AVISO

Meus caros Leitores,

Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

A partir de agora poderão encontrar-me em:

http://www.arocoutinhoviana.blogspot.com

Obrigado

sexta-feira, 24 de abril de 2020

INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE SOLIDARIEDADE

Acção Social
INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE SOLIDARIEDADE
como expressão de Caridade ou Solidariedade numa Comunidade
1. Boa Nova de Jesus Cristo
“Dou-vos um mandamento novo:  que vos ameis uns aos outros, assim como que vos amei." Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” (João 14, ou 16...)
Quando esta Boa Nova atinge os corações ela é aceite, isto é, a adesão e o compromisso modelam, forçosamente, o agir humano ao jeito da pessoa de Jesus Cristo.
a) A Fome e a Miséria
Ninguém pode descansar enquanto não forem erradicados problemas como os da fome e da miséria. É a fome e a miséria que têm de ser combatidas para que a salvação se dê na globalidade do corpo e da alma: o ser físico, mental e espiritual. Caso contrário, constituirão sempre um bloqueio a essa salvação. Essa miséria vai desde a fome, privação de bens essenciais à sobrevivência do ser humano até aos sem abrigo, marginalidade, etc..
b) A atitude de Jesus
A opção de Jesus Cristo foi sempre muito clara. Logo após o seu nascimento, ele voltou-se para a gente simples e abandonada, e durante a vida sempre optou pelos pobres a quem muitas vezes matou a fome. (Mt. 14, 13-21).
Não vemos Cristo a ocupar outro lugar. Está sempre ao lado dos pobres e dos que precisam, dos aleijados, dos estropiados, dos doentes, dos pecadores e dos pecadores públicos, dos que passam fome e sede...
c) A nossa atitude
A atitude dos crentes também não pode ser outra na vida. Não devemos estar tão preocupados com o aparato e as grandes obras. Quando Jesus nos diz que “Vejam as vossas obras e louvem o vosso Pai do Céu” (Mt. 5,6), é para que sejamos grandes realizadores com meios simples e humildes, pois só na humildade e na simplicidade é que seremos capazes de descobrir sinais de Deus.
Tanto hoje, como ontem, numa região com o menor poder de compra do país, onde encontramos pessoas que nos batem à porta esfomeadas, também Jesus nos diz, como aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmo de comer!” (Mt. 14,16).
2. Na história da Igreja
No princípio da Igreja “pôr em comum os bens” era normal. Sobretudo era esse o testemunho que mais cativava... “Olha como eles se amam”. Depois, na época patrística, aparecem também testemunhos claros de preocupação pelos pobres como, por exemplo:
* S. Gregório de Nissa (335-394): “O tempo actual apresenta-nos uma quantidade de nus e de sem abrigo. Há multidões de escravos junto de cada porta. O estrangeiro e o emigrante também não faltam. Por toda a parte mãos estendidas buscando auxílio” (Os padres da Igreja e a questão social, 25).
* S. Gregório de Nazianzo (330-390): “... mas, e aqueles, num sofrimento enorme, enquanto nós bem abrigados em casas luxuosas... e os míseros, tremendo de frio, nos seus farrapos grosseiros... quem não se angustia com estes lamentos? Que olhos são capazes de ver este espectáculo?” (idem, 43).
* S. João Crisóstomo (345-407): “Age com misericórdia e bondade: socorre a penúria, mata a fome, afasta as tribulações. Recomendo que aos necessitados se dê com abundância” (idem, 79).
Depois, na Idade Média, começou-se a desenvolver a liturgia e tudo o que envolve esta acção, como seja, a arte. Por isso, houve na história da Igreja, tempos em que a acção sócio-caritativa não era considerada missão da Igreja ou, pelo menos, era relegada para último lugar. E no mesmo sentido se afirmava que a função essencial da Igreja era ser missionária: “Ide e ensinai todos os povos” (Mt. 28, 19-20). Pregar e baptizar era a sua particular missão.
Ainda hoje, a função da Igreja continua a ser objecto de algum tabu ou de algum medo. Falta muitas vezes a coragem de S. Paulo: Fazer tudo, para a todos levar a Cristo. Isto significa risco e ser cristão é um risco.
3. O Concílio Ecuménico
Este Concílio ajudou-nos a não esquecer, a partir das missões de Jesus Cristo como Sacerdote, Profeta e Rei, que ser Rei era servir e servir era amar, era dar a vida pois não basta celebrar a fé e proclamá-la, é preciso também vivê-la.
Em Jesus Cristo, fomos baptizados nesta tríplice missão e se Cristo era o Caminho, a Verdade e a Vida, temos, como pessoas de fé e comprometidas com Cristo, também nós de ser sacerdotes para santificar, profetas para proclamar a verdade e reis para abrirmos caminhos de felicidade aos que dela precisam. Isto diz-se para os ministérios ordenados e não ordenados, realçando-se não a responsabilidade, mas a co-responbilidade.
4. A Instituição Particular de Solidariedade Social
Uma I.P.S.S. é uma iniciativa unicamente de leigos ou de leigos comprometidos na Igreja, com estatutos próprios e com objectivos definidos e aprovados pelo Bispo da diocese. Mas a I.P.S.S. pode ser fundação de um outro movimento eclesial, a nível diocesano ou paroquial, desde que aprovado pelo Bispo. Tem de ser autónoma para cumprir 3 objectivos fundamentais na comunidade, como sua mandatária: expressar a generosidade individual, articular a generosidade e equilibrar ou coadjuvar a organização social com os serviços do Estado. Esta autonomia é-lhe concedida pela comunidade, reconhecida pelo Bispo e também, se for o caso, pelo Estado. Não resulta da lei, nem da autoridade estatal, resulta da iniciativa generosa e espontânea da comunidade. Ela é um meio pelo qual a Igreja exerce parte da sua missão socio-caritativa para com os Homens. É um meio eficaz para o exercício, permanente e obrigatório, da caridade, pois não basta a pregação e a oração, é preciso testemunhar por meio de obras para que façamos parte da Luz que, por excelência, é Jesus.
