- Os engenheiros (ou os arquitetos), quando elaboram um projeto de construção, contam com um fator de reserva - a margem de segurança - , fazendo os seus cálculos de modo que o edifício possa resistir a um esforço multas vezes maior do que o normal para poder escapar a um gran- ' de número de cataclismos. 0 mesmo se passa com o espírito humano, onde esse elemento de reserva é da maior importância. O fator crucial na sobrevivência é não tanto a capacidade de cumprir as exigências habituais como a capacidade de dominar circunstâncias imprevistas - as crises e as ocorrências negativas e funestas. Em alturas de emergência, pressão e angústia, cada um tem de ir buscar forças às suas reservas de habilidade e de capacidades; os que as não têm em estado de alerta são arrasados.
- As últimas décadas vêm sendo ca- raterizadas por um enorme progresso científico e tecnológico, mas, paradoxalmente, as pessoas não venceram a ansiedade, o desespero, a melancolia, os sentimentos mórbidos e as perturbações graves, familiares e sociais. A alegria de viver e a felicidade que a deve acompanhar desceram a níveis baixos nunca vistos, ultrapassando o estado psicológico de melancolia que se viveu na sociedade medieval no período das epidemias ou, mais recentemente, durante o tempo em que alastrou a vaga das doenças pulmonares do século XIX e início do século XX e que inspiraram o romantismo literário que espelhou essas situações sociais.
- Este sucedâneo de coisas e de estados sociais e culturais arrastou as comunidades para uma posição tal que não se poderá garantir a sobrevivência da verdadeira humanidade, se não se respeitar a sua essência e os valores que ela encerra. A dita humanidade terá que superar os erros e os atropelos cometidos e repará-los de modo a recuperar a sua autêntica natureza, mesmo sabendo que, para isso, tenha de suportar e vencer muitos sacrifícios e contrariedades e, concomi- tantemente, introduzir as modificações comportamentais necessárias para atingir esse objetivo. A verdadeira solução dependerá do respeito pelo único ingrediente absolutamente essencial, embora complexo: a natureza humana.
- As causas da insegurança moram sempre dentro de nós próprios, mas, infelizmente, é fácil esquecer ou negar este facto. Pode haver alturas em que parece podermos prosseguir a vida diária sem qualquer tipo de religião; contudo, uma vida sem fé está privada da sua maior força. A única segurança real que um homem pode ter neste mundo é sentir Deus e possuir uma reserva de conhecimentos, experiências e competências corretos. A natureza aponta, de maneira suave mas firme, que há qualquer coisa de errado em nós, quando falhamos. E nós, por nosso lado, dizemos que há qualquer coisa errada no mundo.
- Enquanto a nossa maneira de viver não for a adequada e consen- tânea com a essência humana e enquanto os seres humanos tiverem a ideia fixa de que o fim principal da existência do homem é a realização das suas ambições e o amontoar de riquezas, não haverá verdadeira paz sobre a terra, não acabarão as ganâncias, as violências, os atropelos aos direitos humanos e o desrespeito pelos princípios éticos e morais. Segurança, paz e justiça não são problemas separados uns dos outros e só serão eficazes se forem aplicados de um modo global unificado. A sociedade será o que forem os seus homens. Não há nem haverá paz, justiça e segurança, se os homens não libertarem os corações da cobiça, da ganância e do ódio que leva aos abusos e ao crime.
- Estamos num tempo em que os governantes receitam e prometem soluções para todos os nossos problemas, mas foram expulsando Deus das escolas e de todos os organismos públicos a coberto dos princípios de serem estados laicos. No entanto, depressa resvalaram para o laicismo, esquecendo que o homem precisa de Deus para moderar e transformar a sua natureza. A dimensão espiritual do homem não pode ser aviltada, desprezada ou rejeitada sem as conseqüências que todos conhecemos.
In DM de Artur Gonçalves Fernandes
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