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sábado, 31 de março de 2012

PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E AS FESTAS - escrito em 1985

PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA E AS FESTAS  
 escrito em 1985
           Entendo que a Pastoral das festas não pode ser só uma pedagogia e uma estratégia dirigida a um indivíduo, mas ao conjunto de indivídu­os, na sua totalidade, a que chamamos povo. Todavia, este é tão diver­sificado como é a sua geografia sócio-económica-cultural. Sendo assim a pastoral tem de ser menos pragmática e mais popular, tem de acompa­nhar a pedagogia moderna e os seus problemas psico-sociológico dos po­vos o que obriga a conhecer bem os seus destinatários para que não se corra o risco de uma pastoral ineficaz, mas antes atinja o homem na sua globalidade de ser e estar num momento concreto da história e do mundo .
É forçoso à boa pastoral em geral ser acção extensiva a todos e não se fechar em elites, com as comunidades de base, sob o perigo de se circunscrever aos cultivados na fé, aos convertidos e nada mais.
Ela tem de ser missionária, ir ao encontro das maiorias e da massa por vontade de Cristo que ordenou: "Ide, pois, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"(Mt. 28,19).
A pastoral tem de preparar os crentes para uma inserção no povo anónimo, como fermento, como evangelizadores e, só assim, cumprirão e participarão na missão profética de Cristo libertador dos pobres e dos
oprimidos. Esta pastoral tem de levar sempre uma carga afectiva, intuitlva e não é fácil de se reger pela lógica do raciocínio.
Sei quanto este povo a mim confiado, é sensível às festas. Isto é um valor humano muito importante ainda que muitas vezes eivado de ex­pressões folclóricas do seu gosto que escondem atitudes, motivos e va­lores que envolvem por sua vez o divino.
Cristo não veio para destruir mas para completar e salvar o que estava perdido. Esta paróquia é uma paróquia da cidade onde o ritualismo, muito rico em simbologia na aldeia, se esvai aqui. Pois, onde está o fogo da lareira? Onde está a água do poço e da fonte? Onde está o templo? O caminho tortuoso e difícil de escarpar? A vinha e os sarmentos, a mesa onde come toda a família? As histórias, as lendas e os contos? As parábolas? Onde está a massa e o fermento?
Vive-se no mesmo prédio, mas não se conhece, não se fala e quan­do acontece é apenas um diálogo mensal porque se tem alguns direitos e obrigações comuns. No entanto há os que fazem comunidade a partir do des­porto, do cinema, do trabalho, do sindicato, da política...
A pastoral das festas foi aquela na qual, mais ou menos, me em­penhei, começando por um lado a recolher valores existentes e desenvolvê-los até que sejam encarnados na vida quotidiana; por outro lado, a
servir-me de qualquer efeméride para a celebração da festa.
Mais concretamente levei a uma maior participação religiosa nu­ma tradicional festa, a da Sra. das Necessidades, no lugar da Abelheira, sem destruir o que de profano se realizava, antes pelo contrário, dando-lhe até formas novas.
Deste modo há uma participaçãe maior na festa tanto no dia, co­mo durante a semana como preparação religiosa (cultural e espiritual­mente) para que da festa resulte um maior proveito como pausa, refle­xão e encontro de pessoas das mais variadas posições sociais. Isto des­pertou interesse e a assembleia cresceu a ouvir testemunhos de leigos adultos ou jovens segundo a liturgia, a doutrina conciliar ou proble­mas actuais da Igreja. Procurou-se fazer de um arraial nocturno um lu­gar de verdadeiro encontro de pessoas através do folclore entremeado de intervalos para se comer sardinha assada, pão e vinho que se oferece.
Ê uma despesa própria da festa, poupando-se para isso, noutros números do programa que dão menos possibilidade ao encontro, ao convívio.
Mas, como disse acima, não é só desta festa tradicional do que lancei mãos. Outras efemérides que normalmente passam despercebidas aos crentes são eventualmente promovidas a festa quer através do desporto, do cinema, do trabalho, do convívio, etc...
Assim apontarei, entre outros, o Ano Internacional da Criança, o Ano Santo da Redenção, o Ano Internacional da Juventude, o Ano Interna­cional da Paz, o Dia do Pai, o Dia da Mãe, o Dia da Criança, o Natal, a Páscoa, o Dia da Catequese, o Dia da Paróquia...
Para cada acção se procura um programa diferente, renovador e com a sua simbologia, servindo-me das mais variadas estratégias para animar e levar à participação de crianças, jovens e adultos: são, entre outras, concursos, exposições, conferências, encenações, convívios, momentos de acolhimento, de partilha, de reconciliação e de celebração da fé.
A Páscoa num bairro novo de 240 fogos é feita com uma celebração campal Eucarística e, no fim, o compasso Pascal apenas vai aos halls de cada prédio ou à cave, onde os moradores se juntam em confraternização. Pela noite dentro o conjunto musical da paróquia anima ao ar livre a continu­ação da festa.
Anualmente, faz-se um convívio paroquial onde participa um número superior a 1000 paroquianos. Em todas as organizações há sempre um bom número de leigos, nem sempre os mesmos, que participam na programação.
Suponho que se vão conseguindo os objectivos de uma festa religi­osa, embora a transformação, a renovação vai sendo sempre muito lenta. Verifica-se, pelo menos e para já, um maior interesse e compromisso e uma maior participação laical nas acções eclesiais,dando-se um ar de frescura e abertura a esta igreja que se vive na comunidade paroquial.



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