Parece que já é demasiado falar de mim.
Queria apenas partilhar ainda um pouco da minha reflexão pessoal com todos os amigos e leitores deste orgão de imprensa regional.
Desculpem-me, mas vai mais este testemunho que não o conhecerão.
É o ano sacerdotal e a nova evangelização na Europa na ordem do dia num Mundo e no meio de materialismo e consumismo em que vivemos, é bom repensar no sacerdócio que eu sou. E o teu sacerdócio a partir do baptismo? Eu falo por mim, mas o leitor que pensa da sua fé, do seu sacerdócio? Todos temos que estar atentos aos outros, como me lembram os colegas da escola primária.
De tudo fiz no meu caminho. De tudo fiz em casa de trabalho doméstico. De tudo fiz de trolha, de pintor, de carpinteiro, de decorador em criança, em casa e no quintal, de tudo até à jardinagem.
Já reunia em mim, cirança, os genes de meus pais, trabalhadores incansáveis do campo, das terras... Também, criança, na escola primária, não gozei normalmente uma vida que uma criança normal hoje tem. Trabalhava no campo, às vezes, por minha iniciativa, e apresentava obras feitas e sempre a oração me acompanhava.
Estudei, trabalhei e deixei muitas coisas boas que me prendiam em primeiro lugar à pintura a óleo e a aguarela que me fez participar em aulas do Mestre Luís Campos, em Braga, me levou a voar até Barcelona e a participar em exposições com apenas 18 anos.
Achei que era melhor trocar isso pelo trabalho que estava a desenvolver pastoralmente à sombra da Virgem Nossa Senhora Medianeira de Todas Graças, com os ciganos da Ponte (zona perto da capela de S João, em Braga e perto do Estádio 28 de Maio). Consegui reunir ciganos, ao fim de algum tempo de ter criado uma catequese para as crianças e jovens ciganas na Capela de S. João da Ponte, com os do Picoto e outros mais ao largo e a poente, com os de Famalicão e Póvoa para irem em Peregrinação ao Sameiro. Foi uma conquista minha a pedido e sugerida pelo Cónego Quintas Neves que era o responsável arquidiocesano da Pastoral dos Ciganos.
Ao mesmo tempo, trabalhava com os doentes do Hospital de S. Marcos e com o Grupo de Legião de Maria do mesmo hospital, em prejuízo, muitas vezes, do meu estudo em teologia.
Fiz extensão do Movimento de Legião de Maria, em Viana e Barcelos; no Verão de 1970 em Abrantes e aldeias de Portalegre e Castelo Branco, aí estive 15 dias.
Os presos da cadeia de Braga eram os meus mais predilectos. Não resisti também ao mesmo tempo de os visitar e os pôr a trabalhar. De lá saiu um jornalista que já foi director de um jornal regional e colaborador em muitos outros, ainda o é, penso eu, pois ainda há pouco tempo li algo com a sua assinatura. Bem haja!
Organizei para eles festas aos domingos de tarde, bailes. Levei uma ocasião, com algum escândalo farisaico, na altura, as alunas do colégio do Sagrado Coração de Maria. Vivi uns anos felizes nos últimos anos do Seminário. Aprendi muito, tanto na teoria como na prática, e já aí eu me dedicava à oração, ao trabalho de estudo e de pastoral. No quarto ano de humanidades, hoje 8º, organizei uma camioneta para os seminaristas de Viana virem todos juntos para férias ao toque da sineta para ao dar sinal de que a porta estava aberta, toda a gente de Viana sair mais depressa para chegar a casa.
Realizei e organizei vários eventos, como passeios de bicicleta, pequenas encenações, jogos em Mazarefes, contra a vontade do Cónego Luciano dos Santos, Deus haja, reitor de Santiago , na ocasião.
Foi em Santiago, em Filosofia, que assumi o compromisso de membro da Legião de Maria; em Teologia, de Vicentino, de Presidente da Congregação Mariana, presidente do Apostolado da Oração e, de Caminheiro, no Escutismo.
Tudo deixei. Abandonei a pintura a óleo e me entreguei sem reservas à pastoral dos doentes, dos ciganos e dos presos, até Balazar e à casa dos Rapazes. Depois de 6 anos na Serra D‘Arga com 4 freguesias aqui vim parar, contrariado, à Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, nomeado pelo senhor D. Júlio Tavares Rebimbas, a quem decidi obedecer. Tomei conta da Paróquia que me foi entregue, em 2 de Setembro de 1978, pelo Pe. José Pedreira, hoje nosso Bispo.
Sempre fui pároco e fui professor… não tenho nada de importante, a não ser o que a família me deu...até o carro!...
É muito feio falar em primeira pessoa. Não gosto. Nunca gostei a não ser como passa-tempo entre amigos, mas este testemunho, só serve para dizer que me sinto muito feliz por este dom do meu sacerdócio. Agradeço a Deus e, ao mesmo tempo, quando páro e reflicto, sinto-me muito agastado quando penso no mal que fiz e não o confesso aqui, ou do bem que devia fazer e não o fiz.
Padre Artur Coutinho
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