Os primeiros séculos da Fé Cristã
1. Testemunho e Anúncio.
Desde o nascimento da Igreja com o Pentecostes até à Idade Média, foi um tempo de experiências e testemunhos de Cristo que não corriam o mundo como hoje. Cada ano correspondia hoje a um dia e cada século a 10 anos ou menos. As coisas aconteciam naturalmente e só no século II depois de Cristo os cristãos já espalhados pelo litoral mediterrânico deixaram de ser vistos como que tivessem alguma relação com os judeus e só, nesta altura, começam a ter uma organização mais hierarquizada e rituais litúrgicos muito mais vivos e relacionados com a doutrina anunciada pelo Mestre e ampliada por eles, como alto-falantes de “bocas de ouro” a falar do Ungido, do Enviado. Deixam o seu centro de Jerusalém, onde mantinham algumas raízes judaicas e passam a Antioquia, onde começaram a ser conhecidos e chamados cristãos, Éfeso, Alexandrina e Roma.
Sofreram perseguições até ao extremo e tudo deram pela fé em Cristo, até a vida.
Receberam contestações internas sobre a divindade de Jesus Cristo e, externamente, vindas dos politeístas e de uma filosofia decadente e laxista; não os deixavam descansar.
Sempre a mesma defesa: a de um só Deus, único e universalista, o que viria, ao mesmo tempo, desencadear algo desagradável como o culto do Imperador.
Ao fim do século, já o cristianismo se encontrava espalhado por todo o mundo romano desde o ocidente ao oriente, sobretudo no litoral.
2. Uma carta a Diagoneto.
Para isso valeram os padres (pais – mestres e guias) da Igreja, os seus escritos designados por patrística; depois dos padres apostólicos da geração dos que seguiram os Apóstolos e os padres apologistas. Baseando-me num documento anónimo de uma carta a Diagoneto que a não transcrevo, mas de máxima utilidade para sobressair que… os cristãos usavam os bons costumes, a mesma língua; são pessoas normais deste mundo que vivem uma doutrina diferente, humana, bem relacionados, habitando as suas terras, casavam e geravam famílias; são deste mundo e não vivem segundo o mundo; moram apenas na terra, mas procuram estar registados no céu; obedecem às leis e superam tudo com a própria vida; amam e são perseguidos. Não são reconhecidos, como pessoas de bem, mas são condenados à morte e ganham a vida. Pobres e enriquecem muita gente, “de tudo carecem, mas de tudo abundam”. São desonrados, mas são glorificados, insultados, bendizem a Deus, mesmo fazendo o bem, punidos como maus, hostilizados pelos judeus, mas sem ter razões para a causa do ódio que lhes tinham. Tudo isto se encontra na referida carta.
Veio o século III com dificuldades próprias de instabilidades políticas acompanhadas de uma grande visão economicista e, no meio destas, a Igreja cresceu atingindo até a fé dos cultos, do meio de filosofia de um modo particular Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano e Cipriano de Cartago com grande influência na Igreja do Ocidente.
Foi nesta altura em que a Igreja vivida no escuro com reuniões e celebrações, nas cidades, mas em grupos isolados e pequenos que começou a sair para o mundo rural.
Aparece Tertuliano com a sua apologia sobre os cristãos como não são pessoas inúteis, nem improdutivas, antes pelo contrário, trazem um discernimento maior em quem é quem e quem não era. A verdade é só uma.
3. O Édito de Milão.
O Imperador Constantino, no século IV, dá liberdade aos cristãos com o édito de Milão. Ele próprio oferece a tiara, símbolo de poder sacerdotal, real e imperial, ao Papa Silvestre.
Entretanto, nasce a vida monástica e o Imperador do Ocidente tem capitais em, ora em Milão, ora em Ravena, onde o Império do Oriente com a capital em Constantinopla e assim se entra no séc. V.
Tendo havido já dois concílios - o de Niceia e o de Constantinopla -, aparecem mais dois no século V. Éfeso e Calcedónia, o “Boca do Ouro”, S. João Crisóstomo, bispo de Constantinopla.
Agostinho de Hipona lança na vida a espiritualidade, um tesouro de mística, teologia, filosofia e pastoral.
4. S. João Crisóstomo.
São João Crisóstomo, após o período passado em Antioquia, foi nomeado bispo de Constantinopla, capital do Império romano do Oriente. Teve como principal objectivo a reforma de sua Igreja: a austeridade do palácio episcopal tinha de ser um exemplo para todos.
Solícito com os pobres, foi conhecido por “o esmoleiro”. Como pastor atento, conseguiu criar várias instituições caritativas cobiçadas por muitos. Era empreendedor nos diferentes campos fez que alguns o vissem como um homem de risco. Tratava todos de maneira cordial e paterna, não fosse ele um grande pastor da igreja e da capital do Império. “Em particular, sempre tinha gestos de ternura especial pela mulher e dedicava uma atenção particular ao matrimónio e à família. Convidava os fiéis a participar da vida litúrgica, esplêndida e atractiva com uma criatividade genial.” Bento XVI.
