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domingo, 14 de março de 2010

A construção de uma igreja nova é um repto à Comunidade Cristã

Os desafios sociais e espirituais que a igreja actualmente enfrenta, nem sempre são compatíveis com a exiguidade e austeridade dos espaços que no passado a serviram. No actual contexto, a igreja assume um papel de crescente responsabilidade social que, a par da perseverança nos seus princípios doutrinários, exige uma constante adaptação às realidades humanas que enfrenta. O espaço e o tempo são indissociáveis, e para compreendermos as limitações que certos espaços presentemente nos impõem, temos necessariamente de conhecer as circunstâncias em que estes foram concebidos e avaliar a sua resposta às exigências actuais.


A actual Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, concluída no final do século XVIII e benzida a 18-12-1792, foi edificada como parte integrante do antigo convento das Carmelitas, com a finalidade responder às necessidades de contemplativas desta comunidade religiosa. Arquitectonicamente, a igreja de Nossa Senhora de Fátima exibe essencialmente influências Neoclássicas que lhe conferem um ar sólido, frio e austero, propício à entrega espiritual que caracteriza as irmãs Carmelitas. Foi projectada com uma única nave central, sem pilares, sem vãos acessíveis ao olhar, sem capelas laterais e sem arestas que pudessem contribuir para o alheamento do indivíduo na sua relação espiritual com o Divino. Com o falecimento da última irmã extinguiu-se a comunidade carmelita, tendo o edifício do antigo convento sido reconvertido em orfanato.

No ano de 1967 é criada a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, correspondendo ao anseio da comunidade cristã que se aglomerou na parte oriental do histórico burgo Vianense. O cariz eminentemente urbano e periférico, que actualmente caracteriza a freguesia de Santa Maria Maior e o lugar da Abelheira em particular, contribuiu para um certo enfraquecimento do espírito comunitário e do sentimento de pertença dos paroquianos. A promoção/construção da nova Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Fátima resultou da conjugação de dois factores essenciais: a concessão de espaço por parte do poder local (Câmara Municipal de Viana do Castelo) e o espírito de iniciativa e de abertura às novas exigências da doutrina social da Igreja por parte do Padre Artur Coutinho, que idealizou o novo Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora de Fátima.

A construção desta nova igreja é um repto à comunidade cristã da paróquia e serve de barómetro ao grau de envolvimento dos paroquianos nos projectos de acção social, cívica e espiritual. Como parece evidente para qualquer pessoa bem formada do ponto de vista religioso, não está em causa, com esta iniciativa, a avaliação da dignidade do templo onde actualmente se celebram as cerimónias religiosas da paróquia, bem pelo contrário, importa até assegurar que com a conclusão das obras da nova igreja seja acautelada a preservação deste espaço em condições de solenidade idênticas às que presentemente são asseguradas.

Essencialmente, importa avaliar a importância da construção da nova igreja na perspectiva dos benefícios que a mesma, do ponto de vista da sua localização, dimensão, disposição arquitectónica, proximidade às pessoas e às instituições da paróquia, conforto térmico, conforto acústico e adequação às novas tecnologias poderá trazer a uma comunidade em permanente expansão. Certamente que uma avaliação tão exigente, quanto aquela que anteriormente referi, implica necessariamente, por parte do apreciador, um determinado grau de participação nas actividades da paróquia. Para as pessoas que se enquadram nas denominações correntes de "cristão não praticante" e até mesmo para aqueles que limitam a sua participação religiosa à presença na eucaristia dominical (ou vespertina) a maior valia inerente a este importante projecto paroquial assomar-se-á como diminuta. Poucas limitações físicas e participativas poderão ser sentidas por parte de quem reduz a sua intervenção a uma presença ocasional numa cerimónia previamente preparada por um conjunto de clérigos e leigos dedicados. Mas mesmo esses não poderão, do meu ponto de vista, ser indiferentes a quem clama por uma maior proximidade entre as instituições da paróquia e a igreja (ex. Instituição do Berço à qual estão associadas diversas crianças com necessidades especiais de integração na comunidade), por melhores condições para a realização da catequese, por espaço para a celebração das festas e celebrações religiosas (Celebração do Acolhimento, Celebração da Palavra, Eucaristia do Natal, Celebração da Comunhão, Celebração da Fé, Preparações para o Crisma, Festa do Pai, Missa de Ramos, Celebração Pascal, Celebração da Comunhão Solene, Celebração do Credo, Dia da Mãe, Festa da Padroeira, Celebração do Perdão, Celebração do Compromisso e Celebração do Pai Nosso, entre outras que envolvem e cativam um conjunto alargado de pessoas e sensibilidades), por condições para a preparação da Liturgia, por áreas reservadas destinadas ao treino do coral e por condições adequadas à implementação de novas tecnologias de som, imagem e conforto higrotérmico.

Meus caros, o poeta Português Fernando Pessoa (n. 1888 e f.1936), apesar de agnóstico referiu, numa célebre exortação ao poder dos sonhos, que "Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce.", reconhecendo que as duas primeiras premissas são inerentes à condição divina e humana, respectivamente, e a terceira depende essencialmente do talento e força de vontade de cada um de nós. Não há memória de uma igreja que tenha ficado inacabada por falta de empenho de uma comunidade cristã, com excepção de algumas que pela sua exacerbação artística se prolongam indefinidamente no tempo, transformando essa característica numa marca de singularidade (ex. Igreja da Sagrada Família em Barcelona).

André Lousinha

- Jovem Engenheiro civil

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