Uma I.P.S.S. deve ser, numa diocese ou numa paróquia, um lugar de comunhão fraterna, um espaço onde a comunidade ou as comunidades exercem o Amor e a Solidariedade entre as pessoas.
A grande força moral e a riqueza do serviço aos outros deve resultar do facto da I.P.S.S. ser um serviço de leigos da Diocese ou da Paróquia, onde a co- -responsabilidade laical pode ser mais notória, visto abrir as portas da integração e participação a pessoas com várias sensibilidades. A I.P.S.S., neste caso, é apenas uma oportunidade criada pela comunidade, presidida pelo Bispo, para servir de suporte a todos os que assumem a estrutura comunitária e institucional para as necessidades encontradas, envolvendo voluntários, na resolução das necessidades da Igreja.
Quem trabalha por esta causa dá provas de saber o que quer, saber fazer com fé, justiça e verdade, passando teimosamente por cima de muitas contrariedades.
5. Necessidade de Informação e Formação.
Como obra da Igreja não podemos falar de Identidade sem falar de Espiritualidade.
Algumas questões poderão ser levantadas em relação à formação de voluntários, para uma colaboração orgânica e articulada, de acordo com as capacidades de cada um. Poderá ainda a I.P.S.S., numa Comunidade, colaborar com outros serviços e movimentos como a Cáritas, Vicentinos, a Legião de Maria e por aí fora..., para dar uma perspectiva social que também os deve nortear.
Desnecessário é dizer que a solidariedade cristã, para cristãos confessos, tem de ser iluminada pela fé. Não pode ser uma opção puramente humana. Daí a necessidade da Igreja lutar pela formação dos voluntários e trabalhadores assalariados das nossas obras sociais, nas I.P.S.S.. Há que apostar em equipas profissionais multi-disciplinares e com habilitações próprias, com características humanas e de formação cristã adequadas à missão de qualidade exigida a respostas sociais que damos.
É importante o estudo da acção social e da sua relação com a missão da Igreja, da Comunidade, da vida de fé, esperança e caridade. É importante o estudo dos textos da Doutrina Social da Igreja, da vocação do cristão, da nova evangelização, do compromisso social como exigência da fé dos baptizados.
Os problemas da pobreza, da marginalidade, das diversas carências da fome, da deficiência, da doença, da velhice, dos isolados e ainda das crianças abandonadas ou vítimas de maus tratos, são todos objecto da acção I.P.S.S.. Visto se tratar de grupos vulneráveis, têm de ser objecto do Amor de Deus através da Igreja e essa Igreja é constituída por todos nós.
6. I.P.S.S. - Espaço de liberdade e globalidade.
Uma I.P.S.S. tem uma exigência legal diferente dos outros movimentos e grupos de acção da mesma Igreja, pelo facto de se envolver em acções em que o Estado pode e deve, por justiça, colaborar com o que hoje fazemos por caridade ou solidariedade. E quando o Estado o fizer por justiça, nós, I.P.S.S., faremos outra coisa...
A Instituição dá a cara em nome da Igreja, de um donativo, de uma partilha e até de um serviço. Deste modo, garante a liberdade do beneficiário e do beneficiado e, ao mesmo tempo, pode memorizar a oferta do benfeitor prolongando a sua memória. É uma forma de oferecer e garantir a estabilidade e eficácia da acção de quem dá, de quem se dá sem se comprometer e que quer fazer bem sem mostrar o rosto. É uma questão de liberdade! A luz põe-se sobre o alqueire, mas em nome duma Comunidade pode ser mais forte!... Pode iluminar mais... e ir mais longe.
A I.P.S.S. tem por isso personalidade jurídica, canónica e civil, e é responsável administrativamente, perante a Igreja e perante o Estado, pelo que faz, e como faz. Ela tem, sobretudo, a obrigação de prestar contas, à Igreja hierárquica, sobre a qualidade dos serviços que presta à Comunidade.
Ao Estado pode interessar o tecnicismo; à Igreja, mais do que o tecnicismo, interessa a técnica iluminada pelo amor, o modo como se faz para que outro não sofra, ou sofra menos. O Amor está sempre, na Igreja, acima da lei e da técnica.
7. Conclusão
Muitos leigos, com capacidades excepcionais, permanecerão afastados de certas práticas de solidariedade Cristã, ao serviço da Comunidade, por desconhecimento do que é uma I.P.S.S. e qual o seu objectivo.
Na Diocese tem de haver lugar para Cáritas, Vicentinos, Legião de Maria, Centro de Cristandade, Serviços de Doentes e também para as I.P.S.S. que, animadas pela Doutrina Social da Igreja, podem ir mais longe em relação aos mais pobres, vulneráveis, desprotegidos, que são os predilectos do Senhor.
Diz S. Paulo aos Romanos (14,47) que o Reino de Deus não é uma questão de comida ou bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
A I.P.S.S. deve ser cada vez mais Serviço aos Pobres, serviço à Comunidade, que, por missão, tem de cumprir. Padre Artur Coutinho

Sem comentários: