num domingo e envolveu toda a catequese e seus familiares. Acabou a tarde com um conjunto cigano que dançaram e tocaram músicas à vontade deles ou tocada e dançada por eles e alguns dos nossos ao lado da igreja. A Câmara Municipal fez o favor de nos montar um palco e os ciganos gostaram, bem como a comunidade paroquial. Quando se celebraram os 40 anos dos direitos humanos, já aqui na Paróquia, nesse ano que na Quaresma, em vez da via-sacra de um domingo, organizamos uma oração cigana. Lá vieram jovens ciganos, agarrados às suas guitarras e “salmodiavam a seu jeito”, até pareciam os salmos da bíblia, mas eram apenas pensamentos e palavras que lhes saíam do coração e da boca e havia metade da igreja cheia de ciganos e outra de não ciganos. Claro que as novidades para os que gostavam de manter as suas tradições, como a via-sacra não gostaram nada, mas eu e mais sentiram-se enlevados com o que lhes saía da alma, coisas que não lembravam a ninguém. Afinal os ciganos têm alma e sabem rezar, de outro modo, sim, mas sabem rezar, como chorar os seus mortos, expandir as suas alegrias e erguer as mãos para Deus sobretudo quando precisam. Isto é importante e para mim fizemos mais acções e se mais não se fez foi porque não tinha poder material e poder de ordem. Gosto muito da gente cigana. Alguns podem ser aldrabões, mas também entre nós os há e às vezes mais proporcionalmente porque a nossa população é maior. Vejam que talvez a população cigana pode ser menor que os corruptos que podem existir. Só Deus sabe, onde está a verdade. Há muitos que estão presos e deviam estar soltos e outros que deviam estar presos, mas andam à solta e podem fazer tudo. Havia de existir uma paróquia de ciganos e já não poderei muito, mas até gostava paroquiar essa gente. É um desafio e como era para mim podia ser ainda para qualquer padre que se sinta chamado para conviver, evangelizar e celebrar com esses nossos irmãos, das ditas “franjas da sociedade”. Bom, mas onde fiquei eu? - No Seminário. A Legião de Maria, os seus trabalhos as suas reuniões singulares, o seu espírito e a extensão deste movimento por terras de Abrantes, Portalegre e
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Castelo Branco, fizeram-me muito bem quando ainda estava nos últimos anos de Teologia. Conheci muitas realidades da vida e muitas diversidades de pessoas desde os padres aos leigos católicos, bem como o diálogo com os protestantes, bem como uma ou outra Igreja cheia para fundarem um grupo da Legião de Maria. Um dia andei cerca de 20 kms a pé para encontrar vários párocos, de terra em terra, desde  Carvoeiro até Alferrarede, em Abrantes.  Tive a sorte de uma boleia porque lhe pareci ao homem do carro um funcionário da Câmara de Abrantes. Essa boleia soube-me a ouro, depois de uma noite mal passada (em Carvoeiro ou Envendos) não importa. Saí de Mazarefes para este trabalho, no dia a seguir às Bodas de Ouro matrimoniais dos meus padrinhos: Maria Rodrigues Amorim e o Artur Augusto de Matos. No dia 8 de Setembro de 1971, já diácono, acabei o curso de Teologia e segui logo para Balazar onde estive a estagiar com as funções de Diácono. Boa experiência e bons ensinamentos do Pe. Francisco Dias de Azevedo. Aí verifiquei que a religião, ou isto de ser padre, não era só rezar, celebrar missa, mas era ter a Paróquia no coração de uma forma transversal e próxima de todos, uma família, onde ninguém podia passar mal. Quando fui ordenado diácono só a família e poucos amigos se deslocaram a Braga e a minha avó paterna encamada ficou entregue não sei se a uma irmã da “criada” Maria ou à vizinha e aparentada Luzia esposa do Avelino Reis (Avelino da Vila) também aparentado. Depois acabei por vir estagiar na Casa dos Rapazes, em Viana do Castelo, como preceptor. Outra experiência tão boa que me deu mais garra antes de começar a minha vida de Pároco o que mais gostava depois da minha ordenação na igreja paroquial de Apúlia, terra de um colega, o Hipólito que infelizmente tinha a doença dos pezinhos faleceu muito novo depois de estar em Âncora e em Vila Franca onde veio a falecer. Visitei-o várias vezes e uma vez levei o bispo, de saudosa memória, D. Armindo Lopes Coelho, com ele esteve muito tempo e antes de o deixar deixou-lhe boa lembrança nas mãos. Foram estes os três párocos que conheci desde os meus cinco anos, em Mazarefes, até à ida para a Serra d’Arga. O Pe. José Ribeiro levou-me para o Seminário. O Pe. Eusébio Esteves Baptista ajudou-me e animou-me. O Pe. Sebastião Pires Ferreira aceitou-me em teologia com agrado e organizou a Paróquia para ir e para me receber no regresso da Apúlia como presbítero. O Padre Sebastião, hoje, Vigário Geral, acompanhou-me com seu pai à Serra d’Arga e a Dem onde seu pai tinha muitos amigos.
