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sábado, 15 de agosto de 2009

Padre de Barroselas-José Ribeiro- PN 2007

O Pe. José de Jesus Soares Ribeiro, nasceu a catorze de Abril de mil novecentos e vinte e um. Filho de José Afonso Ribeiro Júnior e Ana Parente Soares e irmão de Domingos, Conceição, Maria Rosa conhecida por Mariazinha que o acompanhou toda a vida e que já tem 91 anos de idade.
Era sobrinho do Pe. Domingos Parente da Costa Soares que foi pároco de Barroselas, nomeado por D. Manuel Vieira de Matos, pois, tendo estado em Stª Marta onde querendo impor-se a certos actos profanos da festa, em cumprimento da lei, criou mau ambiente e foi para Capareiros, nessa altura.
O Pe. Zé, cresceu, frequentou a escola primária, foi para o Seminário e em 1946 cantou Missa, no dia 29 de Julho.
D. António Bento Martins Júnior, nomeou-o pároco de Ganfei, Valença, zona muito fria no aspecto religioso e de muito mau ambiente moral e disciplinar, mesmo entre o clero.
Nessa altura ele era um jovem. Foi para um meio um pouco adverso. Apareceu-lhe um “despadrado” que em 1910 tinha “abandonado a vida de padre”, tinha casado e era pai e político. Já velho pede-lhe para o ouvir, queria a absolvição, queria retratar-se e publicar no jornal valenciano o que ele fez de mal à igreja, como padre e como cristão.
A sua vida estava presa por um fio e não queria morrer sem tornar pública a sua retratação e pedir a absolvição a este jovem padre. Queria um funeral religioso. Não gostava que fosse o arcipreste a fazê-lo, pois nunca se deram muito bem. Era precisamente o Pe. Zé, jovem, que ele queria para fazer-lhe o funeral.
Para o efeito, o Pe. Zé falou com o Arcebispo de Braga que não viu obstáculo depois de alguma argumentação do Pe. Zé quanto à forma exigida pelo seu superior.
O Pe. Zé deixou obra em Ganfei, e de lá, veio para Mazarefes, em 1953. Nessa altura era um gosto entrar no
quintal da Residência.
O Pe. Zé sempre soube receber bem, acolher bem os amigos. Era um dom. Esquecia tudo e entregava-se a quem chegasse. Era trabalhador em todos os sentidos da palavra. Os tempos livres passava-os a jardinar, a fazer o lago com água, água corrente, patos, canteiros de flores, muitas árvores de fruto, tudo muito limpinho, mesmo na garagem do carro, cada espaço para a sua peça de ferramenta e sabia onde tudo estava. Cada coisa no seu lugar. Muito organizado. Era fácil chegar a casa dele e encontrá-lo com uma bata de ganga a engenhocar algo, enquanto a irmã lá andava nas suas lidas domésticas.





