A IGREJA
PAROQUIAL DE MAZAREFES
Esta
igreja, nos primeiros tempos da sua edificação constituía o mosteiro do
convento beneditino, aqui fundado pelos monges de Santiago de Compostela.
Quanto
à sua actual posição topográfica, fica situada a 2km da capela de S. Simão,
para o lado sul, num local onde se torna vista e admirada desde Santa Luzia a
S. Silvestre, sem, todavia, acontecer o mesmo do lado sul, nascente e poente.
Destes dois últimos pontos cardeais duas perspectivas maravilhosas se desfrutam
mas só podem ser focadas a menos de 500m.
Pela
retirada dos monges e passagem destas terras para os Pereiras, começou a ser
utilizada pelos fidalgos como capela da sua casa, sob a invocação de S. Nicolau
e com o direito de padroado.
Foram
várias as transformações por que passou até aos nossos dias, como indica a
diversidade de estilos.
Vejamos:
A capela-mor apresenta-nos do lado norte e nascente uma parede românica,
actualmente coberta com cal. A cornija do norte é diferente da cornija do lado
sul e do lado nascente (em papo de rola). A cornija do lado sul é igual à
cornija do corpo da igreja.
As duas
cruzes que encimam a capela-mor são diferentes da que está na parte frontal da
igreja. São duas cruzes estreadas e de pequenas dimensões. A que se encontra
sobre a frente é uma cruz latina trevada e de maiores proporções.
Portanto,
não há dúvida em afirmar que é a capela-mor a parte mais antiga, talvez uma das
partes primitivas do convento.
O corpo
da igreja, bem como a ampliação da capela-mor com a sua tão artística tribuna e
os dois altares laterais em talha de estilo barroco-renascentista, foi obra dos
Pereiras, continuada depois pelos Azevedos, vendo-se a águia (brasão dos
Azevedos) sobre os referidos altares.
Por
cima da porta de travessa, na parte exterior, encontra-se um brasão com as
armas dos fidalgos «Pereiras» e «Pessanhas» (?).
Também
a ornamentar a porta principal existe em cantaria um frontal aberto simples com
uma concha na abertura e mais acima uma rosácia e um nicho com a imagem, em
pedra, do padroeiro. A frente deve ser dos fins do séc. XVIII.
Há
ainda várias obras, como a construção do passadiço, da casa para o coro, a
construção da torre, a ampliação do coro e das escadas que para ele dão
entrada.
Diz o Pe. Matos que
sobre o levantamento da torre é um facto ainda bem vivo na tradição. Sabe-se,
diz ele, que antes desta obra os sinos se encontravam pendurados nos troncos de
castanheiros a pequena distância da igreja. A torre é obra dos princípios do
séc. XIX.
É
recente a construção e ampliação do coro, bem como os dois últimos altares
laterais, (fins do séc. XVIII ?) feitos em estilo bastante diferente do que já
existia e o sanefão adquirido na igreja de Caminho em estilo barroco tardio (D.
João V) e aqui adaptado.
O
guarda-vento existente na porta principal também foi construído neste século em
1903.
A
tribuna do estilo barroco-renascentista está deveras bem centrada, com um
grande altar na base. A talha é admirável. Os arcos reais e as colunas
salmónicas com o fuste retorcido imitando os pámpanos de ramos e parra com
cachos de uvas a serem comidos pelas aves estão bem delineados. Os arcos reais
estão unidos por um grande laço ao centro. Aqui e acolá encontram-se anjos repolhudos,
ora mostrando só o rosto, ora mostrando todo o corpo suspenso do conjunto das
colunas com as suas bases áticas de pequena dimensão e com capitéis de ordem
composita e folhas de acanto. Todo o conjunto é de uma beleza incomparável
embora de tom um tanto pesado.
Os
degraus do trono apresentam características de um estilo posterior (D. João V)
e sobre eles existe um resplendor com uma dezena de rostos de anjos em
adoração.
Em
alguns retábulos vê-se com frequência folhagem serpeante e algumas grinaldas.
É
também interessante a configuração do sacrário: Tem em forma de espelho, por
baixo da porta, um dístico com as palavras da consagração; a porta tem o livro
dos evangelhos e sobre ele descansa o cordeiro pascal; ao centro da porta vê-se
uma bandeira formando o monograma de Cristo; em toda a volta encontra-se um
floreado ou arabescos com dois grandes anjos sustentam e por cima dela uma
cornija com umas palmetas ou volutas amplas formando um pequeno frontal com uma
flor ao centro, característica da renascença.
O
altar-mor é muito posterior e talvez do séc. XIX. Do lado esquerdo da
capela-mor há um grande jazigo do séc. XVI, metido na parede com uma armação em
madeira e uma bela pintura da época. Vendo-se ao centro o brasão de fidalgo e
cavaleiro. Na parte superior tem a seguinte legenda: «Este jazigo mandou fazer
o doutor Gaspar Pereira senhor dos Coutos de Mazarefes e Paradella cavaleiro da
ordem de Cristo, fidalgo da casa de El-Rei Nosso Senhor e do Conselho do mesmo
Senhor Chanceler da Casa de Suplicação. 1579.»
Os dois
altares laterais são posteriores mas de estilo semelhante ao da tribuna.
Os
arcos reais dos referidos altares são entremeados por uma espécie de cairel. Os
meninos geralmente apresentam-se com uma faixa azul e branca ou vermelha e
branca, conforme o altar. Sobre a cornija do altar encontram-se dois meninos
enfaixados, de pé, com uma palma da mão direita. Ainda sobre a cornija vê-se
uma espécie de frontão triangular feito de folhas de acanto e anjos, com um
espelho ao centro e uma águia sobre o vórtice superior, símbolo heráldico dos
Azevedos.
O púlpito é da mesma ocasião,
com base em pedra, pintada com motivos da época e gradeamento em madeira
torneada e pintada.
São de
bela e variada escultura as imagens. De entre elas distinguem-se pelo seu valor
histórico a de S. Simão e a de S. Bento; a primeira com todas as
características da sua antiguidade, de escultura bastante tosca, popular, mas
feita numa das madeiras mais preciosas do tempo e a segunda é ainda a da antiga
ermida desta invocação e de talha bastante perfeita. Outras se distinguem pela
sua talha artística modelar e escultura antiga de grande perfeição. São elas a
dos padroeiros S. Nicolau e S. Paulo que se erguem na tribuna.
A mais
bela, pelo seu valor artístico, é a da Senhora do Rosário, uma grande imagem de
escultura e pintura muito perfeita.
As
cancelas em ferro do adro foram colocadas pela junta em 1883, quando os
enterros começaram a ser feitos no adro. Fica mais ou menos descrita a igreja
paroquial, modesta mas rica no confronto dos seus tons arquitectónicos e na
beleza do seu ambiente perfeitamente religioso.
- Em 1882 foi estucado todo o
tecto. A obra esteve a cargo de um mestre de Vila de Pune que a faria de Agosto
a Outubro por 165.480 réis.
- Em 1887 o trono e a tribuna
estavam em muito mau estado.
15 de Agosto de 1971.
Esta
igreja entrou em obras de restauro e ampliação que lhe deram outra visibilidade
interior e exterior, no tempo do Padre sebastião Ferreira, hoje, Vigário Geral
da Diocese e ,de novo, pároco. Manteve as talhas douradas do estilo que tinham
e ficaram de fora os altares mais novos e menos significativos. Ficou melhor
assim. Era o altar das Almas e o do Sagrado Coração de Maria, se não estou em
erro.
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