Nova Igreja da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Uma Obra de Fé
A noção de que a crise económica, social e política pode afectar o espírito e a alma dos cristãos, não encontra fundamento nos Evangelhos ou na História da Igreja. A confiança e a fé, como princípios basilares da aliança estabelecida entre Deus e o Homem, não são por definição susceptíveis ao conjunto de circunstâncias que envolvem a realidade humana, por mais favoráveis ou desfavoráveis que elas sejam. As singulares circunstâncias que envolveram as primeiras comunidades cristãs do Oriente e Ocidente (cuja perseguição se prolongou até 313 DC, tendo esta sido banida sob a égide do Imperador Constantino que posteriormente procedeu à promulgação do Concílio de Niceia, em 325 DC), as que atingiram as comunidades cristãs que ao longo de décadas viveram sufocadas pelos regimes totalitaristas do bloco de Leste (até ao ano de 1989, com a queda do muro de Berlim) e as que actualmente envolvem inúmeras comunidades cristãs espalhadas por países do Médio Oriente (Síria, Iraque, Jordânia, Egipto entre outras nações Árabes onde a religião muçulmana é claramente dominante), provam que a aliança entre Deus e Homem se baseia fundamentalmente na fé. O contexto socioeconómico não abalou a fé das comunidades cristãs anteriormente referidas, dessa fé que vem do Latim “fides”, de fidelidade e firme convicção na mensagem de Jesus Cristo.
Vejamos a título de exemplo o que representa, do ponto de vista socioeconómico, ser cristão num país como o Egipto. Nas palavras do Patriarca Copto-Católico Antonios Naguib, em entrevista dada à Agencia Noticiosa ZENIT, as dificuldades criadas à sua comunidade vão da obstaculização à construção de novas igrejas (decorrente de regime legal estabelecido no Séc. XVIII, durante a ocupação por parte do Império Otomano, a coberto de uma suposta intenção de protecção dos cristãos contra tentativas de agressão), a impossibilidade de acesso a postos de representação política relevante, obrigatoriedade de apresentação de cartão de identidade com afiliação religiosa, entre outras. O próprio mercado de trabalho enferma de uma notória discriminação religiosa exercida contra os cristãos. Na Índia, os cristãos são vítimas da violência perpetrada pelos Nacionalistas Hindus, com a cobertura política do Partido Bharatiya Janata (Partido do Povo Indiano).
Desse ponto de vista, ser cristão no Ocidente já não constitui um desafio à sobrevivência ou à subsistência económica. Qualquer tentativa de equiparação entre estas duas realidades não passará de mero exercício de retórica. O conforto inerente à liberdade religiosa de que usufruímos permite o estabelecimento de práticas religiosas difusas, onde se integram as dos denominados “cristãos não praticantes”, cuja proximidade aos locais de culto cristão se restringe, episodicamente, a iniciativas relacionadas com o que podemos designar, numa acepção mais pagã, “convenções sociais” (Baptizados, Casamentos, Funerais), que do carácter sacramental original pouco preservam. O exemplo de perseverança das comunidades cristãs do Médio Oriente, na senda dos seus precursores (Ananias e Estêvão) deveria inspirar os cristãos de hoje na busca interior de desafios à própria fé.
À Comunidade Cristã da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima são apontados vários desafios, cuja concretização depende essencialmente da disponibilidade individual para a partilha e solidariedade. A acção social junto dos mais desfavorecidos (ajuda alimentar e voluntariado social), o apoio às instituições da paróquia (“Berço”, “Vicentinas”, entre outras), a participação activa nas celebrações eucarísticas e, naturalmente, o apoio à construção da nova igreja. Os cristãos têm de tomar a Igreja em suas mãos, contribuindo pessoalmente para a transmissão dos valores fundadores essenciais e para a perenidade do legado deixado às gerações seguintes.
Como referia Santo Agostinho, uma das figuras mais importantes do desenvolvimento do Cristianismo no Ocidente; Filósofo e Teólogo conhecido pelos seus sermões e cartas acerca do pensamento da Igreja; “Aquele que tem caridade no coração, tem sempre qualquer coisa para dar”. Para robustecer a importância da generosidade no ser humano pedia ainda, “Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, a caridade”. Evocando Santo Agostinho, com toda a contemporaneidade, atrevo-me a dizer que a nova igreja da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, como obra necessária que é, justifica a unidade de toda a comunidade cristã. Quanto à caridade, essa deve prevalecer sempre no íntimo de cada um de nós.
André Lousinha
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