No Gólgota onde Cristo foi crucificado (cf. Mt,27), levanta-se hoje a basílica de Santo Sepulcro. A palavra Gólgota vem do arameu golgota (caveira) e do latim golgotha, lugar onde se executavam os condenados à morte (cf. Dicionário de Roberto Faura Salater, espanhol). Em latim traduzia-se por Calvariae locus (lugar do Calvário).
No entanto, o radical cal na língua Celta e noutras culturas indo-europeias aparece com a significações divinas, antroponícas, gentílicas, etc...
Cal, Calo ou Kalu está em algumas regiões ligados ao acaso, como, a morte, à divindade Thanr-a ou Tanar, ligado à palavra tanatório (a casa da morte) (conf. Joaquín Caridad Arias, in Cultos y Divindades)
No entanto, a etimologia da palavra cal significa altura, elevação. (cf. Dicionário Houaiss).
Cal é um radical muito utilizado e com muitas significações em calcanhar, calcinado, calejado, caldo, óxido e hidróxido de calcário, caldas, calcular, calça, calço, cálculo (pedra), caldeira, caldeu, calendão, caloria, calote, calvo, calouro...
O que é certo é que o alto do monte de Jerusalém, lugar da Crucifixão de Jesus era um lugar seco, quente, exposto ao sol e não sei geologicamente se terá alguma coisa a ver com calcário, mas até tenho a impressão que sim, se a memória não me falha.
Seja como for, foi o lugar do Calvário de Jesus e a vida de cada um de nós tem, por vezes, calvários que chegue, se não são como o de Jesus Cristo, não deixam de fazer sofrer e, por isso, exclamamos “que calvário este”, mas enquanto Jesus não tinha culpa, quantas nós teremos...
Os Calvários, hoje, reduzidos a topónimos na maioria das freguesias da nossa região, nasceram da Via Crucis, “Via Dolorosa”, Via-Sacra.
Foi um exercício de devoção sobre os últimos momentos vividos da vida de Cristo desde o (Gólgota, “lugar do cránio” em hebraico) do tribunal de Pilatos até ao alto de Jerusalém, onde foi crucificado e que ainda hoje quem vai a Jerusalém percorre.
Na altura das cruzadas trouxeram para o Ocidente essa devoção de percorrer essa via dolorosa.
A partir do séc. XV pela iniciativa dos Franciscanos sofrem alguma transformação, mas a sua forma final de 14 estações (episódios evangélicos) foi finalmente fixada pelos Papas Clemente XII em 1731 e Bento XIV em 1742.
Foi no século XVI-XVIII que nasceram os quadros para dentro das igrejas e as cruzes ou imagens para fora das igrejas.
Era rara a Paróquia que não tivesse o seu Calvário. Suponho que eram obrigadas a ter ainda que fosse só uma cruz ou quatorze cruzes. Em Mazarefes começava na Igreja de S. Nicolau pelo caminho largo lamacento e de terra dura com um rio lavadouro junto à forca, próxima da carreira e ia até ao alto do Monte na Conchada, onde se encontrava há pouco tempo o lugar das três cruzes.
Em Arga de Cima e em Arga de Baixo existiam no meu tempo de Pároco, ainda todas as cruzes e em Arga de S. João quase todas.
Em Vila Fria, ainda outro dia, tive a oportunidade de ver parte dessas cruzes, num ápice, devidamente conservadas e arrumadas e, naturalmente, na continuação estarão as restantes, fruto e obra de conservação do património histórico, cultural e religioso talvez da Junta de Freguesia e da Paróquia. Parabéns.
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