SITUAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA
Fica a Serra d’Arga situada no Alto-Minho e, incrustada entre os vales do Lima e Minho, numa extensão de cerca de 20 quilómetros no sentido este-oeste, ramificando-se por todos os quadrantes geográficos em diversos montados dos mais variados nomes. Abrange áreas pertencentes aos concelhos de Caminha, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Vila Nova de Cerveira e Paredes de Coura.
Nela, nascem muitos ribeiros, além do rio Coura que desagua na foz do Minho e do rio Âncora que desagua directamente no mar.
Encontram-se nesta Serra boas nascentes e é vulgar ouvir-se dizer que as águas deliciosas das suas fontes são medicinais. Em tempos não muito longínquos era vulgar gente de caminha e Viana ir às Fontes da Urze e das Águas Férreas buscar água para tratar dos males digestivos, receitada por distintos médicos. Foi no seu seio que em tempos memoriais existiram diversos conventos, sobretudo da Ordem Beneditina e o afamado Mosteiro Máximo, segundo alguns autores, fundado no séc. VII por Sisebuto I ou S. Frutuoso.
No séc. XI, D. Fernando de Leão refere-se a este mosteiro que possuía um grande couto.
No séc. XIV, existem novamente referências ao dito mosteiro e no séc. XVI um documento fez com que passasse a abadia secular, embora contra a vontade do Papa Sixto IV.
Foi por esta altura que oa marqueses de Vila Real começaram a apresentar os abades deste mosteiro até meados do séc. XVII.Salpicada esta Serra de eremitérios pobres e de anacoretas, servindo-se de buracos e covas naturais que existem nos montados, foi ainda e é berço de animais ferozes, como o lobo, e aves de rapina, como águia real, mochos...
Também não falta quem diga que esta serra era o monte Medúlio a que Paulo Orósio se referia, segundo Pinho Leal.
Devido a estes e tantos outros factores, trata-se de uma Serra lendária e é conhecida pela Montanha Santa.
De facto, o mosteiro de S. João d’Arga, advogado das doenças ruins, a capelinha de Sta. Justa, a capela do Santo do Chocalho, a capela da Senhora da Serra, a capela de Sto. Antão são sinais evidentes de que o sagrado enalteceu pelos séculos esta zona.
FEITIÇARIA
Tudo aquilo que o povo não compreende, geralmente, atribui ao “mistério” às forças estranhas do espírito.
É vulgar, para as pessoas com menos formação religiosa, apelidar esses fenómenos de feitiçaria. Esta coisa de feitiçaria tem a sua lógica, a sua razão de ser, no instinto de defesa entranhado na pessoa.
Todo o homem normal, por mais humilde ou orgulhoso que seja, em situações difíceis, procura primariamente superá-las pelas suas próprias forças, mas, quando não o consegue e se apodera dele o instinto de receio, do medo ou é destituído de formação religiosa suficiente, vai refugiar-se na feitiçaria. Nisso, ou noutras coisas do género,encontra a resposta para os seus problemas; o que duvido, pois não é mais que um espelho mágico onde se refletem todos os receios e todas as esperanças do domínio do que é estranho e a falsa imagem dum homem ou “espírito humano” em delírio, cheio de miragens no deserto da vida, e leva o homem a mergulhar-se no abismo da ilusão - na crendice, na dúvida, na superstição que a igreja sempre condenou; e, da Idade Média, em Portugal, são bem conhecidas as pregações de S. Martinho de Dume contra tais práticas.
Está no sangue das gentes e, quanto mais ignorantes, mais enguiços e mais bruxedos. É comum a todas as regiões, a todos os povos, sem distinguir raças, credos ou políticas e daí que esta peste não deixe incólume a Serra d’Arga, como é natural.
Aqui vão alguns apontamentos de fenómenos estranhos que o povo conta, admira e... sobretudo tem medo.
MANTA DE LIBRAS
No Franjorge, aparecia uma mulher com uma manta de libras e, nos dias de sol, saía da sua toca e vinha pôr as libras ao sol.
O HOMEM QUE FOI A CAVALO
Um homem de Arga de Baixo foi a Arga de Cima a um serão e, no caminho, encontrou um burro e disse-lhe assim:
- Estás aqui? Então levas-me.
E foi a cavalo até ao Santo do Alto, onde ficou de pé e não viu mais o burro - desapareceu.
A RAPARIGA FEITICEIRA
Uma rapariga estava num serão e disse para as outras:
- Quem me dera ser feiticeira, que adivinhava tudo.
Ao sair da porta, uma outra disse-lhe:
- Se queres aprender o que dissestes ( ser feiticeira ), eu ensino-te, mas não dizes nada.
- Ai Jesus! Não quero. Deus me livre!
Ao chegar a casa, deu-lhe uma dor tão forte na cabeça que dela morreu imediatamente. ( A feiticeira matou-a ).
PUCHEIROS NOS CRUZAMENTOS
Panelos de barro eram colocados nos cruzamentos com feitiço para os que lá passassem ou para determinada pessoa a quem alguém queria mal.
NINGUÉM RESPONDE
Era uma vez uma feiticeira que apareceu num regato da fonte do Cando. Depois, passou lá uma mulher. A feiticeira chamou por ela.
- Que é? - disse a mulher.
E não lhe falou ninguém.
A mulher fugiu. Dali a pouco, chamou outra vez por ela e não lhe respondeu.
A seguir, também passou um homem e este disse que não tinha ouvido nada.
A mulher foi ter com o homem e disse-lhe que tinham chamado por ela e ela não lhe tinha falado; voltou a chamar e não lhe respondeu.
O homem foi ver o que era. Eram velas a arder na água.
A CABRA FEITICEIRA
Numa aldeia, havia muitas cabras que eram “ apastoradas “ pelos respectivos pastores.
Aconteceu que, à noite, um pastor deu por falra duma cabra e foi de noite procurá-la. Encontrou-a muito longe. Ela só queria andar para trás. Teve de a trazer às costas.
quando chegou a casa, a cabra “ urinou “ por ele abaixo, molhando-o todo. ele chamou pela mulher para lhe levar uma candeia. Ao ver a luz da candeia, a cabra deu um “ estouro “ e desapareceu. Foi quando o pobre homem desabafou, dizendo:
- Ora agora é que eu sei que andei com as feiticeiras às costas!
RAPAZ DIABO
Dirigindo-se dois moços da aldeia a um baile, num lugar duma freguesia próxima, passaram por uma fogueira que ardia, a meio da distância que tinham a percorrer. Como estava frio, dirigiram-se à fogueira e junto estava um rapaz que começou por lhes atirar com brasas. Estes disseram-lhe:
- Está quieto, rapaz.
Mas ele voltou a atirar-lhes. Disseram-lhe novamente:
- Está quieto rapaz, diabo.
Ele, que estava sentado, deu um salto e desapareceu.
Foi quando concluíram que o rapaz era o diabo.
MOÇA QUE ESTOUROU E DESAPARECEU
Uma vez houve um baile. Um moço disse à mãe:
- Hoje, hei-de dançar toda a santa noite, ainda que seja com o diabo.
Ia pelo caminho fora e, à beira de uns sobreiros, apareceu-lhe uma moça muito bonita com os braços abertos para dançar com ele. Ele olhou para as pernas dela e eram de cabra. E começou a cantar assim:
Eu, quando saio de casa,
Faço o sinal da Cruz,
Para “arrenegar” o diabo
Com o Santo Nome de Jesus.
E aquilo deu um estouro e desapareceu.
( Há outra versão )
CRUZES, ABRENUZES, PALHAS, ALHAS
Uma vez, apareceram as feiticeiras, no rio do Juncal, ao tio Severino. Disse este que elas começaram a bater palmas, a dançar e a rir. Começou, então, ele a dizer:
- Cruzes, abrenuzes, palhas, alhas.
E elas desapareceram.
AS VACAS DESAPARECERAM
Uma vez, fui a Santo Aginha. Tinha lá um poço muito fundo com feitiçaria. As feiticeiras disseram:
- Ide embora e não digais donde ides, porque senão vamos è corte das vacas e fugimos com elas.
QUANDO NADAM, A ÁGUA PÁRA
As pessoas tinham de dormir a noite toda nos moinhos.
Enquanto as feiticeiras nadavam na água, não deixavam a água ir para os moinhos. As pessoas tinham de deitar rescaldo pela cruz do moinho abaixo e, então, elas iam-se embora.
AI, JESUS!
Era uma vez um homem que tinha muito vinho e as bruxas tinham-lhe inveja.
Um dia, entraram na loja do homem pela fechadura.
Elas não podiam dizer “Jesus”, tinham de dizer “trailaru”, mas uma assustou-se e disse:
- Ai, Jesus Senhor!
As outras disseram-lhe:
- Ai disseste “trailaru”, aí ficas tu!
De manhã, o homem foi à loja e encontrou a bruxa. Então ela disse-lhe:
- Não digas nada que me viste aqui, senão mato-te.
O homem assim fez.
AS 3 MULHERES
Era uma vez três mulheres; uma chamava-se Clemência, outra Joaquina e outra Olívia.
Vinham de regar uma leira, mas era noite.
Então, chegaram a uma presa cheia de água e a Clemência disse:
- Vamos nadar. E quem passar aqui pensa que nós somos bruxas.
As outras concordaram.
A Olívia e a Clemência tiraram a roupa toda e atiraram-se à água mas a Joaquina ainda tinha uma camisa vestida. As outras deitaram-na para a água com camisa.
Passaram dois homens e fugiram para trás com medo das bruxas.
Então, elas vestiram-se depressa e foram-se embora.
FOGUEIRA OU FEITICEIRAS
Um dia, quando mãe e filha iam vigiar um moinho, avistaram, ao longe, uma fogueira. Surpreendida a filha, perguntou à mãe:
- O que será aquilo?
- Olha, filha, é uma fogueira.
Mas a filha insistiu:
- Seriam as feiticeiras?
Isto era por volta das nove horas. A mãe respondeu-lhe:
- Olha, filha, serão. Eu tenho ouvido dizer que elas aparecem por volta das nove e meia da noite.
A filha continuou:
- Minha mãe, mas dizem que elas aparecem na figura de um gato ou de um cão.
A mãe, já receosa, disse:
- Ó filha, vamos embora.
E voltaram para trás. Qual o seu espanto quando viram uma cadela a passar por elas!...
A mãe disse à filha:
- Olha, filha, sempre serão as feiticeiras, mas à manhã de manhã vamos ver o que ardeu.
No dia seguinte, foram ver e não tinha ardido nada.
Ficaram, pois, a pensar que eram as feiticeiras.
A MÃE E A FILHA
Era uma vez uma mãe e uma filha que eram feiticeiras. Gostavam muito de vinho e foram a uma adega beber vinho e entraram pela fechadura. Beberam quantos quiseram e, ao irem embora, a filha disse à mãe:
- Ai, Deus! Não vamos caber por esse buraco!
Disse a mãe:
- Ai disseste “ terru, terru “, agora ficas aí tu.
E a filha lá ficou.
O POBRE E AS FEITICEIRAS
Era uma vez um pobre que andava a pedir pelas freguesias.
Um dia, fez-se noite, encostando-se contra uma parede a dormir. À meia-noite, chegaram as feiticeiras, lavaram-se e, por fim, viram o velho debaixo de uma pedra e viram-lhe uma corcunda nas costas. As feiticeiras começaram a dizer:
- Quinta e sexta.
O velho também dizia com elas.
- Que havemos de fazer a este velhinho que tanto nos ajudou? Vamos tirar-lhe a corcunda - disseram elas.
Havia outro que também tinha uma corcunda. Um dia, encontrou esse pobre e perguntou-lhe:
- Como tiraste a corcunda?
O velho contou-lhe tudo. O outro foi pôr-se no referido local.
Chegaram as feiticeiras, viram outro velhinho debaixo da pedra e repararam que tinha corcunda. Começaram a dizer:
- Quinta e sexta.
Ele dizia também sábado.
- que havemos de fazer a este velhinho que tanto nos enganou? - pensaram elas.
Puseram-lhe outra corcunda e ficou mais “arrongado”.
A MOÇA QUE ESTOURA
Era uma vez um moço que disse ao pai que ia a um baile longe.
Os pais não queriam que ele fosse, mas ele insistiu que iria dançar, ainda que fosse com o diabo. Pegou numa concertina e saiu a tocar.
Num “chão”, encontrou uma moça à lavradeira e começou a dançar, ao mesmo tempo que ela lhe cantava uma cantiga:
- Ó “carvalho” que já foste
E agora já não és,
Agora fazes virar
A cabeça para os pés.
O moço olhou para as pernas dela e cantou-lhe:
- Eu, quando saiu de casa,
Faço o Sinal da Cruz
Para “arrenegar” o diabo,
Santo Nome de Jesus.
A moça deu um estouro e desapareceu. Era o diabo.
O BISAVÔ QUE FOI AO BRASIL
Era no tempo do meu trisavô que havia muitas bruxas. O meu trisavô tinha um barco e ia sempre a Viana do Castelo transportar lenha. Ele era de S. Pedro de Arcos.
Deixava, todas as noites, o barco preso, no rio do Esteiro. De manhã, estava sempre mudado de local onde ele o deixava.
Porém, um dia à noite, foi até à “venda” e disse aos homens que lá estavam:
- Vou até ao Esteiro, porque mudam sempre o meu barco do sítio onde o deixo. Vou ver quem é essa pessoa.
Chegou lá e meteu-se no barco, por baixo, no salva-vidas. Dali a nada, chegaram duas mulheres, mãe e filha, a mãe era comadre dele. Agarraram no barco e disseram que iam até ao Brasil. O barco corria tanto que até parecia um avião. O meu trisavô também lá ia.
Elas diziam que iam matar dois rapazes que lá estavam.
Chegaram, pararam o barco e lá foram.
Ele só teve tempo de sair e “chegar” duas canas-de-açucar e escondeu-se no barco outra vez.
Dali a nada, chegaram elas e diziam assim:
- O meu ficou pronto. E o meu também.
Agarraram no barco e voltaram para o Esteiro outra vez.
O meu trisavô saiu e veio embora.
Chegou à “venda”, ainda ela estava aberta e disse:
- Vós ainda estais aqui? Pois eu já fui ao Brasil e já vim.
Eles não queriam acreditar.
- Estão aqui provas em como eu fui ao Brasil.
E mostrou-lhes as canas-de-açucar, porque só lá é que as havia.
Ao outro dia, passou pela comadre dele que era bruxa e disse:
- Se vós tornais a mudar o meu barco, eu é que vos “afeito” as contas.
Ela disse:
- Foi pena nós não sabermos que você ia lá dentro, senão não viria mais para S. Pedro, ia para o fundo do mar.
O RESCALDO FOI REMÉDIO
Era uma vez uma mulher que tinha um moinho num monte, ao pé de um rio grande.
As feiticeiras estavam sempre lá.
A dona do moinho metis água no moinho e, quando ía lá novamente buscar a farinha, a água estava fora.
As pessoas puseram-se lá e viram as feiticeiras.
No rego da água que ia para o moinho, deitou-lhe lá rescaldo e as feiticeiras foram-se embora e nunca mais vieram lá.
Foi desde aí que todas as pessoas começaram a deitar disso nos moinhos, para as feiticeiras abandonarem o local.
SOBREIRO QUE DÁ VINHO
Era uma vez um homem que vinha de tocar de um baile. Ao passar num monte, encontrou muitas feiticeiras a rirem-se e uma delas foi ter com ele e deu-lhe de beber, mas ele respondeu:
- Ai que vinho tão bom! Donde o tiraste?
Respondeu ela:
- Foi de um sobreiro. Queres ver?
- Quero mas o sobreiro não dá vinho!
- Não te preocupes. Mas agora vou-te avisar que, se contares a alguém, eu entro pelo buraco da fechadura e mato-te. Tembém não te esqueças que tens de dormir com o cinto de corrimão, para nós não te matarmos tão cedo.
Mais tarde, elas morreram todas. Foi quando ele pôde contar o que se tinha passado com ele a todas as pessoas.
PROCISSÕES DE DEFUNTOS
As procissões de defuntos, em Arga de Baixo, saem do cemitério e passam pelo Portinho de Baixo, Alto Tapado, Castelo, Sobral, Castanheira, regressando pelo mesmo caminho.
Em Arga de Cima, saem do cemitério, passam por trás das Fontes, Souteiro, Recunco, regressando.
Nas procissões de defuntos, vão todas as almas e levam um esquife com a última que morreu e o que vai morrer a seguir vai a saltar para o referido esquife.
Nestas procissões, as almas servem-se de todos os paramentos, bandeiras e cruzes existentes nas igrejas.
A procissão de defuntos saía da igreja de Orbacém, passava pela Bouça de Lamas, Costa da Manga, Fonte Cando, Cruz Valdante, Carejos, Lages de Bouças, Loureiro, Calçada de Rua, Carvalhos, Figueira Moura e ia até à Capela de S. Gonçalo que, hoje, é a igreja de Dem.
Nesta procissão, vai apenas uma mulher gigante acompanhada de muitos anjinhos com velas acesas.
QUEM VÊ AS PROCISSÕES DOS DEFUNTOS
Nem toda a gente vê e, hoje, graças a Deus, esta crendice acabou, pelo menos para os mais novos.
No entanto, quem via bem as ditas procissões eram aqueles que, ao serem baptizados, os padrinhos se esqueciam ou avançavam alguma palavra do Credo. O Credo era preciso dizê-lo muito bem.
O MARINHEIRO E A NAMORADA
Era uma vez um rapaz que era marinheiro. tinha uma namorada. Ele encontrava sempre o barco fora do sítio.
Um dia, pôs-se lá dentro. Entrou a namorada que era feiticeira com outra colega. Diziam:
- Cada remo cem léguas.
Ele continuava calado dentro do barco. Chegaram ao Brasil e levaram um ramo de lindas plantas. Ele levou outro. A namorada disse-lhe:
- Tira daí esse ramo, senão outra coisa é.
E ele tirou o ramo.
O CORCUNDA E AS FEITICEIRAS
Era uma vez umas feiticeiras que se punham em cima de um penedo a contar os dias da semana, mas deixavam um que era o sábado. Debaixo do penedo, estava um homem, sem elas saberem, a ajudá-las a contar. Ao outro dia, adivinharam que o homem estava a ajudá-las. Disseram umas para as outras o que haviam de dar ao homem que as tinha ajudado. Resolveram tirar a “boroa” que ele tinha nas costas.
Um dia, esse juntou-se com outro homem que também tinha uma “boroa” nas costas. Ele perguntou-lhe o que tinha feito para a “boroa” lhe sair.
O homem disse-lhe que se pôs debaixo do penedo, que as feiticeiras iam contar os dias da semana e para ele contar com elas escondido debaixo do penedo.
As feiticeiras chegaram e começaram a contar: segunda, terça, quarta, quinta, sexta ( o sábado não o contavam ). O homem contou julgando que elas o ouviam.
Então, ao outro dia, elas adivinharam o que o homem fez e disseram umas para as outras o que haviam de fazer àquele homem que tanto as tinha atrapalhado, por ter contado o sábado.
A sentença foi dada: puseram a “boroa” do outro homem em cima da dele.
O homem andava aflito para tirar a “boroa” das costas e, por querer ser mais esperto contar mais esse dia, ficou com as duas “boroas”
A PISTOLA E AS FEITICEIRAS
Era uma vez um casal que queria ir para uma festa de noite. Naquele tempo, havia muitas feiticeiras e eles tinham medo de ir. O homem disse:
- Nós vamos, mas vamos armados. Se elas nos aparecerem, eu mando-lhes um tiro ao ar.
Assim foi. Eles foram para a festa.
As feiticeiras apareceram-lhes e disseram-lhes:
- Dêem-nos já a pistola.
O homem disse:
- Eu não tenho pistola.
- Ou você nos dá a pistola ou fica já aí morto - disseram elas.
A mulher exclamou:
- Ó suas malandras, ponham-se já daqui para fora?
Quando a mulher acabou de lhes dizer isto, morreu, assim como o homem.
LOCAIS ONDE APARECEM
Outros locais onde dizem aparecer as malfadadas mulheres que põem medo à gente:
* Rio dos Sangarinheiros;
* Rio d’Ossos;
* Franjorge;
* Poço da Ladeira ( Praia da Ladeira );
* Penave;
* Trás da Lameira;
* Moinhos do Juncal, da Porreira;
* Rio das Laceiras.
AS LIBRAS OU O CABELO
Na Lumieira, aparecia uma moura encantada com cabelos louros e uma manta cheia de libras em ouro.
Um dia, uma pastora aproximou-se, quando se estava a pentear e a dita moura interpelou-a da seguinte maneira:
- Ouve lá, minha menina, qual é que tu escolherias: o meu cabelo ou esta manta cheia de libras em ouro?
- A manta com as libras.
Imediatamente tudo desapareceu.
UM BISPO?
É tradição que, na Lumieira, se encontra a sepultura de um bispo, mesmo junto a um terreno lamacento e praticamente na nascente de um riacho, mui cerca da Fonte da Lage da Portela.
É tal crença nisso que, aqui há uns anos, andaram lá a escavar, mas nada encontraram. Alguém diz que apareceu uma lage em pedra muito grande e, como não conseguiram tirá-la, desistiram.
PENEDO DAS FERRADURAS
No Sucastro, isto é, por baixo do Alto da Coroa, existe um penedo que tem qutro ferraduras de cavalo.
Outro mistério para se desvendar!...
MULHER GRANDE
Uma vez, o tio António do Loureiro vinha do “jornal” com a mãe. Ao passarem na fonte do Loureiro, começou ele a dizer assim:
- Ó mãe, olhe!
A mãe não viu nada. Mas ele disse que tinha visto uma mulher muito grande com uma saia muito comprida e muitos meninos com velas acesas.
MULHER ENCANTADA
dizia uma velhinha de Varziela que, na cerdeirinha, havia uma mulher encantada. Tinha um buraco e escondia-se nele, quando via alguém.
A CABRA DE OURO
Diz-se que, à porta do sr. João do Solheirinho, num penedo, está uma cabra de ouro e uma de prata.
MULHER DO PESCOÇO CORTADO
Dizem que, na calçada da Pena, aparecia a mulher do pescoço cortado.
TERRIVELMENTE TERRÍVEL
Na Penave, por trás da lameira, dizem ter visto gato preto, galinha branca, cadela sem rabo, homem alto com chapéu de aba grande, etc...
RIO DOS ABRUNHEIROS
No rio dos Abrunheiros, dizia-se que apareciam lá umas feiticeiras a dançar e, uma vez, uma pessoa foi lá e esteve muito tempo. Ao fim disseram: “ Não digas quem somos, porque senão a tua vida será infeliz “.
POÇO DE SANTO AGINHA
À beira da ponte de Santo Aginha, há um poço muito fundo e diz-se que lá apareciam umas feiticeiras a dançar, que chamavam por toda a gente que passava perto. Diziam: “ Agora ide embora e não digais quem somos, porque senão vamos à corte das vacas e matamo-las todas “.
POÇO DOS ABRUNHEIROS
Os mais velhos diziam que antigamente havia feiticeiras nos Abrunheiros que saíam dum poço muito fundo, que matavam um menino e depois o enterravam.
REMÉDIO PARA AFASTAR ESSES MALES
São as palavrinhas de S. João que são ditas para trás e para a frente, sem se poder enganar. São treze:
Elas uma, uma mais clara que o sol.
Elas duas, duas tabuínhas de Moisés que estão a ver como o Senhor passa bem para as suas casinhas de Jerusalém.
Elas três, três patriarcas.
Elas quatro, quatro evangelistas.
Elas cinco, cinco chagas.
Elas seis, seis signos.
Elas sete, sete lâmpadas.
Elas oito, oito portas do paraíso.
Elas nove, nove coroinhas dos anjos.
Elas dez, dez mandamentos.
Elas onze, onze mil virgens.
Elas doze, doze apóstolos.
Elas treze, treze raios onde rebenta o Judas, ou o diabo maior,
ou
Elas treze, treze vai-te diabo com satanás, nunca ter comigo entenderás, nem de noite nem de dia, nem à hora do meio-dia.
Repetir, para trás, sem se enganar.
FEITIÇO
A carriça deu um grito
Que toda a gente espantou,
Só um homem é que ficou
embrulhado num sapato
E esse homem era um gato.
DESPORTO
Muita gente até há bem pouco tempo entretinha-se pela noite dentro, sobretudo os homens, a jogar às cartas e as mulheres com a roca em punho e sentadas à lareira nas noites de inverno.
Com a chegada da energia eléctrica às Argas, logo começou a haver a televisão em muitas casas, deixando as cartas “ganhar pó”.
São muitos os que se dedicam à caça da perdiz e do coelho, sobretudo, Participavam, habitualmente, nas batidas à raposa ou aos lobos quando essas eram organizadas.
Há os que se dedicavam à pesca, mas em menor número.
O Baile é outro desporto. Na chegada ou na saída de algum moço para a capital ou estrangeiro, toda a juventude vai ao baile que se organiza na casa que tenha uma boa sala.
A CRIAÇÃO DE GADO
A maior parte da população dedicava-se à criação do gado bovino e caprino, não só para fazer o estrume tão necessário para fertilizar as terras, mas também, e sobretudo, para fazer o queijo e a manteiga para vender na feira;
Servindo-se dos restos para o alimento dos suinos, base da alimentação.
Também se serviam do leite amassado para lancharem nos campos.
Com o aparecimento da floresta, o gado caprino começou a diminuir pela falta de pastos e hoje está a desaparecer por completo, infelizmente.
Serviam-se ainda da melhor rez do rebanho para preparar deliciosos petiscos das festas da freguesia, das romarias e das festanças familiares, sobretudo por ocasião de bodas e baptizados.
Hoje, tudo está a ser ultrapassado.
Está a desaparecer o gado caprino e a crescer a criação do gado vacas, pois começaram a vender o leite e as pessoas começaram-se a entusiasmar com aquela continha que entra em casa todos os quinze dias para ajudar às despesas caseiras.
Quando proibiram a venda do queijo e da manteiga, lutaram com grandes dificuldades, pois o leite apenas o podiam aplicar na alimentação das pessoas e dos suinos. Só pelo ano de 1973 conseguiram, depois de aturadas deligências que alguém fosse levantar o leite às Argas e daqui nasceu o referido entusiasmo.
O PÃO
As terras depois de arranjadas ( lavradas e estrecadas ) são gradadas com a grade puxada a bois. Depois de semeado o milho, sacha-se a 1ª vez em pequenas e a 2ª vez em maior e por fim é regado. Depois de amadurecer é cortado e esfolhado para apartar a espiga desta, seguidamente vai para o canastro e a palha é atada em molhos pequenos que serve de alimento às vacas, o milho desbulha-se e guarda-se em caixa de madeira, em seguida vai para o caminho em sacos ( dantes era em folhes que eram sacos de pele de animal ), o milho é moído e transformado em farinha, é peneirado em casa para apartar a farinha mais grossa da mais fina, a 1ª vai servir para os animais, a 2ª é para fazer o pão.
A farinha mais fina amassa-se com água a ferver e deixa-se fermentar durante horas, depois faz-se em boroas e mete-se no forno a lenha.
Passadas algumas horas depois de cozido, retira-se do forno e come-se de várias maneiras, inclusive com chouriço.
Quanto à MATANÇA DO PORCO:
Na manhã da chegada do pessoal para a matança do porco ( amigos e parentes ) prepara-se antes de ir matar o porco, figos, castanhas, bolachas, vinho do porto, água ardente com açucar ou sem ele; depois de morto é queimado com tojo, em seguida queima-se e lava-se de um lado, antes de se virar vai uma caneca de vinho doce com o açucar, e vai com o verde do porco ( sangue cozido com azeite e alho ) vai o arroz doce, as bolachas ou figos, a seguir arrumam o porco e é virado, lourado e queimado do outro lado.
Depois disto tudo é lavado com água e com caco de telha. É posto de papo para o ar, aberto e tiram-se os intestinos, banhas, rins, fígado e boche. São lavados com uma pinga de vinho ou água.
O porco é levado para dentro de uma loja para arrefecer, é aberto do lombo ao pescoço ( se tiver toucinho branco muito gordo ).
O porco fica dependurado e vai para a sala para ser comido. O 1º prato típico é servido bacalhau com batatas e molho de azeite e cebola, a seguir vêm o esparguete com frango, arroz doce e sobremesas diversas. Enquanto as mulheres lavam as tripas os homens descansam, depois do rio, arrumam e entram todos num samba.
FESTA
A tradicional festa de Castanheira é em honra a Senhora da Rocha e comemorada a 24 e 25 de Julho.
Os pratos tradicionais numa festa, nestes dias, são os habituais na região.
1º É servida a canja.
2º É o cozido à Portuguesa.
3º Prato típico: cabrito à Serra d’Arga, cozido, assado, guisado, acompanhado com limão e ervilhas.
4º Sarapetel - Miúdos.
5º Sobremesa - Arroz doce, pudins etc...
São servidos bons vinhos da região, bagaço...
TRAJES
O fato à lavradeira usado é composto por várias peças que temos ainda o gosto de poder observar nas festas da terra. Embora já a modernizarem-se, são:
Saia - em que os tecidos, antigamente, eram feitos pelas raparigas mais jovens, com lã de ovelha.
Avental - Lenço dos Ombros - Colete - Algibeira - Bolsinho - Lenço da Cabeça - Camisa - Saiote.
Estas peças eram todas bordadas à mão.
No entanto, as quadras daquele tempo não se repetem agora da mesma forma:
Emília venho aqui
Com tenções de te deixar
Minha mãe me quis bater
Por eu contigo falar.
Volta atrás o Antoninho
Pega lá neste punhal
Vai matar a tua mãe
Seja bom ou seja mal.
Os anjos ouviram
Logo lhe foram contar
Levanta-te corpo humano
Teu filho vem-te matar.
Minha mãe, minha mãezinha
Faça a confissão geral
O resto da sua vida
Está aqui neste punhal.
Vê lá que fazes meu filho
A esta mãe que te criou
E durante nove meses
Tantos martírios passou.
Se passou que não passasse
E os que tem para passar
Porque eu não saio daqui
Sem este punhal cravar.
A alta serra de neve
Onde nascem as urtigas
Os filhos matam as mães
Por causa das raparigas.
