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sábado, 14 de maio de 2011

O PECADO

O pecado


É uma dificuldade que tenho verificado que as pessoas hoje perderam, na maioria, a lógica do pecado, e o que é mais grave, é a sua repercussão individual e social. Esquecem gestos nobres da História em que o pecado foi sempre um mal e superado com alguma lógica radical como a da gratuidade e do perdão. S.Paulo foi explícito nesta matéria a propósito do corpo místico de Cristo.



Um gesto recente deixou-nos João Paulo II quando abraçou o Ali Agca, que o queria matar. Apesar desta nobreza de estar de um Papa, parece que hoje já não há filhos pródigos, estes são bons e têm direitos e os pais, esses, são sempre os que se devem retirar que nada têm a fazer, que não têm direitos. Os pais não têm razão. As leis que se criaram estão a prejudicar o conceito clássico de família. Até se despreza a família com leis impostas e se retiram à família os filhos com muita facilidade.

Ora, o pecado cria no homem uma prisão quando este descobre que o mal foi permitido por si, ou foi a causa de maior mal por falta de perdão, muito egoísmo e pouca humildade que se conserva, muitas vezes, como arma de arremesso. Deste modo libertação não existe porque falta amor, que levaria à harmonia e à paz interior, que se manifesta, depois, no nosso modo de estar e agir.

Cristo deu-nos exemplo do contrário. “Deus é amor”, segundo S. João, e que Bento XVI sublinha na sua primeira carta ao Povo de Deus. Cristo é para nós um ponto de referência que nos é transmitido pela palavra, pelos gestos, pelas atitudes até ao alto da Cruz, onde pede perdão ao Pai por aqueles que o tratam mal justificando: “pois não sabem o que fazem”.


Cristo sabia o que eles faziam e conhecia bem as razões mais profundas das suas almas. Como Homem e, como Deus, reunindo as duas naturezas divina e humana, Ele tinha poder para que nada acontecesse…

Como reconhecerão hoje alguns apóstotas da fé quando nos pedem que sejamos justos, tolerantes e pacientes mesmo com os inimigos e saibamos serenar no meio da turbulência, para podermos dialogar mais e melhor?

“É que Cristo não tinha cometido pecado, mas Deus, para nosso bem, considerou-O pecador, para que nós, em missão com Ele, pudéssemos ser bem aceites por Deus (II Co 5, 21)”. Mas quem é esse que pode libertar com o seu perdão? Só quem for capaz de se envolver neste Mistério de Amor é que dará seriedade e aprofundará esta articulação como Cristão: a cruz e a ressurreição. “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos à união fraterna, à fracção do pão e à oração. Viviam unidos e punham tudo em comum. Conf.Actos dos Apóstolos.

Hoje a educação que se pretende dar ou deixar passar para os mais novos é algo sem os sofrimentos do Messias, mas os prazeres de uma vida fácil.

É com estas coisas que vamos ter paciência para deixar correr?!... Deus é amor e o desafio do Papa Bento XVI aponta para uma vivência política plena de perdão e reconciliação.

Vamos fazer justiça. Com o diálogo vamos fazer passar, com gestos de perdão e de reconciliação entre Humanidade e entre esta e Deus que é possível aquilo em que não acreditam. Só o perdão é capaz de trazer uma mudança positiva, é que só o perdão é a atitude que é capaz de libertar quem perdoa e quem é perdoado.



João Paulo II, não só na sua exortação Apostólica Reconciliati et Paenitentia, de 1984, é bem claro e não só o disse como já o tinha feito. A sociedade precisava, já nessa altura, de libertar a pessoa da escravidão e reforça mais tarde: salvar a ecologia humana, na Encíclica Catessimus Annus (1991).

O pecado do Mundo arrasta consigo fracturas sociais. Só à luz duma entrega total de Cristo na Cruz, poderá ser possível retirar o Mundo das trevas, para o trazer para a Luz, para uma nova esperança e força, para superar todas as rupturas que o Mundo criou.

No entanto, embora haja hoje muitas conversões, ainda há muita gente que se diz crente para quem se não passa nada à sua volta e em nome da “Fé” é capaz de fazer tudo contra ela, não só na criação de leis, mas também no “modo de estar” entre os humanos.

Bem falta fazem conversões autênticas que possam hoje dizer às crianças, aos jovens o mesmo que S. Paulo em Cor. 15, 3-5.

É que os nossos pecados destroem a obra de Deus e foi essa a causa por que Cristo deu a sua vida na Cruz.

O pecado não pode ser só um mal que resulta das contingências da natureza, ele é fruto da ruptura entre o que é lei natural e uma natureza frágil. Claro que na estrutura do pecado ou do mal é preciso ter em conta o conhecimento pleno, vontade e liberdade, para que seja ruptura, mas existem problemas psicológicos, culturais, fisiológicos, ou até de ignorância que são capazes de influenciar a consciência moral do nosso irmão. É por isso que o pecado extravaza, quando se trata de frontar a vontade de Deus, a própria pessoa e atinge toda a comunidade, toda a Humanidade. Como sói dizer-se, uma maçã podre no meio das boas pode apodrecer as outras. Há necessidade de criar uma atmosfera espiritual, cultural onde se respire o perfume e as cores belas do divino, redima e retire as trevas ao coração.É com estas coisas que vamos ter paciência e deixar correr?!... Deus é amor e o desafio do Papa Bento XVI aponta para uma vivência política plena de perdão e reconciliação.                                                                                                                       A.C.

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