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Depois dos estágios chegou o dia há muito esperado ser ordenado sacerdote para sempre. Aconteceu na Igreja da Apúlia, no dia 9 de Julho de 1972, aí se deslocou muita gente de Mazarefes e foi pela manhã. Ao fim da tarde cheguei a Mazarefes, com a motorista Dra. Nadir Santos Lima e fui recebido no meio de muita festa pelos meus conterrâneos, desde as crianças aos Jovens e mais velhos. Entrei na Capela da Senhora das Boas Novas e aí fiz uma celebração da palavra. Um dia que não se esquece. Tudo sob a orientação do Pároco, Padre Sebastião Pires Ferreira. Logo em fins de Julho e princípios de Agosto já se constava que Vila Nova de Cerveira ou a Serra d’Arga era o meu destino. Fui nomeado pároco de 4 freguesias: as três Argas e Dem. Foi a Missão que D. Francisco me atribuiu como 3º sacerdote a ir para lá saído do Seminário. Os anteriores iam mais velhos. A Serra d’Arga antes de mim foi paroquiada por padres novos: o Pe. João Oliveira que depois de 4 anos foi nomeado pároco de Covas-Vila Nova de Cerveira, seguindo-se o Pe. Adelino Sousa que vivia em Covas e vinha à Serra d’Arga, onde esteve 2 anos e depois foi para V. N. de Cerveira, acabando por ir para Santa Marta de Portuzelo e a seguir fui eu. Vivia em Dem, em casa alugada ou emprestada, e vivia também em Arga de Baixo, onde estive seis anos. Depois de mim mais nenhum pároco viveu naquelas paróquias. Da Serra d’Arga com Dem foi um risco e um desafio que me foi oferecido para os meus voos pastorais. Não era gente exigente mas era gente crente, de muita caridade, misericórdia, generosa, humilde e simples. Era daquela gente que gostava do evangelho prático, de modo que viviam todos em paz e como uma família e para alimentar e aliviar as durezas da Serra realizavam muitas festas: nos bailes, nas igrejas e ninguém era mais que aquele, mas também não estavam de menos, mas nada faltava ao padre. Quanto aos padres antigos, eles lembravam muito bem e diziam a propósito de um ou de outro, já está no céu, só Deus sabe que não gostavam de falar, nem de ouvir alguém dizer nada contra este ou aquele sacerdote que fez algo que não devia. “Foram bons padres, santos padres”. Tudo perdoava com muita facilidade. Para eles o pecado do padre estava na ostentação, na vaidade, no orgulho, na pedincha do dinheiro para uso próprio. Isso era feio, isso é que era pecado. O resto é lá com Deus e com eles. Não podemos julgar, diziam eles. Recebi lições, aprendi muito com aquela bondosa gente. Ajudavam-se uns aos outros nas desgraças e a Igreja é nossa, não é dos outros, por isso há que conservar e melhorar o património dos nossos antepassados.
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No entanto, para além disso não exigiam ao padre a não ser as missas ou confissões, casamentos e funerais. Não pediam mais do padre. Contudo, consegui levar jovens a cursos de formação jornalística dado que tinham um jornal “o Serra e Vale” que era das três Argas, Covas e Dem à Mariápolis e a estudar no ensino público. A falecida Georgina Samico, da Casa do Pereira, ficou em casa depois da 4ª classe. Foi um ano ou dois depois de eu entrar que foi estudar. Foi médica, esposa e mãe de um casal de filhos, mas já faleceu de uma doença que a não poupou. O José Manuel Pires vivia em Caminha era da Arga de S. João e estudou e formou-se em Engenheiro Zootécnico. O José Manuel Pinto também d’Argade S. João estudou até ao 12º ano e é hoje um grande empresário no Brasil. Em Arga de Baixo distinguiu-se a Lúcia que recomeçou aos 15 anos na Telescola em 1973. Sabia tanto que a propus para exame do 2º ciclo na altura, logo no ano de 1974. Faz em 1975 o 5º ano e em 1976 o 7º ano com boas notas. Concorreu ao Magistério Primário com o 7º ano, hoje, 12º ano, 3 vezes e não conseguiu entrar. Faltava algum padrinho? Depois veio o 12º ano e já trabalhava, mas à noite fez o 11º e o 12º anos, equivalente ao antigo 7º que já tinha, e entretanto trabalhava em S. Romão do Neiva. Por a conhecer bem sobre as suas qualidades e dons, eu e a Natália Castelejo da Direcção do Centro Social pedimos ao Pe. Moreno, pároco de S. Romão do Neiva que Deus haja, para no-la ceder a fim de abrir o Berço, em Setembro de 1992. Ficou por aí e tem cabeça, boa formação não só de família como do que a vida lhe foi dando. Na Serra todas as famílias eram de boa referência para mim, mas de um modo particular a do Zé do Meijão em Arga de Cima, a família do Costinha de Baixo, em Arga de Baixo, a família do Pinto, em Arga de S. João, bem como, várias de Dem. Quanto ao ensino escolar primário estava garantido quando lá cheguei até à 4º classe, mas muitos não chegavam lá. A 6º classe ninguém a frequentava. Algumas crianças estavam paradas em casa à espera de ir para Lisboa trabalhar. Aproveitando as palavras de “Veiga Simão”, Ministro da Educação, quando em Caminha o ouvi dizer que onde houvesse uma criança tinha de haver uma escola, aproveitei e dirigi-me com os pais das crianças que estavam em casa ao Ministro a pedir duas Telescolas: uma para Dem e outra para Arga de Baixo. Conservo ainda uma cópia de uma das folhas como posso mostrar um dos pedidos. Em 1 de Outubro de 1972 entrei a paroquiar 4 freguesias: 3 na Serra d’Arga e Dem, onde o pároco era conhecido pelo “patriarca da Serra d’Arga”.
