A situação dos cristãos no Médio Oriente sempre foi muito débil e a Igreja Copta é disso exemplo: incapaz de perspectivas, de iniciativas, de empenhar-se na sociedade e na política. A Igreja Copta está frequentemente fechada sobre si mesma, vive num gueto para se proteger. Não tenta mudar a sociedade porque teme não consegui-lo, ao ser uma minoria. No passado foi diferente: há 80 ou 50 anos era muito mais viva. Depois, até pelas condições de liberdade, refugiou-se mais nos mosteiros, na oração, na vida interna. Agora, com a Primavera Árabe, estamos num momento que suscitou muitas esperanças de liberdade para cristãos e muçulmanos, recusando um regime teocrático. Infelizmente, parece que estamos a caminhar precisamente nesta linha.
Outro problema do Egipto são os militares. O exército comanda no Egipto desde os tempos de Nasser, há pelo menos 60 anos, e não parece que queira deixar o poder. Mesmo agora são eles a decidir tudo. O Egipto encontra-se numa encruzilhada delicada: pode tornar-se uma ditadura militar ou um regime fundamentalista.
Urge um maior empenho na vida da sociedade, no bem comum, na política e nos direitos humanos. Precisamente, por isso muitos cristãos hesitam perante a revolução.
Entre os bispos coptas há personalidades de grande valor, que poderiam assumir a liderança da Igreja, que permanece forte na espiritualidade, na oração litúrgica, no jejum. Recordo que os coptas têm quase 200 dias de jejum ao ano. Este jejum, vivido em união com Jesus Cristo, reforça a fé e o vigor dos coptas, capazes de resistir na sua identidade. Há que dizer que este testemunho religioso dos coptas impressiona muito as pessoas islâmicas, que muitas vezes associam os cristãos ao Ocidente e ao ateísmo. Depois da Primavera Árabe, estamos numa nova etapa que nos exige novas opções. No seio da Igreja Copta deve- -se dar mais liberdade aos bispos, aos sacerdotes, aos leigos: é preciso certamente haver uma voz única, mas não ditatorial. Urge um maior empenho na vida da sociedade, no bem comum, na política e direitos humanos. Os cristãos coptas não são contrários a isto, mas não o promovem. E, no entanto, os cristãos teriam uma função muito importante, sobretudo para dar dignidade e valor à mulher, que no islão é muitas vezes humilhada.
A relação com os muçulmanos deveria ser mais viva: não se pode viver ao lado uns dos outros sem se fazerem algumas perguntas. Por exemplo: na sociedade egípcia faz-se publicidade só ao islão, nos autocarros, nos táxis. É preciso que os cristãos digam aos muçulmanos que é tempo de construir uma sociedade que conceda espaço a todos.
Outra dimensão necessária é a missão. No Egipto não há missão até por condições sociológicas: o islão não permite a evangelização. Mas é urgente o testemunho explícito e seria bom trabalhar nisso, juntamente com outras confissões cristãs. Já somos poucos: dividir-nos enfraquece-nos ainda mais. «!
in Rev. Além-Mar
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