Emília anda me ver
Ás grades desta cadeia
Eu matei minha mãe
Numa noite de assembleia.
Emília anda me ver
Ás grades desta prisão
Eu matei a minha mãe
Matei meu coração.
Grupo ETNO II
Pão roubado não presta
Coitado de quem roubou
Fica-lhe a boca amarga
Não chega a matar a fome.
Deita-me daí abaixo
Um cravo branco à rua
Não me vou daqui embora
Sou uma lembrança tua.
Se as lágrimas fossem pedras
Que eu por ti tenho chorado
Mandava fazer um muro
Á volta do mar sagrado.
Grupo ETNO II
OS ATALHOS...
Chegar depressa e bem sempre foi uma inclinação natural, por isso, é difícil que alguém procure o caminho mais longo para atingir a meta, mas antes pelo contrário o mais curto, mais rápido e melhor - são os atalhos. Também se diz que “ Quem se mete em atalhos, mete-se em trabalhos... “.
Ora os atalhos nas Argas daqui para ali ou dali para aqui são os seguintes:
ARGA DE S. JOÃO - DEM
Ponte da Cruz, Cortinha dos Vales, Quelha d’Entre os Padres, Coto do Pousado, Bajunca, Coelheiras, Pocinha, Vale Sobrosa, Chão da Coutada, Fonte das Laceiras, Costa de Sarrapete. ( Junto ao Vale de Sobrosa fica Pena d’Alva ).
ALTO DA COROA - ARGA DE S. JOÃO
Alto da Coroa, Chão da Portela, Cova da Portela, Trás da Coroa, Calçada do Bombom, Regueiro do Bombom, Casinha da Velha, Cova de Sedoiros, Penedos Redondos, Fonteirinhas (nascentes) de Baixo, Piocas, Fonte Pandão, Lage das Eiras, Altos dos Cotinhos, Mamoa, Costa, Alminhas da Cruz.
ARGA DE S. JOÃO - S. JOÃO D’ARGA
( Carreiro de Cabras )
Quelha do Valdescuro, Sobreiro Minhoto, Gatanhal, Chão de Furado, Carvalhido, Cova do Ramo, Sus-olheiros, Fonte, Onde morreu a Mulher, Regueiro do Val da Abeleira, Regueiro da Junqueda, Pontelhinhas (Passadeiras), S. João.
Carvalho de Santo Estevão é o local junto das Pontelhinhas, onde apareceu, segundo a lenda, o S. João: ainda há lá hoje restos de cerâmica.
ARGA DE S. JOÃO A CAMINHA
Olheiro, bugio, Regueiro dos Coutados, Arranhadouros, Sobreiro Cinque, Fonte do Vale d’Azedos, Meziado, Pinhal de Argela, Austrálias, Carvalheira, Varão, Quinta do Loreto, S. Roque, Caminha.
ARGA DE S. JOÃO A VILAR DE MOUROS
Arranhadouros, Fojo, Vale de Castanheiro, Pousos de Maria d’Ana, Alto do Campo da Trave, Penedo dos 4 Abades, Alto do Grito, Paredes Velhas, Casa do Club, Azenha Velha, Vilar de Mouros.
ARGA DE BAIXO - PONTE DE LIMA
Gesteira, Marco, Gandra, Santo Alto, Alminhas, Salgueiro, Portela Velha, Cubão (Estorãos), Mourinho, Lourinhal, Preza do Meio, Mãos, Ribô, Rapadouro (Moreira), Samora, Pontelha, Cubelo, Cruzeiro do Outeiro, Passal, Fonte do Casal, Casas Velhas, Manga (Sá), Carapeças, Pousada, Senhora da Luz (Arcozelo), Marinho, Rua dos Ferreiros, Fonte Velha, Ponte de Lima.
ARGA DE S. JOÃO - CASTANHEIRA - ARGA DE BAIXO
Calçada do Viso do Outeiro, Costeirinha, Entre-cachadas, Espinheira, Alto do Vilhadouro, Canhoto, Bouça dos Cachões, Alto da Ladeira, Ladeira e Ponte da Ladeira, Fonte da Ladeira, Ponte de Cobrada, Castenheiras, Caminho Novo, Penedo dos Pombos e Castanheira - Costa da Lourinha, Penedo das Cartas (Mesa), Carvalhos da Lourinha, Quelha da Lourinha, Arga de Baixo.
VOCABULÁRIO
Paiôra - Vagarosa;
Minhoteiro - Pau;
Bastacão - Pedra para a água passar em forma de U;
Bardeiras - Medas;
Aquelar - Fazer;
Imentes - Em vez de;
Gatenho - Tojo, mato;
Olhar - Sítio onde se coloca a lenha;
Gábedo - Recipiente;
Auga - Água;
Sertão - Sertã;
Sebastiana - Pessoa mal vestida;
Gaiteira - Pessoa bem vestida;
Xieira - Vaidade;
Basculho - Pau com trapo na ponta para varrer o forno;
Apalhadoira - Forcada;
Mantas de Gatenho - Rolos de tojo;
Cumareiro - Calçada;
Rego - Enchorreira;
Topar - Encontrar;
Garbalha - Caruma;
Sarável - Saraiva;
Ande bás? - Onde vais?;
Inda num sabes - Ainda não sabes;
Bardasca - Desajeitada;
Cabéça - Cabeça;
Num chei - Não sei;
Tamém - Também;
Tumprar - Temperar;
Despois - Depois;
Paloicha - Pouco esperta;
Antão - Então;
Advertir - Divertir;
Assentar - Sentar;
Lorbo - Gordo;
Parréca - Pequena;
Bés - Vês;
Cruxa - Copa de palha;
Amaneia-te - Mexe-te;
Linhol - Barbante, fio dos foguetes;
Escapulir - Fugir da mão;
Avia-te - Mexe-te, despacha-te;
Leichuça - Passarinho;
Mourão - Doença do milho;
Gardunha - Farinha, bicho gadelhudo carnívoro inimigo das aves;
Cumareiro - Socalco;
Balcão - Cacharolo, pequena couvela no terreno;
Canelha - Quelha, caminho entre dois muros;
Houbar um portelo - Fechar um portelo;
Aninha-te - Abaixa-te;
Arguidar - Alguidar;
Chanções - Chancas, soques, socos;
Canasco - Gueiró;
Fumeiro - Fueiro, pau que se usa nos carros de bois;
Fumentas - Fueireta, paus de maiores dimensões que o anterior, usados também nos carros de bois;
Ferrar - Pregar.
SERRA D’ARGA
( Expressões de Religiosidade Popular )
São diversas as manifestações de Religiosidade Popular na Serra d’Arga, como o são em todo o lado.
Há, por isso, valores e contra-valores também nesta região serrana encravada entre o Lima e o Minho, abrangendo quatro concelhos: Caminha, Ponte de Lima, viana do Castelo e vila Nova de Cerveira.
Foi na singeleza bruta daquele rincão de terra alto-minhota conhecida pelos povos das cercanias e, sobretudo, pelo povo da Ribeira Lima, pela “Montanha Sagrada” que, em tempos imemoriais, serviria de berço a muitos anacoretas e eremitas.
Serviriam as covas naturais e os penedos encastelados de abrigo aos referidos ascetas?!
Foi nessa terra que pastoreei, durante seis anos, quatro paróquias, numa extensão de quinze quilómetros de estrada florestal.
Aí nessas terras de Arga, a quem Paulo Orósio teria chamado o Monte Medúlio dos romanos, existem povoações dispersas por entre o fraguedo da Serra, fincadas aos vales atravessadas sempre por um riacho de água cristalina, nascida nos píncaros dos montes e nas chãs.
São essas povoações isoladas, algumas das quais também com o nome de Arga, compostas por gente simples, humilde, trabalhadora, queimada pelo sol e curada pelo frio de Inverno, com as tradições, culturas, costumes e modos de vida muito semelhantes umas às outras.
É desta gente simples, mas hospedeira, numa terra tão rude, carregada de granito e xisto, que vou referir alguns sinais populares de Religiosidade.
O primeiro e grande sinal iria buscá-lo à tradição popular - a Serra d’Arga é “Montanha Santa”.
Antigamente, era conhecida como tal pelas gentes do vale do Neiva ao vale do Minho.
De facto, sendo a Serra d’Arga, nos tempos antigos, lugar de recolhimento e de solidão para anacoretas e eremitas que viviam em cabanas rústicas ou grutas subterrêneas, não é nada de admirar.
No entanto, não há documentos históricos que possam provar a existência dos referidos ascetas na montanha agreste da Serra d’Arga, mas quem passeia pela Serra verifica que toda ela contém coisas curiosas, lugares que a natureza preparou e que podiam ser aproveitados pelos homens da ascese: há esconderijos abrigados da chuva pelas penedias, covas subterrêneas e, por mais agreste que pareça, não há local onde se tenha de afastar a hipótese de a mão do homem ter passado.
além disso, há quem conheça a Serra palmilhadamente, dando o nome a cada penedo, a cada fonte, a cada planalto, a cada cova ou outeiro e isto é sintomático, não se trata de um mundo geograficamente desconhecido para os arguenses. Assim, temos o penedo do sino, da guerra, da moura, das cruzes...
Houve um convento dos monges beneditinos e disto não restam dúvidas e ainda hoje se conserva em S. João d’Arga a fonte dos frades e a capela que tem características de arquitectura medieval. Alguns querem dizer até que fora fundado o referido convento em 623 de Jesus Cristo, conforme se encontra numa padieira duma porta.
Seja como for, é tradição local que o convento se destinava a albergar frades castigados.
D. Fernando de Leão, na sua divisão dos condados, em 1026, fala no “Monastério Maximo”, situado no alto Monte d’Arga.
Em 1346, o mosteiro conservava-se com abadia e monges; nos meados do século XVII, passou a ser abadia secular.
Embora nas bulas de reforma do Sixto V, Papa de 1585-1590, se ordenasse que a Ordem tomasse de novo conta dele, isso não se verificou.
A toda esta tradição há a juntar a devoção que existe a S. Paulo Eremita, do século IV, que se venera em capela própria, na freguesia de Arga de Cima, assim como Santo Antão, outro eremita do deserto do Egipto, padroeiro da referida freguesia.
Em Arga de S. João, existe o Lugar da Cartuxa, local isolado e com os escombros duma casa que a tradição diz ter sido residência paroquial.
A tradição do santo popular da Serra d’Arga, Aginha, convertido por um religioso a quem desejava tirar o dinheiro que não possuía... E ainda a grande devoção, espalhada do Minho ao Neiva, por S. João Baptista, que se venera na Serra d’Arga, que viveu no deserto, não revelará o gosto e a prática do ascetismo na Serra d’Arga?
Ainda outra tradição que corre é a de que, em Arga de Cima, foi lugar afastado para onde se retiravam os leprosos. Chamam a S. Paulo Eremita, o santo do chocalho, cuja imagem com o chocalho na mão se venera na capela. A imagem do chocalho pode ajudar a prova da presença de leprosos. A imagem, de tão rústica e tão feia que é, deu origem a uma crença: “ Não te rias do santinho, que o teu mal vem pelo caminho “.
Venera-se a Senhora da Rocha, em Arga de Baixo, por ter aparecido ali numa rocha; a Senhora das Neves, em Dem, que apareceu em Roma, num local coberto de neve, vindo de Roma até ao S. João d’Arga, ficando depois no alto da Serra, onde construiram uma capela e lhe chamam a Senhora da Serra. Ou, segundo outra versão: apareceu num silvado coberto de neve, onde depois construiram uma capela. Ou ainda: Nossa Senhora marcou com neve o local onde haviam de construir a capela. A lenda de Santo Aginha, padroeiro dos ladrões e canonizado popularmente pelos habitantes da Serra.
Veneram-se também S. Lourenço, S. Silvestre, S. Gonçalo de Amarante, Santa Bárbara, Santo Amaro, S. Francisco, Santo Isidoro, etc...
Conta-se assim a lenda de Santo Aginha:
Existia na serra um salteador temido por todos, a ponto de ter a sua cabeça a prémio e fazia as suas investidas no alto da Serra, onde se escondia sob a “ lapa do Ladrão “, aos que passassem no atalho de Caminha para Ponte de Lima.
Um dia, um frade que passava, foi assaltado pelo Aginha; não tendo nada para lhe dar, aproveitou a oportunidade para o convencer a mudar de vida e Aginha caiu-lhe aos pés, arrependendo-se de todo o mal que tinha feito. O frade deu-lhe como penitência ajudar a quem pelo caminho tivesse alguma dificuldade. Um dia, passava um carreteiro na calçada da Costeirinha e o carro encravou na calçada. Aginha, penitenciando-se, meteu o ombro ao carro, do lado do boi mais fraco, mas o carreteiro, desconhecendo os novos propósitos do salteador, mandou-lhe uma sacholada na cabeça, matando-o. Atirou-o para um silvado do viso d’Outeiro e, passado muito tempo, apareceu o seu corpo incorrupto, fazendo-lhe sepultura e “ canonizando-o “. Chegou a fazer parte do Santoral Bracarense e incluído nas horas do breviário, no dia 19 de Fevereiro; encontra-se também à veneração dos fiéis na ogreja paroquial de Arga de S. João, uma imagem de madeira policromada, como padroeiro dos ladrões.
A freguesia de Arga de S. João é, por esse motivo, ainda conhecida popularmente pela freguesia de Santo Aginha e conservam-se ainda hoje muitos topónimos, na Serra, ligados à lenda de Santo Aginha. Também o facto deu o nome a um dos lugares mais populosos desta freguesia, o ligar de Santo Aginha, assim como a um campo lhe chamam o campo do Santo.
A própria lenda da Serra d’Arga é coberta do maior mistério e relacionada com o convento beneditino.
Outras lendas, como a do Poço dos Abrunheiros, do Poço de Santo Aginha, a do Rio dos Abrunheiros, A Cabra Feiticeira, O Rapaz Diabo, A Moça que estourou, As Vacas desaparecidas, A Mulher Grande, A Mulher Encantada, A Cabra de Ouro, A Mulher do pescoço cortado, A Manta de Libras, O Bispo, O Penedo das Ferraduras, A Água que pára, As Três Mulheres, A Fogueira, A Mãe e Filha, O Homem que corta a orelha a um burro, O Marinheiro e a Namorada, A Corcunda, A Pistola, O Pobre, O Rescaldo, O Sobreiro que dá vinho, etc.
MAIS ALGUNS SINAIS:
- No dia do Baptismo, arde o lume na lareira toda a noite.
- Com a pá do forno fazem uma cruz ao acabar de meter as boroas.
- O gado, a que chamam “ vivo “ deve trazer uma cruz e também uma saca, como amuleto contra o feitiço. A saca contém: alecrim, excrementos de animal e alhos.
- O canhoto que arde na noite de Natal deve arder no dia de Reis.
- Quando troveja, deita-se palma no lume, benzida no dia de Ramos.
- Quando nascia uma criança, geralmente na cozinha, pregava-se um prego no meio da cozinha.
A existência de alguns topónimos, como Igreja dos Mouros, onde encontrei uns hieroglifos, Mamôas, Pedra Aguda, etc... são evidentes de um tempo remoto na consciência da Religiosidade Popular.
Também o devocionário popular é um testemunho evidente do comportamento profundamente religioso desta gente da serra.
Assim:
Ao levantar, reza-se:
Bendito e louvado seja a luz do dia.
Bendito e louvado seja quem a criou.
Entrego-me a Deus
E à Virgem Maria,
Um P.N. e uma A.M.
Ao começar o dia:
Senhor:
Eu Vos ofereço todo o meu dia
Sêde meu amparo,
Meu guia
Pela Vossa divina graça
Um P.N. e uma A.M.
Ao sair de casa
Ao entrar na Igreja, o fiel rezava:
Fica p’ra aí casa do mundo,
Que eu p’ra casa de Deus vou.
Tantos anjos me acompanhem
Quantas passadas eu dou.
Nesta igreja entrei
Água benta tomei
Venho ver Jesus Cristo,
Não sei se cá voltarei.
Nesta santa casa entro
Se eu tenho algum nadamento
Deus me haja perdoado
Água benta vou tomar
P’ra arrenegar o pecado.
Fica-te casa do mundo
Que eu vou p’ra casa de Deus
Vou rezar o meu rosário
E entregar minha alma a Deus.
Fica-te casa do mundo,
Que eu p’ra casa de Deus vou.
Tantos anjos me acompanhem,
Como passadas eu dou.
Quando se vai confessar:
Ó meu Senhor Jesus Cristo,
Confessor de meu coração,
Confessai os meus pecados
Que sabeis quais eles são,
Neste mundo dai-me a paz
E no outro salvação.
Quando se vai comungar:
Vinde, Senhor, vinde.
Eu, por Vós, já estou esperando.
Minha alma está rindo
E o meu coração chorando.
Alegra-te minha alma
E consola-te meu espírito,
Que vais receber
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando se bota a água benta:
Esta água benta
Tomo na remissão
Dos meus pecados.
Na hora da minha morte,
Sejam todos perdoados.
Para o nevoeiro desaparecer:
Varre, varre, nevoeiro,
Para trás da lapa do vaqueiro,
Que aí vem o pai gaiteiro
Com uma vaca chocalheira
Que põe ovos e manteiga
Ao redor da cantareira,
O filho do Luis que está preso
Pelo nariz, tem um galo
Que canta cris, cris, cris.
Quando se amassa o pão:
São Lemede te lebede
S. Vicente te acrescente
E Nossa Senhora te tempere
P’ra nós e p’ra toda a gente.
S. Mamede te levede
S. Vicente te acrescente,
O Senhor te tempere,
S. João te faça pão.
Quando se salga o pão:
Uma manadinha p’ra S. João;
Uma manadinha p’ra Santo António;
Que façam um bom pão
P’ra que saia temperadinho
P’ra que não saia e enchôço.
Sem nada
Nada p’ró vizinho mais chegado.
Cá na minha terra há muitos costumes curiosos.
Um deles é quando se amassa o pão
E se lhe deita o sal.
Há quem diga:
Um bocadinho para as alminhas;
Um bocadinho para S. Lemede p’ra que levede;
Um bocadinho p’ra S. João p’ra que faça um bom pão.
Ao acender o forno:
Jesus, nome de Jesus
E nome de Deus, amén.
que te aqueças depressa
E bem.
Quando se alisa o pão e se lhe faz uma cruz por cima:
S. Vicente te acrescente;
S. Lemede o alevede;
O Senhor e a Senhora o tempere
Com a divina graça, amén.
Ao fim de amassar o pão:
S. Mamede te levede;
S. Vicente te acrescente;
S. João te faça pão;
Nosso Senhor Jesus Cristo
Deite a Sua benção,
Para ricos e para pobres
Para quem te comer
E Deus deixe viver:
Quando se mete o pão no forno:
Deus te acrescente
Para o rico e para o pobre
S. Mamede te alevede
S. Vicente te acrescente
Nossa Senhora te tempere
P’ra nós e p’ra toda a gente.
Deus te acrescente, para o rico e para o pobre!
Quando se engasga uma pessoa:
S. Brás, S. Martinho,
Que lá vai o nosso gatinho.
Ao ouvir trovejar, diz-se:
Senhor S. Jerónimo
Santa Bárbara Virgem
O Senhor te leve
P’ra onde não faças mal.
Bárbara se levantou
Jesus Cristo encontrou
- Tu, Bárbara, onde vais?
- Senhor, eu à terra vou.
- Ora vai, Bárbara, ora vai.
S. José, S. Crispim e S. Simão
Têm as palhas do trovão.
Quem lhas deu, quem lhas daria?
Foi Jesus e Santa Maria.
Com um livrinho na mão
Rezava quanto podia
Salva a ti, salva a mim
Não salves os três judeus
Que mataram o nosso Deus
Quinta-feira pela luz
Crucificado na Cruz
Para sempre, amén Jesus.
Quando se bebe água:
Água corrente,
Água correntia,
Não passa bicho,
Nem bicharia.
Só passa o Filho,
Da Virgem Maria.
Quando se deita sal nas panelas:
Em louvor de S. Suado
Nem ensoço nem salgado
Mais umas pedrinhas pelas almas.
Quando há gado perdido, diz-se:
Santo António pequenino
Se vestiu e se calçou
Na sua cacheirinha de ouro pegou.
Jesus Cristo encontrou
E Ele lhe perguntou:
- Tu, António, p’ra onde vais?
- Eu, Senhor, contigo vou.
- Tu comigo não irás
Vai atrás daquela cruz
Que umas contas acharás
E tudo quanto se perder
Tu, António, gardarás.
Pela graça de Deus
E da Virgem Maria
Um P.N. e uma A.M.
Quando se deitam as galinhas nos ovos:
Crós, crós
Muitos pitos e um galo só.
Quando se sai de noite:
Deus comigo é
E eu com Ele
Deus adiante
E eu atrás d’Ele.
À noite, reza-se:
Senhor:
Eu Vos agradeço
Perdoa-me todo o mal
Que hoje se fiz
Ajudai-me a imitar-Vos amanhã.
Quando se vai para a cama:
Senhor:
Eu Vos agradeço
Todo o bem que me fizestes
Perdoa-me todo o mal
Que hoje se fiz
Ajudai-me a imitar-Vos amanhã.
Com Deus me deito
Com Deus me levanto
Com a graça de Deus
E do Divino Espírito Santo
Deus me cubra com o Seu manto
Se bem coberto for,
Não terei medo nem pavor
E se a morte me perseguir
Os anjos do Céu me acudir
Três ao pés
Quantro à cabeceira
E Jesus Cristo à dianteira.
Para se afastar toda a espécie de mal, usam-se as palavras de S. João ditas para trás e para a frente sem se enganar:
Elas umas mais claras que o sol
Elas duas, duas tabuinhas de Moisés que estão a ver como o Senhor passa bem para as suas casinhas de Jerusalém.
Elas três, três patriarcas
Elas quatro, quatro evangelistas
Elas cinco, cinco chagas
Elas seis, seis signos
Elas sete, sete lâmpadas
Elas oito, oito portas do paraíso
Elas nove, nove coroinhas de anjos
Elas dez, dez mandamentos
Elas onze, onze mil virgens
Elas doze, doze apóstolos
Elas treze, treze raios onde rebenta o Judas ou o diabo maior ( ou: Elas treze, treze vai-te diabo com satanás nunca comigo te entenderás, nem de noite, nem de dia, nem à hora do meio-dia )
COSTUMEIRAS
Calendário Judeu
Segundo o calendário judeu, o dia começa ao pôr do sol e não quando ele se levanta.
Todas as cerimónias e festas religiosas começam à noite.
O sabat, por exemplo, começa ao declinar do sol.
Segundo a tradição judaica, isto reveste um significado moral.
Não é difícil ter confiança em pleno dia e de acreditar, em plena luz e ao levantar do sol.
O dia judeu começa à noite para simbolizar a fé na vitória da luz e no nascimento duma nova manhã.
COSTUMEIRAS
- A alma sete anos antes de morrer anda em via-sacra.
- A hora do funeral é a hora em que a alma tem acabado de fazer as suas contas con Deus. Assim, se o funeral for além das 24 horas é porque a alma teve muitas contas a dar a Deus. Quando o padre chega para fazer o funeral a alma chega também para acompanhar o cadáver à Igreja.
Dem - Recolha de Manuel Esteves
CONTO
Uma vez um matrimónio tinha três filhos, e quando morreram os pais só tinham três coisas ( uma foucinha, um gato e um galo ) para lhes deixar.
Começaram os filhos a correr mundo para ganhar a vida. Ao que lhe tocou a foucinha chegou a uma povoação e pediu pousada, mas disseram-lhe que pouco dormiria porque tinham de ir cegar o centeio cedo, porque era preciso quatro homens para cada centieiro ( um para segurar o cepo, outro para segurar o formão, e outro para segurar o centieiro e outro para bater com o cepo no formão. Ele disse-lhe que tinha um bicho que cortava tudo num instante, e então a gente da povoação comprou-lhe a foucinha por 100$00, e ele foi à vida; ora o primeiro a cortar o centeio, cortou um dedo, tiveram medo àquilo e quiseram queimá-lo; o cabo ardeu, mas o ferro ficou, e atiraram-lhe com um pau mes espetou-se-lhe o ferro da foucinha na testa de um homem.
O do gato também pediu pousada mas disseram-lhe que tinham muitos ratos e não deixavam dormir ninguém; e ele disse-lhes que tinha um bicho que matava os ratos todos. O gato começou a matar e matou-os quase todos. Compraram-lhe também o gato por 100$00.
O do galo pediu também pousada mas disseram-lhe que não dormia nada porque tinham de ir muito cedo, buscar o dia com um carro, muito longe, e ele disse que tinha um bicho, que trazia o dia num instante; deitaram-se e o galo começou a cantar e o homem disse-lhe que o dia estava a chegar, quando viram o dia a gente da freguesia comprou-lhe o galo por 100$00, e o homem foi à vida. Mas ia adiante um pedaço e ouviu chamar por ele. Era a gente que lhe tinha comprado o galo. Perguntaram-lhe o que é que o galo comia e ele disse-lhe que comia o que a gente também comesse, mas eles entenderam que comia a gente, e, com medo, mataram o bicho.
Recolha de Maria Fernanda Rodrigues Pinto - Dem
COSTUMEIRAS DA SERRA DE ARGA
Procissão dos Defuntos
À Procissão dos Defuntos chamam « o carro trunfante » porque é dentro dele que vem a pessoa que vai morrer.
Uma vez vinha uma moça pelo caminho por onde seguia a procissão. Quiseram levá-la com eles.
Mas vinha na procissão a madrinha da moça, que já há muito tinha morrido, que a livrou dizendo:
- Passar e andar,
Que aqui não há que levar.
E logo que a procissão passou, a madrinha foi ter com a moça, deu-lhe uma bofetada e ralhou-lhe:
- Toma, para que te lembres que eu sou a tua madrinha e agora não são horas de andar fora de casa.
Procissão dos Defuntos
Outra ocasião, um homem ia tapar a água com uma enxada às costas.
encontrou a procissão dos defuntos no sítio de Estrumada. Assustou-se. Atirou-lhes com a enxada e fugiu.
No dia seguinte, procurou a enxada e foi dar com ela dentro da Igreja, para onde os defuntos a tinham levado.
COISAS MÁS
No lugar da Estrumada aparecia um cão com pintaínhos e uma galinha a ladrar.
O MOÍNHO E A VELHA
Em certa terra havia um moínho que nunca parava. A gente dizia que o moínho tinha o diabo.
Levaram lá o abade para expulsão di mafarrico.
Estava toda a gente da freguesia a ver e o padre fez quanto podia para parar o moínho. Mas nada.
Então o abade chegou a côroa que tinha na cabeça à mó e disse:
- Respeita ao menos esta côroa.
Mas a mó continuou a andar e atirou o padre de cangalhas!
E a gente, vendo aquilo, deitou a fugir.
Ora havia uma velha que, ao correr, tropeçou, caiu no rego da água que ía para o moinho, entupiu a calha e assim o moinho sempre parou.
De modo que, dali para diante, quando queriam que o moínho parasse, iam buscar uma velha... e deitavam-a ao lago.
FEITICEIRAS
As feiticeiras vinham de COVAS e vinham nadar ao POÇO DA ASSEBOSA. Vinham pelo SEIXO BRANCO e, às vezes, desapareciam sem ninguém as ver.
Outras vezes vinham nadar ao POÇO GRANDE DE LADEIRA.
Uma noite, um homem ia para CASTANHEIRA. Atravessava a ponte da COBRADA.
As feiticeiras puseram-se na frente dele, fizeram roda e disseram:
Agora aqui não passas
Agora aqui não passas...
Então o homem lembrou-se que tinha um rosário no bolso; pegou nele e bateu as feiticeiras com o rosário. E logo elas fugiram.
FEITICEIRAS
Uma vez as raparigas de Arga de Cima, pelo Carnaval, fizeram um cavalo de palha e iam, de noite, com ele para CASTANHEIRA, para uma borga.
Umas puxavam o cavalo para a frente, outras puxavam para trás, numa garotice pegada.
Nisto, ao chegarem à ponte de COBRADA, saíram-lhe as feiticeiras que deitaram as mãos ao burro e não o queriam deixar.
As raparigas conseguiram fugir e elas ainda foram atrás das moças até perto de CASTANHEIRA, onde só perto das casas as deixaram.
FEITICEIRAS
Uma vez, uma velha muito velha era feiticeira e quando estava para morrer, pôs-se a gritar porque tinha que entregar uns novelos da feitiçaria:
- Quem m’arda, quem m’arda?
( Sem os entregar, não podia morrer. E ninguém os queria ).
Assim, uma irmã, teve de responder:
- M’ardo-te, m’ardo-te, minha irmãzinha...
( Informações de Maria Fernanda Rodrigues Pinto )
REIVINDICAÇÕES DOS AGRICULTORES
Chuva só de noite,
Exigimos domingos quentes e com sol,
Mestras todas brancas.
PARA O NEVOEIRO DESAPARECER
Varre, verre, nevoeiro,
Para trás da lapa do vaqueiro,
que aí vem o pai gaiteiro
Com uma vaca chocalheira
Que põe ovos e manteiga
Ao redor da cantareira,
O filho do Luís que está preso
Pelo nariz. Tem um galo que canta
Cris, cris, cris.
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Ó Senhor Jesus Cristo,
Confessor do meu coração,
Confessai os meus pecados
Que sabeis quais eles são,
Neste mundo dai-me paz
E no outro salvação.
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Santa Bárbara pequenina
Se vestiu e se calçou,
Seu caminho, caminhou.
Por onde vais, Bárbara?
Vou espalhar a trovoada.
Espalha, espalha
Por onde não haja beira nem eira,
Nem folha de figueira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem bago de gente cristã.
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METEREOLOGIA POPULAR
Quando as ovelhas estão no monte a pastar num dia bom e se põe a olhar e não comem, nem andam, é sinal de que vem a chuva.
Se o tempo está bom e se vem água pelos caminhos a correr, é também sinal de que vem a chuva.
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Ó Maria Agrela,
Só estás três dias debaixo da terra.
E tu, João Mourão,
Estás 15 dias debaixo do torrão.
( isto refere-se ao linho e ao milho )
QUANDO SE AMASSA O PÃO
Louvor de S. Tiago,
Nem ensosso. nem salgado.
