Cristão, homem de risco
Jesus foi um Homem de risco ao trazer uma boa nova de paz.
Ele articulou um risco com dois aspectos, o conflito e a paz, num projecto de
vida que o fez salvador da humanidade.
Na cruz de Jesus, encontramos a
verdadeira e autêntica chave, segredo, mistério que não foi um mero acidente do
seu caminhar, nem algo que casualmente lhe aconteceu, mas o desenlace de uma
série de conflitos que ao longo de toda a sua vida terrena foram crescendo...
Não lhe faltaram conflitos com as
autoridades judias, sobretudo com as sacerdotais, as farisaicas, com as normas
romanas e até com a família.
A cruz foi o culminar de uma
morte civil e estigmatizado como amigo dos pecadores e publicamos, possuído do
demónio, como louco, sedutor do povo, subversivo da ordem pública, (Jesus
Nazareno Rei dos Judeus).
Por outro lado o anúncio central
de Jesus se formula quase sempre no Reino de Deus, como o Reino da paz. Foi
assim que os discípulos enviados por Jesus anunciavam a “chegada do Reino de
Deus ou a paz a esta casa” e aquilo que os caracterizava é que eram apontados
como “os filhos da paz”.
A paz de Jesus não era uma
tranquilidade cómoda para os poderosos.
O risco da vida de Jesus é um
elemento central como proclamação de paz no seio de uma sociedade conflituosa e
injusta. É, portanto, de Cristo que nasce o núcleo de uma forma nova de viver o
conflito social.
O que se faz discípulo de Jesus,
o cristão assumido, nunca poderá renunciar à justiça no reconhecimento da
dignidade e desigualdade de cada homem, pois ele é a base imprescindível para a
paz, mas não basta; uma paz farisaica seria desumana: A letra mata e o espírito
vivifica!
Para além disso no meio do
conflito tem de haver sempre o objectivo da reconciliação, como o diálogo, o
reencontro entre as pessoas, ou a pessoa em si mesma.
A não-violência ou a renúncia à
vingança supõe uma grande confiança em Deus e na sua justiça, uma fonte de
comportamentos de superior qualidade ética, como diz São Paulo aos Romanos (em
12. 14-21).
Isto significa auto controlo, fé,
confiança divina, esperança e amor. Perdoar e amar os inimigos, desenvolver
esta mesma ideia cujo o espírito o poderemos entender apenas integrado no ideal
do Sermão dos Bem-Aventurados. Este é o amor desinteressado, o mais gratuito,
aquele que nos faz mais filhos de Deus, nos identifica mais com Cristo, seu
divino filho, Jesus.
Aqui nascerá a grande autoridade
moral da Igreja para poder fazer propostas evangélicas do perdão e arrastar os
outros.
Jesus não fez uma proposta
política ao contrário do que alguns procuram insinuar. É uma proposta
completamente nova e inovadora!
Deus não faz acepção de pessoas
segundo S. Paulo, desde que haja temor a Deus e pratique a justiça, Ele com
nada lhe faltará. Jesus Cristo é a nossa paz, continua S. Paulo, e fez-nos
família de Deus. Há que “edificar a comunidade” onde estamos inseridos, por
isso, desenvolve também S. Paulo muito a doutrina do Corpo Místico de Cristo em
que Cristo é a cabeça e nós os seus membros.
Construir a paz é construir a
família igreja doméstica, é construir a comunidade de comunidades ligadas ao
seu Bispo e ao Papa.
Este é o contraste pelo que a
mensagem de Cristo é uma mensagem de risco não porque seja política, mas porque
é vivencial e nasce do coração das pessoas que são um todo com Cristo que deve
aspirar ao enriquecimento espiritual, material e culturalmente tanto no aspecto
individual como social.
A mensagem é para todo o povo de
Deus e não para criar proselitismos sejam de que cariz for.
Talvez alguns movimentos da
Igreja hoje queiram chamar a si toda a atenção, como sendo os únicos válidos,
os únicos detentores da razão esquecendo a liberdade que é outro dom de Deus ao
homem, tanto para o bem como para o mal, mas que o responsabiliza e o
compromete.
Todo o homem que se preze de ser
cristão tem de ser uma pessoa de risco, mas tem uma certeza, é que nunca está
só. Cristo está com ele e, se os outros fizeram a mesma comunhão da co-responsabilidade
eclesial, então sairá sempre vitorioso como o Mestre que venceu a própria
morte, ressuscitando.
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