Faleceu o Cónego Amadeu Torres, natural de Viana do Castelo. Tive a graça de o ter tido como professor e de sermos amigos. Era irmão de mais dois sacerdotes, todos naturais de Vila de Punhe: O Dr. Alípio Torres, escritor e investigador, professor jubilado do Liceu de Viana do Castelo e do pintor Joaquim Torres, pároco de Chafé.
A propósito,
“O Arcebispo de Braga agradeceu ao cônego Amadeu Rodrigues Torres «o legado cristão, lingüístico e poético, deixado ao serviço da Igreja, da cultura e do Homem». 0 Prelado presidiu às cerimônias fúnebres deste professor catedrático jubilado da Universidade Católica Portuguesa e da Universidade do Minho, que decorreram na Sé Catedral de Braga, seguindo o corpo a sepultar na sua terra natal, em Vila de Punhe, Viana do Castelo.
Aludindo ao Dia Mundial do Doente, que ontem se celebrou, D. Jorge Ortiga recordou os difíceis momentos com que lidou Amadeu Torres em tempo de prolongada doença, durante a sua juventude, salientando que foi precisamente da doença, que o poderia ter deprimido e incapacitado, que surgiu a sua primeira obra poética, em 1948, "O Meu Caminho é Este", que assinou com o pseudônimo Castro Gil.
«Num mundo de superficialidade, o autor ensina-nos a aprender e a pensar. É esta a mensagem que o cônego AmadeuTorres deixa à Igreja», salientou o Arcebispo de Braga.
Estabelecendo uma ponte entre a vertente acadêmica de Amadeu Torres, considerado um dos maiores especialistas mundiais em Lingüística, História da Língua e da Gramática, e a sua vivência enquanto sacerdote e homem ligado à Igreja, D. Jorge Ortiga salientou que «é ao longo de um caminho, em que se descortina toda uma língua através das palavras, que descobrimos a Palavra de Deus. Por isso, a última palavra não pode ser a morte, mas a vida eterna».
Nesse sentido, o prelado deixou aos presentes o desafio de decorarem a Palavra de Deus, sem que se trate de um "decorar" académico, que rapidamente se esquece, mas antes um "decorar* no sentido etimológico dessa palavra (que tem a sua raiz no latim, significando "de coração"), sendo os presentes assim incentivados a guardar a Palavra de Deus no coração.
«Se assim for, seremos realmente o "sal da terra" e a "luz do mundo", reconhecendo e aproximando do Homem esse Deus e esse mistério transcendente que a poesia consegue decifrar», defendeu o Arcebispo de Braga, aludindo à mensagem do Evangelho de ontem, onde Jesus «oferece gratuitamente as expressões "sal da terra"e"luz do mundo"para definir a finalidade da missão dos seus discípulos: o anúncio do Reino de Deus, e a figura de Deus Pai em Cristo Ressuscitado».
No final da homilia, D. Jorge Ortiga fez ainda uma especial referência à vasta produção poética de Castro Gil, terminando com a dedamação do poema "Variação sobre um velho tema" escrito em 1948 e incluído na obra *0 Meu Caminho é Este", o que despertou grande comoção em muitos dos presentes.
Ontem, foram muitos os que, na Sé bracarense, quiseram acenar um "último adeus" ao poeta, linguista e professor, latinista e poliglota admirado em várias academias, desde representantes de várias instituições, passando por sacerdotes, professores de vários níveis de ensino, antigos alunos, familiares e amigos.
Nas cerimônias fúnebres participaram ainda o Arcebispo Emérito de Braga D. Eurico Dias Nogueira, o Bispo Auxiliar D. Manuel Linda, vários membros do Cabido Bracarense (a que o Cônego Amadeu Torres pertencia), as Irmãs do Colégio D. Pedro V, de cuja igreja (Senhora da Penha de França) era Capelão há cerca de meio século, e também o Coro do Seminário Conciliar, que teve seu cargo a.componente musical da liturgia.
Recorde-se que ao Cônego Amadeu Rodrigues Torres (Castro Gil), entre outras distinções acadêmicas, literárias e civis, foi atribuída, no ano 2000, a "Medalha de Ouro da Cidade de Braga". - ro@gmail.com., in DM de 12.02.2012
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