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Comecei com obras na igreja de Arga de Baixo no mesmo ano, depois em Arga de S. João e ainda depois em Arga de Cima. Quanto às igrejas paroquiais, cada uma teve a sua inauguração com autoridades civis e religiosas com D. Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga. Em 1973 fundei dois Postos de Telescola, um em Dem e outro em Arga de Baixo. No fim das obras nas igrejas comecei por restaurar a capela da Senhora da Rocha, a Capela de Santo Antão e a Capela da Senhora das Neves. Frequentava aulas de história na Faculdade de Letras no Porto pela manhã, e nunca faltei às aulas e missa diária na Paróquia, e melhorei a igreja nova de Dem, e colaborei com todas as juntas em obras públicas, electricidade, estradas, caminhos, telefones, de um modo muito particular na venda do leite em cada freguesia das Argas, com postos de recolha do leite. De 15 em 15 dias, os produtores recebiam bastante dinheiro porque o leite da Serra d’Arga era o mais gordo que a Agros recolhia. Em cada paróquia havia o Conselho Paroquial que reunia e a “Comissão Fabriqueira” que reunia todos os meses. De cada paróquia mandei para formação no centro Mater Eclésia, no Sameiro, Ministros da Comunhão que na impossibilidade de eu estar, eram quatro freguesias, eles faziam o Mês de Maria com o coral, celebração da palavra e comunhão. Percorri a Serra toda a pé com a ajuda de paroquianos e descobri documentos pré-históricos. Recolhi também topónimos da Serra e cantigas populares que depois organizei em Viana e fiz duas publicações: Cancioneiro da Serra d’Arga editado por três vezes e Mosaicos da Serra d’Arga também reeditado uma vez e tudo se encontra esgotado. Dei aulas nos primeiros 3 anos em Arga de Baixo, ainda com gerador e depois com electricidade, vindo depois para a Escola de Dem. Ao fim de seis anos estava cansado de celebrar missas (4 missas, uma em cada freguesia, e começava às 8H, 9H,10H e 11H), o que me levou a pedir para sair de lá porque a celebração da eucaristia não pode ser de modo algum de forma mecânica. Queria ir para uma aldeia ou estudar Parapsicologia no Instituto Latino Americano, em S. Paulo destas ciências. Depois de ter estudado pessoalmente este assunto pelos livros do Jesuíta Óscar Quevedo...e outros autores americanos procurei, por isso, levar os paroquianos a distinguir a religião de uma superstição e escrever inclusive sobre exorcismos feitos por um sacerdote e coisas de Bruxas, a que  chamei pelo nome nos jornais, de tal modo que muitos paroquianos supersticiosos temeram pela minha vida... A minha vida sempre se pautou pelos princípios do evangelho como sacerdote seguindo orientações dos meus superiores e prezo-me por isso. Não o sinto como vanglória porque nada saiu de mim e se alguma felicidade sinto devo-a ao Deus de Misericórdia, de quem procuro continuar a dar testemunho
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daquele que me chamou e deu-me graças para ser pastor, olhar e aproximarme das ovelhas e dar-lhes as mãos no seu todo... Saí em 31 de AGOSTO de 1978. Saudades trouxe e saudade deixei que ainda duram. Da maioria dos paroquianos das quatro freguesias trouxe dedicatórias em quadras populares e autógrafos que conservo em livros próprios. ENTREI NA PARÓQUIA DE Nª Sª DE FÁTIMA em 2 de Setembro do ano de 1978, ajudado e convencido pelas minhas obrigações de Missão e convencido pelo Sr. Padre Pedreira, hoje bispo emérito, a quem devo os princípios em que apostei na pastoral desta Paróquia. Isto parece falta de modéstia, mas o meu objectivo é mostrar que sou uma pessoa como muitas outras e que sou padre porque Deus me chamou como era, como sou e serei até quando Ele queira. Sinto-me muito feliz, são ou doente. Sou eu e Deus. Cá nos entendemos e como aprendi no cursilho “Eu e Deus, maioria absoluta”, mas acrescentaria eu com os outros sem maldade ou sem radicalismo, vivendo em diálogo somos o Amor de Deus.
25 ANOS DE SACERDOTE, EM 1997 (de Dr. Albino Ramalho)
ARTUR RODRIGUES COUTINHO Nasceu a 7 de Janeiro de 1947, na freguesia de Mazarefes, Viana do Castelo. Estudou nos Seminários de Braga e concluiu o curso de Teologia em 1971. Paroquiou, de 1 Outubro de 1972 a 31 Agosto de 1978, as três freguesias das três Argas e Dem, tendo publicado pela primeira vez, em 1980, o “Cancioneiro da Serra d’Arga” na 4a edição, esgotada. Em Setembro de 1978, veio para a Paróquia citadina de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, onde se encontra. Em 1986, publicou “A Cidade de Viana no Presente e no Passado’’, editado peia Paróquia, com uma 2a edição (revista e aumentada), em 1998, Foi ainda autor de outras publicações, como: “Livro de Bênçãos” em 1990; “Oração em Família”, 1a e 2a edição, em 1994; “Mosaicos da Serra d’Arga”, em 1996, com duas edições e esgotado; “Celebração em Família”, em 1997; “Milagres de Amor”, em 1998 e reeditado em 2018; “Páscoa de Rosto Lavado”, em 2001; Abrindo Portas, em 2013 com 150 páginas; “Costumes e tradições populares”, em 2012.
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Em 1999, com Natália Castelejo, publicou “Rugas ...testemunho da geração, do saber, do amar...” para comemorar os 20 anos do Centro de Dia da Paróquia. É autor de 4 volumes de “Famílias com Rosto”; o 1 ° volume com mais de 300 páginas em 2005; o 2o volume com cerca de 250 páginas em 2008 e o 3° volume com cerca de 250 páginas em 2011, o 4º volume com 200 páginas, em 2016. Tem coordenado outros trabalhos editados pela Paróquia como “Devocionários” e o Organigrama Paroquial, desenvolvido e explicado por ocasião dos 25 anos da fundação da Paróquia. É sócio fundador do Centro de Estudos Regionais de Viana do Castelo. Foi redactor do “Notícias de Viana”, director do Mensário “Serra e Vale” e é, actualmente, director do jornal “Paróquia Nova”. Co-fundador da Liga dos Amigos do Hospital de Viana do Castelo. “Apesar das carências que ainda existem na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, encontramos uma acção Sócio Caritativa muito forte e a preocupação de desenvolver a vertente da educação na fé, assim como acções de formação dos seus membros no aperfeiçoamento religioso”. “Já me apercebi que esta Paróquia é aquela que tem organizado um melhor acolhimento a quem chega...” “Todos os presentes são representantes das actividades da paróquia e, como responsáveis, são, na sociedade, o fermento da Igreja na salvação do Povo de Deus e foram chamados para levar a esperança às pessoas. O Conselho Paroquial de Pastoral é a força motora de novas ideias”. “Reconheço todo o esforço feito pelo Pe. Coutinho em prol da Paróquia e de todos os seus paroquianos, pois ele se preocupa mais com as pessoas do que com o cimento”. D. Armindo Lopes Coelho, Bispo de Viana do Castelo, Acta n°33 do Conselho Paroquial de Pastoral, 4 de Outubro de 1996, numa reunião à qual presidiu, na ausência do pároco. “...O dinamismo e os frutos do teu ministério sacerdotal bem o merecem. As obras falam por si.” D. José Augusto Pedreira, in P.N. n° 126,2003 “Quero que me sinta entre os tantos que estão consigo a agradecer a Deus estes 25 anos de trabalho e a rogar energia crescente para cada ano que passe”. D. Manuel Martins, Bispo emérito de Setúbal Em 11 Julho de 1997, recebeu da Câmara Municipal de Viana do Castelo o diploma “Cidadão de Mérito” da cidade de Viana do Castelo, em virtude da sua intensa e sacrificada actividade apostólica, social e cultural.