Apesar da sua bondade, não teve uma vida fácil, “viu-se envolvido com frequência em intrigas políticas por suas contínuas relações com as autoridades e as instituições civis.”No âmbito e nível eclesiástico, dado que havia deposto na Ásia, no ano 401, seis bispos indignamente eleitos, foi acusado de ter superado os limites de sua jurisdição, convertendo-se em alvo de acusações fáceis.” Não teve outro remédio se não ser deposto, no sínodo organizado pelo próprio patriarca Teófilo, no ano 403, e condenado a exílio e a ser perseguido pelo grupo chamado “joanista”.
Então, João Crisóstomo denunciou ao bispo de Roma, Inocêncio I. Não foi a tempo porque, entretanto, já tinha sido de novo exilado na Arménia.
5. A Comunidade Cristã e os Mosteiros.
Nesta época medieval, junto das catedrais, ou nos próprios mosteiros e igrejas fundam-se centros de vida social não só a escola para ensinar a ler e escrever, a cultura, a assistência, a oficina e o celeiro, a gastronomia e os remédios.
O mosteiro rural não só ensinava a trabalhar as terras como as primeiras letras e a unir a cristandade na cultura, na liturgia e até da administração.
O monaquismo já vinha da Península, do lado noroeste, implementado por S. Frutuoso de Braga, deu lugar ao beneditismo que encheu o norte do país e toda a Europa.
Até que a primeira comunidade cristã seguindo as regras de S. Bento foi nas Terras de Cluny totalmente dependente da Santa Sé. Foi nesta base que nos séculos X e XI surgiram algumas contestações, na Europa, a estas comunidades de alta espiritualidade, sob o lema “Ora et Labora”.
Foi um grande sinal de autonomia da igreja…
O papado envolve-se mais no seu poder espiritual e procura fugir às interferências temporais. Nicolau II interdita as investiduras por leigos, nas Igrejas.
Há necessidade de concordatas e é Gregório VII que luta pela liberdade espiritual da Igreja atingindo o seu cume, contra os Senhores da Alemanha e da Itália, levando a exclusão eclesial todo aquele que recebe do poder temporal qualquer título de abade ou bispo seria, assim como os Imperadores eram condenados.
Aparece, por isso, a Concordata de Worms entre o Papa e o Imperador germânico que excluía qualquer imperador do poder espiritual, nem interferir nas nomeações eclesiásticas, apenas se conferia algum poder de arbitragem, evoluindo assim alguns conceitos.
A Concordata de Worms trouxe uma nova forma de estar na Igreja e estabelece regras para que haja uma independência interna da Igreja face às intromissões do poder temporais e para isso apareceu uma estrutura diferente da Cristandade medieval e começou pela hierocracia, isto é, o primado do poder espiritual sobre o temporal que Gregório VII no final do século XI o que trouxe algum desagrado pelo poder temporal porque o Papa ficou com o poder o poder de ligar e desligar os súbditos a um príncipe.
Esta vitória hierocrática do cristianismo em que “o poder temporal está para o espiritual como a lua para o sol”.
A Igreja intervém na vida dos Estados.
Nos meados do séc. XI aparece o Grande Cisma do Oriente.
Facilita esta crise na Igreja a divisão entre Roma e Constantinopla, na cultura, da economia, da política e ocorreu depois de uma queda do Império Romano do Ocidente, nos finais do séc. V.
Foi num clima de atritos que as divergências de carácter litúrgico e doutrinal, porque o Imperador de Constantinopla põe o Papa de lado e nomeia ele a sua autoridade religiosa em 1054, agravada mais tarde com a crescente politização da vida e não até tanto das razões religiosas e a mútua comunhão só acabou entre católicos e ortodoxos nos meados do século XX.
6. A Igreja Conservadora e S. Tomás de Aquino.
Coloca-se uma Comunidade Conservada e Integrada e, na Idade Média, mais que um Estado é um Estado, mais que uma sociedade e a sociedade acabada. Desta vida tudo quer envolver e até ao séc. XIV consegue-se ultrapassar as dificuldades internas entre os papas, imperadores, reis e nobres, príncipes e vassalos. Neste tempo parece ter parado no presente, nas ideias, na criação de coisas novas.
A nível universitário sintetiza-se num passado clássico. Apenas S. Tomás de Aquino conseguiu dar uma luz de excelência à razão e à fé na condução a um sistema perfeito.
Deste modo, distingue sociedade de comunidade e o indivíduo em nome da liberdade não pode o Estado exercer para com os seus cidadãos de forma feudal. O Estado é uma exigência do homem e o Estado não existe antes do indivíduo.
As leis existem para assegurar o bem comum. Não há direitos ilimitados. Os direitos nunca serão absolutos, mas relativos, seja ou não um Estado Democrático.
