Ciência & Religião
“O princípio de todas as coisas”
Recuando no tempo, a ciência per- mite-nos conhecer, na medida do possível, até ao Big Bang. O que está imediatamente antes, que despoleta esse explosivo momento «criador» do Universo, do espaço e do tempo, o homem só o consegue perspectivar apoiando-se na noção de Deus. Mas esta não é científica e racionalmente verificável. Daqui surgem as grandes questões do Homem: Como tudo começou? Para onde vamos? Quem somos? Estamos sós no Universo? Existe Deus?
Neste O Princípio de Todas as Coisas, Hans Küng percorre inúmeros pensadores, fiolósofos, cientistas (de Copérnico a Galileu, de Albert Eins- tein a Stephen Hawking, de Descartes a Nietzsche), transportando o leitor pelos meandros da matemática, física, astrofísica, filosofia, teologia, antropologia ou história.
O autor desmonta incongruências nas teses de alguns nomes de relevo, mas, na maioria dos casos, dedica-se antes a deixar a nu as insuficiências das ciências que falham na explicação do todo, sendo que o todo é a origem, a lógica das coisas, da vida. Esbarram as ciências naquilo que Küng apelida de «questões-limite face às quais terminam as competências da matemática e da física».
O autor não nega as ciências, antes lhes aponta limitações. Por outro lado, reconhece também as limitações quando se buscam respostas pelo lado «Deus». Na procura de uma verdade intelectualmente honesta (passe a redundância - não será verdade, de fac- to, se desonesta!) é feita também uma desconstrução de matérias de religião. Pode ler-se por isso um preeminente teólogo como o autor a concordar, ainda que em parte, com Freud e Marx! No final, juntam-se Ciência e Religião, numa coexistência não isenta de limitações quando se trata de comprovar as suas explicações do princípio de todas as coisas.
Não sendo uma obra especialmente extensa, não deixa de ser relevante a quantidade de disciplinas e de questões vitais que Küng consegue tratar em apenas 220 páginas! Apesar de a linguagem utilizada ser simples e acessível, esta não deixa de ser uma leitura com alguma densidade - pela complexidade da matéria em análise e pela forma acadêmica como é apresentado o rol de autores e respetivos contributos nas mais diversas áreas do saber.
A propósito do desconhecimento de causa de alguns cientistas quando tratam da questão religiosa, Küng afirma que, «na política, a maioria dos eleitores decide com base numa racionalidade pouco informada, ou seja, mais de acordo com os seus instintos. Na ciência, assim queremos acreditar, as coisas deveriam estar melhor do que na política». Da mesma forma na cabeça de quem busca resposta às questões primordiais do Homem, não se contentando com «receitas» para consumir como verdades que na realidade nem são bem compreendidas. Este é o contributo de Hans Küng para que assim seja.
De Filipe Messeser, In Além-Mar * Junho de 2012
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