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Em 2004, Sílvia Cristina Forte Liquito Barreto escreveu sobre ele um livro de 480 páginas com o nome “Fragmentos - 25 anos de um Pároco”, pelas bodas sacerdotais,
Com a devida licença do Dr. Albino Ramalho pelos acrescentos que fiz ao seu texto de algo que me pareceu faltar.
1 -  DADOS BIOGRÁFICOS 2 -  FORMAÇÃO PROFISSIONAL 2.1 - Formação Académica 2.2 - Profissionalização 2.3 - Actualização Científica e Pedagógica
3 -  ACTIVIDADES PEDAGÓGICAS 3.1 - Actividades Docentes na Área Escola 3.2 - Actividades Docentes na Área Turma 3.3 - Cargos Directivos Desempenhados 3.4 - Actividades em Relação ao Meio 4 -  ACTIVIDADES NO JORNALISMO 4.1 - Direcção 4.2 - Redacção 4.3 - Corretor de provas
5 -  OBRAS PUBLICADAS 5.1 - Livros publicados 5.2 - Trabalhos publicados
6 -  ARTE E CULTURA 6.1 - Espectáculos 6.2 - Exposições 6.3 – Concursos
1.1 -  DADOS BIOGRÁFICOS NOME  - Artur Rodrigues Coutinho DATA DE NASCIMENTO  -  07/01/1947 NATURALIDADE  -  Freguesia de Mazarefes
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2.1 - FORMAÇÃO ACADÉMICA 2.1.1-Curso de Humanidades do Seminário Menor de Braga, em 10/01/59. 2.1.2-Curso de Filosofia do Seminário de Santiago em Braga, em 10/01/65. 2.1.3-Conclusão do curso de Teologia do Seminário Conciliar de Braga, em  04/10/71. 2.1.4-Exame “AD HOC” em Introdução aos Estudos Históricos na Universidade do Porto, em 05/06/1978. 2.1.5-Exame “AD HOC” em Literatura Portuguesa V e VI na Universidade do Porto, em 05/06/1978. 2.1.6-Exame  “AD HOC” em Linguística Portuguesa I na Universidade de Coimbra, em 03/05/1978. 2.1.7-Frequência do 1º ano do curso de História, da Faculdade de Letras do Porto, no ano lectivo de 1975/1976. 2.2 - PROFISSIONALIZAÇÃO 2.2.1-Professor Monitor do Instituto de Tecnologia Educativa de 10/10/73 a 30/09/1978. 2.2.2-Professor Provisório de Religião e Moral na Escola Secundária de Santa Maria Maior de Viana do Castelo desde 01/10/78 a 31/08/91. 2.2.3-Professor do Quadro de Nomeação Definitiva de Educação Moral e Religiosa Católica na Escola Secundária de Santa Maria Maior de Viana do Castelo desde 01/09/1992. 2.2.4-Representante do Grupo de Educação Moral e Religiosa Católica desde 1990 no Conselho Presbiteral. 2.2.5-Representante no Conselho Pedagógico, no período de 01/09/1992 a 31/08/1993. 2.3 - ACTUALIZAÇÃO CIENTIFICA E PEDAGÓGICA 2.3.1-Conclusão dos seguintes Cursos: • Curso de Estudos em Psicologia Aplicada. • Curso de Estudos Teológicos da Universidade Católica Portuguesa. • Curso de Parapsicologia do Prof. Dr. Óscar Quevedo. • Curso de divulgação Parapsicologia do Prof. Dr. Óscar Quevedo. • Curso de Pastoral Social, organizado pela Cáritas do Porto realizado entre 1 a 3 de Março de 1984. 2.3.2-Participação nos seguintes Seminários, Simpósios e Conferências: • Participação como palestrante na semana de estudos da pastoral sóciocaritativa, a convite do Secretariado Nacional. • Participação num debate sobre pastoral sócio-caritativa numa Jornada do Porto, a convite do Secretariado do Porto.   • Ética e Sociedade Contemporânea, promovido pela Universidade
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Católica Portuguesa, em Lisboa. • Ética da Sexualidade em 27-02-1986, promovido pelo CPF. • I Forum dos Jovens Cristãos do Alto Minho subordinado ao tema “Juventude e Vocação no Futuro do Alto Minho”, realizado entre 4 e 5 de Maio de 1995, em Viana do Castelo. • Semana de estudos Teológicos subordinado ao tema “Visão Cristã da Solidariedade”, levado a cabo pela Faculdade de Teologia de Braga, da Universidade Católica, de 12 a 14/02/1990. • Semana de Religião e Moral da Escola Secundária de S. Maria Maior, promovido pelo grupo de Religião e Moral, em 1989. • Semana de estudos Teológicos subordinado ao tema “Nova Evangelização, Novos Pastores” promovido pela Faculdade de Teologia de Braga da Universidade Católica Portuguesa, entre 25 e 28 de Janeiro de 1993. • II Semana de Estudos Teológicos subordinada ao tema “O Regresso dos Deuses”, levado a efeito pelo Instituto Católico de Viana, em 1993. • II Semana de Estudos Teológicos subordinado ao tema “Família e Igreja”, promovido pela Faculdade de Teologia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa, em 1994. • III Semana de Estudos Teológicos subordinado ao tema “Boa Nova da Família”, promovido pelo Instituto Católico de Viana do Castelo, em1994. • XI Semana Nacional da Pastoral subordinada ao tema “Sida” , promovido pelo Secretariado Nacional da Acção Social e Caritativa, em Fátima, em1994. • Acção de Formação Psicopedagógica promovida pelo Departamento do Ensino Religioso nas Escolas, da Diocese de Viana do Castelo. • ”A Arte e a Igreja, Ruptura ou Comunhão?” Promovido pela Faculdade de Teologia de Braga da Universidade Católica Portuguesa. • Seminário subordinado ao tema “Da Europa dos Cidadãos à Europa das Famílias”. • Seminário subordinado ao tema “Toxicodependências”, promovido pelo Serviço de Prevenção e Tratamento da toxicodependência. 2.3.3- Organização das seguintes Jornadas: • Interescolares- “Escola Promotora da saúde”,  em 1990, em Arcos de Valdevez. • Primeira Jornada Nacional de Acção Social”, na Universidade do Minho, em 1991.