(Tomás de Aquino, Comentário, V Élica, Lectio 2)
As cruzadas foram um fenómeno político e religioso aceite na altura, hoje, abominável, embora pareça haver de novo o reverso da medalha do lado dos fundamentalistas islâmicos. Acredito que na cultura de hoje já não terão sucesso os ideais rigoristas ou fundamentalistas das religiões ao ponto de se voltar ao mesmo.
Disto começou a dar-nos exemplo Francisco de Assis e, em Assis, João Paulo II, reúne os chefes das grandes religiões para rezarem em conjunto.
A propagação do Evangelho tem de ser diferente.
Surgem as heresias causando indisciplina na ordem social, e confusão entre profano e religioso, a troca da fé como quem muda de casaco e o seu centro teve como ponto de referência na zona dos albigenses na França, que S. Domingos procurou combater levando à conversão.
Na Espanha e, mais concretamente, a começar em Burgos as ordens mendicantes franciscanas e outras mendicantes avançaram e passaram de uma economia rural a uma economia urbana onde se desenvolveu a cultura cristã.
Assim como a cristandade atingiu um cume, como na Idade Média, assim aparece também, irremediavelmente, uma crise do papado, sobretudo, no cisma do século XIV entre Roma e Avinhão, tendo o Papa de Roma reforçado com o único e verdadeiro sucessor de S. Pedro. No entanto, tudo isto trouxe alterações políticas, sociais, religiosas e culturais; ficam sempre marcas boas de reflexão, de tomada de posição, de evolução da história e aprofundamento da fé e cultura; e más como a Guerra dos 100 anos na Europa, ou menos más porque teve até hoje uma evolução dinâmica e purificadora, até chegarmos à Renascença.
Foi o seu ponto final enriquecido em conceitos conciliadores até o Papa Constantino V, no Concilio de Constança, em 1417.
7. O Cisma do Ocidente
Não bastou o Cisma do Oriente que, só muitos séculos depois, se mostraram pontos de referência para o movimento ecuménico, para a unidade dos cristãos.
Os leigos sempre sofreram muito com estas divergências e daí apareceram as tendências nacionalistas, autonomias, independência dos leigos em relação ao clero desprestigiado. Outra situação é a procura do poder político querer intervir na organização religiosa e, deste modo, foi exemplo o sentimento nacional de Germânia que no, Renascimento, se manifesta contra o poder do Papa, o poder de Roma.
A consciência eclesial é perturbada pelas dificuldades internas e externas; e com isso sofre a espiritualidade que se torna mais individualista.
Nestas lutas constantes, a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e este ambiente doentio perturbaram os espíritos. É ainda no meio disto tudo que aparecem as indulgências que levaram a uma outra divisão do séc. XVI da Igreja.
Depois do Cisma do Ocidente, de Papas aqui, papas acolá, a coesão e a comunhão eclesial foi mais difícil e, o esperado foi inevitável como as atitudes começadas por Lutero na Alemanha, o Zuínglio na Suíça, o Calvismo na França e o Henrique VIII na Inglaterra; embora a mais forte tivesse sido a doutrina de Lutero, uma livre interpretação desta bíblia, a justificação, a palavra é o único veículo de salvação e o sacerdócio é comum aos dos fiéis ao Deus que justifica.
Isto fez arrepiar a consciência de muitos cristãos, da cisão dos cristãos, os que ficam muito obedientes e ligados a Roma e nações como o Catolicismo na Itália, França, Espanha, Portugal, Áustria e Bélgica, etc.; e os que se separam.
Aparece o Concilio de Trento, a começar com a criação de princípios e seguintes como “contra-reforma” à reforma que os Protestantes quiseram começar.
Os Tridentinos tomaram novas medidas de dinâmica pastoral, caritativa, educativa e formas de vivências radicalistas, renovando as existentes e aparecendo outras.
O progressivo enfraquecimento do poder papal de carácter temporal deu possibilidades de intromissão do poder civil aos príncipes na vida das respectivas Igrejas Nacionais, o regalismo; de modo particular, como dizia, nos países germânicos ou de influência germânica, enquanto os outros se mantiverem ligados a Roma conservando no aspecto religioso a ligação ao Papa. Portugal depois da experiência dos Filipes de Espanha em nada alteraram em Portugal a sua posição em relação à Igreja. D. João V veio cortar relações com Roma e foi difícil restaurar no País a divulgação dos documentos Papais e já estávamos na época absolutista do século XVIII.
Agrava-se a situação com Pombal que tenta a submissão pura e simples da Igreja portuguesa aos ditames do Estado: censuras para os Bispos, exigências aos Bispos, expulsão da Companhia de Jesus e a doutrinação do regalismo nas Universidades.
Quanto à Inquisição ela é assumida pelo Estado embora o juízo possa ser feito pelos juízes-teólogos.
Este tipo de procedimento contra os hereges já tinha nascido em Portugal contra os judeus como na Espanha no século XV.
Tempos maus para uns e para outros, mas muitos lutaram, leigos e clérigos, um deles foi o Jesuíta Pe. António Vieira que influenciou o fim do Tribunal do Santo Oficio no século XVIII.
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