QUANDO SE ENGASGA UMA PESSOA
S. Brás, S. Martinho,
Que lá vai o nosso gatinho.
QUANDO SE DEITAM AS GALINHAS NOS OVOS
Em louvor de S. Salvador,
Muitas pitas e um só galador.
ou
Crós, crós,
Muitas pitas e um galo “sós”
DAS ABELHAS
Não queremos colmeias mal feitas,
Fumo pouco
E só com ervas aromáticas,
Não queremos ser interrompidas no nosso trabalho
Sem justa causa,
É preciso acabar com as ovelhas já.
SABEDORIA POPULAR
A sabedoria do povo permanece por toda a parte em frases bem concisas, cheias de conceitos e de verdade.
A sua filosofia não tem limites de tempo, de espaço e de dinheiro.
É o pensar empírico de autores anónimos que em breves sentenças ( provérbios e adágios ) entra em todos os lares e corre mundo, de boca em boca, nos livros, nas revistas e em colecções de índole etnográfica e folclórica.
Provérbios e adágios não são a mesma coisa: enquanto um adágio diz uma sentença breve que encerra uma moralidade e excita a pessoa, aquele encerra uma máxima, pode ser mais extenso e instrói.
Assim: “ Pragas sem razão, nem ao meu cão “ - adágio.
“ Quando o cuco cucar, a rola rolar e a poupa poupar, pega no fole e vai semear “ - provérbio.
Depois da recolha feita, encontrei “ Rumo Certo “ do Dr. António Borges de Castro ( Estudos de Mondim de Basto ) com cerca de 3000 provérbios e adágios e ainda o “ Rifoneiro Português “, de Pedro Chaves.
Procurei comparar e fiquei maravilhado, porque verifiquei que havia provérbios e adágios, na Serra d’Arga, desconhecidos por aqueles autores.
No entanto, entre os milhares que li e reli daqueles etnógrafos também foi agradável verificar que há um bom número exactamente iguais nos dois autores e aos da Serra d’Arga e outros ainda muito semelhantes e, como o povo tem sempre a sua sentença para cada coisa e em todos os lados, se não é pelas mesmas palavras, é por outro modo. Assim: um adágio exactamente igual em P. Chaves, em António Castro e na recolha que fiz, “ Corra o ano como for, haja em Agosto e Setembro calor “.
Provérbios semelhantes - “ Quem traz calça branca em Janeiro, ou é tolo ou tem pouco dinheiro “. (P. Chaves); “ Calça branca em Janeiro é sinal de tolo ou pouco dinheiro “. ( Mondim de Basto ).
Outro modo muito curioso é o seguinte:
Pedro Chaves recolheu um adágio na forma imperativa: “ Em Maio, come as cerejas ao borralho “; enquanto, em Mondim de Basto, se diz afirmativamente e com mais pormenor: “ Em Maio, as cerejas come-as a velha ao borralho “. Na Serra d’Arga, diz-se o mesmo, mas na forma reflexiva generalizada: “ Em Maio, come-se as cerejas ao borralho “.
O asterisco em alguns assinala aqueles que penso terem a sua origem na própria Serra. Outros não são assinalados e, ainda, aqueles que encontrei semelhanças com outros autores vêm assinalados e com indicação da página ( R.P. - Rifoneiro Português e R. C. - Rumo Certo ).
Aqui encontrará o leitor uma máxima para a Agricultura, higiene, metereologia, medicina, religião, justiça, economia, política, etc.
Este pormenor não ficou no esquecimento. Quis recolher o reportório das gentes serranas, para que não se perca e possa servir de estudo para aqueles que queiram continuar um trabalho de investigação sobre filosofia popular.
Eis, portanto, o que de “ rifoneiro “ lá recolhi.
PROVÉRBIOS POPULARES
A água que há-de regar, de Abril e Maio há-de ficar. ( R.P. Pág. Nº29 )
A água que no verão vai regar , de Abril e Maio há-de ficar. ( R.P. Pág. Nº29 )
A amar e a rezar não se pode obrigar.
A bodas e baptizados só vão os convidados.
Abunda a malícia onde falta a polícia.
A cabra que vai à vinha, onde pula a mãe pula a filha.
A chuva de Junhal, fome natural. ( R.P. Pág. Nº35 )
A chuva de Junho, peçonha do mundo. ( R.P. Pág. Nº35 )
A chuva em Junho, é fome em punho. ( R.P. Pág. Nº36 )
A chuva por S. João tira o vinho e não dá pão. ( R.P. Pág. Nº35 )
A coroa não cura a dor de cabeça.
A cuco não cuques e a ladrão não furtes.
A ferrugem gasta o ferro, e o cuidado, o coração. ( R.C. Pág. Nº14 )
Agarram-se os pássaros pelo bico e os homens pela língua.
Agosto madura, Setembro vindima. ( R.P. Pág. Nº38 )
Água corrente não mata gente.
Água mole em pedra dura, tanto bate que a fura.
Água mole em pedra dura, tanto dá que até fura. ( R.C. Pág. Nº18 )
Águas passadas não fazem andar moinhos.
Águas passadas não fazem mover moinhos.
Águas verdadeiras, por S. Mateus, as primeiras.
A guerra e a ceia, começando se ateia.
A homem casado e a mulher barbada, em tua casa não dês morada. ( R.C. Pág. Nº15 )
A língua tem boa casa.
A lua, conforme quinta, assim se pinta. ( R.C. Pág. Nº15)
A lua como quinta, assim trinta.
A maior miséria é aquela que vem da preguiça.
A má vizinha dá agulha sem linha. ( R.C. Pág. Nº15)
Amigo que não presta / E faca que não corta / Que se percam / Pouco importa. ( * )
A mocidade é defeito que se corrige dia a dia.
A mulher disse p’ró homem: “ Não vale a pena que zurres. Anda lá para diante, vira-se a albarda ao burro. ( * )
A mulher e a galinha ... com o sol recolhida.
A mulher e a ovelha é com o dia para a cortelha. ( R.C. Pág. Nº16 )
A mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo. ( R.C. Pág. Nº16)
Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.
Ano de neve, paga o que deve.
A noite quando vem é para descansar.
Antes com bons a furtar do que com maus a orar.
Antes escorregar do pé que da língua.
A nuvem passa e a chuva fica.
Ao Fevereiro e ao rapaz perdoa-se tudo quanto faz. ( R.P. Pág. Nº25)
Ao luar de Janeiro se conta o dinheiro. ( R.P. Pág. Nº25)
Aonde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.
Ao rico não devas e ao pobre não prometas.
Aos mortos e aos ausentes nem os insultes, nem os atormentes.
A pensar, morreu um burro. ( R.C. Pág. Nº16)
A pensar, morreu um burro da tua idade.
A pobreza é inimiga da virtude.
A preguiça é solteira, ninguém quis casar com ela.
Aprender até morrer.
Aquela é bem casada, que não tem sogra, nem cunhada.
A quem Deus não deu filhos, deu o diabo sobrinhos. ( R.C. Pág. Nº17)
A quem em Maio come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha. ( R.P. Pág. Nº32)
Arco da velha, chuva na quelha.
Arco da velha, de madrugada, noite estrelada.
Arco da velha / Sai-te dái / Que as moças bonitas / Não são para ti. ( * )
Arco da velha semanhana, tormentana, retardana. ( * )
A rola a rolar / O cuco a cucar / A poupa a poupar / Pega no fole, vai semear. ( * )
A sardinha pelo S. João pinga no pãp.
As obras acabam em Março.
À sorte e à morte nunguém foge.
As ovelhas e as abelhas só devem ter um dono.
As sardinhas pelo S. João já pingam no pão. ( R.P. Pág. Nº37)
As telhas do telhado encobrem muito.
Até Janeiro, qualquer malató salta o ribeiro, chegando Janeiro nem malató nem cordeiro. ( *)
Até meio de Maio, uma leira cada dia, Maio meado, ainda que o boi beba no rego arado.
Até morrer, aprender.
Atrás de ti virá quem bom de ti fará.
A um bom caçador lhe foge uma boa lebre.
A verdade é coxa, mas corre sempre com a mentira.
Ave só não faz ninho.
A vontade de comer faz a velha correr.
Barra roxa em sol nascente, água em três dias não mente.
Bem canta Marta, depois de farta.
Boca de mel, coração de fel.
Bodas em Março, é ser madraço.
Bolos e abraços de rapariga, não se podem desperdiçar.
Bolsa despejada, cara amargurada.
Bom companheiro, o dinheiro.
Bom é ferir o soberbo, quando está só.
Bom livro, bom amigo.
Burro velho não toma andadura e, se toma, pouco lhe dura.
Cada bufarinheiro louva seus alfinetes.
Cada ovelha com sua parelha.
Cada terra seu uso, cada roca seu fuso.
Cada um em sua casa é rei. ( R.C. Pág. Nº37)
Calça branca em Janeiro é sinal de pouco dinheiro. ( R.P. Pág. Nº24 e R.C. Pág. 28)
Canta o corvo, vento certo.
Canta o galo e zurra o burro, é meio-dia seguro.
Cão não come cão.
Cão que ladra, não morde.
Cão que muito ladra, não é o que morde.
Cardo que há-de picar, logo nasce com espinhos.
Carnaval borralheiro, Páscoa soalheira.
Carne de pena tira do rosto a ruga.
Carne que baste, vinho que farte, pão que sobre. ( R.C. Pág. Nº28)
Casa de ferreiro, tranca de pau. ( R.C. Pág. Nº29)
Casamento, apartamento.
Céu empedrado, três dias é molhado.
Céu nublado, em três dias é molhado.
Céu escadado, é chuva ou vento.
Choraram os olhos do teu inimigo e enterraste-o vivo.
Chovam trinta Maios e não chova um Junho. ( R.P. Pág. Nº32)
Chove e não faz vento, quando não faz vento, não faz mau tempo.
Chovendo em dia de Ascenção, todos os valadinhos dão pão.
Chovendo no dia da Ascenção, todas as beiradinhas dão pão.
Chovendo no dia de S. João, tira vinho e não dá pão.
Chuva de Fevereiro vale por estrume. ( R.P. Pág. Nº25)
Chuva de Junho tira pão e azeite e não dá vinho.
Chuva de Sábado nunca se acaba.
Chuva de S. João tira vinho e não dá pão.
Chuva de S. Pedro faz acordar cedo.
Chuva fina por Santo Agostinho é como se chovesse vinho.
Círculo na lua, água na rua.
Coçar e comer começa a querer.
Com a vinha de Outubro come a cabra, engorda o boi e ganha o dono.
Come pouco, bebe pouco, dormirás como louco.
Come pouco para seres gordo.
Comer laranjas de manhã, prata, de dia, ouro, e à noite mata.
Com irmãos ninguém meta as mãos.
Com malucos nem para o céu.
Com marido e mulher ninguém meta a colher.
Com o padre e o cirugião, caixão. ( * )
Com pão e vinho já se anda caminho. ( R.C. Pág. Nº31)
Com pedra dura não se faz farinha.
Com quem má fama tem não acompanhes nem queiras bem.
Com tolos nem para o céu.
Com tolos, nem para a missa nem para o céu.
Confiar no futuro, mas pôr a casa no seguro. ( R.C. Pág. Nº32)
Contra romeiro e burlão não basta a razão.
Coração magoado fala demasiado. ( * )
Coração contente, faz bem à gente.
Corra o ano como for, haja em Agosto e Setembro calor. ( R.P. Pág. Nº38 e R.C. Pág. Nº33)
Costureira sem dedal cose pouco e mal.
Couves em Agosto tombam à porta. ( R.P. Pág. Nº38)
Criados e bois, cada ano, até dois.
cuida bem do que fazes e não te fies em rapazes. ( R.C. Pág. Nº33)
Da má mata nunca boa caça. ( R.C. Pág. Nº35)
De amigo reconciliado guarda-te dele como do diabo.
Debaixo dos pés levantam-se os trabalhos.
Decrua-se tarde, arrenda-se cedo, se me querem ver mancebo.
Defeitos todos nós temos e o melhor é quem tem menos.
De grão a grão enche a galinha o papo.
Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.
Deixa andar o cão com a roca, que ele dá conta da maçaroca.
De leal e bom servidor virás a ser senhor.
De Maio a Abril há muito que pedir. ( R.P. Pág. Nº32)
De noite todos os gatos são pardos.
De papas e arroz o pegado é o melhor.
Depois de mal fazer, não vale a pena arrepender.
Depressa se gasta o que depressa se ganha. ( R.C. Pág. Nº37)
De Setembro sempre me lembro.
Desfeitas sem razão, dobradas são.
De tal ninho tal passarinho. ( R.P. Pág. Nº39)
De todos os santos ao Natal, ou tem de chover ou bem nevar.
Deus é quem manda em tudo.
Deus te engrosse, que comprida já tu és.
Devagar se vai ao longe.
De vinho abastado, de razão minguado.
Dia de S. Bartolomeu anda o diabo à solta.
Dia de S. Sebastião casa a perdiz com o perdigão. ( * )
Dia de S. Sebastião / Casa a perdiz com o perdigão / Chorai calaceirinhas / Que os dias santos já lá vão. ( * )
Dinheiro, assim como veio, assim vai. ( R.C. Pág. Nº38)
Dinheiro puxa dinheiro.
Ditoso mês de Dezembro que começa com santos, meia com santos e acaba com Santo André.
Diz Maio a Abril: Ainda que te pese me hei-de rir. ( R.P. Pág.32)
Diz-me com quem andas, que eu te direi as amanhas que tens.
Diz-me com quem andas, que eu te direi as tuas manhas.
Diz-me com quem andas, que eu te direi quem tu és.
Do homem desconfiado, sê desconfiado.
Dos Santos ao Natal é Inverno natural.
Dos Santos ao natal cada dia mais mal; do natal ao Entrudo come-se capitel e tudo.
Duas capas tem Satanás: uma cobre, outra descobre todo o crime que se faz.
Duas pedras duras nunca podem fazer farinha.
Duro com duro não faz bom muro.
Em Abril, o frio chega ao ril.
Em Abril, perto do carril.
Em Abril, sai a bicha do covil.
Em Abril, vai a velha à feira e vem ao covil.
Em Agosto, ferve o milho no caroço.
Em Agosto, malha com o suor do teu rosto.
Em Agosto, pouco encosto.
Em Agosto, toda a fruta tem seu gosto. ( R.C. Pág. Nº40)
Em casa do sisudo, se faz o pão miúdo.
Em Abril, estão no covil ; em maio, já espreitam o gaio ; em Junho, vão com a mãe ao punho. ( isto refere-se à raposa ou à perdiz )
É melhor prevenir que remediar.
Em Fevereiro, entra o sol em qualquer regueiro.
Em Fevereiro, no primeiro jejuarás; no segundo guardarás, terceiro, dia de S. Brás.
Em Fevereiro, rebenta o cumareiro ( * )
Em Fevereiro, sobe ao outeiro; se vires em Janeiro verdejar, põe-te a chorar; se vires terrear, põe-te a cantar.
Em Janeiro, qualquer “malato” salta o regueiro. ( * )
Em janeiro, sete capelos e um sombreiro. ( R.P. Pág. Nº22)
Em Janeiro, te casa companheiro. ( R.P. Pág. Nº22)
Em Janeiro, um porco ao sol, outro ao fumeiro. ( R.P. Pág. Nº22 e R.C. Pág. Nº41)
Em Junho, foice em punho.
Em Junho, foucinha no punho. ( R.P. Pág. Nº36)
Em Maio, a quem tem basta-lhe o saco.
Em Maio, bebe o boi no rego.
Em Maio, bebe o boi no rego do arado.
Em Maio, as cerejas come-as a velha ao borralho.
Em Maio, comem-se as cerejas ao borralho. ( R.P. Pág. Nº32 e R.C. Pág. Nº41)
Em maio, comem-se as cerejas ao lume.
Em maio, vou-me levantar e caio.
Em Março, arrumam-se as rocas e sacham-se as hortas.
Em março, chove cada dia um pedaço. ( R.P. Pág. Nº27)
Em Março, o frio leva couro e pelaço.
Em Março, tanto durmo como faço. ( R.P. Pág. Nº27 e R.C. Pág. Nº41)
Em Outubro, centeio ruivo. ( R.P. Pág. Nº42)
Em Outubro, recolhe-se com tudo.
Em Outubro, recolhe tudo. ( R.P. Pág. Nº42)
Em Setembro, ou secam as fontes, ou leva as pontes. ( R.P. Pág. Nº41)
Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.
É muito bom rapaz o que manda e faz.
Encomendas sem dinheiro vão pelo ribeiro.
Encomenda sem dinheiro fica no tinteiro.
Enquanto o cavalo dorme, o mosquito engorda. ( * )
Enquanto se canta não se assobia.
Entre pais e irmãos não metas as mãos. ( R.C. Pág. Nº42)
Entre ricos e pobres não há parentesco ( R.C. Pág. Nº42)
Entrudo ao soalheiro, Páscoa ao borralheiro.
Entrudo borralheiro, Páscoa soalheira.
Está a chover / E a fazer sol / Estão as bruxas / A fazer pão mole.
Falar é dos outros, que de nós não falta quem fale.
Farto está o carneiro, quando marra com o companheiro. ( R.C. Pág. Nº43)
Favas, as primeiras; cerejas, as últimas.
Faz bem e não olhes a quem.
Feliz ao jogo, infeliz ao amor.
Ferro que se usa, enche-se de ferrugem.
Festa, flores e passarinhos em casa dos nossos vizinhos.
Fevereiro afoga a mãe no ribeiro. ( R.P. Pág. Nº25)
Fevereiro é meio santeiro.
Fevereiro põe a mãe ao sol e corre-a à pedra.
Fevereiro quente traz o diabo no ventre. ( R.P. Pág. Nº25)
Fia-te na virgem e não corras.
Fia-te na virgem e não corras, vais ver a sorte que te espera.
Filho aborrecido nunca recebe bom castigo.
Filho és / Pai serás / Como fizeres / Assim acharás.
Foge dos songas ( * )
Fraco é o Maio que não rompe uma caroça. ( R.C. Pág. Nº45)
Franga em Janeiro põe no colmeiro.
Frio em Abril, ainda chega ao ril.
Fui ao vizinho, envergonhei-me; vim para casa, remediei-me.
Gaba-te cesta, que amanhã vais è feira.
Gaivotas na terra, tempestade no mar.
Galinha que canta quer galo. ( R.C. Pág. Nº46)
Gato escaldado de água fria tem medo.
Grada na lama, chuva na cama.
Grão a grão enche a galinha o papo.
Guarda que comer e não guardes que fazer.
Guerreiam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
Há chuva que seca e sol que refresca.
Hás-de pagar e não bufar.
Homem com fala de mulher nem o diabo o quer.
Homem pequenino, ou coxo ou dançarino.
Homem pequeno, saco de veneno.
Homem rezador o que chora, o Deus nele mora.
Hóspedes em casa, dia santo é. ( R.C. Pág. Nº48)
Inverno chuvoso, verão abundoso. ( R.C. Pág. Nº49)
Inverno nevoso, ano formoso. ( R.C. Pág. Nº49)
Já amanhã virá que bom de ti fará.
Já comprei e já paguei, desse burro é que eu comprei.
Já Fevereiro quer ser mês com 28 dias que tem.
Já Fevereiro quer ser mês e só tem 28 dias.
Janeiro, geadeiro. ( R.P. Pág. Nº22 e R.C. Pág. Nº49)
Janeiro molhado, se não é bom para o pão, não é mau para o gado. ( R.P. Pág. Nº23 e R.C. Pág. Nº49)
Jogo e bebida, casa perdida. ( R.C. Pág. Nº49)
Ladrão não rouba a ladrão.
Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão. ( R.C. Pág. Nº49)
Laranjas em Março são como melaço.
Lenha molhada mal acende.
Longas práticas, maiores mentiras.
Lua Nova setembrina, sete luas domina.
Lua Nova trovejada, trinta dias é molhada.
Lua Nova trovejada, ou vem seca ou molhada.
Luta a luta com o rochedo, quem paga é o mexilhão.
Má árvore a que só dá fruto a poder de trato.
Maio chuvoso, Junho caloroso.
Maio me molhou, Maio me enxugou.
Maio pardo, ano farto.
Mais lucra quem Deus ajuda de que quem muito madruga.
Mais são os casos que as leis.
Mais vale a pena dizer “bem fiz eu” que “se eu soubera”.
Mais vale astúcia que força.
Mais vale comprar a rir que comer a chorar.
Mais vale ler um homem que dez livros.
Mais vale ser pobre que ser infeliz.
Mais vale tarde que nunca. ( R.C. Pág. Nº50)
Mais vale uma palavra antes, que duas depois.
Mais vale uma pobre alegre que um rico apaixonado.
Mais vale um bom mandador que um bom trabalhador.
Mais vale um pássaro na mão que dois a voar. ( R.C. Pág. Nº51)
Manhã de neblina, tarde sol que rechina.
Manhã de nevoeiro, tarde soalheira.
Manta do diabo tem três pontas.
Março de rabo virado, é pior que o diabo.
Março, marçagão, de manhã Inverno, è tarde Verão.
Março, marçagão, pela manhã rosto de cão e à tarde bom Verão. ( R.C. Pág. Nº52)
Mata o teu corpo, se queres ver o teu corpo.
Mau é o rico avarento, mas pior o pobre soberbo.
Mete o ruim no teu palheiro, quererá ser teu herdeiro. ( R.C. Pág.53)
Mil amigos pouco, um inimigo demais.
Mil conhecidos não valem um amigo.
Milho e manjericão três dias debaixo do torrão.
Mil vezes cai quem se não “precata”.
Minguante de Janeiro corta madeiro.
Mocidade ociosa, velhice trabalhosa.
Moinho parado não ganha maquia.
Muito come o tolo e mais tolo é quem lhe dá.
Muito corre o vento e não junta nada.
Muito e bem há pouco quem.
Muito e mal, é geral.
Muito falar, muito errar.
Muito riso, pouco siso.
Mulher bonita não é pobre. ( R.C. Pág. Nº54)
Mulher de lenço nem qualquer lhe apalpa o pulso.
Mulher formosa, alegre ou preguiçosa.
Mulher sardenta, mulher rabujente.
Mulher sem marido, barco sem leme.
Na lua nova não aprova.
Na noite de S. Pedro toda a gente tem medo.
Não contes com o ovo no cu da galinha que te pode sair a postura.
Não dês pêras em Janeiro.
Não digas mal do vizinho, já vem o teu mal pelo caminho.
Não é bom ano de pão nem de vinho, se não cairem sete camadas de neve no Minho.
Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje.
Não há cabeças mais duras que as cabeças vazias.
Não há mês que não volte outra vez.
Não há nada que perca o nome, como quando o boi vai para o talho.
Não há nada tão forte que o não derrube a morte.
Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem preguiça. ( R.C. Pág. Nº58)
Não penses que és mais que os outros.
Na ponta e no baú, criado à frente, amo atrás.
Não se arranca a silveira, padece a videira.
Não se bate em homem morto.
Não se guarde verdade ao mentiroso.
Não se vende um burro por grandes orelhas.
Não sirvas a quem serviu / Nem peças a quem pediu / Nem compres a quem comprou / Compra a quem herdou / Porque não sabe o que lhe custou.
Não te envaideças do que sabes, mas repara sempre no que fazes.
Não te fies em quem uma vez te enganou.
Não te rias do vizinho, que teu mal vem pelo caminho.
Não te rias do vizinho, que vem-te o mal pelo caminho.
Não troces, para não seres troçado pelos outros.
Nem criado dormidor, nem gato miador.
Nem oficial novo, nem barbeiro velho.
Nem por muito madrugar amanhece mais cedo. ( R.C. Pág. Nº59)
Nem tudo o que luz é ouro.
Neve que em Fevereiro cai na serra, poupa o carro de estrume às vossas terras. ( R.P. Pág. Nº26 e R.C. Nº60)
Névoa a correr para Ponte, velhinhos para o monte. ( * )
Névoa a correr para S. João, vão as velhas para o “tição”. ( * )
Névoa vermelha no mar, estão as velhas a assolhar.
Névoa vermelha ao nascente, temos chuva de repente.
Nevoeiro na costa do salgueiro, pega nos tojos, mete-os no eido. ( * )
Nevoeiro na serra, chuva na terra. ( R.C. Pág. Nº60)
Ninguém se ria do mal do seu vizinho, que já vem o seu pelo caminho.
Ninguém seria vendeiro, se não fosse o dinheiro.
No dia de Santa Luzia abaga a noite e cresce o dia.
No dia de Santa Luzia minga a noite e cresce o dia.
No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho. ( R.C. Pág. Nº60)
No tempo das perdizes, tanto mentes como dizes.
No tempo do cuco tanto está molhado como enxuto. ( R.C. Pág. Nº61)
Nunca deites foguetes antes da procissão.
Nunca Deus fecha uma porta que não abra outra.
Nunca o invejoso medrou, nem quem à beira dele morou.
Nunca o invejoso medrou, nem quem perto dele morou.
Nunca o invejoso medrou, nem quem ao pé dele morou.
Nuvens para Ponte, velhas para o monte. ( * )
Nuvens para S. João, velhas p’ró “tição”. ( * )
O bom ano de milho tem que, pelo S. João, cobrir o rabo ao cão.
O bom cavalo guia o cavaleiro.
O bom montador vendeu milho ao bom sachador.
O bom vinho arruina a bolsa, o mau arruina o estômago. ( R.C. Pág. Nº62)
O cântaro tantas vezes vai à fonte que um dia quebra a asa.
O charuto e a mulher estão no acertar e não no escolher. ( R.C. Pãg. Nº62)
O cuco a recucar, pega na cestinha, vai semear.
O diabo sabe muito, porque é velho. ( R.C. Pág. Nº62)
O diabo tem duas capas: uma tapa e outra destapa.
O feijão nasce pelo S. João.
O frio de Abril chega aos rins.
O frio, em Maio, leva o pelo e o pelaço.
O gato por ser ladrão não o tires da mansão.
O homem põe e Deus dispõe. ( R.C. 63)
Olhos brancos são de gato.
O lobo, em Janeiro, antes quer cão do que carneiro da serra. ( * )
O lobo perde os dentes, mas não o costume.
O luar de Janeiro é um candeeiro, o luar de Agosto ilumina no rosto.
O mal e o bem à face vem.
O medo tem muita força.
O mês de Março deixa “apeganhaço”.
O milho em Setembro é entrecolhendo e comendo.
O milho pela Senhora da Rocha já deve ter croxa.
O milho pelo S. João deve cobrir o rabo ao cão.
Onde alhos há, vinho haverá.
Onde há filhos não há parentes nem amigos.
Onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.
O ódio dos maus honra o homem de bem.
O pão pela cor e o vinho pelo sabor.
O preguiçoso ao Domingo é cobiçoso.
O que é dura de passar é bom de lembrar.
O que nosso tem de ser, à nossa mão vem ter.
O que se uso não se escusa. ( R.C. Pág. Nº65)
O que tem de ser tem muita força. ( R.C. Pág. Nº65)
O roubado não é logrado.
O roubado poupadinho é como o bem ganhadinho.
O saber não ocupa lugar. ( R.C. Pág. Nº66)
Os alhos pelo Natal devem ter o bico de um pardal.
O sol de Março tosta a dama no palácio.
O sol é a luz do dia.
O surdo faz falar o mudo.
O tempo bom e mau espera-se no campo.
O campo dá o remédio onde me falta o conselho. ( R.C. Pág. Nº66)
O trabalho do menino é pouco, mas quem o não aproveita é louco.
O trabalho faz suar mais, só assim se consegue uma vida melhor.
Outubro recolhe tudo. ( R.P. Pág. Nº42 e R.C. Pág. Nº68)
Outubro suão, negaças de verão. ( R.P. Pág. Nº42)
Ovelha falta, do rabo se espanta.
Ovelha que berra, bocada que perde. ( R.C. Pág. Nº69)
O velho e o menino vão para onde lhe fazem carinho.
O verde é esperança, quem espera sempre alcança.
O vogal e o vilão as pancadas dão.
Pagar, hei-de pagar, mas bufar, hei-de bufar.
Palmadinhas de amor, quanto mais, melhor.
Pão e vinho já se anda a caminho.
Para homem dado ao trabalho, não há dia grande.
Para ir à feira, não há perna manca.
Para o ano ser bem louvado, deve o boi beber no rêgo do arado.
Para parte de Fevereiro guarda lenha.
Para saber, não basta ler; é preciso viver e ler.
Para ruim mercadoria, mais vale soga vazia.
Para um pé doente aparece sempre um vaso velho.
Parecer sem ser, é fiar sem tecer.
Patrão fora, dia santo na loja. ( R.C. Pág. Nº71)
Pela Senhora de Agosto, às sete horas é sol posto. ( R.C. Pág. 71)
Pela Senhora da Conceição, galinholas um quarteirão.
Pelo Natal, cabritinho no curral.
Pelo Natal, sol; Pela Páscoa, carvão.
Pelo Natal, tenha o alho ponta de pardal. ( R.C. Pág. Nº72)
Pelo S. Bento, quem vê um bago vê um cento.
Pelo S. João, cobre o milho ao rabo ao cão.
Pelo S. João, vai a velha para o forcão.
Pelo S. Lourenço, vai à vinha e enche o lenço.
Pelo S. Martinho, vai è adega e prova o vinho.
Pelo S. Matias, tarda Março cinco dias, dá o sol pelas ombrias e cantam as cotovias.
Pelo S. Tiago, rega-se no enxuto e no molhado.
Pensa duas vezes, antes de falares uma.
Perdido por cem, perdido por mil. ( R.C. Pág. Nº72)
Pintos do Inverno, pintos do inferno.
Poda em Março, vindima no regaço. ( R.P. Pág. Nº28)
Podar em Março, é ser “medraço”. ( R.P. Pág. Nº28 e R.C. Pág. Nº73)
Por apressados não melhorados.
Por cobiça de florim, não te cases com mulher assim.
Porque te ris, louco, por veres rir os outros.
Por Santa Maria de Agosto, repasta a vaca um pouco.
Por Santa Marinha, rapa a tua ovelhinha.
Por S. Bentinho, cada milheiro tem sua barbinha.