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 • Primeira Semana de Estudos Teológicos,  na Universidade Católica em Braga, em 1993.        2.3.3.4-Interescolares, “Viva a Escola” em Viana do Castelo, no ano de 1994. • Jornadas da Família, no Ano Internacional da Família que decorreram de 24 de Março a 01 de Maio de 1994. • “Terceira Semana de Estudos Teológicos” • Terceira Semana de Estudos Teológicos, na Univ. Católica, em Lisboa, em 1995.   • Jornadas do Idoso, no Ano Europeu do Idoso,que decorreram de 03 a 08 de Maio de 1993, no Centro Social.  • Jornadas subordinadas ao tema “Tolerância Juventude”, AIT-1995, na Paróquia. • Jornadas “25 Anos de Paróquia”, realizadas no âmbito da Paróquia de Nª. Sª. de Fátima, em 1992. • Encontro sobre Toxicodependência, na Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, em 1995. • Congresso das IPSS “Novas opções de solidariedade” no Porto, em 1995. • Segundo Forum Sacerdotal, Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas, em Viana do Castelo,1996. • Jornadas “Viva a Escola” – PPES-Porto. • Forum “Ambiente e Civismo”, em 1998, na Paróquia. • “Cultura para Solidariedade”, em Lisboa no ano em 1998. • “Semana do Euro” Centro Social, em 2000. 2.3.4- Participação nas seguintes Jornadas e Congressos: • 18ª Semana de Jornadas Nacionais de Acção Social, em Braga, promovidas pela Direcção Geral de Acção Social na Universidade do Minho, de 6 a 9 de Novembro de 1991. • Jornadas Interescolares subordinadas ao tema Viva a Escola, que decorreu na Escola C+S da Abelheira em Viana do Castelo, em 16-111994. • Jornadas sobre “O Papel da Família na Prevenção das Toxicodependências” levada a efeito em Coimbra de 16 a 18 de Junho de 1994. • Congresso das Instituições Particulares de Solidariedade Social realizado entre 10 e 12 de Novembro de 1995. • Congresso sobre Religiosidade Popular, em Couto de Ornelas, Boticas, entre 19 e 20 de Janeiro de 1985.
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 • Jornada sobre ”Tradição e Modernidade” (Para a Abelheira).  2.3.5-Viagens de estudo ou investigação de iniciativa particular.
3.1- ACTIVIDADES DOCENTES NA ÁREA ESCOLA • Orientação e Coordenação do trabalho subordinado ao tema “A Simbologia da Água”, que foi apresentado em público pelos alunos perante os Pais, Professores e Colegas... • Organização da Exposição de Cruzes e Crucifixos, na Escola. • Organização do Colóquio sobre o Símbolo da Cruz, pelo Dr. Lourenço Alves. • Estudo e apresentação de um Projecto para a Escola, como área extra curricular para três anos subordinado ao tema “Educação para o Desenvolvimento” de carácter global, abrangendo acções interdisciplinares de todas as disciplinas. 3.2- ACTIVIDADES DOCENTES NA ÁREA TURMA E TURMAS                                              DE RELIGIÃO E MORAL CATÓLICA 3.2.1-Orientação e organização com alunos da Escola das seguintes Viagens de Estudo: • Viagem a Lisboa. • Viagem aos Picos da Europa. • Viagem a Roma.
3.3- CARGOS DESMPENHADOS • Delegado da Disciplina de Religião e Moral desde 1986. • Cordenador e responsável pela Igreja do “Projecto Viva a Escola” em 1994/95 e 1995/96.
3.4  - ACTIVIDADES EM RELAÇÃO AO MEIO 3.4.1- NOMEAÇÕES SACERDOTAIS: • Diácono cooperador em Balazar, em 01/09/1971. • Director Interino da Casa dos Rapazes de Viana do Castelo, em 01/02/1972. • Ordenação Sacerdotal em 09/07/1972, na Igreja Paroquial da Apúlia. • Pároco das freguesias d’Arga de Cima, Arga de Baixo, Arga de S.João e Dem, no espaço de tempo de 09/09/1972 a 31/08/1978, Concelho de Caminha. • Pároco de Nossa Senhora de Fátima, em Viana do Castelo, desde 02/09/1978.
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3.4.2- CARGOS DIOCESANOS: • Assistente Espiritual das Conferências  Vicentinas, desde 20/01/1983. • Membro da Cáritas Diocesana de Viana do Castelo, desde 01/04/1984. • Membro do Conselho de Consultores do Bispo de Viana do Castelo, de 28/04/1979 a 1983. • Eleito membro do Conselho Presbiteral da Diocese de Viana do Castelo, em 29/05/1979. • Director do Secretariado da Acção Sócio Caritativa, desde       01/01/1984. • Nomeado Representante da Igreja na Equipa Distrital do Projecto Vida, em 1990 • Assistente Diocesano da Obra Kolping,  desde 10/01/1986. • Eleito e nomeado Arcipreste de Viana do Castelo, em 16/02/1985 até Dezembro de 1987. • Eleito e nomeado Arcipreste de Viana do Castelo, em 01/01/88 até 1990. • Capelão contratado, na Cadeia de Viana do Castelo, durante 14 anos. 3.4.3- PARTICIPAÇÃO EM ACÇÕES INTERNACIONAIS   • Participação como Convidado pelo Estado de KORSCHEMBROICH, numa mesa redonda no dia do Alemão, em 03/10/1993, subordinada ao tema “A UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA”. • Participação como convidado pela Igreja Alemã, no KATHOLIKENTAGUE (Congresso Católico Alemão), que se realizou entre 10 e14 de Setembro de 1986. • Participação, em Roma, na festa de Canonização da fundadora das Irmãs Doroteias, Paula Franssinet, como convidado da respectiva congregação 3.4.4- FUNDAÇÃO DE OBRAS DE BENIFICÊNCIA: • Centro Social e Paroquial de Nª Srª de Fátima. • Centro de Dia para Idosos. • Centro de Deficientes “O Samaritano”. • Infantário de Nª Srª de Fátima. • Berço de Nª Srª das Necessidades para Acolhimento de Bebés e Crianças Abandonadas ou de Alto Risco. • Refeitório Social. • OZANAN Centro de Juventude.     (Levei e colaborei com a Conferência Vicentina da Paróquia a fundar esta Instituição).
