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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Resposta Cristã à Crise

A Crise

resposta cristã

  
Quando, há 50 anos, o Concilio Vatica­no II quis sintetizar o pensamento da Igreja Católica acerca da sua relação com o mundo, começou por escrever esta frase lapidar e luminosa: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que so­frem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, n.° 1) Perante a actual crise, que envolve múltiplas facetas, porque ela é, simultaneamente, econô­mica, financeira, social, cultural e ética, os dis­cípulos de Cristo não são meros espectadores, mas sim actores, e, tal como os demais homens e mulheres, estão entre os culpados e estão entre as vítimas. Neste caso, temos de reconhecer que todos somos culpados e todos somos vítimas. O que se nos pede como cristãos é que não nos isolemos, não nos coloquemos de fora da cena, ao abrigo de qualquer incômodo; tão-pouco que não nos refugiemos num eventual estatuto de vítima, de impotência, de fatalismo.
A resposta dos cristãos à crise é, em primeiro lugar, uma resposta de fé, o que implica:
-                      um olhar amoroso sobre o mundo e o reco­nhecimento de que a vida, em todas as suas manifestações, materiais e imateriais, é dádiva de Deus, uma dádiva que merece ser respeita­da e cuidada e, porque assim é, a nossa relação pessoal com o mundo não deve ser de avidez e ganância destrutiva, em proveito próprio, mas de empenho no desenvolvimento e serviço ao bem comum;
-                      uma atitude de solidariedade e fraternidade, que extravasa as fronteiras dos nossos relacio­namentos mais próximos e é, tendencialmente, universal, com conseqüências no âmbito da fa­mília, do trabalho, da gestão das empresas, dos serviços públicos, das leis, da governação, da justiça ou da política;
-                      uma predisposição interior que se converterá em gestos e iniciativas concretas em favor dos mais severamente afectados pela crise, os des­favorecidos e marginalizados pela sociedade e para eles procura que tenham vez e voz nas nos­sas sociedades;

-                      um empenhamento activo em transformar a presente crise numa real oportunidade para fa­zer emergir novos modelos de funcionamento da economia e novas formas de organização social e dos territórios, menos expostas à do­minação dos interesses dos poderosos, como presentemente sucede, e mais respeitadoras da dignidade humana e do bem comum.
É bom recordar que os cristãos não têm soluções pré-definidas para solucionar os problemas hu­manos, econômicos ou políticos, e é através do esforço comum com os demais cidadãos e cida­dãs que tais soluções poderão ser encontradas.
A doutrina social da Igreja continua a ser um tesouro a aprofundar e a pôr em prática e o seu maior e mais generalizado conhecimento deveria ao menos servir de travão à tentação de importar modelos de gestão empresarial de cariz capitalis­ta. Ao invés, as instituições da responsabilidade da Igreja deveriam ser, em si mesmas, testemu­nho evangélico, tanto no acolhimento de quem a elas recorre, bem como nos relacionamentos com os que nelas trabalham e nos demais relacionamentos. Não perdeu actua- lidade o testemunho das primeiras comunidades cristãs, que levava os pagãos a exclamarem ad­mirados: «Vede como eles se amam.»
A evangelização passará, creio, por uma pre­sença profética das comunidades eclesiais, que reconhece a crise, a reflecte e aprofunda e ousa pôr em causa os seus alicerces geradores, denunciando abusos e formas de exploração, quaisquer que estas sejam, e aponta, sem ambi­güidade e sem transigência, a urgência de novos rumos assentes em valores universais de digni­dade humana, liberdade e fraternidade.
Dr.- Manuela Silva Economista, in Além- Mar

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