Por S. João, os animais voltam ao patrão.
Por S. Lucas, mata os teus porcos, tapa as tuas cubas.
Por S. Mateus, pega no arado e lavra com Deus. ( R.C. Pág. Nº72)
Por S. Matias, noites iguais aos dias.
Por S. Vicente, alça a mão da semente.
Por um burro dar um coice, não se lhe corta uma perna.
Por vezes, mais lucra quem sabe calar do que bem sabe falar.
Pragas sem razão, nem ao meu cão.
Pragas sem razão, nem a um cão.
Pragas sem razão, voltam ao patrão.
Primeiro de Agosto, primeiro de Inverno. ( R.C. Pág. Nº75)
Pulgas em Abril, cada uma pare mil.
Quando a candelária chora, está o Inverno fora.
Quando a candelária ri, está o Inverno p’ra vir.
Quando a semana vai de piolhos, é escusado vestir camisa lavada.
Quando canta o galo, vem o sol.
Quando canta o mocho, é sinal que morre gente breve.
Quando chove e dá o sol, estão as feiticeiras a pentear-se.
Quando Deus queria, do norte chovia.
Quando Maria “Meija”, todos lhe dão inveja.
Quando mijar um português, mejam dois ou três.
Quando o cuco cucar, a rola rolar, e a poupa poupar, pega no fole e vai semear.
Quando o marido falar, a mulher tem de calar.
Quando o tempo não faz, sementeira não perde.
Quando o vento está de Braga, promete muito e não dá nada.
Quando tosse o prior, bom é o sermão.
Quando troveja em Março, parelha os cubos e o baraço.
Quando um burro fala, o outro baixa as orelhas.
Quantas vezes a gente deseja e não tem.
Quanto mais amigo, mais inimigo.
Quanto mais bebes, mais te apetece beber.
Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti.
Quantos mais ratos se matam, mais ratos ficam.
Que cedo ou
Que horas são? Faltam dez reis p’ra meio tostão.
Quem à boa árvore se chega, boa sombra o cobre. ( R.C. Pág. Nº76)
Quem aceita, não escolhe.
Quem apanha a azeitona antes do Natal, deixa o azeite no olival.
Quem apanha botões, apanha paixões.
Quem a paz quiser conservar, deve ver, ouvir e calar.
Quem aproveita o que não presta, tem o que lhe faz falta.
Quem a raposa há-de enganar, muito tem de madrugar.
Quem à semana bem parece, ao Domingo aborrece.
Quem bate com a cabeça na parede, não tem o juízo todo.
Quem bem arrota, bem almoça.
Quem bem faz a cama, bem se deita nela.
Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem. ( R.C. Pág. Nº77)
Quem cala, consente. ( R.C. Pág. Nº77)
Quem cala, f... quem fala. ( R.C. Pág. Nº77)
Quem canta ao domingo, quer galo.
Quem canta, seu mal espanta.
Quem casa com uma viúva, tem sobejos de defunto.
Quem casa em Agosto, tem fraco gosto.
Quem casa filha, depenada fica.
Quem casa, não pensa; quem pensa, não casa.
Quem casa, quer casa. ( R.C. Pág. Nº77)
Quem cedo madruga, Deus o ajuda.
Quem cedo vai, cedo vem.
Quem com Deus anda, Deus o ajuda.
Quem com ferro mata, com ferro morre. ( R,C, Pág. Nº77)
Quem compra terras, compra guerras.
Quem conversa, não conta horas.
Quem cose no dia da Hora, tem de coser em todas as horas.
Quem cose em dia de Santo Espírito, quantos pontos, quantos bichos.
Quem cose e amassa, tudo se lhe passa.
Quem dá e tira, é ladrão.
Quem dá o mal, dá o remédio. ( R.C. Pág. Nº77)
Quem debaixo de água se cura, pouco dura.
Quem desdenha, quer comprar.
Quem deve cem e tem cento e um, não teme a nenhum.
Quem do alheio se veste, na praça o despe.
Quem dormir ao sol de Agosto, tem desgosto.
Quem dos Santos ao Natal não fiou, com o seu fianço ficou.
Quem em Maio come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha.
Quem engorda os bois é o olho do dono.
Quem envelhece, arrefece.
Quem espera, desespera.
Quem espera, espera aquilo que vem.
Quem espera, sempre alcança.
Quem faz bem nunca esquece; quem faz mal, lembra sempre.
Quem mais jura, mais mente. ( R.C. Pág. Nº78)
Quem mal fala, mal canta.
Quem mal faz, mal recebe.
Quem mal faz, por mal espera.
Quem muito aparece, muito aborrece.
Quem muito dorme, pouco aprende.
Quem muito escolha, mal acerta. ( R.C. Pág. Nº79)
Quem muito fala, pouco acerta.
Quem muito fala, muito mente.
Quem muito pensa, muito mente.
Quem muito promete, muito falta.
Quem muito se apura, pouco dura.
Quem nada cria, nada tem.
Quem nada, não se afoga.
Quem não come pão, é lambão.
Quem não debulha em Agosto, debulha com mau gosto. ( R.C. Pág. Nº80)
Quem não empreende, nada executa.
Quem não gosta, põe na borda do prato.
Quem não governa lenha, não governa nada que tenha.
Quem não jejua em dia de Natal, ou é burro ou animal.
Quem não o faz, não o cuida.
Quem não pode, morrer se deixa.
Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. ( R.C. Pág. Nº80)
Quem não semeia, não colhe.
Quem não se sente, não é filho de boa gente. ( R.C. Pág. Nº80)
Quem não tem carro nem bois, ou vai antes ou depois. ( R.C. Pág. Nº80)
Quem não tem, não troca.
Quem não tem, não vê.
Quem não tem pé, não dá coices.
Quem não tem pé, não pode dar pontapé.
Quem o feio ama, bonito lhe parece.
Quem o feio ama, não quer saber de má fama.
Quem paga e mente, a bolsa o sente.
Quem paga mal, paga duas vezes.
Quem planta em Outono, leva um ano de abono. ( R.C. Pág. Nº81)
Quem poda em Janeiro, vai beber ao regueiro.
Quem poda em Março, traz vindima no regaço.
Quem procura, sempre encontra.
Quem quer a boa moça, anda a pé e salta da bolsa. ( R.C. Pág. Nº81)
Quem quer casar, não quer ser ruim.
Quem quer criados, paga-lhes.
Quem quer ir, vai; quem não quer, manda. ( R.C. Pág. Nº82)
Quem quer que o diabo apareça, fala-lhe na cabeça.
Quem quiser comer morrinha, coma em Janeiro cordeiro e em Maio galinha.
Quem quiser o cão de caça, procure-lhe a raça.
Quem se deita sem ceia, toda a noite esperneia.
Quem sempre fala dos grandes, é pequeno.
Quem se veste de ruim pano, veste-se duas vezes no ano. ( R.C. Pág. Nº82)
Quem tem amor, tem ciúme.
Quem tem burro e anda a pé, mais burro é. ( R.C. Pág. Nº83)
Quem tem calor, não se mete em apertos.
Quem capa, sempre escapa, mas quem não a tem, escapa também. ( R.C. Pág. Nº83)
Quem tem cu, tem medo.
Quem tem filhos, tem cadilhos.
Quem tem frio, cobre-se com a manta do tio. ( R.C. Pág. Nº83)
Quem tem telhado de vidro, não atira pedradas.
Quem tira a azeitona antes do Natal, deixa o azeite no olival.
Quem tira e não põe, trespõe.
Quem tiver fome, come um “home”.
Quem tudo quer, tudo perde. ( R.C. Pág. Nº83)
Quem vai para o mar, prepara-se na terra. ( R.C. Pág. Nº83)
Queres ir à Espanha a cavalo de uma aranha.
Queres ir a Lisboa a cavalo de uma proa.
Ramo molhado, ano melhorado.
Ramos molhados são louvados.
Respeita, se queres ser respeitado. ( R.C. Pág. Nº84)
Rico avarento, rico nojento.
Rola a rolar e cuco a cucar, pega no cesto e vai semear.
Roma e Pavia não se fizeram num dia. ( R.C. Pág. Nº84)
Sacham-se de mês e arrenda-se de três semanas.
Salvo está quem repica o sino.
Santa Tecla tem poupa, ou vem muita ou pouca. ( * )
SS. Jerónimo,
Se a candelária chora, está o inverno fora.
Se a candelária rir, está o inverno p’ra vir.
Se bem fizeres a cama, bem te deitas nela.
Se chover no dia da Ascenção, todos os cantinhos dão pão.
Sem gado lanar, pouco há a medrar.
Semeia hoje, para colher amanhã.
Semeia-me no pó, e de mim não tenhas dó.
Se não debulhas em Agosto, terás sempre desgosto.
Senhor Salvador, muitas pitinhas e um galador.
Se o pai é ganhador, é o filho gastador.
Se queres o teu marido morto, dá-lhe sardinhas em Maio e couves em Agosto.
Se queres ser bom ervilheiro, semeia no crescente de Janeiro.
Se queres ter bom alhal, semeia-o pelo Natal.
Se queres ter bom ervilheiro, semeia-o em Janeiro.
Se queres ver o teu homem morto, dá-lhe couves em Agosto.
Setembro seca as fontes ou lava os montes. ( * )
Setembro ou seca as fontes ou leva as pontes.
Se tens fome, vai à rua e mata um “home”.
Só fala quem tem que se lhe diga.
Sol madrugador, sol enganador.
Só se lembra de Santa Bárbara quando troveja.
Temos de encarar a vida conforme nos é permitida.
Terra dura, novidade segura.
Trovoada em Agosto, abundância de uvas e mosto. ( R.P. Pág. Nº40)
Tudo vem a propósito a quem bem sabe esperar.
Tudo vem a seu tempo e as castanhas no Advento.
Uma maçã podre apodrece um cento. ( R.C. Pág. Nº91)
Uma missa e um marrano dá para um ano. ( * )
Um burro, por dar um coice, não lhe cortes as perna.
Um cravo tira outro, um amor faz esquecer outro.
Um dedo mau, duas mãos suja.
Um grão não enche o celeiro, mas ajuda o seu companheiro.
Um raminho de alecrim que se dá aos namorados, as armas são para os soldados.
Vai devagar, para chegares depressa.
Vai-te embora, Janeiro, cá fica o meu cordeiro. ( R.C. Pág. Nº92)
Vale mais um gosto na vida que dez reis na algibeira.
Velho gaiteiro, velho menino.
Vem o mês de Junho, foicinha em punho.
Venha chuva / Chuva venha / Bois ao carro / Matias para a lenha.
Vento suão, molha no Inverno e seca no Verão.
Vergonha é roubar e não poder carregar.
Vermelhinho ao mar, vermelhinho a assolhar.
Vermelho ao mar, velhas a assolhar.
Vermelho ao nascente, chuva de repente.
Vinho de Março nem vai ao cabaço. ( R.P. Pág. Nº29)
Vozes de burro não chegam ao céu.
ADIVINHAS
1 - Qual é a coisa, qual é ela, onde está, bem parece ela?
R: A cal.
2 - Redondinha, redondela, como o fundo de uma panela.
R: O ovo.
3 - Tem pernas e não anda, tem boca e não fala, tem asas e não voa.
R: O pote.
4 - Uma meia, meia feita, outra meia, meia feita, diga lá, ó menina, quantas meias vem a ser?
R: Metade de uma.
5 - Qual é a coisa, qual é ela, mal está à porta já está à janela?
R: O botão.
6 - Sou muda de natureza, mas tal dom tenho comigo, que todas as coisas digo quase sempre onde vou, tiro ou dou gosto ou tristeza, e por fim sou despedaçada ou até no lume despida.
R: A carta.
7 - Minha mãe não tinha dentes, nem nenhum dos meus parentes, eu de mim sou todo calvo, meu coração amarelo e o meu rosto todo alvo.
R: O ovo.
8 - Muitas meninas a uma varanda, todas a chorar para a mesma banda.
R: As telhas.
9 - Alto valado, barrete encarnado, espeto no cu, adivinha tu.
R: As cerejas.
10 - Dois redondos, um comprido, entre as pernas é metido.
R: A bicicleta.
11 - Pelode por dentro, pelode por fora, lança-lhe a perna, mete-a dentro.
R: A meia.
12 - Qual é a coisa, qual é ela, que foça como os porcos?
R: O arado.
13 - Qual é a coisa, qual é ela, que mede 16 cm e nem todos os homens têm?
R: A nota de mil.
14 - Qual é a coisa, qual é ela, que está no céu e põe-se amarela?
R: O sol
15 - Qual é a coisa, qual é ela, que ao cair no chão, fica amarela?
R: O ovo.
16 - Qual é a coisa, qual é ela, que toda a gente abre e ninguém a fecha?
R: O ovo.
17 - Semente preta, campo branco, cinco bois a puxar a uma carreta.
R: A carta.
18 - Que é, que é, que vai deitado e vem de pé?
R: O cântaro.
19 - Uma casa tem doze damas e quatro quartos, todas usam meias, nenhuma sapatos.
R: O relógio.
20 - Alto está, alto mora, todos o vêem, ninguém o adora.
R: O sol.
21 - Qual é a coisa, qual é ela, que tem pernas e não anda e tem boca e não bebe?
R: O pote.
22 - Sou filho de pais cantantes, minha mãe não tinha dentes, nem nenhum dos meus parentes, eu de mim sou todo calvo, meu coração amarelo e o meu rosto é todo alvo.
R: O ovo.
CASAS DATADAS
É vulgar ainda hoje, nas aldeias, colocar-se o ano nos portais das casas ou do quintal.
Até isso tem algum interesse para a história.
Antigamente, não havia casa nenhuma que não tivesse a data nas vergas das portas e algumas, para além da data, tinham ainda as iniciais do proprietário ou cruzes esculpidas.
Esses dados que encontramos na Serra nos poderão fazer luz sobre uma cuvilização, pois são documentos que temos de os conservar e estudar.
Eis algumas datas mais antigas, que achamos por bem registar, com o respectivo nome de tradição:
CASTANHEIRA
1684 - Coutada de Baixo
1650 - Olívia de Baixo
1747 - Fichaquinho
1774 - Fichaquinho
1765 - Lombada de Baixo
1760 - Alfredo
1828 - Sobral
1819 - Castelo
1890 - Coutada de Cima
1843 - Floripes
1869 - Costa
1898 - José de Cima
1820 - Laurentina
1877 - Lombinho
1875 - António Carvalho
1875 - Castelo
ARGA DE BAIXO
1826 - Costinha de Baixo
1878 - Costinha de Cima
1862 - Campo do Vale
1859 - Altinho
1894 - Nova
DEM
1782 - Casa do Valado
1798 - Casa do Porto
1894 - Casa do Anselmo
1891 - Casa da Giesteira
1813 - Casa da Giesteira
1850 - Casa do Cancela
1773 - Casa de Carejos
1892 - Casa de Portela
1824 - Casa de Cera de Baixo
1849 - Casa de Covinha
1821 - Casa do Minguianas
1824 - Casa do Munguiana
1836 - Casa de Afonso
1892 - Casa da Presa
1838 - Casa dos Castanheiros
1828 - Casa do Pombal
1887 - Casa da Giesteira
1811 - Casa do charco
1895 - Casa do Marta
1862 - Casa do Rancho
1824 - Casa do Carqueijal
1851 - Casa do Germano
1884 - Casa do Germano
1730 - Casa da Devesa de Baixo
1796 - Casa da Devesa de Cima
1696 - Casa de S. Gonçalo
1773 - Capela de Sta. Luzia
- Capela da Senhora das Neves
- Cruzeiro dos 4 Abades
- Cruzeiro da Senhora das Novas.
A CAPELA DE S. JOÃO D’ARGA
O S. João d’Arga venera-se num templo que marca nitidamente quatro épocas. Uma, possivelmente anterior ao românico por várias indicações da estrutura da capela-mor, quanto à altura, comprimento e parede; outra, a românica, como se pode verificar pelos portais laterais românicos incrustados no princípio do corpo do templo e imediatamente a seguir à capela-mor com a respectiva cornija e modilhões com cachorros também.
O seu interior é nitidamente barroco com altares de pedra imitando a talha dourada com imagens em pedra pintadas e a frente da capela com mais um aumento é nitidamente dos fins do século XVIII ou princípios do século XIX, como tantas outras capelas e igrejas do Minho...
Localiza-se junto ao ribeiro de S. João, ao fundo do Chão do Guindeiro, entre o Alto da Coroa e os montados das Casarolas.
Localiza-se em região fortemente castreja e lendária. Assim, temos topónimos indicadores de castro, como: Alto da Coroa, Castro do Germano, Casarolas, Alto dos Muros, Castro Grande, Castro Pequeno, Su-Castro, etc.
S. João apareceu junto ao ribeiro de S. João d’Arga e lá fizeram a capela.
Ainda hoje a capela de S. João d’Arga é o coração das povoações serranas. Ela está em território de Arga de Baixo, é administrada pela Comissão Fabriqueira da Paróquia de Arga de S. João, mas as três Argas revêem-se culturalmente e historicamente naquele monumento suévico.
Existia um clamor antigo que era feito em 6 de Maio por catorze freguesias pertencentes à Irmandade de Santo Isidoro, com as suas cruzes de prata “areadas” e as bandeiras, formando-se no cruzeiro da Ladeira, tendo que subir um a dois quilómetros uma encosta pedregosa, a pedir o fim da seca, de epidemias que matavam o gado ou outros males que afligiam estas gentes.
Neste clamor participava esta povoação de Arga de S. João; no entanto, em 1840, deixou, por motivos que não consegui averiguar, de fazer parte deste acto religioso. A irmandade de Santo Isidoro continuou a ir lá com clamor, no dia 6 de Maio, mas os de “Santo Aginha” limitavam-se a ver a “banda a passar” pela sua aldeia, enquanto trabalhavam nos campos.
A romaria de S. João d’Arga é o centro da religiosidade não só dos habitantes da Serra d’Arga, mas também das povoações do vale do Lima, Neiva e Minho. Devido ao caminho íngreme que os romeiros têm de percorrer, em todo o lado se canta:
Eu hei-me vir à Romaria
Ao Senhor S. João d’Arga
A Romaria é boa
O caminho é que amarga.
Ó meu Senhor S. João
Dai-me a mão pela janela
Que eu venho cansadinha
De subir a vossa Serra.
Envolveu, antigamente, esta romaria algumas práticas pagãs: romaria sem sol e ritual da iniciação sexual, segundo o Dr. Manuel Fernandes Moreira. Hoje, o ritual da iniciação sexual está ultrapassado, embora ainda seja uma romaria suspeita para muitos. Daí as jovens nem sempre terem a liberdade de irem sozinhas à festa. É nesta romaria que se arranjam os namorados e nas Feiras Novas de Ponte de Lima ou largam-se ou, então, é para valer. Isto a propósito da juventude das freguesias da Serra.
A caminho de S. João d’Arga, para os que vêm do lado de Caminha e Âncora, há uma passagem por um carreiro, junto dum penedo, a que chamam o Penedo do Casamento. É um grande penedo com uma cova no cimo. As jovens que querem casar, ao passar com o romeiro para a festa, lançam uma pedra... se ela ficar em cima, casam naquele ano; se cair, terão de esperar tantos anos quantas pedras tenham lançado e caído.
Existe na capela a imagem do anjo S. Gabriel, degolando o demónio. Os romeiros dão esmola ao S. João d’Arga e chamam áquela imagem a imagem do demónio, a quem dão também esmola.
Porquê?
Disseram-me: “ Olhe, Senhor Padre, nem de mal com o santinho, nem com o demónio; por isso, dá-se aos dois e assim não temos problemas “.
A romaria realiza-se a partir das oito horas da manhã do dia 28 de Agosto e só termina pelas 12 horas do dia seguinte.
Os inúmeros romeiros, com concertinas às costas e tambores, para além das merendas, partem no dia 27, de quase todas as freguesias. Por exemplo: os de Barroselas saem às 10 horas da noite do dia 27, os de mazarefes às 11 horas da noite, depois do toque do sino da capela da Senhora das Boas Novas; e os da margem direita do Lima juntam-se em Nogueira e Santa Marta, pelas 24 horas para, em grupo, partirem em direcção ao S. João d’Arga, depois de atravessarem sete serras.
O caminho é mais ou menos comum para todos: Santa Marta, Cardielos, Nogueira, Chão da Pica, S. Lourenço da Montaria e Arga de S. João.
Cantam pelo caminho, rezam e pregam partidas uns aos outros e é para os mais novos ocasião de grande euforia. Param em S. Lourenço, para comerem dos farnéis que levam e refrescam a cara na Chão da Pica ou na chão do Guindeiro, pelas 6-7 horas da manhã.
A cerca de um quilómetro do templo, no Alto do Guindeiro, avista-se a capela e grande parte lança-se de joelhos para cumprimento de promessas e percorre, descendo, desse modo, o íngreme caminho serrano até ao local, finalizando a promessa depois de três voltas dadas à capela.
Ali passam o resto do dia e toda a noite e, na despedida, mais três voltas a pé ou de joelhos, conforme os casos, com ou sem o santo ao colo.
São essas as promessas mais duras, para além de alguns irem sem fala e outros com o seixo na boca.
Transportam também a telha, o sal, os frangps ou galinha pretas, cravos e ovos. O sal e os ovos podem significar aqui uma oferenda pagã e consagradora da sexualidade ou um rito propiciatório da fecundidade, segundo Pierre Sanchis.
Para além destas oferendas que vão caindo em desuso, fazem promessas, às vezes, de irem amortalhados, de irem descalços, de irem debaixo do andor, de pegar a uma vara do pálio, da lanterna, bandeira ou andor.
Também é possível, em épocas remotas, a participação na procissão em caixões, pois ainda encontrei lá restos de caixões e um deles estava podre, mas completo e com cerca de um metro de comprimento. Uma vez que a ela acorrem as gentes do Neiva ao Minho, de culturas mais diversificadas, foi muito diversificada a oferta. Hoje, estão a cair em desuso muitas dessas ofertas, reduzindo-se a cera, a grandes somas de dinheiro, assim como os romeiros a pé estão a diminuir. S. João d’Arga é advogado das coisas “ruins” e dos cravos.
Há pessoas idosas que vão lá à quarenta anos, sem falhar um e só falharão quando morrerem, no dizer delas.
À volta da capela é o arraial que toma proporções gigantescas a partir das 18 horas do dia 28 até às 6 horas matutinas do dia 29. Dança-se toda a noite, ao som das concertinas e das castanholas e canta-se ao desafio.
Durante o dia, há confissões, missa de festa, sermão e procissão.
No dia 29, a partir das 6 horas, era, em tempos que eu conheci, ( há 25 anos ) uma enfiada de missas e de sermões, tudo de promessa e às 11 horas a última missa da festa com sermão e uma pequena procissão ao cruzeiro, que se encontra em frente à capela, para finalizar.
Para os povos das Argas, esta é a festa de todos, porque a sua, muito sua festa, é a de 24 de Junho, dia do nascimento de S. João Baptista. É praticamente a festa da unidade das povoações serranas. Passa-se o dia em S. João d’Arga. Há missa, sermão e depois a partilha dos farnéis no recinto, acabando sempre por um baile com cantares ao desafio, etc, até às tantas, regressando a casa com o sol bem alto.
RAÍZES HISTÓRICAS
Paulo Osório, historiador bracarense do século IV, referindo-se à conquista da Península Ibérica, iniciada no século III onde tiveram de ser vencidos os Celtiberos, os Galaicos e os Lusitanos, diz que os Galaicos situados entre o mar cantábrico e o Rio Douro, fizeram a vida muito difícil aos Romanos.Devido à sua resistência, estes cavaram um fosso bem fundo no Monte Medúlio, último reducto desses povos autóctones, para os fazer render pela fome. No entanto foi um projecto romano que falhou, pois continuaram a manter tão grande resistência ao ponto de se suicidarem colectivamente para se não entregarem na mão dos conquistadores.
Acontece que a localização desta Serra tem merecido algumas dúvidas, mas alguns historiadores querem identificá-la com um monte junto ao Rio Minho e Pinho Leal com base no texto de Paulo Osório, localiza-o na Serra d’Arga. Historiadores galegos há, que pretendem afirmar que o Monte Medúlio corresponderia ao Monte S. Julião, perto de Tuy.
O topónimo Monte de Arga, aparece num documento do século XI, em que o Monte de Arga era limite do Couto de Vilar de Mouros.
Mais tarde, no século XIII, as inquisições fazem referência ao mosteiro de S. João d’Arga.
As raízes históricas desta região das Argas estão provadas por estes registos, serem bastante antigas.
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A Serra d’Arga situa-se entre o rio Lima e o rio Coura. Tem uma altitude de 84 metros o que a leva a impôr-se pela sua imponência, aridez e grandiosidade. O granito e o xisto são as rochas que a cobrem, dando-lhe uma paisagem serrana agreste e ao mesmo tempo encobridosa de ouro e de prata que os romanos exploraram, do volfrâmio que, no pós-guerra matou a fome a muita gente.
A época das chuvas, entre Novembro e Março, pode causar uma precipitação até 1800 mm. Os nevões são frequentes, acontecendo que há anos em que a Serra permanece coberta de geada durante alguns dias e as temperaturas são, nestas ocasiões, muito baixas, fazendo com que o lobo desça aos povoados à procura dos rebanhos, sobretudo de noite.
Pelo contrário, no Verão, há temperaturas muito altas e verifica-se um clima seco. Daí a grande amplitude térmica nesta região, favorável a algum tipo de fauna, como o coelho bravo, a perdiz, o javali, o lobo, a raposa, etc... e os animais domésticos habituais.
Ao par desta fauna aparece a flora índigena: sobreiros mansos e bravos, carvalhos, castanheiros, os louros, as faias e as giestas são o sinal mais evidente deste selvagem crescimento florestal com zonas bem demarcadas pela acção dos serviços nacionais das florestas que há 50 anos deram à Serra outra imagem, transformando um pouco a sua geografia, a flora e condicionaram mais algumas tradições ancestrais dos povos aqui radicados.
ACESSO À SERRA
De Caminha segue-se pela estrada de Vilar de Mouros para Coura; no Cruzamento de Argela toma-se a estrada de Orbacém e, chegando a Dem, segue-se à esquerda para Argas. No entanto, o caminho melhor para chegar à Senhora do Minho, o lugar mais alto da Serra, toma-se em Dem, na Cruz de Valdante seguindo a estrada de Pedras Frias, Pedrulhos, Tresâncora, Espantar até chegar a S. Lourenço, subindo-se a encosta mais vistosa do lado sul, dos vales do rio Lima e Neiva.
Quem passar Vilar de Mouros pode seguir a margem esquerda do rio Coura até Covas e nesta terra tomar a estrada à direita que liga esta freguesia a Castanheira, Arga de Baixo, Arga de Cima e Arga de S. João.
De Ponte de Lima segue-se a estrada de Lanheses até Estorãos, subindo-se à direita até S. Pedro d’Arcos, Estorãos, Cerquido, atingindo-se por essa estrada Arga de Cima. Há ainda uns 3 a 4 Kms de Estradão térreo entre o Concelho de Ponte de Lima e Caminha, entre boas ou razoáveis estradas alcatroadas nas áreas e nas freguesias de Estorãos e de Arga de Cima dos Concelhos de Ponte de Lima e Caminha, repetidamente.
De Vila Nova de Cerveira, pode seguir-se a estrada de Candemil até Covas, começando depois a subir a encosta mais alta do lado norte.
De Viana do Castelo há vários caminhos:
A estrada nacional até Vila Praia de Âncora, tomando a estrada de Lanheses até Orbacém depois de ter passado a Estorranhos e a Ponte de Saim virará à esquerda para Gondar e Dem. Em Dem, terá a possibilidade de virar na Cruz de Valdante para a Senhora do Minho ou seguirá em frente até passar a Igreja de Dem virando à direita na estrada alcatroada para as Argas. Pode ainda, em Orbacém, continuar na direcção de Lanheses até à Chão da Pica, ao cruzamento que dá para Nogueira e S. Lourenço, virando para S. Lourenço tomará a estrada para poder chegar à Senhora do Minho.
Mas de Viana tem outro caminho fácil, segue a Estrada Nacional de Ponte de Lima e na Meadela toma à esquerda a estrada de Perre, Outeiro, até à Ponte de Saim, ao entroncamento com a estrada de Lanheses. Pode ainda seguir até Nogueira e, em Nogueira, tomar a estrada de S. Lourenço que ficará na Chão da Pica.
Na Chão da Pica pode optar ainda por Amonde, Orbacém, Gondar e Dem. Em S. Lourenço pode optar por Espantar, Tresâncora, Pedrunhos, Pedras Frias e Dem.
De Viana pode ainda utilizar para chegar à Estoranha e à Ponte de Saim fazendo um percurso de montanha, tomando a estrada de Sta. Luzia e a florestal que vai dar à Senhora da Cabeça, em Soutelo. Servir deste percurso é fazer um grande e belo corte de montanha para, chegando a Soutelo, seguir para a Serra por Orbacém...
Da Senhora do Minho pode ainda fazer um percurso em estrada florestal entre este lugar mais alto da Serra até S. João d’Arga. Belo percurso e se for feito em jipe pode ainda, a meio deste percurso, dar um saltinho ao miradouro de vistas mais largas sobre o litoral atlântico sobre a encosta do Carvalho, em Dem, junto à fonte do Ouro. Terá de voltar para trás.
Hoje, há outros percursos inóspitos para carro (?), melhor, para jipe entre Arga de Baixo e Arga de S. João e entre Arga de S. João e a Chão do Guindeiro, ou Valverde, ou ainda S. João d’Arga. Ainda um outro entre Arga de S. João e Covas, Vilar de Mouros.
Vale a pena aproveitar estes caminhos abertos ultimamente e é pena que o turismo não aproveite estas redes de ligação existentes na Serra e, sobretudo, esta rede montanhosa por entre as escarpas mais difíceis, as reentrâncias mais íngremes.
São estas as vias principais que das Sedes do Conselho dão à Serra d’Arga, umas mais avantajadas e em melhores condições, outras são vias de montanha, mas ainda não há como deixar o jipe, o carro automóvel e marchar a pé por caminhos de Carreteiros, de pé posto de que a Serra está cheia, não havendo lugarejo por mais recôndito que seja sem uma possibilidade de lá chegar.
