A mão da espada
Por que razão se circula pela esquerda ou pela direita?
Há algum motivo para a Grâ-Bretanha e as suas antigas possessões se comportarem na estrada ao contrário do resto do planeta? Bom, há. Nem era preciso que houvesse, porque os britânicos sempre se mostraram muito protectores das suas idiossincrasias, medem em milhas e polegadas, pesam em libras, até bebem cerveja quente... Mas há. E. na verdade, tudo começou pela esquerda.
Na Idade Média, os cavaleiros circulavam pela esquerda dos caminhos porque isso lhes permitia protegerem-se com o escudo (colocado no braço esquerdo) de alguma emboscada vinda dos bosques e, além disso, mantinha a mão direita solta para cumprimentar quem se cruzasse com ele na estrada (ou empunhar a espada, caso fosse necessário).
Também é mais fácil montar a cavalo a partir da esquerda do animal, usando o braço mais forte (o direito) para nos erguermos. No Japão, um dos poucos países que conduzem pela direita sem ser pela herança britânica, o cenário era semelhante: os samurais davam a sua direita no caminho para que as suas espadas, penduradas à esquerda na cintura, não andassem a ensarilhar-se nas dos outros passantes.
Ou seja, são argumentos históricos muito semelhantes aos que explicam o gesto de apertar a mão direita quando se cumprimenta alguém (sendo a maioria das pessoas dextra, assim se garantia que nenhum dos interlocutores podia puxar da arma). Mas então a lógica belicista começou a ceder terreno à economia.
Em finais do século XVIII, em França e nos EUA começaram a circular grandes vagões de mercadoria puxados por várias parelhas de cavalos. Estes veículos não tinham assento para o condutor, montado no último cavalo da esquerda, o que optimizava o ângulo de utilização da mão do chicote, a direita. Dadas as dimensões dos vagões, era melhor que estes se cruzassem pelo lado esquerdo, onde o ângulo de visão dos condutores permitia evitar colisões. Nascia a circulação pela direita.
SAMOA INVERTEU A MARCHA a 7/09/2009 saiba as razões:
Há 30 anos que ninguém alterava o sentido da circulação rodov iária trocando o lado direito pelo esquerdo, mas foi exactamente isso que Samoa fez no dia 7. Com muitas cautelas e medidas extraordinárias, mas também bastante polémica à mistura. A decisão pertenceu ao primeiro-ministro Tuilaepa Sailele. convicto de que, assim, seria possível aos seus concidadãos comprar carros mais baratos em segunda mão na Austrália e Nova Zelândia, membros da minoria planetária que conduz pela esquerda.
Reconheça-se que a maioria dos Estados da região tem carros com volante à direita (apropriados, portanto, para conduzir pela esquerda) e que muitos samoanos imigrantes se viam aflitos quando regressavam à terra natal para visitar familiares. Quase todos os veículos importados por Samoa provêm dos EUA, quando há mercados muito interessantes (Austrália, Nova Zelândia, Japão, Singapura) ali bem perto. O problema é que conduziam "ao contrário". Deixou de ser assim.
Às seis de uma manhã de uma segunda-feira, sinos e sirenes fizeram-se ouvir por todas as nove ilhas do arquipélago, avisando os condutores de que tudo (ou quase) aquilo a que estavam habituados passava a ser coisa do passado. Ainda sentados do lado esquerdo das suas viaturas, os samoanos começaram, subitamente, a circular ao contrário. Parece um atalho óbvio para o caos absoluto, mas a verdade é que não se rregistaram grandes problemas de tráfego. Porém, o primeiro-ministro só saiu à estrada nesse dia num carro com motorista...
Foram impostos novos limites de velocidade, proibida a venda de álcool durante vários dias e a polícia estava em todo o lado. Mas nem tudo se resolve com calma e vigilância. Depois dos protestos iniciais, as vozes discordantes calaram-se e foi o peso dos factos a fazer-se ouvir em todo o país, só há 18 autocarros com portas à esquerda. Para não despejarem os passageiros no meio da estrada, todos os outros foram impedidos de circular. Deixando apeados os utentes dos transportes públicos...
Desde a década de 70 do século passado que nenhum país alterava o sentido da sua circulação rodoviária e um dos últimos foi Timor-Leste, em 1975, onde a Indonésia, na sequência da invasão, revogou o Código da Estrada português, impondo o trânsito pela esquerda. A antiga colónia portuguesa é, aliás, um dos territórios onde os automobilistas mais se devem sentir confusos, uma vez que, em 1928, segundo a decisão de Portugal, passara da esquerda para a direita.
Sim, em Portugal só se conduz pela direita desde 1928, ano em que foram publicados, não um, mas dois códigos da estrada, onde se optava pela regra francesa e americana de a circulação se fazer pela direita das vias. Foi o caminho escolhido pela generalidade das nações europeias e suas colónias ultramarinas, mas Portugal deixou de fora desta decisão os territórios que confinavam com países onde se conduzia pela esquerda -Macau (neste caso porque os carros vinham de Hong Kong), Goa e Moçambique.
Postado por: Melita em Setembro 17,2009 As 1:56 am 0 Comentários. Fonte:Público
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