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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A dor é um mistério - página de opinião do Diário do Minho - de Maria Helena Marques - O meu bem está na cruz de Cristo

0 mistério da dor
  Sabemos, por experiência, que a dor e o sofrimento fazem parte da vida. Um tema inexplicável que nos en­tristece e angustia. De onde vem e para que serve? Um sofrimento causado mui­tas vezes pelas nossas más escolhas, que nos ferem a nós próprios ou aos outros. A um nível mais global, a liberdade mal entendida de outras pessoas também nos pode causar sofrimento. E existem, a nível da própria natureza, fatores diversos que deterioram o organismo humano, ou os fenômenos e catástrofes naturais que des- troem parte do mundo e dos homens, em maiores ou menores dimensões.
Não há explicação fácil para o sofri­mento e, muito menos, para o dos ino­centes. A dor continua a ser um misté­rio. Um mistério que apenas o cristão com fé vai aprendendo a descobrir e a com ele conviver.
A dor apresenta-se de muitas formas e em nenhuma delas é espontaneamente querida. Isto não justifica que nos deva­mos encher de compaixão por nós mes­mos, que não devamos ser fortes e solí­citos na procura dos meios com que po­demos ultrapassá-la, que nos deixemos abater. Não faríamos outra coisa porque, na realidade, existem sempre maiores ou menores contrariedades. Pelo contrário, devemos procurar reagir e impedir a ima­ginação de transformar qualquer incomo- didade em tragédia, reduzindo os pade- cimentos às suas verdadeiras dimensões. Mais ainda: devemos procurar "esquecer" as nossas mágoas para pensar nos outros e servi-los, como é próprio da primeira de todas as virtudes cristãs, a Caridade.
Não é fácil dar resposta ao mistério da dor. É verdade que existem explicações que nos fazem vislumbrar o seu sentido, ainda que sempre se nos apresentem in­suficientes diante da tragédia do mal no mundo, do sofrimento dos inocentes ou do triunfo, ao menos aparente, dos que fazem o mal. É um tema de reflexão de suma importância, um enigma em que apenas a partir de uma perspetiva cristã se pode avançar realmente, para a entra­nha do problema; mas uma reflexão que não nos distraia da batalha diária para perceber e enxugar a dor das demais pessoas, procurando fazer dessa expe­riência algo que nos ensine, que nos faça crescer, que não nos destrua.
Referimo-nos à batalha contra a deses­perança, esse estado anímico que dilacera a alma de tantas pessoas que não encon­tram sentido para o que acontece nas suas vidas, que as faz arrastar "os pés da alma" e caminhar pela vida com uma espécie de fatalismo dramático. A dor própria é talvez a melhor advertência para reparar na dor dos demais, para manifestar-lhes o nosso afeto e a nossa proximidade, e tornar as­sim mais humano o mundo.
Celebramos em 11 de Fevereiro o "Dia do Doente"e mais um aniversário da pu­blicação da Carta Apostólica Salvifici Do- lores, de João Paulo II, em 1984, onde dis­corre sobre o sentido cristão do sofrimen­to que tem o seu fundamento, entre ou­tros, na Epístola de S. Paulo aos Colossen- ses (1,24): "Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja".
Diz o João Paulo II: "O sentido do sofri­mento é verdadeiramente sobrenatural e, ao mesmo tempo, humano; é sobrenatu­ral, porque radica no mistério divino da Redenção do mundo; e profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua humanidade, com a própria dignidade e missão."
"No programa messiânico de Cristo, que é ao mesmo tempo o programa do reino de Deus, o sofrimento está presen­te no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civi­lização humana na "civilização do amor".
Com este amor é que o significado salví- fico do sofrimento se realiza totalmente e atinge a sua dimensão definitiva".
Estas palavras sobre os atos de cari­dade relacionados com o sofrimento hu­mano, permitem-nos descobrir, por de­trás de todos os sofrimentos, o próprio sofrimento redentor de Cristo, presente em quem sofre. Todos os que sofrem fo­ram chamados a tomarem-se participan­tes "dos sofrimentos de Cristo".
A dor e o sofrimento são inerentes à condição humana. Normalmente, o sofri­mento suscita compaixão, inspira respeito e, a seu modo, intimida. Mas não há dú­vida de que nele, efetivamente, está con­tida "a grandeza de um mistério especí­fico". Mistério insondável do sofrimento humano que não é apenas o decorren­te da dor física, mas também sofrimen­to moral, que provém da dor da alma, da dor espiritual e que, em cada caso, é benéfico, porque redentor.

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