Percorrer a Serra a pé é cultivar a mente e o espírito... é dar vida ao corpo e à alma de beleza, de cor, de ar puro e águas cristalinas, é conhecer um mundo diferente para que, reconhecendo-o, se possa amar com mais intensidade a obra da criação.
A SUBSISTÊNCIA
Não haja dúvida que trabalhar esta terra não teria sido coisa fácil, mas a luta pela sobrevivência obrigou, naturalmente, as suas gentes a descobrirem os segredos que a natureza oferece para que o homem fosse um senhor e o território um espaço onde este domínio senhorial fosse gerador de comunhão e recreio. Deste modo, de um terreno agreste fizeram socalcos aráveis que não dando grande abundância de produtos agrícolas úteis para rentabilizar, dão, ao menos, o suficiente para que a família não tenha que recorrer à compra dos bens mais elementares como batata, milho, feijão, hortaliças, etc...
Nos ditados populares, que em outra secção são tidos em conta, demonstram a sabedoria dos seus habitantes em relação ao clima agreste. Na Serra há regras próprias para arrancar da terra tudo o que ela pode dar no tempo e no espaço oportunos. Durante os meses de inverno não é possível a prática da agricultura porque... não venham uns nevões ou ventos fortes que tudo queimam, destroem ou levam.
Com tempo já se pode ir projectando porque sabem, por exemplo, porque sabem que geando na primeira sexta-feira de Março, também o verão vai ser mau para a lavoura.
O verão tem também as suas prerrogativas, pois o clima é seco, atingindo por vazes temperaturas elevadas e com precipitação quase nula.
De modo que a localização dos minifúndios, nas encostas abrigados ou não, expostos ao sol ou não, nos vales perto da água corrente ou sujeitos a cursos de água que secam totalmente no verão, divididos ainda pelos vários herdeiros, as condições climatéricas dos ventos ou geadas, de precipitação, nevoeiros, altas temperaturas, tudo é gerador de uma sabedoria popular para tirar da terra o que ela pode dar... segundo a sua condição ambiental.
Mo entanto, a inteligência humana por vezes, contraria a natureza utilizando meios técnicos para dar a volta às coisas e isso vai acontendo também na Serra.
Mas a sabedoria popular e as técnicas não são tudo, porque a natureza também prega as suas partidas ao agricultor...
Conforme as previsões climatéricas, trabalha-se a terra mais cedo ou mais tarde. O mesmo acontece quando o terreno é lento ou seco, abrigado dos ventos ou não, com água para regar ou não...
Assim:
Em Fevereiro - Semeia-se batata do cedo, em terras secas.
Em Março - Semeia-se batata em terras lentas.
De Abril a Maio - Semeia-se o milho, plantam-se as couves e as hortaliças.
Em Julho - Semeia-se o cebolo, o feijão e o milho nas leiras lentas.
Em Dezembro - Semeia-se o centeio e ervas para o pasto.
Em Setembro, Outubro e Novembro - Não se pratica a agricultura devido às dificuldades climatéricas, assim como em Janeiro.
Tem a ver com a agricultura os espigueiros, os celeiros, as eiras ou cegueiros... as medas, os moinhos...
Casa sem espigueiro é casa de cabaneiro. Quanto maior for o espigueiro junto de uma eira onde secam o milho, o feijão, mais importante é a casa, ou quantos mais espigueiros tiver a casa, mais importante é a família que nela habita.
Os espigueiros têm a sua arte... Os arquitectos ficam perturbados quando verificam que fogem a todas as regras de segurança arquitectónica que aprenderam.
Alguns deles são seculares e ainda não caíram.
Há antigos, mas belos espigueiros espalhados por toda a Serra, mas os mais sensacionais descobrem-se em Arga de Cima, no Souteiro, na Bouça, no Recunco, na Lage e no Tojal.
Vale a pena um passeio turístico às Argas só para apreciar estes autênticos monumentos do passado, testemunho de arte, de sabedoria popular, de antiguidade, de beleza e harmonia ambiental.
Não são apenas os espigueiros aquilo que nos desperta a atenção, pois ainda se encontra varandas rústicas, vários moínhos em lugares inóspitos, construidos de blocos megalíticos, a maioria dos quais já não funcionam, mas... seguir um ribeiro e apreciar o estilo do moínho, a paisagem paradisíaca da sua localização, é uma opção para uma tarde ou um dia bem passado, na Serra.
Quem diz os espigueiros mais acessíveis e os moínhos, de acesso mais complicado, por caminhos de pé posto, de carro de bois, por entre escarpas difíceis de escalar, diz ainda os quintais com as medas de palha, as eiras, para o cequeiro dos cereais, que deram origem a topónimos, a arquitectura das casas de habitação, os eidos ou quinteiros e os acessos no centro das povoações.
ACESSOS NOS CENTROS DAS ALDEIAS
Faça um passeio nestes centros. É uma tarde ou um dia bem passado. Assim, pode seguir os seguintes percursos:
Arga de Cima: Lage, pelo Souteiro, Tojal, Bouça e Recunco.
Arga de Baixo: Do centro cívico de Arga de Baixo ao Marco e do Marco à Gandra. O mesmo acontece em Castanheira, desde a Casa à Senhora da Rocha e Coutada ou ao Castelo.
Arga de S. João: Valgueiros pelo caminho mais antigo da Cartuxa ou o que segue pelo lado norte e segue para Dem ou para a Pedra Aguda. O que segue da Casa do Outeiro até à Ladeira, da Casa das ——— à Casa do Afonso e o das Alminhas até Olaia.
A utilização dos moínhos obedece a regras. A maioria dos moínhos são comunitários, podem ser de 10, mais e também menos famílias, os herdeiros de um ramo e de outro ramo havendo dias e horas marcadas para a sua utilização e alguns trabalham noite e dia numa “ roda viva “ para moer o milho e com a farinha poderem cozer o pão, infornando duas boas rasas de farinha de milho para o sustento da família, durante 15 dias.
A maioria já foram substituídos por moínhos eléctricos, mais práticos e individuais, tendo ficado os outros como monumentos abandonados e a marcar a memória e a história de um povo. Outros foram, muito poucos, transformados, mas ainda alguns nas Argas estão ao serviço, sobretudo de quem ainda não avançou para a outra técnica ou de quem ainda não deixou de cozinhar o pão em casa em vez de o comprar ao padeiro ou de o ter trocado pelo pão de trigo que o padeiro leva à porta.
Com a agricultura se relacionam as presas de água para rega. Não há, pois, ribeiros sem ter a sua presa que junta a água para que nos dias e horas indicados possam os agricultores regar as suas terras.
Sendo o clima como é no verão, bem seco, é uma necessidade imperiosa, sobretudo nos terrenos mais expostos ao sol, de água para que as “ novidades “ sejam uma realidade.
As mais conhecidas presas são: Rio de Chão do Salgueiro, Riba, Fonte, Gemea, Outeiro Redondo, Cruzeiro, Campo, Vale Fontão, Vidoeiro e Laguinhos, na Serra; Funtela e Rio d’Ossos, no Rio d’Ossos e o Fulão no Rio de Franjorge; Presa Velha do Rio Nascente, Presa do Meijão d’Água do Rio da Lage, Presa da Lage, Presa dos Lagos, Fonte da Lage (2) da Fonte Nascente, Presa do Meio ( abastecida pelo Ribeiro da Presa, Presas dos Crastos, do alto da Presa e Presa do Vale da Silva.
As presas garantem a irrigação de grandes áreas de terreno repartido por inúmeras leiras.
A água é conduzida em rêgo cavado em pedra, nos locais mais antigos, em terra ou mesmo em canos de plástico e desemboca nos campos...
HISTÓRIAS SEM HISTÓRIA
Era uma vez um homem que tinha muito vinho e as bruxas tinham-lhe inveja. Um dia, entraram na loja do homem pela fechadura. Elas não podiam dizer “ Jesus “, tinham de dizer “ trailaru “, mas, uma assustou-se e disse:
- Ai, Jesus Senhor!
As outras disseram-lhe:
- Ai disseste “ Jesus Senhor “, aí ficas tu!
De manhã, o homem foi à loja e encontrou a bruxa. Então ela disse-lhe:
- Não digas nada que me viste aqui, senão mato-te.
O homem assim fez.
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Era uma vez, uma mãe e uma filha que eram feiticeiras. Gostavam muito de vinho e foram a uma adega beber vinho e entraram pela fechadura. Beberam quanto quiseram e, ao irem embora, a filha disse à mãe:
- Ai Jesus! Não vamos caber por esse buraco!
Disse a mãe:
- Ai disseste “ terru terru “, agora ficas aí tu.
E a filha lá ficou. A mulher exclamou:
- Ó suas malandras, ponham-se já daqui para fora!
quando a mulher acabou de lhes dizer isto, morreu, assim como o homem.
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Era uma vez três mulheres; uma chamava-se Clemência, outra Joaquina, e outra Olívia. Vinham de regar uma leira, mas era noite. Então, chegaram a uma presa cheia de água e a Clemência disse:
- Vamos nadar e quem passar aqui pensa que nós somos bruxas.
As outras concordaram. A Olívia e a Clemência tiraram a roupa toda e atiraram-se à água, mas a Joaquina ainda tinha uma camisa vestida. As outras deitaram-se à água com a camisa. Passaram dois homens e fugiram para trás com medo das bruxas. então, elas vestiram-se depressa e foram embora.
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Uma vez, apareceram as feiticeiras, no rio do Juncal, ao tio Severino.
Disse este que elas começaram a bater palmas, a dançar e a rir. Começou então, ele a dizer:
- Cruzes, abrenuzes, palhas, alhas.
E elas desapareceram.
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Uma vez, fui a Santo Aginha, tinha lá um poço muito fundo com feiticeiras.
As feiticeiras disseram:
- Ide embora e não digais donde ides, porque senão às cortes das vacas e fugimos com elas.
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As pessoas tinham de dormir a noite toda nos moinhos. Enquanto as feiticeiras nadavam na água, não deixavam a água ir para os moinhos. As pessoas tinham de deitar rescaldo pela cruz do moinho abaixo e, então, elas iam-se embora.
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Um dia, quando a mãe e a filha iam vigiar um moinho, avistaram ao longe, uma fogueira. Surpreendida a filha, perguntou à mãe:
- O que será aquilo?
- Olha filha, é uma fogueira.
Mas a filha insistiu:
- Seriam as feiticeiras?
Isto era por volta das 9H.. A mãe respondeu-lhe:
- Olha filha, serão. eu tenho ouvido dizer que elas aparecem por volta das 9.30H. da noite.
A filha continuou:
- Minha mãe, mas dizem que elas aparecem na figura de um gato ou de um cão.
A mãe, já receosa, disse-lhe:
- Ó filha, vamos embora.
E voltaram para trás, qual o seu espanto, quando viram um cadela passar por elas!...
A mãe disse à filha:
- Olha filha, sempre serão as feiticeiras, mas, amanhã de manhã, vamos ver o que ardeu.
No dia seguinte, foram ver e não tinha ardido nada. Ficaram pois, a pensar que eram as feiticeiras.
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Dirigindo-se dois moços da aldeia a um baile, num lugar de uma freguesia próxima, passaram por uma fogueira que ardia, a meio da distância que tinham a percorrer. Como estava frio, dirigiram-se à fogueira e junto estava um rapaz que começou por lhes atirar com brasas. Estes disseram:
- Está quieto, rapaz.
Mas ele voltou a atirar-lhes. Disseram-lhe novamente:
- Está quieto rapaz diabo.
Ele, que estava sentado, deu um salto e desapareceu. Foi quando concluíram que o rapaz era o diabo.
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Uma rapariga estava num serão e disse para as outras:
- Quem me dera ser feiticeira, que adivinhava tudo.
Ao sair da porta, uma outra disse-lhe:
- Se queres aprender o que disseste ( ser feiticeira ), eu ensino-te, mas não dizes nada.
- Ai Jesus! Não quero. Deus me livre!
Ao chegar a casa, deu-lhe uma dor tão forte na cabeça que dela morreu imediatamente. ( A feiticeira matou-a ).
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Numa aldeia, havia muitas cabras que eram “ apastoradas “ pelos pastores. Aconteceu que, à noite, um pastor deu por falta de uma cabra e foi de noite procurá-la. Encontrou-a muito longe. Ela só queria andar para trás, e teve de a trazer às costas. Quando chegou a casa, a cabra “ urinou “ por ele abaixo, molhando-o todo. Ele chamou pela mulher para lhe levar uma candeia. Ao ver a luz da candeia, a cabra deu um “ estouro “ e desapareceu. Foi quando o pobre homem desabafou dizendo:
- Ora agora é que eu sei que andei com as feiticeiras às costas.
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Era uma vez uma feiticeira que apareceu num regato da fonte do Cando. Depois, passou lá uma mulher. A feiticeira chamou por ela.
- Que é? - disse a mulher.
E ninguém lhe falou.
A mulher fugiu. Dali a pouco, chamou outra vez por ela e não lhe respondeu. A seguir, também passou um homem e este disse que não tinha ouvido nada. A mulher foi ter com o homem e disse-lhe que tinham chamado por ela e ela não tinha falado; voltou a chamar e não lhe respondeu. O homem foi ver o que era; eram velas a arder na água.
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Panelos de barro eram colocados nos cruzamentos com feitiço, para os que lá passassem ou para determinada pessoa a quem alguém queria mal.
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Um homem de Arga de Baixo foi a Arga de Cima a um serão e, no caminho, encontrou um burro branco e disse-lhe assim:
- Estás aqui? Então levas-me.
E foi a cavalo até ao Santo do Alto, onde ficou de pé e não viu mais o burro - desapareceu.
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No franjorge, aparecia uma mulher com uma manta de libras e, nos dias de Sol, saía da sua toca e vinha pôr as libras ao Sol.
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Uma vez houve um baile. Um moço disse à mãe:
- Hoje, hei-de dançar toda a santa noite, ainda que seja com o diabo.
Ia pelo caminho fora e, à beira de uns sobreiros, apareceu-lhe uma moça muito bonita com os braços abertos para dançar com ele. Ele olhou para as pernas dela e eram de cabra, e começou a cantar assim:
Eu, quando saio de casa,
Faço o sinal da cruz
Para “ arrenegar “ o diabo
Com o Santo Nome de Jesus.
E aquilo deu um estouro e desapareceu.
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Era uma vez, um pobre que andava a pedir pelas freguesias. Um dia, fez-se noite, encostando-se contra uma parede a dormir. À meia-noite, chegaram as feiticeiras, lavaram-se e, por fim, viram o velho debaixo de uma pedra e viram-lhe uma corcunda nas costas. As feiticeiras começaram a dizer:
- Quinta e sexta.
O velho também dizia com elas.
- que havemos de fazer a este velhinho que tanto nos ajudou? - vamos tirar-lhe a corcunda.
Havia outra que também tinha uma corcunda. Um dia, encontrou esse pobre e perguntou-lhe:
- Como tiraste a corcunda?
O velho contou-lhe tudo. O outro foi pôr-se no referido local. Chegaram as feiticeiras, viram outro velhinho debaixo da pedra e repararam que tinha corcunda. Começaram a dizer:
- Quinta e sexta.
Ele dizia também sábado.
- Que havemos de fazer a este velhinho que tanto nos enganou? - Pensaram elas.
Puseram-lhe outra corcunda e ficou mais “ arrongado “.
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Era uma vez, um moço que disse aos pais que ia a um baile longe. Os pais não queriam que ele fosse, mas ele insistiu que iria dançar, ainda que fosse com o diabo. Pegou numa concertina e saiu a tocar. Numa chã, encontrou uma moça à lavradeira e começou a dançar, ao mesmo tempo que ela lhe cantava uma cantiga:
Ó “ carvalho “ que já foste
E agora já não és
Agora fazes virar
A cabeça para os pés.
O moço olhou para ela e cantou-lhe:
Eu, quando saio de casa
Faço o sinal da cruz
Para “ arrenegar “ o diabo,
Santo Nome de Jesus.
A moça deu um estouro e desapareceu. Era o diabo.
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Era no tempo do meu trisavô que havia muitas bruxas. O meu trisavô, tinha um barco e ia sempre a Viana do Castelo, transportar lenha. Ele era de S. Pedro de Arcos. Deixava todas as noites, o barco preso, no rio do Esteiro. De manhã, estava sempre mudado do local onde ele o deixava. Porém, um dia à noite, foi até à venda e disse aos homens que lá estavam:
- Vou até ao Esteiro, porque mudam sempre o meu barco do sítio onde eu o deixo. Vou ver quem é essa pessoa.
Chegou lá e meteu-se no barco, por baixo, no salva-vidas. Dali a nada, chegaram duas mulheres, mãe e filha, a mãe era comadre dele. Agarraram no barco e disseram que iam até ao Brasil. O barco corria tanto que até parecia um avião. O meu trisavô também lá ia. Elas diziam que iam matar dois rapazes que lá estavam. Chegaram, pararam o barco e lá foram. Ele só teve tempo de sair e chegar duas canas-de-açucar e escondeu-se no barco outra vez. Dali a nada, chegaram elas e diziam:
- O meu ficou pronto. E o meu também.
Agarraram o barco e voltaram para o Esteiro outra vez. O meu trisavô saíu e veio embora. Chegou à “ venda “, ainda ela estava aberta e disse:
- Vós ainda estais aqui? Pois eu já fui ao Brasil e já vim.
Eles não queriam acreditar.
- Estão aqui as provas em como eu fui ao Brasil.
E mostrou-lhes as canas-de-açucar, porque só lá é que as havia. Ao outro dia, passou pela comadre dele que era bruxa e disse:
- Se vós tornais a mudar o meu barco, eu é que vos “ afeito “ as contas.
Ela disse:
- Foi pena nós não sabermos que você ía lá dentro, senão não viria mais para S. Pedro, ia para o fundo do mar.
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Era uma vez, uma mulher que tinha um moinho no monte, ao pé de um rio grande. As feiticeiras estavam sempre lá. A dona do moinho metia água no moinho e, quando ia lá novamente buscar a farinha, a água estava fora. As pessoas puseram-se lá e viram as feiticeiras. No rego da água que ia para o moinho, deitou-lhe lá rescaldo e as feiticeiras foram-se embora e nunca mais vieram lá. Foi desde aí que as pessoas começaram a deitar disso nos moinhos para as feiticeiras abandonarem o local.
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Era uma vez, um homem que vinha de tocar de um baile. Ao passar num monte, encontrou muitas feiticeiras a rirem-se e uma delas foi ter com ele e deu-lhe de beber, mas ele respondeu:
- Ai que vinho tão bom! Donde o tiraste?
Respondeu ela:
- Foi de um sobreiro. Queres ver?
- Quero, mas o sobreiro não dá vinho!
- Não te preocupes. Mas agora vou-te avisar que, se contares a alguém, eu entro pelo buraco da fechadura e mato-te. Também não te esqueças que tens de dormir com o cinto de corrimão, para nós não te matarmos tão cedo.
Mais tarde, elas morreram todas. Foi quando ele pôde contar o que se tinha passado com ele às pessoas.
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As procissões de defuntos, em Arga de Baixo, saem do cemitério e passam pelo Portinho de Baixo, alto Tapado, Castelo, Sobral, Castanheira, regressando pelo mesmo caminho.
Em Arga de Cima, saem do cemitério, passam por trás das Fontes, Souteiro, Recunco, regressando.
Nas procissões de defuntos, vão todas as almas e levam um esquife com a última que morreu e o que vai morrer a seguir vai a saltar para o referido esquife. Nestas procissões, as almas servem-se de todos os parametros, bandeiras e cruzes existentes nas igrejas.
A procissão de defuntos saía da igreja de Orbacém, passava pela bouça de Lamas, Costa de Manga, Fonte Cando, Cruz Valdante, Carejos, Lages de Bouças, Loureiro, Calçada da Rua, Carvalhos, Figueira Moura e ia até à Capela de S. Gonçalo que, hoje, é a igreja de Dem. Nesta procissão vai apenas uma mulher gigante acompanhada de muitos anginhos com velas acessas.
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Nem toda a gente vê e, hoje, graças a Deus, esta crendice acabou, pelo menos para os mais novos. No entanto, quem via bem as ditas procissões ( dos defuntos ), eram aqueles que, ao serem baptizados, os padrinhos se esqueciam ou avançavam alguma palavra do Credo. O Credo era preciso dizê-lo muito bem.
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Tudo aquilo que o povo não compreende, atribui geralmente, ao “ mistério “, às forças estranhas do “ espírito “, ou melhor, são fenómenos de feitiçaria. A feitiçaria, assume ainda hoje, um papel primordial na vida destas gentes, que quando se vêem mais aflitos a ela recorrem encontrando respostas para as situações de mais difícil resolução.
Assim, relatamos algumas histórias de fenómenos estranhos que o povo conta, admira e teme (...).
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O NASCIMENTO
O nascimento é outro acontecimento da vida humana com o seu rito. Assim, quando nascia uma criança espetavam um prego no centro da sala e nada emprestavam aos amigos para que a criança não fosse muito dada.
Com a água do banho do bébe, molhavam-se os dedos da mão para os colocar junto à boca da criança acompanhado da seguinte ladaínha:
Um bocadinho de água para o meu menino beber, outro bocadinho para o meu menino crescer, outro bocadinho para o meu menino jogar, outro bocadinho para o meu menino falar, para chamar pelo pai, pela mãe, pelo padrinho, pela madrinha e por toda a gentinha.
Ao limpar o bébé com o cobertalho, acrescentavam:
“ O cobertalhinho da Virgem Maria, cubra o meu menino de noite e de dia. O cobertalhinho de Nossa Senhora, cubra o meu menino de noite e agora. Agora e sempre para que o Senhor nos livre de ruim gente “.
A água da bacia, que geralmente era de zinco ou de barro, também tinha um destino. Se fosse rapaz, ela era deitada ao caminho e se fosse rapariga, deitada na corte do gado; isto para que cada um fosse para o que nasceu: homem com experiência e de compromissos exteriores à casa e mulher com cuidados domésticos, caseirinha e submissa a todas as coisas da vida familiar.
FUNERAIS
Em tempos recuados, ninguém morria dentro de casa. Era um acidente que ninguém desejava que acontecesse ao melhor.
O moribundo era levado para o cabanel ou para o alpendre mais próximo onde morreria “ para que a alminha não ficasse a assustar os vivos, em casa “.
Os funerais são sempre um momento de grande pesar, como é natural, e enquanto choram o defunto, a mulher, os filhos, os parentes mais chegados, proclamam-lhe os feitos, ainda os mais comesinhos:
“ Ai o meu rico homem que casou comigo pelo S. João “; “ Ai o meu rico paizinho que me marcou umas arrecadas nas feiras novas, há 5 anos “; Ai o meu rico padrinho que comprou o campo da devesa grande “.
No final era servido um almoço a todos os participantes causando, por vezes, grandes embaraços financeiros à família. Hoje isso está substituído por moldes e tréguas à porta do cemitério a quem sai do mesmo na altura do enterro e cada família dá moeda maior ou menor conforme as posses.
Também quando morre uma criança são dados os parabéns aos pais porque é um anjinho que vai para o Senhor.
MATANÇA DO PORCO
De Novembro a Março não há dias em que não haja matanças. Este acontecimento é uma autêntica festa, é um momento forte de encontro da família com os amigos que aparecem para ajudar e para conviver. E não há casa que para o sustento do ano não mate um porco de várias arrobas, criado com a lavadura da casa...
O ritual é o comum a todos os lugares. Não há, por isso, nada de novo.
Apenas é de salientar que depois do bicho ou dos bichos mortos, começa a queima do pêlo feita com tojo seco, seguindo-se a lavagem da escova, caco de telha e faca, após o que se abre o porco para lhe tirar o fato, isto é, as tripas e o colado. À volta deste assunto existe algumas supertições e por este motivo, certas recomendações como por exemplo: Retirar as “ penas do coração “ ( as válvulas ) pois não se devem comer; acautelar o “ pássaro “ ( o baço ) para que as mulheres g´ravidas não ponham a mão, caso contrário a criança pode nascer manchada no corpo.Aproveita-se o sangue para os chouriços, para as chouriças de verde, para o arroz de sarrabulho e a festa continua sempre rodeada de grande galhofa entre uns e outros à porfia de quem mais pode ser engraçado até o dependurar do porco para arrefecer e secar até ao dia seguinte, em que é desmanchado e preparadas as carnes para a salgadeira, para os rojões, para os chouriços e outros espécies de enchidos.
A matança, a lavagem e a abertura do porco é um trabalho geralmente entregue aos homens enquanto as mulheres ajudam, mexem o sangue ou vão lavar as tripas ao rego da água para depois as encherem com deliciosos nacos de sangue bem apetitosas, para levar ao fumeiro.
D. FRANCISCO MARIA DA SILVA, POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA, ARCEBISPO DE BRAGA E PRIMAZ DAS ESPANHAS
Aos que esta Nossa Provissão virem, Saude, Paz e Benção em Jesus Cristo, Nosso Divino Salvador.
Considerando que pelo Decreto-lei 48.590 de 26 de Setembro de 1968 foi criada a freguesia de Dem, concelho de Caminha, Distrito de Viana do Castelo, com os seguintes limites: uma linha recta que une sucessivamente, os seguintes pontos: Moinho da Abelheira, situado nos limites da actual freguesia de Orbacém com os da freguesia de S. Lourenço da Montaria, esta do concelho de Viana do Castelo; Cruzeiro Novo, localizado a 250 metros a sul da Capela da Senhora das Neves; marco do Cabeço da Vela; marco do Serro e marco da Pedra Alçada, prolongando-se para além deste segundo ponto, numa extensão de 200 metros, até alcançar os limites da freguesia de S. Lourenço da Montaria; prossegue, então, em sentido sudoeste, pelos citados limites, até encontrar o Moinho da Abelheira, onde se iniciou a descrição;
considerando que a erecção da paróquia de Dem, correspondente à freguesia do mesmo nome, nos nos afigura útil às almas dessa freguesia, que tem cerca de 200 fogos;
Considerando que há toda a conveniência em que as circunstâncias eclesiásticas correspondam às civis;
Considerando que os fiéis da freguesia de Dem nos têm pedido insistentemente a erecção da paróquia do mesmo nome;
considerando que de harmonia com o nº 21 & 1 do Moto Próprio de paulo VI “ Ecclesiae Sanctae “ as paróquias, em que por qualquer circunstância só com dificuldade ou menos aptamente é exercida a actividade pastoral, podem ser divididas;
considerando que por antiga oposição entre a freguesia de Dem e a paróquia de Orbacém, o pároco desta não pode exercer aptamente a actividade pastoral na freguesia de Dem sem ser erecta a paróquia do mesmo nome;
considerando que os fiéis da freguesia de Dem já construiram a Igreja de S. Gonçalo que ficará como sede da mesma paróquia, e se prontificam, logo que lhes seja possível, a construir a residência paroquial e conseguir a côngrua paroquial atinente à sustentação do respectivo pároco;
Considerando que, atentas as disposições do direito em vigor, podemos erigir novas paróquias, ouvidos o Cabido Catedral e o Conselho Presbiteral;
Considerando que o Cabido Catedral, uma vez ouvido, concorda com a erecção da paróquia de Dem;
Considerando que o Conselho Presbiteral, ouvido em 3 de Agosto do corrente ano, foi de parecer que deve ser erecta a paróquia experimental de Dem:
HAVEMOS POR BEM erigir a paróquia experimental de Dem, com todos os direitos e obrigações inerentes às paróquias, com os limites da freguesia do mesmo nome, tendo como sede a igreja de S. Gonçalo.
Comunique-se esta Nossa Decisão ao M. Reverendo Arcipreste de Caminha e ao Reverendo Pároco de Orbacém e Gondar, do citado arciprestado.
Dado em Braga, sob o Nosso Sinal e o Selo das Nossas Armas, aos 13 de Outubro de 1970.
VISITA PASTORAL ÀS ARGAS
Encontram-se registadas nos livros do arquivo paroquial as seguintes visitas:
ARGA DE CIMA:
23-06-1939 - Visita do Senhor D. Luiz, bispo de Arena, tendo sido crismadas 31 pessoas.
02-06-1951 - Visita do Mons. Manuel Peixoto, Vigário Geral, sendo crismadas 20 pessoas.
23-05-1958 - Visita do Sr. D. Francisco Maria da Silva, actualmente Arcebispo Primaz de Braga; foram crismadas 13 pessoas: 4 do sexo feminino, 9 do sexo masculino.
ARGA DE BAIXO:
23-06-1939 - Visita do Senhor D. Luiz, Bispo de Arena, tendo sido crismadas 49 pessoas.
02-06-1951 - Visita de Mons. Manuel Peixoto, Vigário Geral; foram crismadas 30 pessoas: 12 do sexo masculino, 18 do sexo feminino.
23-05-1958 - Visita do Sr. D. Francisco Maria da Silva, que crismou 21 pessoas: 9 do sexo masculino, 12 do sexo feminino.
ARGA DE S. JOÃO:
23-06-1939 - Visita do Sr. D. Luiz, Bispo de Arena, crismando 23 pessoas.
02-06-1951 - Visita de Mons. Manuel Peixoto, Vigário Geral.
24-05-1958 - Visita de D. Francisco Maria da Silva, tendo sido crismadas 19 pessoas: 11 do sexo feminino e 8 do sexo masculino.
24-05-1966 - Visita de D. Manuel Ferreira Cabral.
AO SERÃO
Contado pela tia Angelina do Sabugueiro
A AZEITONA E A CEREJA
Diz a cereja:
Azeitona, como amiga,
O teu ser muito pesa
Já vejo que pouco brilhas
És feia de natureza.
Aqui está como eu brilho,
Vermelha e redondinha
Quanto deras azeitona
A tua cor ser a minha?!
Sem o tempero do sal
Nem o meu Deus te deseja!
Não preciso eu de tempero
Quanto mais vale a cereja?!
Tu, além da triste cor,
Não inculques no feitio;
No sabor és amargosa
Já não tens de que ter brio.
Que eu, logo ao romper da aurora
Longe me vem arraiar
Que me vem dar os bons dias
Aos saltinhos a cantar.
