A Paróquia e a Cruz numa diocese em Sínodo
Claro que a Cruz de que se trata aqui não é daquela cruz, a que o homem primitivo deu o significado de fogo, de luz, de sol porque pela fricção de dois paus obtinha o fogo. Também não é aquela que lhe deram ainda, mais tarde, um outro significado, a parte vertical significava o poder e a horizontal a submissão. Ou ainda a que outros lhe deram, o significado do bem à haste vertical, e à horizontal a haste do mal.
Quem vai ao Egipto compra hoje cruzes com um arco (uma asa) usada pelos faraós. Apareceram já nessa altura as cruzes suásticas que nada tinham a ver com o nazismo, mas com o culto do sol, pois os seus elementos radiais nada têm a ver com a opressão, o racismo, como se depreende pelo uso nazista.
Em quase todas as civilizações este sinal significava sol, luz, vida. Também a contextura física do homem é uma cruz. Ora ponha-se aí de pé e abra os braços!..
A Cruz a que aqui me refiro é outra, é que a Paróquia sem a Cruz, não pode ser Paróquia, porque Cristo dá-lhe uma simbologia completamente diferente. Foi nela que Cristo remiu e salvou o mundo, foi nela que consumou a obra de redenção humana, foi nela que abraçou todo o mundo, o passado, o presente e o futuro.
Os paroquianos têm de olhar para esta cruz e sentirem-se atraídos porque nela foi onde Cristo, o seu Senhor, crucificado e morto, manifestou amor nunca visto até então.
Aparece então a Cruz com Cristo crucificado apenas pelo século V e completamente nu, depois com uma cinta da qual pendia uma ponta, e mais tarde vestido de túnica sem mangas, de barbas e mostrando a chaga de lado. Veio o Concílio de Constantinopla, de 692, ordenar a representação do crucifixo.
No século XI generalizam-se os crucifixos com o Cristo vestido da cintura para baixo e com os olhos abertos, como encontramos em abundância na Espanha. Começa a Cruz a andar associada a símbolos cristãos: o sol, a lua, o alfa e o omega, o monograma de Cristo, o cordeiro, a vida. Conforme a arte e as civilizações, através dos tempos se foi apresentando duma maneira ou doutra, pois da verdadeira Cruz não há um documento, uma fotografia que possa ser reproduzida tal e qual por um escultor, fica quase tudo baseado em textos à imaginação do artista. Com um só cravo nos pés, com um cravo em cada pé, figura serena ou trágica, conforme a visão do artista, até chegar à arte dos nossos dias e o vermos à maneira do escultor José Rodrigues, no Cristo para Viana, que se apresenta na capela do seminário Diocesano desta nossa terra Vianense, etc.
Relacionadas com esta cruz de Cristo, temos as cruzes das nossas igrejas, exteriores e interiores, cruzes de procissões, cruzeiros, calvários, cruzes em nossas casas... A Cruz Paroquial cujo o zelo, a guarda, e a apresentação, conforme os costumes das paróquias, é entregue a "juiz" ou "mordomo", normalmente durante um ano.
Estas cruzes, qual delas a melhor... Normalmente são de Prata com mais ou menos trabalho artístico menor ou de maior valor, conforme o brio e a riqueza das Comunidades.
Celebra-se a 14 de Setembro a festa da Exaltação da Santa Cruz.
De qualquer modo a cruz sempre foi um instrumento de suplício e de morte, mas a liturgia cristã quis que ela fosse símbolo de força, de beleza, de capacidade humana de amor sobre o ódio, a injustiça e a mentira.
A morte de Jesus na cruz destruiu a vida natural sobre a terra para a substituir pela vida sobrenatural, como dizia Santo Efrén , um diácono sírio, no século IV.
É por isso que a cruz de Cristo é bandeira de glória para a paróquia, para os crentes, para todos aqueles que à sombra dela se reunem com a mesma fé e o mesmo amor; enquanto para os não crentes pode significar uma ignomínia, um fracasso, ou até, um sinal de masoquismo.
A Paróquia acredita e vive a vida de Jesus porque sabe que o sofrimento de Jesus na cruz não vem justificar o nosso sofrimento, mas abrir um sentido novo à nossa vida, mesmo à vida de sofrimento.
Na Cruz, Cristo salva-nos porque nos dá o seu amor, e o seu amor é capaz de nos atrair, converter ou fazer mudar o nosso coração, as nossas atitudes...se alguns perante o mal do mundo que todos os dias observam na televisão desesperam, perdem a esperança, deixam a fé...outros encontram mais depressa Cristo e a força capaz de se sensibilizar para a solidariedade com os que sofrem e lutar pela construção dum modo melhor e mais humano.
Esta é uma aprendizagem a partir da Cruz.
Há muitas missões de solidariedade como as dos médicos sem fronteiras e...usa-se a racionalidade da ciência, mas o coração muitas vezes está longe do sentido da Luz de Cristo, só apenas como actos de puro humanismo, altruísmo... e geram-se deste modo novos anjos, novos espíritos, novas fadas, novas mitologias, canções, festivais, consumo de drogas, sexo e tudo o mais que este mundo parece oferecer como felicidade imediata...
Hoje procura-se penetrar nessa felicidade seja como for: uns auto-ajudam-se, outros procuram exercícios físicos, ou mentais, rituais diversos, recursos às sabedorias antigas do oriente e às religiões orientais. Às vezes domina demasiado na nossa sociedade o âmbito do mercado e do Marketing e, do mesmo modo que no mercado mais interessa a utilização imediata, rápida e satisfatória, o prazer sugestivo agora e aqui, do que a verdade das coisas, esta Luz que vem da Cruz é muitas vezes preterida porque é exigente e verdadeira...
Se queremos o bem estar social, a melhor qualidade de vida, na nossa Comunidade Humana, na nossa Paróquia não podemos deixar de discernir bem os desejos que são iluminados por esta Cruz Salvadora.
Cristo foi feliz porque amou. Não procurou a felicidade própria, mas a do outro. A sua preocupação foi só a nova felicidade para os outros, para mim e para cada um dos paroquianos, como para toda a igreja, e ainda para todos os homens de boa vontade.
Foi por nós que Cristo foi vencedor e todos podemos cantar vitória, porque venceu a morte, em noite santa da Vigília Pascal. Celebrar a exaltação e a glorificação de Cristo, em 14 de Setembro, pelo madeiro da Cruz e santo lenho, é prova que a Comunidade vive à volta da cruz, onde o Mestre alcançou a Vitória Celeste para os seus que tanto amava.
Se a Comunidade não tiver os olhos na cruz do Mestre, não poderá ser Paróquia em comunhão com o pároco, com o Bispo, com o Papa.
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