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 • ATL. • Centro de Formação Artesanal. • Refeitório Social para Vagos e Passantes. • Posto Médico e de Enfermagem. • CECAN/RD (Centro Comunitário de Apoio ao Necessitado), recolha e distribuição.
3.4.5 - INTERVENÇÃO EM OBRAS DE CARÁCTER GERAL E/OU                  SOCIAL: • Estrada entre Arga de S. João e Arga de Cima, em 1974. • Restauro da Igreja d’Arga de Baixo, em 1973. • Restauro da Capela de Nª Srª da Rocha, em 1976. • Restauro da Igreja Paroquial d’Arga de S.João, em 1974.  • Restauro da Capela de S. João d’Arga, em 1977. • Restauro da Igreja d’Arga de Cima, em 1975. • Restauro da Capela de Nª Srª das Neves, Dem, em 1976. • Restauro da Capela de Santo Antão, Arga de Cima, em 1978. • Colaboração na cobertura da rede de telefones da Serra D’Arga, em 1976. • Construção da Residência Paroquial de Nª Srª de Fátima, em 1981. 3.4.6 - CAMPOS DE FÉRIAS: • Todos os anos na Serra d’Arga com uma média de 50 jovens da paróquia e alunos da Escola, desde 1979. 3.4.7-  ENCONTROS E VIAGENS DE INTERCÂMBIO. •Organização de duas viagens de Intercâmbio com uma Paróquia Alemã. •Acolhimento e organização de Intercâmbio em Portugal para dois grupos da Paróquia Alemã. •Encontros de fim-de-semana param Jovens no Centro Paulo VI e Apúlia. •Natal dos Sem Família, pelas 19 horas do dia 24, desde 1988´. 3.4.8 - LOUVORES E CONDECORAÇÕES: •Louvado pela Assembleia de Freguesia de Dem, acta de 03/09/1979. •Louvor à obra social pelo Lyons Clube de Viana, em13/05/1995. 3.4.9 - MEMBRO DAS SEGUINTES ASSOCIAÇÕES: • Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho. • Associação Portuguesa de Escritores com o Nº 861. • Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros Nº 95188.
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 • Liga dos Amigos do Hospital Distrital de Viana do Castelo. • Irmão da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo. • Sócio-Fundador do Centro de Estudos Regionais, com o Nº 17. • Sócio-Fundador da Conferência de S. Vicente de Paulo, na Paróquia de Nª Srª de Fátima, com o Nº185. • Sócio-Fundador da Sociedade Recreativa e Cultural de Mazarefes, fundada em 11/09/1966. • Sócio da Escola Desportiva de Viana do Castelo. • Sócio do Clube do Coleccionador, com o Nº 33865. • Sócio do Lar de Santa Teresa, com o Nº 740. • Sócio da Casa do Minho, em Lisboa, com o Nº 3505. 4.1 - DIRECÇÃO: • Director do “Serra e Vale”, de 1974 a1978. • Director de “O Nosso Jornal”,Telescola, Arga de Baixo, Caminha,1974. • Director do “Paróquia Nova”, desde 1993. 4.2 - REDACÇÃO: • Redactor do “Notícias de Viana”, 1983. • Redactor do “Serra e Vale”, em 1972. 4.3 - OUTRAS: • Corrector de Provas do “Notícias de Viana”, de 1971 a 1972. • Colaborador do “Serão”, publicado em rodapé, dirigido por José Rosa Araújo, no Notícias de Viana, desde 1966. • Várias entrevistas param a Rádio Renascença, Rádio Geice, Rádio Alto Minho, Rádio Vaticano e para a Rádio Televisão Portuguesa, SIC e TVI. 5.1 - LIVROS PUBLICADOS: • Oração em Família, I e II edição ( 6000 Ex. Esgotado ), em 94 e 1995. • Cancioneiro da Serra D’Arga, I, II e III edição (5000 Exemplares), 1982.A III edição, corrigida e aumentada, é de 2000. Edições do autor. Esgotado. • Cidade de Viana, no Presente e no Passado, da Bandeira à Abelheira.  • (3000 Exemplares), em 1986. A IIª  edição é de 1998, corrigida e aumentada, de 1000 exemplares. Edições da Paróquia de Nª. Sª. de Fátima. Esgotado. • Paróquia, 25 Anos ( 3000 Ex.Esgotado ), em 1992. Edição da Paróquia. • Mosaicos da Serra d’Arga, de 1997, já em IIª edição fac-similada, 3750 exemplares. Edição da Paróquia. Esgotado. • Rugas ...  testemunho da geração, do saber, do amar ... Co-autor com
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Natália Castelejo. Edição do Centro Social Paroquial de Nª.Sª. de Fátima, em 1999. Esgotado. • Mitos, Contos e Lendas da Serra d’Arga, em 2001. • Uma Páscoa com olhos no futuro, em 2004. • Quatro Volumes de “Famílias com Rosto”. • “Milagres de Amor”- em 1019 para a Comunidade. • Costumes e Tradições Populares, em 2012, 300 páginas, esgotado. • ABRINDO PORTAS, em 2013 com 150 págimas, a cores, esgotado. 5.2 - TRABALHOS PUBLICADOS: • Trabalhos de Investigação publicados no espaço “Serão”, rodapé do Notícias de Viana, dirigido por José Rosa Araújo, subordinado aos seguintes temas: • As Inquirições em Mazarefes; • Os três Padroeiros de Mazarefes; • A Toponímia de Mazarefes; • A Casa das Marinheiras; • O Passal de Mazarefes;  • A Casa do Cirurgião; • A Quinta do Bicho; • A Cestaria e o Artesanato de Mazarefes; • Os Pereiras de Mazarefes; • A Igreja Paroquial de Mazarefes; • A Residência Paroquial de Mazarefes; • Vários estudos Etnográficos. • Trabalho sobre a “Igreja Paroquial d’Arga de S. João”, publicado na Revista Caminiana Nº 12, em Dezembro de 1985. • Trabalho apresentado nas Jornadas da Família e publicado no Jornal Paróquia Nova, subordinado ao tema “A Paróquia como Espaço de Apoio à Família”. • Trabalho sobre o tema “Diagnóstico Social, Carências e Exclusões”, apresentado na semana da Diocese, em 08 de Novembro de 1995. • Milagres de Amor,  Páscoa de 1998. • Páscoa de Rosto Lavado, 2001. 6.1- ESPECTÁCULOS: • Participação na organização do espectáculo “Marcos 9.37”, Inserido no Ano Internacional da Criança, em 1979, que esteve em cena durante 11 sessões cujo o ensaiador foi o Padre José Lima. • Cânticos a Deus pelos Ciganos, em 30 de Março de 1985.