Uma rede de arame separava o espaço do jardim em frente à residência do espaço dedicado à horta, à cultura de cebola, da castanha, da laranja, do limão, da palmeira e ainda de algumas árvores a continuar o pomar onde soltava as galinhas e os perús.
Um cão de duas cores branco e preto, Voldog raçado com Folkfarrier, com a tampa mais pequena que a panela isto é, com o maxilar inferior maior que o superior, salvo erro, chamado “Pitó”, lá guardava o quintal passando o dia a correr ao portal de cima e ao portal de baixo, da residência, pois havia duas entradas e não faltava quem procurasse o senhor abade.e com a juventude católica. O Pedro Domingues foi um colaborador no teatro. Parece-me estar a ver o Pe. Zé a correr para todo o lado, os jovens, os doentes, as confissões, a missa, o terço, as devoções de Maio, das almas... Desde muito pequeno, eu dizia que queria ser padre e nos meus tempos livres que eram muito poucos, porque era um hiperactivo e criativo, desde que tenho memória, tudo dedicava ao aspecto religioso.
O meu pai o que queria era que eu fosse estudar.Colocou-me no Colégio do Minho para me preparar para o exame de admissão ao Liceu, à Escola Industrial, depois fui fazer exame ao Seminário. Fiz três exames de admissão.
Aquilo que foi mais difícil, foi esse exame de uma semana ausente da família, no Seminário de Braga. Tanto me custou que seria um castigo para mim ir para o Seminário para ser padre. Já não queria. Padre sem seminário, sim, mas com Seminário não.
O Pe. Zé oito dias antes de ter de dar entrada em Braga, no Seminário de Nª Sra da Conceição, ao seu jeito lá me conseguiu “convencer” contrariado a ir para Braga. O que é certo é que lá me levou, lá me visitava muitas vezes. Era uma amigo. Muito humano, Eu fui fazendo caminhada e mais tarde durante o curso de Filosofia, fiz a minha opção última, ser padre era a minha meta. Hoje agradeço também ao Pe. Zé Ribeiro.
Podia ter muitos defeitos, mas neste mundo todos somos errantes peregrinos à procura de Deus e só com Ele somos capazes de fazer algo de bom. Sempre o vi como um amigo dos pobres que eram os seus predilectos!...
Tinha gosto e asseio consigo próprio. Gostava de bater o tacão do sapato... do mesmo modo tinha no seu quintal, na residência paroquial, na igreja, na sacristia, na secretaria, nas Boas Novas, tudo bem alinhado e limpo, muito digno e ainda sempre que podia intervinha na esfera civil para o bem da terra, como nos telefones, na luz eléctrica, etc... Aliás, a electricidade instalada em 1958 deve-se à sua iniciativa.
Ali esteve onze anos bem trabalhados, bem doados ao próximo no seu sacerdócio ministerial indo mais além. Levava os seminaristas ao Seminário e visitava-os e ninguém estava mal à beira dele. Nas férias era capaz de os levar até à paria.
Conto duas histórias onde se vê a sua capacidade de intervenção social.
Nas festas das Boas Novas era normal haver zaragatas entre os de Mazarefes e os de Darque. Os de Darque tiravam os caibros das vinhas ao chegar à festa para a luta. Era essa luta entre os de Mazarefes e os de Darque em anos sucessivos e antigos. O Pe. Zé era primo do regedor, João Cunha. Um ano resolveu de outro modo. Decidiu tirar licença no Governo Civil para fazer a festa religiosa.
Não tirou ele a licença dos bailes para requisitar a GNR, porque a GNR com o Regedor nunca tinham feito nada para acabar com as tradicionais zaragatas.
Nesse ano, o Comandante da PSP foi convidado, só por amizade pelo pároco. Levou o forgão. Deu fiasco porque o Governador Civil ficou chateado e moveu um processo ao Pe. Zé por não haver a referida licença.
Todos os que entraram na contenda foram presos para o tribunal.
No tribunal, na segunda-feira de tarde, foi chamado o Pe. Zé. Decisão “tire-lhes o dinheiro que têm nos bolsos para os pobres, para o Governo Civil, para a festa, para a Comissão Fabriqueira”. Alguns andaram 3 anos a pagar esta dívida aplicada pelo tribunal. O Dr. Cyrne de Castro chama o Pe. Zé, avisa o Arcebispo de Braga. Vem o Cónego Apolinário falar com o Pe. Zé, mas quem o defende é o advogado Dr. Barbosa e dispensou os serviços de Braga, pois o Pe. Zé tinha ido a uma missa nova do Pe. Emídio, a Orense.
Só depois o Pe. Zé foi ao banco dos réus, porque entendia que a licença de bailes não tinha nada a ver com a licença da festa religiosa. Assim acabaram as zaragatas das Boas-Novas.
Outra das histórias mostra que ele nunca se zangou com ninguém em Mazarefes, embora às vezes houvesse algumas discussões, como é óbvio. “Não se agrada a toda a gente”, mas não simpatizava, é certo, muito com uma ou outra pessoa. Por exemplo, com o Zé da marinheira não simpatizava, mas sentiu muito a sua morta e a de sua filha Eugénia. A D. Albina, sempre foi uma senhora muito educada, civilizada, enquanto o marido gostava de passar por um “senhor”, mas não sabia, às vezes, ocupar o seu lugar...
Um dia, um outro mazarefense conhecido tinha a filha para fazer a Comunhão Solene e, pela manhã, foi à igreja falar com o Pe. Zé, porque queria que a filha fosse vestida de modo diferente das outras meninas, era muito falador e às vezes ameaçava, mas só de paleio, porque ele até era uma boa pessoa. Exaltou o Senhor abade e este deu-lhe um empurrão como que a pô-lo pela sacristia fora. Ao fim da tarde, aparece-lhe de novo o referido paroquiano e o Pe. Zé até julgava que ele vinha com más intenções, mas não,confidenciou-me o senhor abade. “Veio pedir-me desculpa e pedir-me um favor”. “Senhor Abade, amanhã tenho de ir ao Porto depôr na Pide, o Senhor abade não me pode ajudar, vindo comigo?”.
Logo o Senhor abade lhe respondeu. “Apareça lá e eu lá estarei à sua espera.” O Pe. Zé chegou! Pediu para falar com o Director. Apresentou-se. Falou e o paroquiano foi ouvido, mas já o Senhor Abade tinha dito ao Director que o Sr. A.F. era um homem primário, impulsivo, muito falador, mas não era mau homem, era bom homem. Também não era comunista. Era trabalhador no Caminho de Ferro, era um homem duro e só quem o conhecesse bem é que o poderia compreender.
Mais tarde o Pe. Zé Ribeiro, mal compreendido pelos superiores hierárquicos, deixa Mazarefes e vai para Barcelos.
Aí esteve 6 meses. Fez obras na Igreja e na Residência de Aborim, Barcelos. Ao fim dos 6 meses, depois das obras feitas, vai para Angola, para o Cubal, diocese de Benguela, na altura Diocese da Nova Lisboa. Construiu uma Igreja nova e moderna, benzida pelo Bispo D. Daniel Junqueira.
Quando regressou, ajudou a abrir a Escola de Dr. Pedro Barbosa com a esposa do Dr. H.da Mata, em Viana.
Depois foi para Ponte de Lima, onde esteve 3 anos e foi presidente do Concelho Directivo.
Ajudou a fundar uma escola em Barroselas para onde foi como professor de Moral. Tomou conta da Paróquia de Barroselas, em Setembro de 1978, onde cuidou da Igreja, do adro e arredores, logradouro da residência, mandou fazer melhorias ligeiras na residência e construiu um Lar de Idosos...Aliás, em Barroselas, deixou obra útil, necessária e resposta social que fazia falta àquela terra . Obra que o imortaliza.
Partiu para o Céu e deixou na terra a sua irmã que sempre o acompanhou para todo o lado, até à morte, a Mariazinha...
Obrigado Padre Zé, o senhor abade, que me fez "sofrer" muito quando me separou da família só porque tinha de ser padre. No Céu lembra-te de mim e de todos os que precisarem como eu.
P. Coutinho

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