Sou a alegria das aves,
E dos jovens o encanto
Até os mais inocentes
Comigo gastam seu tanto!
A toda a hora do dia
Me festejam passarinhos
Cantando com alegria
Socorrendo nos raminhos.
Azeitona:
A tua mãe, ó cereja,
Só dura na Primavera
Depois é um colete seco,
Toda a folha vai à terra.
E tu mesma crias bicho
Pois é a tua formosura,
Não duras mais de três dias
Depois de que estás madura.
A minha mãe oliveira
Dura sempre florida,
Dura de Verão e d’Inverno
Até que no fim da vida.
Em meios civilizados
Tenho grande estimação,
Nunca perco o meu valor
Quer d’Inverno quer de Verão.
Eu dou luz ao moribundo
E estou pronta a servir
Quando a alma, do corpo
Se aproximar a sair.
Cereja:
Cereja:
Desculpa, minha amiguinha,
que eu já vejo que pequei
Que por minha inocência
foi que eu sem razão falei.
Azeitona:
Também tu minha louquinha
Vieste de alta “ vieira “
Falar sem considerar
É cair em grande asneira.
Cereja:
Cá entre nós há remédios
Escusamos de botica
Tu és a mesma que eras
E - eu a mesma que fico.
Azeitona:
Cá entre nós não há remédios
E também muita virtude
Amiguinhas como dantes
Só te desejo saúde.
HÁ CEM ANOS
Na Arga de S. João
De 1860 a 1870 houve 26 baptizados; de 1950 a 1960 houve 17; e de 1961 a 1965 apenas 7;
Esta freguesia é das três Argas aquela que mais tem diminuido em população.
Em cem anos a freguesia de Arga de Baixo, apenas conheceu 7 párocos, tendo sido o Revº. Padre José António Pires o que mais tempo a paroquiou, pois fê-lo durante 33 anos; de 1919 a 1952; seguiu-o em duração o Padre Francisco Domingues Afonso com 29 anos de 1883 a 1912; o Pe. Manuel Joaquim da Cunha com 14 anos de 1868 a 1882; o Padre Manuel Lopes de Miranda com 12 de 1953 a 1965; o Padre Avelino Joaquim Vaz com 7 de 1860 a 1867; o Padre Manuel dos Reis Esteves Bouça com 5 de 1914 a 1919; e o Padre João Luis Borge Júnior com 2 anos de 1913 a 1914; Pe. João da Silva Oliveira de 1968 a 1972 e Pe. Adelino Fernandes de Sousa de 1970 a 1972
EXPERIÊNCIAS DE PERCURSOS DE MONTANHA
( Vários percursos realizei que preencheram toda a Serra d’Arga entre Dem e Arga de Cima, entre S. Lourenço e Covas e Vilar de Mouros, mas só descrevi na devida altura estas que agora transcrevo ).
No dia 11 de Junho de 1976 fiz o seguinte percurso saindo de Dem pela Covinha da Boucinha, Chão do jogo, Igreja dos Mouros. Aqui, eu e o companheiro de viagem, fizemos uma paragem mais prolongada e como se tratava de um local com muita penedia detivémo-nos a observar os penedos e os esconderijos ou as fragas, uma vez que da igreja dos Mouros nada pudemos observar.
À direita da igreja dos Mouros fica o regueiro da Cesseira que nasce junto ao Picoto.
Depois dirigimo-nos para o Penedo Redondo de Baixo, onde na primeira visita encontramos os ideogramas. Junto a este penedo, no sentido sudeste, fica o Chão do Picoto.
Por cima do Penedo Redondo fica a Costa das Gralheiras e à esquerda desta encontra-se o chamado Penedo Rachado.
Seguimos a Costa do Feital em direcção aos Cortilhões.
Esta costa fica um pouco mais a sul do Penedo Redondo e à direita da Costa das Gralheiras. Até aqui não observamos nada que nos despertasse o interesse da história, a não ser algo que nos fez lembrar um dolmen ou Anta no Picoto, mas porque não passamos lá e só reparamos nisso do alto do Feital, resolvemos deixar o assunto para outra ocasião.
Nos Cortelhões encontramos umas vacas turinas a descansar sob uns penedos. Não haja dúvida que eram grandes penedos encastelados formando grandes abrigos. Logo a seguir passámos pela Costa da Pavuença, o Alto da Pavuença, Lages da Candeira, Fontes da Candeia e Fonte do Ouro. Muita penedia por estes sítios, boa água e em abundância mesmo no alto da Serra.
Observamos alguns penedos, mas nada de especial. Daí seguimos em direcção ao Posto de Vigia, um Posto dos Serviços Florestais que deu já o nome ao local.
Daí viemos à Chão das Lages ou das Lapas e contornamos pelo lado nascente a Chão do Salgueiro.
Estivemos no Coto e descemos à Portela e observamos no Su-Castro o Penedo das Ferraduras.
Deste passeio pela Serra obtivemos dados para a descrição toponímica da região e, à vista, nada mais nos sobressaiu com interesse histórico a não ser a questão das 4 ferraduras do penedo.
À margem dos nossos objectivos verificamos, em todo o lado, coisas curiosas provocadas pela erosão, a abundância das águas pela Candeira, o zumbido enorme das abelhas que pastavam na chão das Lapas e a abundância de licranços encontrados por baixo do Alto da Corôa antes de chegar à Casa do guarda Florestal, para não falar de paisagens maravilhosas que observamos de diversos pontos.
No dia 1 de Junho do mesmo ano saímos ao encontro da chão do Salgueiro.
Seguimos Covinha da Boucinha, chão do jogo, Fonte Miosa, Bouças das Lombas, Costa de Sarrapa, Coutado de Cristovão, Calçada da Azevinheira, Chão do Coucelo, Couto da Calçada e por um velho caminho entre a Costa da lega e a Fonte de Outeiro das mós, à esquerda e à direita respectivamente.
No Chão do Salgueiro detivémo-nos um pouco. Uma grande Chão talvez antigamente cultivada. Ainda se viram as ruínas dos muros feitos com anteiras ( esteiros toscos ao alto terminando em bicos ).
Observámos o que chamam o Penedo do Homem e o Penedo do Chapéu, encontrámos uma pedra que pelos efeitos da erosão parecia um pé e perna de uma estátua. Num penedo encontramos, do lado poente, uma roda gravada na rocha.
Regressamos pelo mesmo sítio até virarmos de direcção para os lados do Penedo Redondo para aí fotografarmos os ideogramas encontrados da outra vez, depois de com carvão os ençarranharmos para poderem ficar na fotografia e nos slides.
Descemos para a igreja dos Mouros e viemos pelo mesmo caminho ter a casa.
No dia 18 do mesmo mês e ano, guiados pela jovem Lúcia Lourenço, fomos de automóvel até ao Porto Raiz. Daí seguimos a pé por Paparrotes, Pocinho da Areia, Cotinho do Sardão, Cotinho das Moças, Peninhas, Lage das Peninhas, Coto do Compado das Rosas. Estivemos perto da Fonte dos Noivos.
O João Manuel encontrou ruínas de qualquer coisa, ele dizia que poderia ser uma anta, detivemo-nos a observar, mas nada apurámos.
Registámos o facto. Admirámos, além disso, a grande erosão verificada nas Peninhas. Regressamos debaixo de chuva e, depois de bem molhados, julgávamos ter perdido o João Manuel no denso nevoeiro. Era o que faltava! Logo nos encontrámos e de carro regressámos por Meijão de Gamões, Esganadinha, Fonte da Corga, Sacomardos, Pinheiros da Fonte da Corga, Lobadinhas, Prado Casarolas, Valverde, Campo da Pardinha, Sangarinheiro, costa da gata e fonte Esteves.
O “ VIVO “
( Todos os animais domésticos que dão ser à casa, são o “ vivo “, sejam bovinos, suinos, cabrinos ou aves de capoeira... )
A agro-pecuária, conforme se depreende, é a aposta da população. Cria-se o gado para fazer o estrume que aduba as terras, para dar o leite com o qual faziam, antigamente, o melhor queijo e a melhor manteiga da região, antes de serem proibidos, passando depois a dá-lo aos animais, a comê-lo e a deitá-lo fora até à sua venda quando começou, aí pelos anos 75, a ser recolhido nos Postos de leite, para desenvolver todo trabalho agrícola e também para a carne.
O gado refere-se, sobretudo, as vacas piscas ou galegas, numa ou outra barrosã...
No entanto, não ficava por aqui pois o cabrito e a ovelha são outra espécie de caprino vulgar, sobretudo as ovelhas que todas as casas têm e se juntam animais de 3 ou 8 casas em grandes rebanhos comunitários para o pasto, no monte. Os pastores, em número de dois em Arga de Baixo, acompanham, podendo ser mulheres, ao contrário de Arga de cima onde as mulheres, geralmente, não vão para o monte por causa do lobo.
Destes fazem dinheiro ou reservam para saborearem nas grandes festas da terra ou da família. Famosa era a Rosa do Meijão que conseguia cozinhar 7 pratos diferentes de cabrito com os segredos mais antigos da região. cada bom cabrito dava para 8 pessoas e na altura dos casamentos assim eram feitos os cálculos.
Mata-se e esfola-se as melhores peças do rebanho e quando não chega compra-se ao vizinho ou aceita-se como oferta. Sempre foi muito apreciado o cabrito cozinhado à moda da Serra d’Arga de que a referida Rosa do Meijão levava a palmo.
Enquanto se aproveitava e matavam destes animais em casa, o mesmo não acontecia a propósito do gado bovino.
Desse aproveitavam-se as crias para venda e não se matava em casa, negociava-se para renovação do “ vivo “ e para arranjar algumas “ crôas “ para obras em casa ou cobrir algum mal de saúde.
animal criado com zelo com os restos alimentares da família, com farinha, com milho e leite em algumas ocasiões era o porco que, algumas casas não ficavam por um, mas por dois e mais a matar por ano. desta morte havia carne para todo o ano na salgadeira e no fumeiro.
Relacionado ainda com os animais domésticos eram criados os coelhos e as aves de capoeira, a galinha, sobretudo.
Oa animais, sobretudo os de grande porte, como a vaca ou o cavalo, são levados para o monte ou soltam-nos para o pasto perto das povoações e, por esse motivo, muito exposto ao público o que arrasta consigo algumas supertições - a mais vulgar é a do “ mau olhado “ que só é vencido quando entre os chifres ou por trás das orelhas levam uma saquinha com “ relíquias “ ( alecrim, excrementos, alho, etc... ) ou faziam-se os defumadouros quando as vacas não davam leite por causa do “ mal de inveja “.
No entanto, sempre é melhor ir buscar a benção do Santo, em 31 de Dezembro, à Capela da Senhora da Serra, em Dem ou à de Sto. antão, em Arga de cima, ou também no dia 4 de Agosto, em Dem, nas vésperas da festa de Nª Srª. das Neves.
CRIAÇÃO DA FREGUESIA DE DEM
DECRETO-LEI Nº 48.590
Atendendo ao que representou a maioria absoluta dos chefes de família eleitores com residência habitual nos lugares de Dem e Pedras Frias, pertencentes às freguesias de Gôndar e Orbacém, o primeiro, e à de Orbacém, o segundo, do concelho de Caminha; no sentido de ser criada a freguesia de Dem, com sede na povoação do mesmo nome;
Considerando que na circunscrição a criar já existe igreja, escola, cemitério e estação dos correios, telégrafos e telefones;
Considerando que os mencionados lugares distam da sede das actuais freguesias entre 4 km e 5 km;
Considerando que tanto as freguesias de origem como a que se pretende criar ficarão a dispor de recursos suficientes para ocorrer aos seus encargos;
Considerando que se verificam todas as demais condições referidas no artigo 9.º do Código administrativo e se cumpriram as formalidades exigidas pela mesma disposição legal;
Usando da faculdade conferida pela 1º parte do nº. 2.º do artigo 109.º da Constituição, o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:
Artigo 1.º É criada no concelho de Caminha, distrito de Viana do Castelo, a freguesia de Dem, com sede na povoação do mesmo nome.
& único. A freguesia de Dem é classificada de 3.ª ordem.
Art. 2.º Os limites da nova freguesia são definidos por segmentos de recta que unem, sucessivamente, os seguintes pontos: Moinho da Abelheira, situado nos limites da actual freguesia de Orbacém com os da freguesia de S. Lourenço da Montaria, esta do concelho de Viana do Castelo; Cruzeiro Novo, localizado a 250m a sul da Capela da Senhora das Neves; Capela da Senhora das Neves; marco do Cabeço da Vela; marco do Serro e marco da Pedra Alçada, prolongando-se para além deste último ponto, numa extensão de 200m, até alcançar os limites da freguesia de S. Lourenço da Montaria; prossegue, então, em sentido sudoeste, pelos citados limites, até encontrar o Moinho da Abelheira, onde se iniciou a descrição.
Art. 3.º A eleição da Junta de Freguesia de Dem realizar-se-á no dia que for designado pelo presidente da Câmara Municipal de Caminha e serão eleitores os chefes de família da respectiva área inscritos nos recenseamentos eleitorais das freguesias de Gondar e Orbacém.
& 1.º A Junta eleita nos termos deste artigo servirá até final do quadriénio em curso.
& 2.º A competência atribuída pelo Código Administrativo ao presidente da Junta, no que se refere a eleição e votação, será exercida pelo presidente da Câmara Municipal de Caminha.
Art. 4.º Os limites comuns das freguesias de Gondar e Orbacém passam a ser definidos por uma linha que, partindo do penedo da Candosa, localizado nos limites da actual freguesia de Gondar com os da freguesia de Riba de Âncora, também do concelho de Caminha, avança para leste, em linha recta, em direcção ao rio Gondar, que alcança no ponto onde o mesmo intercepta um caminho situado a oeste da estrada municipal nº 526-1; prossegue, depois, pela linha de água daquele rio, até chegar no Moinho da Abelheira, nos limites comuns com a freguesia de S. Lourenço da Montaria, do concelho de Viana do Castelo.
Art. 5.º A Câmara Municipal de Caminha procederá, no prazo de 60 dias, a contar da publicação do presente Decreto-lei, à colocação de marcos, onde se tornem necessários, por forma a que fiquem bem patentes os limites fixados nos artigos 2.º e 4.º.
RECORDAR É VIVER
- Em 22 de Julho de 1971, a região de Covas, Argas e Candemil, realizou peregrinação a Santiago de Compostela.
- Em 25 de Outubro de 1971, começou a construção do Centro Paroquial de Covas.
- Eis a população das freguesias de Argas, Covas e Dem em Dezembro de 1970:
Arga de Baixo - 240 habitantes.
Arga de Cima - 166 habitantes.
Arga de S. João - 126 habitantes.
Covas - 1.308 habitantes.
Dem - 524 habitantes.
- Em Dezembro de 1971, foi inaugurada a Pontelha Nova - Gandra, em Arga de Cima.
- Em Fevereiro de 1972, foi oferecido um fogão a gás, destinado a aquecer os farnéis dos alunos da escola Primária.
- No dia 5-2-72, um vento ciclónico, com fortíssimas rajadas de 150 a 180 km/h invadiu as Argas e arredores, destroçando sobretudo parte dos pinhais.
- A partir de 1 de Agosto de 1971, o Pe. Adelino, começou a exercer actividades religiosas em Dem.
- Em 1972, a freguesia de Dem, foi alvo de progresso. Depois da construção do adro e igreja veio a instalação sonora para a mesma.
- Em 1972, foi perfurada e alinhada a estrada até Arga de S. João.
- Em Outubro de 1972, despediu-se de Covas e Argas o Pe. adelino, para ir cumprir a sua missão em Vila Nova de Cerveira e Breia.
- No dia 1 de Outubro de 1972, tivemos o prazer de receber nas Argas e Dem, o novo pároco para aqui nomeado, Pe. Artur Rodrigues Coutinho.
- Em Dezembro de 1972, toda a população de Arga de Baixo e Arga de Cima, soube que saiu uma verba destinada à electrificação destas freguesias. Arga de S. João já tinha luz eléctrica desde o dia 03-02-68.
CONTOS POPULARES E LENDAS
LENDA DA SENHORA DAS NEVES
Andava uma rapariga a guardar ovelhas e a chorar. Apareceu-lhe uma mulher, que era a Senhora das Neves, e perguntou-lhe o que tinha. A rapariga disse que a mãe lhe não tinha dado pão. A mulher tornou-lhe que fosse pedir pão à mãe, que esta tinha uma arca cheia de pão.
Enquanto a mulher lhe ficou a guardar as ovelhas, a rapariga foi e contou à mãe. Esta mandou-a à arca e, efectivamente, estava cheia de pão. A rapariga tirou para si e voltou para o monte; as ovelhas estavam lá mas a mulher não.
No terceiro dia tornou a apareceu à rapariga e disse-lhe que fosse ter com a mãe para esta mandar fazer uma casa de oração, que o dinheiro aparecia.
É esta a origem da actual igreja da Senhora das Neves ( Foi um velho que me contou isto em 1890, mas não me soube dar mais explicações )
LENDA DE S. JOÃO D’ARGA
O Carvalho de Sto. estevão é o local junto das Pontelhinhas onde apareceu, segundo a lenda, o S. João. Ainda há lá hoje restos de cerâmica de telha que levavam para lá de promessa.
LENDA DE STO. ANTÃO
Santo Antão, abade? será um santo popular canonizado pelo povo, guardador ou ele próprio um leproso. Ouve-se dizer de que este local, onde se situa esta capela, era uma leprosaria. A escultura do Santo Antão é de origem popular e muito feia.
O povo chama-lhe Santo Antão, todos os anos, no último dia de Dezembro, os habitantes desta localidade de Arga de Cima festejam o milagreiro santinho ( festa de S. Silvestre ).
No último dia do ano, os gados da Serra de Arga são levados ao santinho do chocalho ou antão, que os livre de todos os males. É uma velha imagem de pedra figurando um eremita vestido de hábito e cujo pulso prende um chocalho, como o das vacas das lezírias ribatejanas. este santinho é também o guarda dos transeuntes da montanha e, ai daquele que se ri do seu grande chocalho, pois perde-se infalivelmente nos atalhos, por melhor conhecedor que seja da Sera; às duas por três vem um nevoeiro e tem de passar horas e horas, ou andar errante no meio dos pedrogais ou dos matos das Chãs.
Por isso, outros dizem: “ Não te rias do santinho, que o teu mal vem pelo caminho “.
LENDA DA SERRA D’ARGA
Foi numa manhã de Primavera quando, Egica e Eulália, filha de Ervígio, rei visigodo em Espanha fugiram num cavalo para longe de Ervígio e Ramismundo, guerreiro temido, com o qual Ervígio queria casar sua filha. encontraram os fugitivos no Monte Medullio, nome dado pelos romanos à Serra d’Arga, no Mosteiro Máximo onde chegaram já com os últimos raios de Sol a desaparecerem no horizonte, sendo recebidos por um velho amigo do pai de Egica, que após uma breve meditação, os casou secretamente. No dia seguinte, enviou-os à presença da dama que vivia num castelo próximo, prometendo enviar um mensageiro a Ervígio com a novidade, e ainda, enviar-lhe a resposta do rei. Porém, antes de partirem, baptizaram a Serra, que então acharam maravilhosa com o nome de Serra D’Arga porque Eulália achava-a parecida com uma enorme agra, isto é, um grande campo fértil e cultivado.
Passados alguns tempos, o monge foi ao castelo dar ao casal a resposta de ervígio, o qual lhes perdoaria e os receberia se, dentro de um ano, lhe dessem um filho varão nomeando também Egica, seu sucessor.
LENDA DO PENEDO DO CASAMENTO
No atalho de Sto. Aginha para o mosteiro de S. João de Arga, situa-se um penedo muito grande e, segundo a crença desta região, as raparigas solteiras deslocavam-se a este local, desejosas de casar. Voltavam-se de costas para o penedo, atiravam uma pedra e se esta ficasse no topo do penedo é porque ela se ía casar brevemente.
“ Nossa Senhora da Rocha
No lugar de Castanheira
É a nossa advogada
Da mocidade solteira “
LENDA DA MOURA
Um dia, andando uma pastorinha a guardar as suas ovelhas, deparou com uma “ Moura “ a assolhar numa manta de ouro no sítio do Alto da Côroa.
esta, ao ver a pastorinha, disse-lhe para se aproximar dela e perguntou-lhe:
- Ó minha menina, tu que te agrada mais, o meu cabelo ou a minha manta de ouro?
Respondeu a pastorinha:
-Agrada-me mais essa manta de ouro.
Disse então a “ Moura “:
- foge minha menina, que me dobraste a fada. Se tivesses dito que gostavas do meu cabelo dava-te este ouro todo, e assim cortaste-me a fada.
A menina fugiu e o local onde isto se deu chama-se Casinha da Moura
BISPO DE PORTELA
Nada se diz sobre o, como e porquê, de o Bispo lá ser enterrado.
Apenas se verifica que o terreno tem o aspecto de uma sepultura e sempre se ouviu dizer que ali tinha sido enterrado um Bispo no tempo dos Mouros.
LENDA DE S. JOÃO
Diziam que S. João eram um local de passagem para Santiago de compostela e, ao mesmo tempo, ponto de paragem e descanso daqueles que por lá passavam, como por exemplo carreteiros.
Verificava-se, então, que quando os carreteiros passavam em frente à porta lateral da Capela ( lado direito ), os animais estacavam e não passavam dali para a frente.
então mandaram fechar a pedra da referida porta, para que aquilo não se verificasse mais.
A partir daí a porta só foi aberta novamente à cerca de 10 anos.
CAMINHOS ANTIGOS
Passear pela Serra não há como fazê-lo calcorreando os caminhos antigos por onde não passou ainda a bicicleta, o automóvel ou o jipe e, até o tractor... Como é belo entrar pela Serra dentro e envolver-se no seu silêncio, na sua pureza, na virgem natureza onde parece nem sequer ter andado a mão do homem e descobrir o seu coração a pulsar a nossa mente na elevação ao Criador.
Passear a pé pela Serra é entrar dentro de si, de criar um amor que jamais esquece.
Eis alguns trajectos para aqueles que arriscam um “ tour “ de montanha pelo “ Monte Medúlio “ de Paulo Osório...
Estes trajectos correspondem a atalhos antigos.
DE ARGA DE S. JOÃO A DEM E VICE-VERSA
Ponte da Cruz, Cortinha dos Vales, Quelha d’entre os Padres, Coto de Pousada, Rua d’Alva, Bajunca, Coelheiras, Pocinhas, Vale Sobrosa, Chão da Coutada, Fonte das Laceiras, Costa de Serrape.
DE ARGA DE S. JOÃO A CASTANHEIRA E ARGA DE BAIXO E VICE-VERSA
Calçada do Viso do Outeiro, Costeirielha, Entre-Cachadas, Espinheira, Alto do Milhadouro, Canhoto, Bouça dos Cachões, Alto da Ladeira, Ladeira, Ponte de Ladeira, Fonte de Ladeira, Ponte da Cobrada, Castanheiras, Caminho Novo, Penedo dos Pombos e Castanheira, Costa da Lourinha, Penedo das Cartas ( mesa ), Carvalhos da Lourinha e Quelha da Lourinha.
DE ARGA DE BAIXO A PONTE DE LIMA E VICE-VERSA
Giesteira, Marco, Gandra, Sto. do Alto, Alminhas, Salgueiro, Portela da Velha, Cubão ( Estorãos ), Mourinho, Presa do Meio, Ribô, Lourinhal, Rapadouro, Moreira, Samora, Pontelha, Cruzeiro do Outeiro, Margarida, Cubelo, Cruzeiro d’Outeiro, Passal, Fonte do Casal, Casas Velhas, Manga, Sá, Carapeças, Pancada, Geada Luz, Arcozelo, Marinho, Rua dos Ferreiros e Fonte Velha.
DO ALTO DA CÔROA A ARGA DE S. JOÃO E VICE-VERSA
chão de Poetela, Cova da Portela, Trás da Cova, Calçada do Bombom, Regueiro do Bombom, Casinha da Velha, Cova do Sedoiros, Penedos Redondos, Fonteirinhas ( nascente ) de Baixo, Piocas, Fonte Pandão, Lage das Eiras, Alto das Costinhas, Mâmoa, Costa, Alminhas de Cruz.
DE ARGA DE S. JOÃO A S. JOÃO D’ARGA E VICE-VERSA
Carreiro das Cabras, Quelha de Valdescuro, Sobreiro Minhoto, Gatanhal, Chão de Furado, Carvalhinho, Cova do Ramo, Sus-olheiros, Fonte, Onde morreu a mulher, Regueiro do Vale da Abeleira, Regueiro do Junquedo, Pontelhinhas ( Passadeiras ) S. João.
DE ARGA DE S. JOÃO A CAMINHA E VICE-VERSA
Olheiro, Bugio, Regueiro dos Coutados, Arranhadouros, Sobreiro Cinque, Fonte do Vale d’Azedos, Meziado, Pinhal de Argela, Quinta do Atalho, Cruz da Argela, Austrálias, Carvalheira, Varão, Quinta do Soreto, S. Roque, Corgo, Corredoura.
DE ARGA DE S. JOÃO A VILAR DE MOUROS E VICE-VERSA
Arranhadouros, Fojo, Vale de Castanheiros, Ponsos de Maria d’Ana, Alto do Campo da Trave, Penedo dos 4 Abades, Alto do Grito, Paredes Velhas, Casa do Clube, Azenha Velha.
AS DESFOLHADAS DA MINHA TERRA
Outrora as desfolhadas, nesta terra de Dem, tinham o sabor brilhante de uma tradição que nem sequer se sonhava em acabar-se com esse alegre convívio. E a verdade é que as desfolhadas tinham dois motivos, pelo menos que bem mereciam a sua existência. Em primeiro lugar o milho era a base fundamental da alimentação de toda a população desta terra e, por esse motivo, todos os agricultores trabalhavam com gosto e devoção no grangeiro das turas para delas arrancar o sustento da família. E então, como as desfolhadas constituíam o resultado desse trabalho, duro mas rendoso, tinham em grande consideração essa operação agrícola que iria encher de pão os espigueiros que quase todos os lavradores possuiam junto das eiras.
Em segundo lugar, como na época das colheitas há grandes alegrias, aproveitavam o trabalho das desfolhadas para terem o prazer do convívio com parentes, vizinhos e amigos que os iam ajudar nesse trabalho.
E então as desfolhadas transformavam-se em festas familiares. Predominavam a juventude, que muito se regalava com os pagodes que eram lei estabelecida, para quem encontrasse a espiga rajada ( mistura de milho vermelho com milho de outras cores ) ou a espiga vermelha tinha direito a um beijo de cada uma das moças ali presentes...
Para o fim das desfolhadas havia abundante ceia, bem regada com o saboroso verdasco, que sempre decorria no meio de grande entusiasmo.
Hoje, a vida do lavrador é muito diferente. Também o milho já não constitui grande motivo, pelo que, as desfolhadas perderam, infelizmente, o brilho tão retumbrante e também tão adequado à vida do lavrador.
Redacção de um aluno (1974)
Américo Martins da Cunha
AS DANÇAS
Jovem, que ainda sou, já tenho grande gosto pelas danças da minha terra que, no meu entender, são das mais lindas.
Desde os meus dez anos comecei a frequentar os bailes desta terra e só tinha pena de ser tão nova e não me ser permitido dançar em público, convencida, como estava, de que havia de dar um jeitinho no rodopio de algumas danças. Depois, ao doze anos, matriculada na Escola Sidónio Paes de Caminha, mais apaixonada estava pelas danças da minha terra, a ponto de conseguir dançar na ocasião da visita que o Sr. Ministro da Educação fez a esta escola; e parece-me que não fiz má figura, pelo que fiquei muito contente. Dancei em algumas danças de roda, escolhidas pela nossa Professora, mas o que mais me entusiasmou foi depois a dança do vira de Dem, que dancei a seguir. É que este vira está na massa de sangue de todas as moças desta terra, que o praticam desde crianças e que tão admirado é por toda a gente que o presencia.
A minha estreia neste vira produziu em mim tanto contentamento que nunca me esquecerá esse dia. Por isso agora toda a minha vontade é continuar e também aprender as muitas e tão belas danças desta terra.
Redacção de uma aluna (1974)
Isaura Gonçalves Afonso
S. JOÃO D’ARGA
No meio de árvores seculares e no fundo de uma garganta da Costa do Guindeiro, junto ao rio de S. João, ergue-se uma capela que foi, em tempos passados, matriz de Covas e de Argas. Isto ainda está fresco, tradição do povo, ainda se diz que o cemitério de Covas era em S. João d’Arga.
A capela encontra-se muito adulterada, é de cunho simples e pequena, integrando-se como tantas outras Capelas tão frequentes no mundo rural, no estilo dos pequenos templos medievais. Sofreu várias alterações e aumentos que fizeram dela uma capela sem personalidade ou quase sem estilo.
A edificação é nitidamente românica, conforme verificamos pelas duas portas laterais, pelo arco da entrada na capela-mor, a cachorrada na cornija; ainda vemos uma cabeça de boi e um rosto humano.
Não sabemos que significado terá a data inscrita no arco triunfal 661 ( ano de Cristo de 623 ).
A capela sofreu alterações, através dos séculos. Foi-lhe tapada a porta lateral do lado sul e, segundo uma versão que ouvi, era para evitar que as pessoas passassem sobre a sepultura de um monge que dava mau agouro e que se encontrava junto da porta, pelo lado de fora.
Outro testemunho da tradição relatou-me que, junto à capela, passava um caminho para o qual dava saída a referida porta e que fora mudado, em virtude dos animais que, ao calcar essa sepultura, ficavam endiabrados, aos saltos, sem que ninguém os pudesse conter, ou partiam as pernas.
Depois, foi acrescentado à capela, do lado sul, uma dependência para recolha de sal, outras ofertas ou ex-votos.
A fachada da capela é do século XVIII.
Os “ artistas barrocos “ introduziram altares de pedra, aliás, matéria-prima que não falta na região, imitando a talha dourada com imagens igualmente em pedra e pintadas. Este tipo de construção é muito vulgar nos templos da Serra d’Arga: Por exemplo, em Dem, temos a capela da Senhora da Serra e a de Santa Luzia.