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 • 2 Teatros em Mazarefes • 1  Teatro em Dem, ensaiador e pinturas dos cenários para as cenas. 6.2-REALIZAÇÃO DAS SEGUINTES EXPOSIÇÕES: • Exposição de Medalhística, de 27 de Janeiro a 03 de Fevereiro de 1979.  • Exposição Filatélica, com carimbo do Iº Dia, de 24 de Novembro a 08 de Dezembro de 1979. • Exposição de Fotografia, de 27 de Dezembro a 03 de Janeiro de 1982. • Exposição, subordinada ao tema Ecumenismo em 10/09/82.  • Exposição de Medalhas, Objectos e Imagens Marianas, de 13 a 20 de Setembro de 1985. • Exposição Etnográfica, de 07 a 12 de Maio de 1992, no lugar da Abelheira. • Exposição Retrospectiva 25 Anos de Paróquia, que decorreu entre 06 a 12 de Maio de 1992. • Exposição de Selos e Postais Marianos, de 04 a 08 de Dezembro de 1992. • Exposição Filuminaria, de 13 a 20 de Junho de 1994. • Exposição de imagens e objectos marianos.

6.3-CONCURSOS:          Concurso de Fotografias, em 1984, subordinada ao tema “PAISAGENS” do Minho.          Concurso Quadras Populares, a nível Nacional, subordinadas ao tema “Redenção”, em 1983.
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VIAGENS E PEREGRINAÇÕES em que participei (todas), uma vez e que repeti uma e outra vez, nas organizadas para grupos da paróquia… Em 1998 a paróquia organizou 18 grupos durante o ano, mas comecei em 1979 até 2002 para diferentes fontes de interesse. Durante esse tempo movimentei cerca de 40.000 pessoas, paroquianos e amigos desde Vila Real de Santo António a Melgaço e desde Fiqueira da Foz à Guarda.
Alemanha, 15; Argentina, 3; Bruges, 1; Bruxelas, 10; Brasil, 7; Ceuta, 6; Chile, 1; Cuba, 2; Egipto, 4; Escócia, 5; Espanha, 32; Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suécia, Dinamarca, 2; Estónia, 2; Évora, 13; Andorra, 7; Fátima, 49 ; Filândia, 3; França, 18; Goa e Bombaim, 1; Grécia, 8; Holanda, 10; Hungria, 9; India, Hong Kong, Macau e Cantão (China), 2; Israel e Egipto, 12; Itália com Roma, 46; Jugoslávia, 6; Letónia, 2; Licheinstein, 4; Lituânia, 2; Londres, 10; Londres e Escócia,3; Lourdes e Andorra, 25; Luxemburgo, 11; Macarena, Ávila e Sevilha, 4; Macau, 2; Madeira, 4; Madrid, Salamanca, Tordesilhas e Ávila, 13; Malásia, 1; Malta, 2; Marrocos, 4; México, 2; Mónaco, 5; Mosteiro de Lorvão, 2; Noruega, 2; Panamá, 1; Paraguay, 1; Letónia, 1; Estónia,1; Pequim, Xangai, Nepal, 1; Perú, 1; Polónia, 2; Portalegre, 3; Praga, 7; Reino Unido, 7; Roménia com Transilvânia, 1; Roménia e Bulgária, 1; Rússia, 3; S. João d’Arga, 57; Salamanca, 5; Santiago de Compostela, 19; Serra da Estrela, 37; Singapura, 1; Síria, 1; Suécia, 8; Suíça, 9; Tailândia, 2; Terra Santa, 10; Trás-os-Montes, 35; Tunísia, 3; Turquia, 11; Ukrânia, 2; Uruguai, 4; Venezuela, 1;  Várias viagens a todas as cidades e muitas vilas de todo o País e também Espanha, bem como Itália e metade da França.

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OS MANDAMENTOS DA MINHA VIDA
1. Amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo. Esse é o maior e tudo está em harmonia com o mundo terreno em que vivo… Jesus bem sabia que era assim e ordenou. 2. Receber com serenidade os acontecimentos inevitáveis na minha vida, pois o que é melhor para mim é sempre não me afastar de Deus que está em mim e vive em mim; pobre imagem e semelhança, um pecador. 3. Ser verdadeiro ao ponto de me alegrar para fortalecer o corpo e enriquecer a minha alma. 4. Orar permanentemente. Que o meu trabalho manual e espiritual seja uma prece constante a Deus que mandou amar. 5. Praticar acções boas durante o dia e estar atento ao serviço, sobretudo, dos que mais precisam. 6. Não ser escravo dos hábitos, ser imaginativo e criativo com plena liberdade para que cada dia possa nascer e morrer. 7. Fazer higiene diária ao corpo (higiene externa) sem esquecer a higiene, mais importante, que é a interna. 8. Respirar ar puro, e ser sóbrio na comida e bebida, traz o equilíbrio para viver com os outros, em comunidade de amor. 9. Fazer descanso depois de cansaço para poder recuperar as energias do corpo e da alma e seguir, dia a dia, sempre contente a vida que me enleva. 10. Fazer o exame de consciência antes de adormecer. Se tudo foi bom, louvar o Senhor e se algo foi mau que eu corrija para o evitar no futuro.
