A casa das Marinheiras
em Mazarefes
Ergue-se
numa quinta um pouco acima da capela da Senhora das Boas-Novas, em Mazarefes, e
contígua à estrada camarária que atravessa o centro da freguesia, fazendo
ligação entre a Estrada Nacional nº203 e a nº308, um grande casario, sem
dúvida, em todas as suas dimensões, o maior desta aldeia.
Está
ladeado por dois grandes portões de ferro, ambos aformoseados com boa cantaria.
Nas bases de cada uma das «pirâmbulas» sobre o portão do lado norte
encontram-se as seguintes inscrições respectivamente:
BEME/LD
SEJA/O S. SAC. e P.N.A./A. AS/M EAL/
/MAS.
No
portão do lado sul estão cravadas a ferro as iniciais (M. A. F. B.) do nome do
primeiro proprietário e o ano (1895) em que foi feito.
É
actualmente pertença de José de Oliveira da Silva Reis e de Albina da Silva
Carvalho, casados em 1940.
O
primeiro proprietário foi o senhor Manuel Augusto Fernandes Barbosa, filho de
Manuel Fernandes Barbosa e de Maria Cândida da Rocha, falecido em Agosto de
1920. Havia casado em 20 de Novembro de 1864 com Antónia da Silva Meira, filha
de Manuel Rodrigues de Carvalho e Maria da Silva, por sua vez, falecido em
1913. Este casal era muito rico, mas vivia, na mesma quinta, numa casa bastante
mais modesta. Veio a ser herdeiro, por falecimento de Manuel Pereira da Rocha
Viana, em 16 de Abril de 1892, com 77 anos, solteiro, irmão de Maria Cândida da
Rocha e, consequentemente, tio em primeiro grau de Manuel Augusto Fernandes
Barbosa.
Então a
sua riqueza atingiu maiores proporções.
Conta-se
que o senhor Rocha Viana, da marinha mercante e natural de Viana, era pessoa de
grandes haveres. Pelo testamento que tive o prazer de consultar por especial
deferência da Secretaria da Santa Casa da Misericórdia de Viana verifiquei isso
mesmo.
Deixou
grandes somas a diversas instituições, parentes, empregados e os bens
remanescentes foram divididos em partes iguais por 4 sobrinhos. Desta maneira a
família Barbosa tornou-se a família mais rica da freguesia e mandou construir esta
casa que, na ocasião, 1894, ficou por cerca de 5.000$000.
Esta
foi a razão que mais tarde lhe chamou a «casa da riquíssima».
Todavia
esta riqueza fazia bem falta, pois rodeava este casal uma numerosa geração...
nada menos de 11 pérolas nesta aliança matrimonial como: A Maria, que casou com
António Afonso da Silva, de Subportela; o Manuel, que se ordenou de sacerdote
em Beja, vindo mais tarde a ser capelão da capela da Senhora das Boas-Novas e
pároco de Darque; a Rosa, que faleceu aos 4 anos de idade; o José, que casou
para S. Lourenço do Mato; o João, que casou para Serreleis; a Ana, que casou
com Joaquim Alves de Araújo, de Darque; a Joaquina, que casou com Francisco da
Silva Carvalho, de Mazarefes; a outra filha de nome Rosa, que casou para
Subprotela, a Antónia, que casou com José de Oliveira Reis de Mazarefes; a
Teresa, que casou com José António de Oliveira Reis, também de Mazarefes, pais
do actual proprietário; e a Emília, que casou para Galegos, Barcelos.
Como,
porém, esta riqueza recebida da herança do tio viesse melhorar ainda muito mais
as condições económicas da família, os devotados pais de tão numerosa família
mandaram construir esta casa mais condigna, ficando, desde aí, a ser conhecida
por Casa das Marinheiras, devido talvez ao facto da herança recebida do tio que
era marinheiro e, possivelmente, ao número de filhas casadoiras existentes
neste lar. Assim se explica que, para onde elas casaram, se implantasse a
alcunha marinheira.
Também
não faltou brio e bairrismo e, sobretudo, devoção à Senhora das Boas-Novas
para, à semelhança de uma casa enorme em que gastaram muito dinheiro, mandarem
fazer aquela grande torre, que hoje vemos e admiramos, na capela da «Senhora
dos Emigrantes» e, sobretudo, dos emigrantes que se encontravam, naquele tempo,
no Brasil. Nesta torre gastou a família Barbosa para cima de 600$000 mil reis
só para a mão-de-obra que dizia respeito a pedreiro. O construtor que erigiu a
torre era de Santa Marta de Portuzelo – o Rocha. A pedra veio do alto de
Mazarefes, mas algum também veio de Anha.
A
família Barbosa (Manuel A. Fernandes Barbosa e esposa), custeou todas as
despesas, à excepção do relógio oferecido 10 anos mais tarde, em 1911, pelos
emigrantes no Brasil, através de uma subscrição. A inauguração desta torre foi
em 1901, como muito bem assinala a lápide em pedra já existente.
Uma
moça de 18 anos subiu as escadas da torre com o bronze de um sino enfuado na
cabeça e pesava cerca de 115 quilos!
É um
facto curioso que ilustra a história da torre e da família Barbosa ou por
alcunha Marinheira. Foi a filha Emília, a mais nova, nascida em Setembro de
1883. dizem que era moça muito forte, aliás como as outras irmãs, que se
aventurou a subir os degraus da torre com cerca de 115 Kgs à cabeça. Bravo!
Esta
Emília casou para Barcelos, mas veio a morrer muito nova e sem geração.
À morte
de Manuel Augusto Fernandes Barbosa esta casa coube em herança à filha
Joaquina, nascida em Fevereiro de 1889 e falecida em 1928, casada. Porque do
matrimónio apenas se vingou uma filha de nome Albina da Silva Carvalho, foi a
única filha, e marido desta, que a recebeu à morte de seus pais. São hoje os
actuais proprietários, sempre muito conservadores e zelosos por aquilo que os
seus antepassados deixaram, procurando também melhorar e actualizar aquilo que
é susceptível de perfeição.
Este
casal a exemplo de seus pais e avós continua a ser um dos casais beneméritos da
freguesia e tem só uma filha, professora Maria Eugénia da Silva Reis Lima,
casada.
Artur Coutinho 10.10.1971
P.S.-
Já todos faleceram e a casa é agora de Manuela Carvalho e de seu marido
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