Na década de 60 do nosso século, o padre João da Silva Oliveira levou avante algumas obras de restauro, tentando alcançar o primitivismo da obra; por isso, abriu zelosamente a porta do lado sul que tinha sido fechada e descobriu as paredes até onde pôde.
Com todas estas alterações é possível que se tivesse destruído, por ignorância, a austera simplicidade de um pórtico de entrada, se imaginarmos um templo românico perfeito ou acabado, embora pobre, como deviam ser todos os templos nesta região.
No exterior, em redor da capela, existe um pequeno muro com 0,5m ou 1m de altura feito com pedras fincadas, trazidas da Torre de Vigia em 1977 que marcam o percurso daqueles que fazem promessas. Até essa data era um arame zincado que fazia a divisória.
À volta do adro, existem os quartéis do lado poente, norte e sul, com grandes varandas medievais, onde se albergam os romeiros, as bandas de música, os mordomos, o padre, que vão à festa nos dias 28 e 29 de Agosto.
São dois edifícios corridos em forma de “ L “ à volta da capela ao som do adro da mesma, em granito, de dois pisos maciços. No piso superior, cujo acesso é feito através de várias escadas exteriores, há uma varanda virada para a capela que corre de uma ponta à outra, e onde são as entradas para os quartos que têm uma janela muito pequena e um monte de palha a um canto para servir de colchão para quem não gosta do chão. No piso térreo instalam-se os vendedores, aquando das romarias. Estes quartéis são de construção posterior à capela, embora não sejam todos contemporâneos uns aos outros..
É no dia 28 e na noite de 28 para 29 de Agosto que lá vão os devotos de S. João Baptista. De entre o Rio Neiva e o Rio Minho, parece não escapar ninguém de fazer uma promessa ao Santinho, com a obrigação de lá ir cumpri-la; ou são os “ cravos “, quistos, coisas estranhas ou tumores, por isto ou por aquilo lá chegam para cumprir devotamente a promessa e divertirem-se toda a noite à volta das filarmónicas, das concertinas, dos cantadores ao desafio, das músicas gravadas, etc, dentro do próprio adro.
Dizem os mais velhos que, antigamente, a iluminação era à base de velas, azeite e archotes e que os romeiros, ao chegarem ao adro, atiravam foguetes e caíam lá bailadores e tocadores de concertina sem conta.
É ainda hoje o mesmo esquema, só mudaram as iluminações; os tocadores e os cantadores ao desafio diminuiram ou desapareceram.
Ainda eu lá ouvi as castanholas. Vêem-se pessoas exaustas de andar de joelhos, em redor da capela, depois de atravessarem as “ sete serras “, como dizem os que vão do lado de Viana.
São milhares e milhares de devotos que ali vão, naqueles dias.
Os mordomos e a Comissão Fabriqueira de Arga de S. João governam piedosamente os rendimentos.
O santuário é de todos e isto se nota nas procissões; os que servem ao pálio ou às lanternas, muitas vezes, se desconhecem uns aos outros, nem sabem de que terra são. É muito difícil ao pároco e aos mordomos controlar essa situação.
Não há programa. Não há cartazes, não há notícias nos jornais. O S. João d’Arga celebra-se no dia da degolação de S. João Baptista.
Toda a gente sabe e lá aparece de Fragoso a La Guardia e Ganfei e de Âncora a Paredes de Coura.
Antes da abertura da estrada florestal, há cerca de 30 anos, toda a gente de pé ou quem estava no cruzeiro junto à capela, via surgir de todos os carreiros da Serra, multidões que pareciam formigas. Grupos formados por mulheres com cestos à cabeça, músicos com bombos, ferrinhos e concertinas, homens com garrafões de vinho pendurados na ponta do pau, espalham alegria por toda a Serra. Muitos desses romeiros quando chegavam a um ponto onde já viam a capela, punham-se de joelhos e assim fazim o resto do percurso. Alguns destes grupos prometiam ir em silêncio e para isso levavam um cravo ou um raminho de oliveira trilhado entre os dentes, outros iam a cantar ( daí dizer-se que a romaria era feita no caminho )
No caminho passavma pelo penedo do casamento, conhecido pelo penedo do Gatanhal e aí as raparigas solteiras aproveitavam para atirar a pedra ( há, naturalmente, uma associação da pedra ao S. João “ casamenteiro “ ):
“ No altar de S. João
Nascem umas rosas amarelas
S. João subiu ao céu
A pedir pelas donzelas “
“ Ó meu senhor S. João
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que bem sabeis “
“ Hei-de deixar ao relento
Uma folha de figueira
Se S. João a orvalhar
Hei-de encontrar quem me queira “
Devido a terem de caminhar por carreiros, as mulheres não levavam vestidos os fatos de festa, embora levassem fatos que não eram de uso diário, os outros iam nos sacos e eram vestidos mal chegassem lá aos quartéis. As chinelas também iam guardadas, sendo o percurso feito de socos. As primeiras só eram calçadas à entrada do adro. Algum ouro ao percoço, brincos nas orelhas e sobre a testa a sair do lenço estavam os caracóis feitos com um garfo. Aquelas que não queriam mudar de roupa, continuavam com as suas vestes escuras, as blusas de chita e um “ falso “ lenço ou cachené de lã.
Os homens, levavam os fatos de domingo ou do casamento, um varapau ao ombro onde prendiam as botas e o garrafão, calças arregaçadas e tamancos para o caminho. Ao chegarem os romeiros ao adro, tocavam as bandas de música, subiam os foguetes e o grupo “ rancho “ com a banda à frente, dava a volta à capela. No fim agradeciam aos músicos oferecendo-lhes uma malga de vinho numa das taças recém-montadas. Imediatamente, entravam na capela para cumprimentar o Santo. Em seguida, iam arrumar as cestas e as mantas a um quartel ( quem os tinha ) ou procurar um lugar no adro ou fora, de preferência à sombra, para almoçar e descansar.
“ Eu hei-de ir à Romaria
Ao senhor S. João d’Arga
A Romaria é boa
O caminho é que amarga “
“ Ó meu senhor S. João
Dai-me a mão pela janela
Que eu venho cansadinha
De subir a Vossa Serra “
Da parte da tarde, celebrava-se a Missa e o Sermão, seguidos da procissão lá para as 5H. Alé do Andor de S. João, ía também o Andor de S. Sebastião ou o de S. Aginho, um ano cada um ( estes santos são venerados em S. João d’Arga ). Os andores eram simples e pequenos, um quadrado de madeira adornado com flores tendo ao meio um pedestal, onde se colocava a imagem do Santo. Os andores eram levados ao ombro por pessoas de fora da freguesia que pediam para os levar. A banda acompanhava a procissão atrás dos fiéis, saía da capela, passava o portão do adro e ía ao cruzeiro do lado sul a 300 ou 400m, regressava, dava a volta à capela e entrava.
No fim da procissão continuava o cumprimento de promessas: voltas de joelhos à capela, oferta de peças de cera, sal, telhas... O sal e as telhas seriam depois vendidas em leilão na igreja da freguesia e eram produtos que rendiam bastante, porque eram necessárias aos habitantes das Argas e que dificilmente podiam adquirir por falta de transportes. Ainda hoje existem algumas dependências de casas muito raras, cobertas de colmo.
Recolhida a procissão, enquanto dentro da Capela se ouviam missas e sermões celebrados para cumprir promessas, cá fora voltavam-se a ouvir as concertinas e os cantares. Dança-se por todos os lados, apesar do chão da Serra não ser muito próprio para tal arte. Ouvem-se castanholas e cavaquinhos. Os vendedores não têm “ mãos a medir “, são as roscas, o pão com feitios, o vinho, está quase tudo a acabar. Cantam ao desafio, que começava sempre bem, mas, no fim geralmente, dava mau resultado, ficando alguém de “ nariz torcido “. Outros, menos dançarinos, entretêm-se a jogar: o jogo do pau ( “fitó” ), o jogo do galo ( jogada com 6 pedras ao qual chamam, “ capado “ ).
À meia-noite suspende-se o arraial para toda a gente assistir ao fogo de artifício, número do arraial muito apreciado, especialmente pelas pessoas da Serra, que dificilmente se podiam deslocar a outras localidades. Após da sessão de fogo, o arraial prolonga-se até de madrugada. Antigamente a iluminação era feita com azeite, depois passou-se a usar os motores eléctricos, que eram transportados para lá, em carros de bois. Muitos romeiros dançavam toda a noite. A ida a S. João, era mais para dançar do que para rezar ou comer merendas. O arraial acabava com o “ lavar da cara “ às primeiras luzes do dia 29, no riacho que ali corre. Entretanto, outros grupos de romeiros vinham chegando, agora exclusivamente para cumprirem promessas e assistirem à missa que se celebrava de madrugada, a fim de que os grupos de romeiros que quisessem seguir para a romaria de Santa Bárbara, em S. Lourenço da Montaria, pudessem partir. O percurso da procissão era encurtado: saía do adro, dava a volta ao cruzeiro e reentrava na Capela. chegava a hora dos grupos retomarem a sua organização da véspera: pão à volta da capela, concertinas e bombos à frente, novamente as mulheres com as cestas à cabeça, soltam, em despedida, quadras de saudade a S. João d’Arga, tido sempre como casamenteiro.
“ Adeus, que me vou embora
Daqui me vou retirar
Adeus cravos, adeus rosas
Aqui vos deixo ficar “
“ Adeus, meu amor, adeus
Este adeus me custa a vida
Custa-me mais que a morte
Esta nossa despedida “
“ Ó meu senhor S. João d’Arga
Ó meu santo adornado
Venho aqui de tão longe
P’ra arranjar namorado “
“ Ó meu senhor S. João d’Arga
Eu bem alto vos digo
Não tenho cá outro ano
Sem trazer amor comigo “
“ Adeus amor da minha alma
Adeus fraldas do Marão
Adeus belas orvalhadas
Da noite de S. João “
Inicia-se a viagem de regresso, ainda bastante divertida, tinha acabado em S. João d’Arga, mas para muitos grupos, continuava em Sta Bárbara, os quais atravessando a Serra D’Arga no sentido Norte/Sul e já estavam noutra festa. Todos os grupos saíam ao mesmo tempo de S. João, embora os rumos fossem diferentes. Andavam ainda juntos 2km e então, no chão das Eiras, onde se preparavam para se despedirem, faziam mais uma “ farra “, cuja finalidade era dançar mais um pouco, dando possibilidade aos namorados que se tinham formado na festa de S. João, de se despedirem e trocarem juras de Amor, antes de seguirem rumos diferentes.
“ Hei-de cortar o jacinto
Hei-de pô-lo a secar
O Amor que aqui me trouxe
Aqui me há-de vir buscar “
“ Prendi o Sol à Lua
As campaínhas ao sino
O meu coração ao teu
Com correntes de ouro fino “
Actualmente, a Romaria é muito concorrida pois, a abertura da estrada florestal, permite que se chegue à capela de automóvel e é uma época em que os emigrantes estão todos a passar férias. Assim, a tradição de passar a noite ao relento vai acabando, pois só alguns jovens por curiosidade o fazem, e no final das festas já só os Romeiros das Argas é que se deslocam a pé, com as merendas nos cestos e os garrafões. O conteúdo da romaria continua a ser o mesmo e como os devotos continuam a aumentar, a comissão fabriqueira foi obrigada a criar no rés-do-chão de um quartel, um local para as esmolas. Os andores são diferentes: armações muito altas cobertas de cetim fulgurante de flores de papel metalizado e fios prateados que mal deixam ver as imagens dos Santos.
A merenda hoje também é mais variada para alguns, porque são oriundos de outras localidades, outros não fogem à tradição.
No dia 29, o final da festa é feita só pelos serranos que vão dormir às suas casas, a missa celebra-se às 11H. pois, já não há necessidade de a celebrar de madrugada a fim dos romeiros partirem a pé para longe. Realiza-se a seguir a procissão ao cruzeiro em frente à capela. A gente está muito cansada e é menos. Recolhem às suas casas. Os Mordomos fecham as portas da capela e dos quartéis, levam as imagens para a igreja de “ Santoginha “, com medo dos assaltos, bem como, as ofertas dos devotos, a fim de serem leiloados na igreja da freguesia que fica a 3km de distância.
Celebrava-se, no século XVIII uma festa, no dia 6 de Maio, onde iam por voto antigo, com clamor, 14 freguesias, tendo acabado por 1840.
Vinham diversas freguesias que pertenciam à Irmandade dos Clamores, com as suas cruzes de prata “ areadas “ e as suas bandeiras levando o Santo em procissão a dar a volta ao cruzeiro que se encontra uns metros afastado da Igreja, tendo que descer para lá chegar, uma encosta pedregosa.
As pessoas iam pedir o fim da seca, das epidemias e outros males que as afligiam. Findas as preces, as pessoas sempre a pé, regressavam às suas terras. Hoje, já não se realiza o Clamor, mas os habitantes mais velhos recordam com saudade esta procissão. Embora tenha acabado em meados do século XIX, a Irmandade de Sto. Isidoro continua por muito mais tempo a levar o Clamor no dia 6 de Maio, mas sem a participação dos habitantes de Arga de S. João, que nesse dia passaram a fazer dele um dia normal de trabalho.
Mantém-se todos os anos a festa de 24 de Junho, o “ S. João das cerejas “, dia do nascimento de S. João. No entanto, esta é muito simples e limite-se a um reduzido número de peregrinos; praticamente se reduz ao devotos das Argas e povoações vizinhas. É a festa para as aldeias da Serra, praticamente.
Nas vésperas, os mordomos que são de Sto. Aginha ( que é o lugar mais conhecido e mais perto da freguesia de S. João D’Arga ), vão prepará-la. No dia 24 da parte de manhã, antes da missa, começam a afluir os devotos dos lugares circunvizinhos ( todos eles vêm a pé ). As mulheres vêm com os cestos das merendas à cabeça cobertos com vistosas toalhas feitas por elas próprias, trajando os seus fatos domingueiros e de festa, adornados com o seu ouro já muito antigo. As jovens já não aceitam bem esta tradição, algumas vestem uma peça do traje mas o resto, é já de acordo com a moda da vila. Os homens, já não vestem como antigamente, embora haja alguns, dos mais idosos, que amavam a romaria, que trazem entre a fita e o chapéu vulgar, uma pena de pavão ( característica do passado ).
Ao fim da manhã, celebra-se a missa cantada, não havendo procissão, os romeiros que vão cumprir promessas saldam as suas dívidas com o Santo, uns dão dinheiro, figuras de cera, sal, telhas, etc, “ dívidas “ estas, entregues ao mordomo da capela, outros de joelho dão as voltas prometidas à capela ( circuíto demarcado por um muro de pedras fincadas no chão ). Cumprida a promessa e a parte religiosa, os romeiros sentam-se ao lado da capela, uns à sombra de dois sobreiros milenários do lado Sul da capela, outros ocupam os coretos de pedra, outros estendem-se por o terreno que envolve o local, merendando e divertindo-se. A festa é familiar pois, todos se conhecem. As mulheres estendem as suas lindíssimas toalhas de linho branco bordadas a cores com rendas de croché a rematar, dispoem a merenda sobre a toalha: galinha cozinha ou assada, borôa, chouriço ( do fumeiro da casa, feito em Novembro aquando da matança ) mas, não o melhor, o “ Pedro “ feito com carne de lombo, que fica para o dia 28 de Agosto, a grande festa, ou é oferecido para o leilão do Santo, afim de arranjar dinheiro para a festa. No final, servem-se rabanadas.
A borôa é do milho que lá se cultiva com muito sacrifício, em pedaços de terra fértil entre fragas e preparada sob a invocação de S. João quando acabam de a amassar: “ S. Mamede te alevede, S. Vicente te acrescente, S. João te faça pão “.
Ainda é vulgar aparecer o “ pão do lar “. Este é feito com a massa da borôa, com chouriço ou sardinha dentro, embrulhada em folhas de couve. Metiam-se entre duas lanchas de xisto, colocavam-se na lareira com borralha por cima e lenha leve, ou também se podiam cozer à entrada do forno com a porta aberta.
O farnel é “ regado “ com vinho verde. Há dois ou três vendedores nos baixos dos quartéis mas, a grande maioria só aparece a 28 de Agosto, altura em que os fregueses são muitos e a festa se prolonga por dois dias. Comido o farnel, há sempre dois tocadores naturais das Argas ( concertina e acordeão ) que se sentam nos degraus que levam aos quartéis e começam a tocar. As raparigas, aproximam-se e acompanham com as suas quadras populares, os tocadores e logo, surgem os pares de jovens ( e não só ) a dançar as modas típicas ( o vira, a gota e outras ). O sol ainda vai alto mas, a festa tem que acabar, é Junho, “ época do sacho “, há as vacas para mugir e o gado para tratar. Os romeiros têm de regressar a pé e percorrer os caminhos da Serra, uns vão “ p’ra riba “ para as Argas de Baixo e de Cima e para os diversos lugarejos, outros descem a Sto. Aginha, Felgueiras, etc, e os de Dem, têm um bom par de kms. a percorrer. Concertinas às costas, cestos da merenda à cabeça, garrafão de vinho ( agora mais leve ) ao ombro.
Diz-se que a referida capela foi igreja do convento Beneditino existente da Serra d’Arga. Existe na tradição daquele povo essa memória e são vários os historiadores que se referem a este facto, como: João Romano Torres, no Dicionário Histórico... pág. 697; Pinho Leal, em Portugal Antigo e Moderno, pág. 238; Pe. António Carvalho da Costa, no Dicionário Corográfico, pág. 248; José Augusto Vieira, em Minho Pitoresco, pág. 175.
Diz-se que íam para aquele Mosteiro Beneditino quando sujeitos a sanções disciplinares, obrigados pelos superiores a viver ali no desterro temporariamente, daí teríam derivados os aumentos na capela e o aparecimento dos primeiros quartéis. O alargamento da capela e a fundação dos quartéis se deve ao aumento dos fiéis que iam cumprir as promessas e tinham que repousar ou pernoitar por lá. O número de quartéis foi sempre insuficiente, e continua a ser para o número de fiéis, provenientes de Barcelos até Valença, que vão a S. João d’Arga. Servem só para os mais idosos e para as crianças repousarem já que os outros dançam durante toda a noite e como já não têm lugar para pernoitar num quartel, enrolam-se em mantas e dormem ao relento.
ENSINO - ANALFABETISMO
Há um grande número de pessoas sem instrução; A maior parte não sabe ler nem escrever, apesar de sempre ter existido escola primária em Arga de Baixo e em Dem.
A escola de Arga de Baixo, servia também a Arga de Cima e a Arga de S. João.
Hoje, as crianças de Arga de S. João frequentam a escola de Dem.
As pessoas de idade compreendida entre os 25 e 30 anos, sabem ler e escrever apesar, de nem todas terem a 4ª classe.
Em 1973, foi fundada em Arga de Baixo e em Dem um posto de Telescola, em cada uma das terras, para as crianças que fizessem a 4ª classe. No entanto foi notório, o grande desinteresse por parte dos pais. Apesar de se tornar obrigatório para todos, a maior parte das crianças não o chegaram a frequentar mesmo depois dos pais serem intimidados pela G.N.R.. Frequentemente ouvia-se da boca de quase toda a gente:
“ Isto não faz falta nenhuma, a 4ª classe é o bastante... “
Esta era a resposta que me era dada quando lutei pela fundação do Posto da Telescola de Dem e Arga de Baixo.
As pessoas só a pouco e pouco se vão transformando; evoluem muito lentamente em relação aos centros urbanos.
Quanto ao número de crianças que frequentam a escola, temos a referir que são poucas. Em Arga de Cima, não existe nenhuma escola primária, daí que as crianças sejam muito menos incentivadas para a aprendizagem elementar. É certo, que nos dias invernosos, torna-se penoso ver aquelas crianças “ correrem “ os caminhos desabrigados e ventosos da Serra, pois da Arga de Cima à Arga de Baixo demora cerca de 45 minutos a caminhar. As crianças de Arga de S. João, deslocam-se a Dem, que fica cerca de 4km. Fazem-no, também a pé, por atalhos perigosos que lhes encurtam o caminho. Além do mau tempo, as crianças sujeitam-se aos perigos de toda a espécie, inclusivamente, a serem atacadas por animais ferozes.
Nas Argas, há muito pouca gente a frequentar os estudos complementares. Apesar de já ter fechado o CPTV e a Câmara Municipal ter facilitado a frequência do 5º e 6º ano em Caminha, com transporte.
A VIDA DA POPULAÇÃO ARGUENSE
O ritual diário Arguense é bastante típico e começa cedo: Os Arguenses levantam.se pela manhã às 5.30H.. No entanto, quando precisam de regar ou ir a alguma feira, levantam-se às 4H. Quando se levantam tomam a cevada e o pão, às 9.10H. da manhã, almoçam às 14H - 15H., às 18H. merendam e às 22H. da noite ceiam. Assim, o seu dia é passado na lavoura, a trabalhar por vezes em grupo, outras vezes sozinhos, mas sempre a cantarolar as quadras típicas desta região.
Ao domingo, normalmente, as mulheres ficam em casa a fazer as tarefas domésticas que não conseguem fazer nos outros dias e os homens reunem-se e jogam nas tabernas, conversam, vão pescar a truta no rio ou vão caçar, se for altura.
É ao domingo que se reunem os homens da terra, no fim da missa dominical ou noutro local próprio, lugar comum, isto é, casa da Junta, Posto do leite, adro de igreja, para resolver os problemas colectivos, os problemas da terra. Em Dem, antigamente, reuniam-se na bouça do “ acordo “.
A noite, passam-na a fiar, a fazer renda e meia, enquanto isso, cantam modas e cantigas da igreja. O local destas actividades varia consoante o tempo; ao lume, se fizesse frio, na sala se estivesse calor, ou na cama também aconteceu.
Os transportes públicos que começaram a existir entre Covas e Caminha, passando pelas Argas, alterou muito dos hábitos dos arguenses, assim como a venda do leite às cooperativas e a abertura das estradas, ao aparecimento da televisão e à adulteração de muita cultura da região com o avanço da ciência e da tecnologia.
PASSATEMPO PREFERIDO
Os passatempos mais preferidos são os bailes que se organizam com frequência, sobretudo, quando algum jovem se ausenta ou chega de terras mais distantes a passar umas férias.
Os bailes costumam ser à noite e durar até de madrugada.
De todos eles, o mais desejado é o da Sarração da Velha, numa quarta-feira, exactamente, ao meio da Quaresma, tempo que costuma ser respeitado a rigor, desde a madrugada da quarta-feira de Cinzas até ao Domingo de Páscoa, embora, este ano, tivessem já adulterado o rigor deste costume.
Na Sarração da Velha, os jovens fingem serrar uma velha numa macaca e cantam quadras divertidas, enquanto corre o baile; como por exemplo:
Uma velha, muito velha,
Mais velha que Saragoça,
Falaram-lhe em casamento,
A velha tornou-se moça.
De resto é o jogo da bisca e da suaca ou o da malha que serve de passatempo para muitos.
Há quem se dedique à pesca e, sobretudo, à caça, no tempo dela.
CONTOS E LENDAS
Outros contos e lendas que jovens estudantes da Serra recolheram quando era professor no Ciclo Preparatório TV, de Arga de Baixo.
Responso a Sto. António( para recuperar o perdido )
Ó meu padre Santo António
Quem busca milagre mira
Morto e horror desterrado
Leproso, enfermo santo
Demónio mísero ido
Mar sossega sua ira
Alguns perigos se retiram,
Vigia-me os encarcerados
Os pobres vão remediados
Vão outros já socorridos
Sois António, aparai,
Tudo quando há perdido
Sois António, confessor,
Sacro-santo e bendito
Glória, P.N. e A.M.
AS 12 PALAVRAS
Quem as disser e repetir, sem se enganar, poderá ter a certeza, que nenhum mal lhe sucederá, nem que tenha de andar de noite. Eis então « as 12 palavras »:
1 - A casa de Jerusalém onde N. S. Jesus Cristo morreu por nós, Amén.
2 - As tabuínhas de Moisés, onde N. S. Jesus Cristo pôs os seus divinos pés.
3 - As pessoas da Santíssima Trindade.
4 - Os quatro Evangelistas.
5 - As cinco chagas de Cristo.
6 - As seis serventes.
7 - Os sete Sacramentos.
8 - As oito portas do Paraíso.
9 - As nove coroas de Anjo.
10 - Os dez Mandamentos.
11 - As onze virgens.
12 - A casa de Jerusalém, onde N. S. Jesus Cristo morreu por nós, Amén.
CONTO
Era uma vez, uma cabra que tinha quatro filhinhos.
Um dia necessitou de ir ao moinho, e disse aos filhos que não abrissem a porta a ninguém. Pouco depois bateram à porta e eles perguntaram:
- Quem é?
- Sou a vossa mãe!...
- Mostra uma pata. Não é, porque não está enfarinhada.
O lobo correu ao moinho e enfarinhou as patas, para fazer uma nova tentativa à casa dos quatro cabritinhos. Chegou lá e bateu.
- Quem é?
- É a vossa mãe!
- Então mostra uma pata. Pode entrar.
Viram que era o lobo e um escondeu-se no relógio, enquanto o lobo acabava de engolir os irmãos.
quando chegou a mãe perguntou pelos filhos e o cabritinho ainda assustado, respondeu que o lobo os tinha comido.
Disse a cabra:
- Vai ver se o vês.
- Está deitado debaixo da janela.
- Traz-me uma tesoura e uma agulha enfiada em linha.
Lá foram. A cabra abriu a barriga do lobo e tirou os outros que ainda estavam vivos e disse-lhes:
- Trazei-me pedras para lhe meter na barriga.
Trouxeram-lhe pedras, meteu-as na barriga do lobo e por fim coseu-a. Foram depois para a casa e espreitaram à janela. Viram o lobo acordar e ir beber água a um lago próximo e por fim caíu à água, donde não se pôde libertar.
Arlindo Gomes
LENDAS
1 - Dizia uma velhinha de Varziela, que na Cergeirinha, havia uma mulher encantada. Tinha um buraco e escondia-se nele, quando via alguém
2 - Diz-se que, à porta do Sr. João do Solheirinho está uma cabra em ouro.
Arlindo Gomes
CONTO
Era uma vez um homem que se ía casar e resolveu matar o seu galo, mas este fugiu. Seguiu o seu caminho, encontrou um gato e perguntou:
- Que estás aí a fazer?
- O meu patrão bateu-me e eu fugi.
- Queres ir comigo?
- Quero.
Mais adiante encontraram um carneiro e perguntaram-lhe:
- Que estás aí a fazer?
- Queriam-me matar e fugi.
- Anda connosco.
Depois encontraram um pato e um cavalo; fizeram-lhes as mesmas perguntas e estes foram com eles. E lá foram todos cinco. Encontraram uma casa que era de ciganos e entraram. O gato pôs-se na lareira, o carneiro e o galo no galheiro, o burro e o pato atrás da porta.
Quando os ciganos vieram, disse um:
- Olha, o lume ainda está aceso.
Ainda tem duas brasinhas, vou acender o cigarro!
Eram os olhos do gato que reluziam.
Ia a acender o cigarro nos olhos do gato e este atirou-se aos olhos. O cavalo começou às patadas à porta; o pato começou:
- Parte! Parte!
O galo a cantar.
Então, os ladrões disseram:
- Fujamos, que eles são mais de mil!...
António Gomes
CONTO
Era uma vez uma mulher que tinha dois filhos. Resolveu esta mandar-lhes vender um presunto, a quem falasse pouco.
Chegaram ao pé de um homem e perguntaram-lhe se queria comprar aquele presunto. Apenas disse que queria. Disseram eles:
- Não lhe o vendemos porque você fala muito.
Chegaram mais adiante, encontraram um santo numa capela e disseram-lhe:
- Quer comprar este presunto?
O Santo não lhes falou e deixaram-lhe o presunto, pegando apenas em sete tostões que ele lá tinha e vieram embora.
A mãe ralhou-lhes muito porque o presunto valia mais de sete tostões.
- Para a próxima vou eu e vós ficais, mas não me deixeis ir as cabras à horta nem ide à adega beber o vinho.
Ela partiu, mas eles nada obedeceram à sua mãe.
António Gomes
HISTÓRIA DO VENTO
Um homem andava a pedir e bateu à porta da casa do vento, para pedir dormida.
Apareceu-lhe uma velhinha e disse-lhe que não podia dar dormida:
- O meu filho é muito mau, é o vento.
Chegou o filho e disse para a mãe:
- Minha mãe! Aqui cheira-me a carne humana.
- Ó meu filho, é um pobre que fica aqui para dormir.
- Apareça-me esse homem.
Pergunta então o vento:
- O que é que dizem, na sua terra, do vento?
Responde o pobre:
- Ai o vento é muito mau: parte macieiras, arranca oliveiras, derruba pereiras, é muito mau.
-Pega este saco para quando tiveres fome comeres e quando estiveres farto dizes: « arrucha-te saco »
O pobre chegou a um certo sítio, tinha fome, abriu o saco e saltou uma mosca a bater no pobre homem e ele disse: « arrucha-te saco ».
Maria de Lurdes da Silva
CONTO DO GALO E DA RAPOSA
Era uma vez um galo, que o soltaram da capoeira e foi engaravatar um pouco distante da sua casa.
Andava então a esgaravatar para ver se encontrava alguns bichinhos para a sua alimentação. Avistou uma raposa longe e que faz o galo?! Abriu as asas e voou para cima de um grande sobreiro que estava ali perto. A raposa aproximou-se dele e disse-lhe:
- Ó amigo compadre, desçe cá para baixo que temos ordem de andar todos juntos. O galo respondeu-lhe:
- Não desço que vêem acolá uns caçadores com dois cães; era para a raposa fugir em direcção aos caçadores para a matarem. Mas ela, tanto se queria livrar da morte, que começou a correr e passou entre um campo de tremoços. Conforme corria, as vagens dos tremoços até parecia que cantavam. E a raposa, sempre a correr, dizia ela:
- Ai que linda festa para cantar e para dançar, mas agora não que tenho muita pressa. E assim foi a raposa fugindo, livrando-se da morte.
Manuel Dantas
CONTOS
Era uma vez um português que convidou um espanhol para ir jantar a sua casa. Depois, o português disse ao espanhol:
- Vamos dar um passeio à Serra da mimha aldeia?