Estes dez mandamentos são fruto: 1.  da minha reflexão e da experiência de mais de 70 anos de vida gozada e sofrida, de alegria e tristeza, de amor e de confiança, n’Aquele que perdoa o pecado e a todos salva. 2. É Jesus Cristo que nos diz: ”Olhai os passarinhos…”, “Olhai os lírios do campo…”
OBS. Consultando a Bíblia, o pensamento de alguns filósofos, músicos, poetas, teólogos, pintores, gente da área das artes em nada encontro o contrário do que vivo. Por isso estou em paz porque só Deus procuro e, desde as antigas tradições, para celebrar, louvar e ter consciência de que o grande segredo da felicidade está no viver o presente com Alma. Se não corresponder ao que procuro viver, corrige-me  fraternalmente e pedirei, a Deus e a ti meu irmão, perdão.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ÍNDICE
Prefácio .......................................................................................................... 5 Introdução  ..................................................................................................... 9 “Os sinos da minha aldeia” ...........................................................................13 O Trabalho  Campestre .................................................................................16 Medas de palha .............................................................................................16 O cultivo do milho ........................................................................................17 A padiola .......................................................................................................22 Cultivo do vinho ...........................................................................................23 O aparelho usado para engarrafar vinho ......................................................30 A banheira e o banho....................................................................................30 Decruar e mondar com o sachador ...............................................................32 Gamela de padejar ........................................................................................33 A Iluminação ................................................................................................35 Como evitar que os cães façam chichi contra os prédios..............................38 A água ...........................................................................................................38 Serrão ............................................................................................................47 Burra – instrumento de serrar .......................................................................47 Toucas ...........................................................................................................48 As fossas ........................................................................................................49 A Masseira ....................................................................................................50 Manípulo da porta de um curral ...................................................................51 Merenda ........................................................................................................52 Seiras ou Cestas.............................................................................................52 Tirar as batatas ..............................................................................................54 O cadeirão .....................................................................................................54 Os canecos, os cântaros e as canecas ............................................................55 Cruzeiros dos clamores e de divisão de freguesias onde se sentavam os 4 abades .......................................................................57 Carrela, carroça Carrinho de mão ................................................................58 Cesto de uma rasa .........................................................................................59
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Esticador ........................................................................................................60 Chapéus .........................................................................................................60 Colher da talha .............................................................................................61 Serviço depois da matança ............................................................................61 A malga .........................................................................................................63 O “Ferro de passar a ferro” ............................................................................65 O quarto da casa de família média ................................................................67 Os talheres ....................................................................................................68 Cozinha .........................................................................................................70 A dorna .........................................................................................................72 A eira.............................................................................................................73 Engenhos de tirar água ..................................................................................74 A rodilha .......................................................................................................75 Espantalhos ...................................................................................................77 Porta do forno ...............................................................................................78 Raspadeira do calçado, limpa-pés…  ............................................................78 Caixotes .........................................................................................................80 A talha do azeite ...........................................................................................81 Foucinha........................................................................................................82 Trado .............................................................................................................83 A tranca ........................................................................................................84 Serrotes .........................................................................................................85 Carta de ciclista de 1951 ...............................................................................86 O “Sarrão” ?!... ..............................................................................................87 Uma escada ...................................................................................................87 O porrão ........................................................................................................88 A dala ............................................................................................................89 Chupa-chupa ................................................................................................90 O alguidar .....................................................................................................90 O bacio ..........................................................................................................91 Ainda o boi e a vaca......................................................................................92 Roldanas ........................................................................................................93
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Caneca ..........................................................................................................94 Castigos .........................................................................................................94 A Floreira ......................................................................................................95 Cadeira para deficiente ou pessoa sem mobilidade .......................................96 Do antigo livro de USOS e COSTUMES que se guarda no arquivo Paroquial: ......................................................................................................96 Notas Sobre Mazarefes ..................................................................................97 Os Padroeiros de Mazarefes ..........................................................................98 O Cristianismo e os Padroeiros de Mazarefes  ..............................................99 Acto de Contrição ouvido de uma senhora com 91 anos de idade ............102 Mazarefes – S. Simão da Junqueira .............................................................102 Costumes que recolhi, ainda seminarista, na minha aldeia ........................103 Toponímia ...................................................................................................115 Mazarefes e a maçã de Adão .......................................................................115 Viana e a Sua Lenda!... Não vi a Ana ........................................................119 Toponímia e a Água, a Lenda de Viana? Hi á áá na --VIANA e Mazarefes ... 121 Apontamentos e procura de signicações baseada em dicionários e livros da minha biblioteca. .........................................................................................124 Palavras ainda em uso que vão cair e palavras com sentidos diferentes nas diversas regiões do Minho e outras que já caíram em desuso!... .................169 Quem se lixa é o mexilhão ..........................................................................269 Palha-Palhada-Trapalhada ..........................................................................270 “Por dá cá aquela palha” .............................................................................272 Manuel Freitas e o ouro de Viana do Castelo .............................................273 “Um olho à Belenenses” ..............................................................................275 A porta na vida popular ..............................................................................277 Largo Bom Homem, Santo Homem Bom ...................................................280 Uma vida feliz só vale quando é feita de gratidão .......................................282 Cogitações de uma alma .............................................................................283 De carácter Pessoal: Como é que sou padre? ..............................................286 25 anos de sacerdote, em 1997 ...................................................................297 Viagens e Peregrinações ..............................................................................308
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Os Mandamentos da minha vida ................................................................309 Bibliografia consultada ................................................................................311 Índice ..........................................................................................................315
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