Chamam-lhe a partícula de Deus
1. Deus está em toda a parte: no grande, no pequeno e no pequeníssimo. Até a uma partícula subatômica, extremamente difícil de localizar, deram o nome de «Partícula de Deus»! Com a sua descoberta, a ciência terá dado o último passo para chegar ao primeiro instante, aquele em que cada organismo recebe condições para existir.
2. É interessante notar como a ciência hoje acaba por ter as mesmas inquietações da filosofia de outrora. Ambas se empenham na procura da «archê», ou seja, do que está no início de tudo.
É claro que a ciência atual tem recursos infinitamente maiores. Mas é significativo verificar que a direção da procura é semelhante: o que está na origem, o que desencadeia tudo.
3. Naqueles tempos, uns achavam que era o «ar», outros a «água», outros a «terra», outros o «fogo», outros o «indeterminado» («ápeiron»).
No nosso tempo, a busca da «archê» tomou uma dupla orientação. A Cosmologia já identificou o momento inicial do universo: o «Big Bang». A Física acabou de localizar o elemento primordial da matéria: o «Bosão de Higgs», a partícula que dá massa às outras partículas!
4. A descoberta desta partícula corresponde, desde logo, a um postulado, a uma espécie de exigência.
Há cerca de 50 anos, vários físicos procuravam uma explicação para a existência da matéria. O que é que explica que a matéria exista?
5. Sabia-se que é necessário haver uma partícula que confira massa às outras partículas. Sem essa partícula (ínfima), o universo (enorme) nunca teria surgido. Nem as galáxias, nem as estrelas, nem os planetas, nem nós, humanos. Em suma, nada do que existe existiria.
A importância desta descoberta é tanto maior quanto ela era tida por impossível até há pouco. Stephen Hawking, por exemplo, chegou a apostar que tal partícula jamais seria encontrada.
6. A partiícula é conhecida por duas designações. Há quem lhe chame «Bosão de Higgs» porque foi Peter Higgs e outros cinco cientistas que, em 1964, postularam a sua existência.
Mas o mais curioso é que esta é também denominada «Partícula de Deus»!
Tal expressão surge no título de um livro de Leon Lederman. Parece que a sua vontade era que a obra fosse intitulada «Goddamn particle» (literalmente, «o raio da partícula»). Só que o editor não aceitou. Optou-se, então, por deixar cair a segunda parte da palavra e o livro passou a chamar-se «God particle», ou seja, «Partícula de Deus»!
7.É espantoso como, também neste aspeto, siibsiste uma similitude relativamente à Antiguidade. Também nessa altura, o divino era postulado como a explicação última de tudo.
Deus era, portanto, visto como o fundamento. Com uma subtileza refrescante, o divino era descrito por alguns como a alma do que existe. Ele é o ser que faz com que tudo seja.
Daí a tendência para não categorizar o divino. Usavam-se termos como «pneuma», que tem que ver com ar, e «theós», que originalmente significa hálito!
E, a bem dizer, Deus é esta «aragem» que nos cerca e este «hálito» que, vindo das alturas ou das profundezas, nos envolve.
8. O «Bosão de Higgs» será, provavelmente, um dos últimos passos que nos transportam aos primeiros instantes.
As questões quanto ao «como» do funcionamento da natureza estarão à beira das respostas definitivas. Mantém-se, entretanto, a pertinência do grande «porquê».
Deus não é, obviamente, uma partícula. Mas pode ser procurado a partir do estudo dessa partícula.
9. A ciência presenteia-nos, uma vez mais, com um forte «caudal» de respostas. E deixa-nos a «ponte» para continuarmos atentos às perguntas.
Este é, pois, um momento prodigioso para o conhecimento humano e para o prosseguimento da escuta, da procura, do debate.
Nada está arrumado. Tudo permanece cada vez mais em aberto! In diário do minho, julho 2012 de João António Pinheiro Teixeira
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