Decidiram-se a ir e subiram ao alto da Serra. O português procurou um penedo com um bico aguçado; pôs a mão fechada em cima do bico da pedra e disse ao espanhol:
- Dã um murro em cima da minha mão.
O espanhol deu o murro e o português tirou a mão, ficando o nosso vizinho com a mão esfolada.
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Um dia três galegos foram para Lisboa, mas como não sabiam falar à política, não podiam sair à rua.
Passado algum tempo, disse um:
- Vou à rua ver se ouço qualquer conversa.
Ouviu: “ Nós mesmo “.
Chegado a casa disse para os outros que já sabia falar.
Decidiu-se, então, outro a ir à rua e ouviu esta conversa:
- “ Cá por certas coisas “.
Chegou a casa todo contente porque já sabia alguma coisa. Chegou a vez do último e resolveu sair. Na rua ouviu assim:
- “ Pois, isso sim “.
Quando regressou a casa também já sabia alguma coisa.
Precisaram de sair e encontraram um homem morto. Chegou então a polícia e disse-lhes:
- Quem matou este homem?
Respondeu um:
- Nós mesmo.
- E porque é que o mataram? - implicou o polícia.
Respondeu o outro:
- Cá por certas coisas.
então, ide para aí adiante para a cadeia, que eu vou ali ao café e já vou, retorquiu o polícia. Mas o polícia não foi porque sabia que eles eram inocentes.
Foram andando e encontraram um burro morto e disse-lhes um homem:
- Agora vamos matá-lo aqui à porrada.
Disse um:
- E se ele revive?
Respondeu um outro:
- Deixá-lo reviver, os homens são para as ocasiões!
Manuel Dantas
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Era uma vez um rei, que tinha várias filhas, entre as quais uma era solteira.
Numa noite de Verão, a filha solteira, levantou-se da cama, pegou numa viola e foi a tocar por um corredor fora.
O rei ouviu aquela algazarra e disse:
- Que queres tu?
- Queria casar. Só sendo com o Conde Albertar que tem família.
O Conde entrou no palácio do rei e disse:
- Que queres rei? Que queres rei?
- quero que mates a tua mulher para casares com a princesa Celibana.
- Não, não mato.
- Mata, Conde! Mata, Conde! Se queres valer a tua vida.
O Conde chegou a casa e contou à mulher.
A mulher disse:
- Trazei-me cá o filho mais velho, o do meio e o mais novo que lhe quero dar de mamar; mama, mama meu menino, que a tua mãe amanhã está na sepultura.
Ai Jesus Senhor! Tocam tanto os sinos das catedrais, quem morreria?
E o menino respondeu:
- Foi a princesa Celibana, pelos pecados que fazia: descasar os bem casados e casar os mal casados.
O Conde quando o soube fez uma festa e não matou a mulher.
Manuel Fernandes
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Era uma vez um rei que reinava em 10 reinados.
O irmão do rei, de nome José, quis matar a rainha mas esta fugiu.
O Zé vestiu o cavalo de luto e foi ao encontro do rei e este perguntou-lhe:
- Que tal luto trazes aí?
- Foi a tua esposa que se quis meter comigo.
- Mandai-a enterrar viva.
O Zé foi embora e queria enterrar a mulher viva.
Ela pediu o favor de a mandarem acompanhada de soldados.
Quando a iam para enterrar, começou a gritar. Um Conde que andava por ali disse que lhe dessem a mulher, que a tinha só a tomar conta de um menino.
Um homem espetou uma faca na barriga do menino e foi dizer que tinha sido a mulher que tomava conta da criança. Ordenou então o rei que atirassem a mulher ao mar.
Quando atiraram com a mulher à água, apareceu-lhe Nossa Senhora e tirou-a da água. A Senhora disse-lhe que o irmão estava a encher-se de sarda e o homem comia um boi por dia.
Ela foi ter com o homem e disse-lhe que tudo tinha cura e disse ao irmão que tinha de confessar-se no púlpito.
Ele disse tudo ao rei e o rei matou-o.
Finalmente, o rei foi viver com a mulher.
Manuel Fernandes
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UM MILAGRE
Era uma vez Sto. António que tinha uma namorada.
Depois não queriam que ele não namorasse porque queriam que ele fosse padre.
Sto. António foi ter com a namorada e disse-lhe:
- Não caso contigo porque os meus pais não querem que eu case, que eu vou para padre, mas tu casarás com outro e só te peço que faças estas três coisas que te eu digo: não chores aos domingos; às sextas não vistas camisa lavada; e terás um menino.
Quando o menino fez um ano foram convidados os avós e os padrinhos, mas como o menino era muito brincalhão caíu ao lume.
Chegou um pobre a pedir esmola, chamaram-no para o jantar, e puseram tudo a seu cuidado, ficando satisfeito.
Ora o menino todo queimado embrulharam-no nuns panos e como era domingo, Sto. António lhe pediu que não chorasse.
O pobre pediu-lhe que lhe dessem as peras que o menino tinha e comia na cama.
Ora a mãe aflita porque o menino estava queimado, foi ver se era verdade a cura do seu filhinho.
Pois foi um milagre que Sto. António lhe fez. Tinha-se transformado num pobrezinho.
Manuel Fernandes
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SENHORA DA FRANQUEIRA
Conta-se que uma mulher, não se dava com o seu marido. Como era camponesa, o seu marido não a ajudava nas lidas do campo. Só pedia a Deus que o levasse. Dizia então: “ Oh, Senhora da Franqueira, não te peço campo nem leira, só peço para meu marido cegueira “.
QUATRO BONECAS
Era uma vez uma mulher que casara com um pescador. Essa mulher era muito lambona e trabalhava o marido todo o dia, para ela não fazer nada.
Chegou um dia que necessitou de ir às compras, e foi à feira. O marido encontrou uma velhinha que lhe disse:
- Ao meu rico menino, sei que tens uma mulher muito lambona. Mas olha, leva estas quatro bonecas e coloca-as na sala onde ela não veja; Tu vais ver como ela emenda!
O homem de manhã foi para a pesaca e a mulher sentou-se ao lume e disse:
- Estende-te pernas, descansa corpinho que lá anda no mar, quem te dá pão e vinho.
A mulher ía para comer e começa a primeira boneca:
- Aquela mulher que vai fazer?
Disse outra:
- Vai comer, tu não vês?
Diz a terceira:
- Mas o marido não está cá.
Disse a quarta:
- Ai que lambona, ai que gulosa.
A mulher assustada foi ver e nada viu tornando-se a sentar. Começou a comer e ouviu as mesmas palavras que há pouco tinha ouvido. Pois a mulher não comeu mais nada. Depois a mulher dizia:
- Anda maridinho, anda que deves vir cheio de fome.
Daí por diante, a mulher dava sempre de comer ao marido e perdeu o defeito que tinha.
Maria Aurora
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GALINHA
Uma galinha, farta e cheia
numa estrumeira a esgaravetar
os pardais que perto estavam
para lá se foram achegar.
Olá, olá, fraco modo de viver
uma galinha a esgaravetar
parava de comer.
Todos nós, somos aves de bico
temos o direito que a galinha tem
aproveitar o que está perdido,
a todos nós nos fica bem.
Maria Fernanda
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LENDA
Oração do Frei Coelho
com o seu barrete vermelho
suas espadas de cortiça
para bater à carriça.
A carriça deu um grito,
que toda a gente espantou;
só um homem que ficou
embrulhado num sapato;
Aquele homem era um gato.
Foram o dar de presente
à filha do nosso rei,
que também era brasileira,
mandou-lhe fazer a gaiola
da mais fininha madeira.
Depois da gaiola feita
meteu o gato dentro
quer de dia quer de noite,
era o seu divertimento.
O gato adoeceu
com uma grande constipação
mandou chamar uma junta
de trinta e um cirugião.
De trinta e um cirurgião
nenhum lhe deu com a cura
morreu o pobre gato.
Lá foi o pobre gato direitinho
para a sua sepultura.
Joaquim Ernesto
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CONTO DO “ REI GRILO “
Estando o Rei grilo cantando
Nos campos da Serra Brava
Rei Leão lhe pôs um pé
Sem saber o que fazia
Rei grilo foi para o esconderijo
Desta maneira e de dia
Diz o grilo:
- “ Ó Rei das estribandias
Trama-me com grande estaição “
O Leão:
- Cala-te lá, bicho pequeno
Que estás debaixo do chão.
Tu não sabes quem eu sou?
- Sou o rei corado Leão.
Grilo:
- Pois se és o corado Leão
Trata-te por crucificado
Que a 24 de Maio
Faremos uma batalha.
Leão:
- Pois então que venham, venham
Venham bem aparelhados
Que a 6 ou 7 léguas
Hão-de ir a passo largo.
Chegado a 24 de Maio
O Rei Leão soltou todos os animais,
e o rei grilo todos os insectos.
Chegados ao campo da batalha,
as moscas, mosquitos, abelhas
começaram a picar os burros,
vacas e outros animais
e assim a gente do Rei Leão
começou a fugir.
Então o Rei grilo chegou-se ao Rei Leão e disse-lhe:
- Olá, meu amigo Rei Leão
Olha que a minha gente não é,
como tu pensas: é pequena
mas tem unhas bem agudas.
António da Costinha
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CONTO
Menina que sabe ler
Também sabe soletrar
Também quero que me diga
Quantos peixes há no mar?
Quantos peixes há no mar
Ainda não os fui contar ao fundo,
Também quero que me diga
Quantos homens há no mundo.
Quantos homens há no mundo
Todos eles pôem chapéu
Também quero que me diga
Quantos anjos há no céu.
Quantos anjos há no céu
Ainda não os fui contar lá acima
Também quero que me diga
Quantos dentes tem a lima.
Quantos dentes tem a lima
Tem tantos como o limão
Também quero que me diga
Quantos tem o nosso cão.
Quantos tem o nosso cão
Tem tantos como a cadela
Também quero que me diga
Quantos tem o rabo dela.
Quantos tem o rabo dela
Tem tantos como o do gato
Que por baixo do rabo
Tem a caixa do tabaco.
António da Costinha
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ORAÇÃO
Entre todos estava a Virgem
Muito bem representada
Tristes novas lhe vieram
Que o seu filho preso estava.
Deitava manta de luto
Manta de luto deitava
Pela uma da manhã
A Senhora caminhava.
Encontrou uma mulher
Que Verónica se chamava
Ó mulher e ó mulher
Deus te salve
A tua alma não viste,
Por aqui passar?
Um filho que eu tanto amava
Sim Senhora aqui passou
À hora que o galo cantou
Com um madeiro aos seus ombros
E o madeiro era novo
E que tanto lhe pesava
Arrumando-se à minha porta
Pedindo três panos manos.
Entre aqueles três panos manos
Três Verónicas se acharam
Uma era da sua Santa casa
Outra era da terra dos mouros
E outra era de Jerusalém.
Para redique de alguém
Quando Deus aqui nasceu
Todo o mundo resplandesceu
Quando Deus aqui chegou
Todo o mundo iluminou.
Procurando pastorinhos
Pastorinhos de bom-dia
Mas viste por aqui passar
Nossa Senhora Virgem Maria,
Sim Senhora a avistar
Ao redor do seu altar
Com um livrinho na mão
Para dizer a oração
Oração da Salvação.
Salvai todos, quantos aqui estão
Só aquele perro mouro não
Que está naquele coitel
Perguntem-lhe se ele é cristão:
Se ele vos disser que não
Pegai naquele coitel
Arrancai-lhe o coração.
Ó coitel, ó coitel
Ó coitel tão amado
Carregaste o madeiro
No carreiro da Ascenção.
Já os galos pretos cantam
Já os anjos se levantam
Já o Senhor subiu à cruz
Para sempre, Amén Jesus.
António da Costinha
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D. CELIBANA
D. Celibana ia
Pelo corredor acima
com a guitarra na mão
Que bem a tangia
Com um romance que fazia
Acordar o seu pai.
Tu que queres, Celibana
Tu que queres, milha filha.
Três irmãs que nós eramos
Todas estão casadas
E têm família,
E eu por ser a mais nova
A mim não me deu marido.
Eu como te o hei-de dar
Só se for o Conde Alberto
Mas esse está casado
E tem família.
Sim meu pai, sim
esse é que eu queria,
Mandai-o cá chamar
De parte um dia.
Bateu o Conde à porta
Perguntando o que queria
Quero que me mates tua Condessa
Para casares com minha filha.
O Conde foi para casa
Com grande agonia.
Mandou fechar os quintais
Coisa que nunca fazia.
Mandou pôr a comida na mesa
E pôs-se a fazer que comia.
Pergunrou a Condessa:
O que o rei queria;
Quer que te mate a ti
Para casar com sua filha
Sim o Conde, sim o Conde
Esse remédio teria,
Meterias-me num quarto
Onde não visse noite nem dia.
Darias-me pão por peso
E água por medida
E bacalhau salgado
Para acabar com a minha vida.
Sim ó Condessa, sim ó Condessa
Isso tudo te faria
Mandou-me levar a cabeça
Nesta malvada bacia.
Traz-me cá o filho mais velho
Que o quero pentear
E traz-me cá o do meio
Que o quero beijar
E o mais novo que
Lhe quero dar de mamar.
Mama, mama, meu menino
Este leite de amargura
Que amanhã por estas horas
Tua mãe está na sepultura.
Mama, mama, meu menino
Este leite amargurado
Amanhã por estas horas
Vosso pai está coroado.
Toca o sino grande.
Quem morreria?
O menino falou:
Foi a D. Celibana
Pelas intenções que fazia
Descasar os bem casados
E casar os mal casados
Era coisa que Deus não queria.
Manuel Fernandes
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LENDA DA FORMIGA E A NEVE
Formiga:
Ó neve tão forte és tu
Que meu pé prende!
Neve:
Ó sol tão forte és tu
Que me derretes
Que meu pé prende!
Tão forte sou eu
Que a parede me encobre.
Ó parede tão forte és tu
Que encobres o sol que
Derrete a neve
E que meu pé prende?
Tão forte sou eu
Que o rato me fura!
Ó rato tão forte és tu
Que furas a parede
Que encobres o sol
Que derrete a neve
Que meu pé prende!
Tão forte sou eu
Que o gato me apanha!
Ó gato tão forte és tu
Que apanhas o rato
Que fura a parede
Que encobre o sol
Que derrete a neve
Que meu pé prende!
Tão forte sou eu
Que o cão me morde!
Ó cão tão forte és tu
Que mordes o gato!
.............................
Tão forte sou eu
Que o pau me bate!
Ó pau tão forte és tu
Que bates no cão!
............................
Tão forte sou eu
Que o lume me arde!
Ó lume tão forte és tu
Que ardes o pau
Que bate no cão
Que morde no gato
Que apanha o rato
Que fura a parede
Que encobre o sol
Que derrete a neve
Que meu pé prende!
Tão forte sou eu
que a água me apaga!
Ó água tão forte és tu
Que apagas o lume!
..............................
Tão forte sou eu
Que o boi me bebe!
Ó boi tão forte és tu
Que bebes a água!
...........................
Tão forte sou eu
Que o homem me come!
Ó homem tão forte és tu
Que comes o boi
Que bebe a água
Que apaga o lume
Que arde o pau
Que bate no cão
Que morde no gato
Que mata o rato
Que fura a parede
Que encobre o sol
Que derrete a neve
Que meu pé prende!
Homem:
Tão forte sou eu
Que Deus me mata!
Maria Alice
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CONTO
Era uma vez, uma rapariga chamada Filomena.
Essa rapariga ía guardar as ovelhas ao monte e levava linho para fiar.
Um dia, quando guardava as ovelhas, um ladrão matou-a e cobriu-a de ramos de árvores.
Como ela era Santa, o povo mandou erguer ali uma ermida.
O ladrão que a matou, dali a um ano tornou a passar por ali, e perguntou aos pastores: “ Que ermida é esta? “
É Santa Filomena
Que o ladrão matou
Coberta de ramos
Aqui a deixou.
O ladrão, reconheceu a sua culpa, foi à ermida e disse:
Santa Filomena
Perdoa-me a morte.
Respondeu Santa Filomena:
Como te hei-de perdoar
Meu grande carniceiro;
Da minha garganta
Fizeste talheiro
Do meu coração
Fizeste dinheiro.
Maria Alice
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HISTÓRIA DA MAROQUINHAS
Chegou hoje a ocasião
De encontrar quem eu queria
Como estás, ó maroquinhas
Já há dias que te não via
Agora que te encontrei
Já tenho mais alegria.
Forte graça olhe lá
Não lhe caia algum dente
que lhe importa com o meu passo
Não seja impertinente
Passe bem ou passe mal
O meu corpo é que o sente.
Se soubesses quem eu sou
Não me falavas assim
Eu gosto tanto de ti,
Porque não gostas de mim?
Dá-me cá a tua mão direita
Para séculos sem fim.
Lá vem outra e eu sem pão
Para me livrar de tal
Tenho duas, se dou uma
Decerto fico mal
Fico manete de um braço
Posso ir para o hospital
Não é isso que eu te digo
É falta de entendimento
É um laço que se dá
Quando se vai a um casamento
Dou-te a minha e dás-me a tua
Para nosso recebimento.
Nessas trocas e baldrocas
É preciso ter cautela
Tenho duas se dou uma
Decerto fico sem ela
Cada qual ficou com a sua
Que essa é a minha tabela.
Tu imaginas, maroquinhas
que eu te queria enganar
Eu morro por ti de amores
Nunca te posso faltar
Dá-me um beijo, maroquinhas
Que eu gosto de saborear.
Se tu gostas, eu não gosto
Duma chalaça mal dada
Sou rapariga do campo
Vivo muito envergonhada
Não sou das que tu procuras
Adeus e chega de maçada.
Não te lembras, maroquinhas
Da promessa que te fiz
Que me casava contigo
Que te fazia feliz
Deixa andar, deixa falar
Não te importes o que o mundo diz.
Pobre nasci, pobre vivo
Pobre tenho de morrer
Riqueza de meu não tenho
Nem pretende de a ter
Mas tanto dá a água na pedra
Que a faz amolecer.
vistes tu, ó maroquinhas
Como eu te caí em graça
É bem certo que se diz
Quem profia mata caça
E eu sem profiar matei
Muitos procuram e não topam
E eu sem procurai matei.
Maria Fernanda Pinto
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LENDA
Uma vez um lobo e uma raposa que foram à caça e mataram dois carneiros.
Um comeram-no e o outro enterraram-no e deixaram-lhe o rabo de fora. No dia seguinte o lobo foi ter com a raposa e disse-lhe:
- Comadre, vamos hoje ao banquete do carneiro?
A raposa respondeu-lhe:
- Ai compadre, hoje não posso ir porque tenho de ir a um baptizado ao céu.
E o lobo foi-se embora.
No dia seguinte, o lobo tornou a ir ter com a comadre e disse-lhe:
- Comadre, vamos hoje ao banquete?
Ela respondeu-lhe:
Ó compadre, hoje não posso ir, porque tenho de ir a outro baptizado, mas amanhã estarei às ordens.
O lobo disse-lhe:
- Ó comadre, que nome pôs ao afilhado de ontem?
A raposa disse-lhe:
- Pus o nome de «comecei-te».
O lobo respondeu:
- Ó que lindo nome, não é feio não.
No dia seguinte, o lobo tornou a ir à casa da raposa e disse-lhe:
- Comadre, vamos hoje ao carneiro?
Ela respondeu-lhe:
- Ai compadre que hoje também não posso ir porque tenho outro baptizado.
E o lobo perguntou-lhe:
- Ó comadre, que nome pôs ao afilhado de ontem?
Ela respondeu-lhe:
- Pus-lhe «ariei-te».
Este disse-lhe:
- Não é feio.
No dia seguinte, o lobo voltou a ir à casa da raposa e disse-lhe:
- Comadre, vamos hoje ao banquete?
Ela disse-lhe:
- Sim compadre, hoje posso ir.
E o lobo perguntou-lhe:
- então comadre, que nome pôs ao afilhado de ontem?
Ela respondeu:
- Olhe compadre, pus-lhe «acabei-te»
O lobo disse-lhe:
- Que lindo nome! Não é feio não.
Lá foram seguindo o seu caminho em direcção ao carneiro. Pouco antes de chegarem lá, a raposa disse para o lobo:
- Olhe, vá indo enquanto eu fico aqui tirando um espinho do meu pezinho.
O lobo foi seguindo em direcção ao carneiro. Quando lá chegou, deitou os dentes ao rabo do carneiro, começou a puxar, bateu logo com as costas no chão e voltou para casa muito aborrecido.
Mas, entretanto, a raposa tinha-se escapado.
Lúcia Lourenço
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ECOS DO PASSADO
Diziam os nosso antepassados que o homem foi feito de um bocado de barro e a mulher de uma costela de um gato. Diziam também que o mundo já acabou uma vez com água e era a razão porque as pedras estão umas sobre as outras.
Deus disse que para o princípio do fim do mundo, haveria uma luta entre nações e no fim haveriam sinais do céu; veríamos coisas bastante estranhas e o tempo mudaria.
No final haveria uma guerra mundial e depois uma guerra civil: acabaria o mundo com fogo.
João António Gonçalves
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CONTO
Havia um rei cego que tinha três filhos. Ao constar-se que havia uma água que poderia recuperar a sua visão, o rei mandou o filho mais velho com um dos seus criados à procura dessa tal água. Partiram em direcção ao palácio onde brotava a água. No meio do caminho encontraram um cadáver com uma bandeja ao lado e, surpreendidos, perguntaram para que era aquilo. Responderam-lhe que o defunto era pobre e que lhe dessem uma pequena esmola para o poderem enterrar.
Como não fizeram isso, seguiram o seu caminho. Mais adiante, encontraram muitas pessoas num baile e também quiseram tomar parte, esquecendo-se da água para o pai.
Passado algum tempo, a ausência do filho provocou grande tristeza no palácio. Resolveu o irmão do meio ir buscá-lo.
Assim como aconteceu ao irmão mais velho, aconteceu ao do meio.
Passado muito tempo, o irmão mais novo resolveu-se a ir, embora o pai não quisesse. Como os anteriores, viu o cadáver e deu o dinheiro para que se enterasse. Por fim encontrou os irmãos no baile e perguntou-lhes se era ali o local da água. Os irmãos, já furiosos, tentaram iludi-lo para que ficasse, mas ele não se deixou levar.
Chegado ao palácio, disse ao rei que tinha o pai cego e ali havia uma nascente que se os cegos lavassem os olhos com tal água, ficariam curados. O rei dava-lhe a água se ele fosse a um castelo muito longe, buscar um cavalo que lá tinha encantado.
Bastante triste, lá foi. encontrou pelo caminho uma velhinha que lhe disse que fosse contente porque o rei lhe daria a água, mas que tivesse cuidado na escolha; que escolhesse o que estava na entrada à direita. O rapaz assim o fez e trouxe-o ao rei. Este não lhe deu a água porque queria uma espada que tinha lá encantada. O rapaz, cada vez mais triste, seguiu o seu caminho e encontrou do mesmo modo a velhinha que lhe deu conselhos sobre a escolha.
Voltou de novo ao castelo e o rei ainda o mandou ir buscar a filha que tinha lá encantada. Chegado a meio do caminho, encontrou novamente a velhinha que lhe disse que não tivesse medo porque a princesa estava rodeada de serpentes. quando trouxe a filha ao rei, este ficou todo contente e perguntou-lhe o que queria dele. O rapaz, já contente, pediu-lhe a filha para casar, tornando-se, assim, herdeiro do seu reino. Casaram e foram ter com o pai do rapaz, com fim de lhe recuperarem a vista com a água. Quando o casal foi ter com os irmãos, estes ficaram todos furiosos porque o irmão era senhor de um cavalo, uma espada e uma bela princesa. Invejados, chegaram a meio do caminho, deram-lhe uma coça e deitaram-no a um poço, pensando que ficaria morto, o que não aconteceu. Nesse instante, a princesa ficou muda, o cavalo nunca mais o apanharam, foram a abrir a garrafa da água, para o pai, mas não conseguiram, ficando todos tristes.
O pai perguntou-lhes, então, pelo filho mais novo e estes responderam-lhe que tinha morrido pelo caminho.
Passado muito tempo, apareceu um homem ao palácio, com a barba grande, já muito velhinho. Mal o viu, a princesa, começou logo a falar, o cavalo veio ter com ele, conseguiu abrir a garrafa e lavou os olhos do pai, que ficou logo a ver.
O rei, surpreendido, perguntou-lhe o que tinha acontecido,e o príncipe contou-lhe tudo. Vendo o rei o que os irmãos lhe tinham feito, condenou-os a trabalhos pesados e ele ali ficou com a noiva no palácio do pai.
Maria Fernada
Rodrigues Pinto
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CONDESSA
De um lado está a Condessa com as filhas. Do outro, os cavaleiros.
Aduanta-se um que pede uma filha à Condessa:
Disseram-me Condessa
Que vós tinhas muitas filhas
Se me dava uma delas
Para eu casar com ela.
A Condessa respondeu:
Minhas filhas não as dou
Nem por ouro, nem por prata
Nem por sangue de lagarta
Que as quero meter freiras,
No Convento de Jesus
A mais nova delas todas
Está na presença da cruz.
Retira-se o cavaleiro muito triste:
Ai que tão contente vinha
Ai que tão triste vou
Pela filha da Condessa
Que prometeu e faltou.
A Condessa encheu-se de pena e chamou-os:
Tornai atrás cavaleiros
Entrai por esses portais
Escolhei a mais formosa
Que nesse rancho achais.
Os cavaleiros tomam cada um conta da sua menina e cantam:
Quero esta, quero esta
Que me tira o pão da cesta
E o vinho da borracha
Que me rapa quanto acha.
Maria Aurora Costinha
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A SERRA VISTA PELOS JOVENS
Aproveito para publicar um ou outro trabalho, das dezenas deles, feitos pelos jovens da Paróquia de Nª Srª de Fátima, em pleno Campo de Férias, orientados por especialistas, ao longo de 18 anos.
INQUÉRITO...
Depois de uma melancólica e chuvosa noite de descanso, o grupo de SOCIOLOGIA meteu pés ao caminho e mãos ao trabalho, lançando-se à aventura e seguindo pelos remotos caminhos do fim do mundo.
Enquanto os escarafunchosos dos outros grupos se esforçavam na árdua tarefa de esperar pela carrinha, nós, ditos cujos de SOCIOLOGIA, já apelidados de reis deste acampamento, empenhávamos a nossa capacidade de iniciativa, rasgando além fronteiras, num ser desconhecido, provido de uma carrinha branca, prontamente dominado pelas hipocondríacas pernas de M. C. Mas chega de vaidades, que até são verdades e passemos aos factos.
Do inquérito concluiu-se:
A localidade tem cerca de 80 pessoas, a maioria do sexo feminino, consequência da forte migração masculina, mas com uma média de idades elevada e de reduzidas habilitações literárias.
A população tem facilidade em saber o que se passa na localidade, não se passando o mesmo em relação ao país, sendo de referir, contudo, um forte melhoramente nestes últimos anos, facto que se deduz pela grande percentagem de rádios nas casas da comunidade, se bem que não se passa o mesmo em relação à televisão. Rádio e televisão que são considerados de alto valor na vida quotidiana. É também de realçar o alto índice de telefones na zona “ per domus “.
No que se refere a publicações: revistas são raras na região; jornais são lidos, sobretudo, os regionais, sendo de referir “ O CAMINHENSE “, “ O VIANENSE “, “ SERRA E VALE “ e ainda jornais de índole desportiva.
A população reúne-se facilmente, sendo os locais previligiados o adro da igreja ( ao domingo ) e o posto de leite. A igreja local é pouco activa, tendo como atenuante o facto de o pároco ter de se desdobrar em várias localidades.
Foi referido por alguns inquiridos o saudoso tempo do Pe. Coutinho, em que alguns consideraram a mais acentuada actividade cristã de todos os tempos.
A população é, na sua maioria, crente.
Tem havido uma certa evolução em relação à igualdade de trato homem-mulher, continuando, no entanto, as mulheres serem as mais sobrecarregadas.
Com excepção do TOTOLOTO, o hábito de jogar é reduzido.
Em caso de doença, a população está suficientemente informada para recolher a um médico ou ao hospital.
Grupo Sociologia
COISAS ... MAIS LOISAS
Numa manhã cheia de sol, iniciámos a viagem muito penosa a ARGA DE BAIXO.
Nessa localidade, recolhemos informações sobre:
ARTESANATO
Aí contactamos que ainda há pessoas que bordam trajes de lavradeiras. Isto quer dizer que ainda há pessoas que dão uso ao tear e à continuação de uma tradição antiga. Alé, de produzirem para consumo interno, também tecem para o exterior.
TRAJE
Só é utilizado em ocasião festiva, principalmente nos dias 15, 28 e 29 de Agosto. Todas as jovens e senhoras têm um traje de lavradeira. Esse traje é adornado com ouro utilizado nessas ocasiões.
As variáveis desse traje são as cores: azul, verde, vermelho, cor de laranja e preto, que é utilizado em ocasiões fúnebres.
OURO
O ouro não é comprado: ou é oferecido por familiares e amigos, ou herdado. Hoje em dia já não compram contas, mas sim custódias ( broches ).
Os fios grossos são utilizados com medalhas, são utilizados com os trajes nos dias de festa. No dia a dia utilizam fios mais finos e simples.
JOGOS TRADICIONAIS
São jogos já do nosso conhecimento, mas têm nomes diferentes: o jogo da malha é conhecido como o “ fitó “; o jogo do galo é jogado com seis pedras e intitula-se o “ capado “.
FUNERAIS
Quando morre uma criança, normalmente, dão os parabéns à família, uma vez que é um anjinho que vai para o Senhor.
Quando morre uma pessoa idosa, a afluência ao funeral é menor, porque as pessoas sentem mais a perda e o número de flores é menor do que o de um funeral de uma criança.
Aquando do nascimento de uma criança e enquanto não for baptizada, os pais dela não emprestam nada aos amigos para a criança não ser muito dada.
Um dos pratos típicos desta zona é o cabrito assado e um prato intitulado cabidela ( será? ), que é composto pelos seguintes elementos: sangue de cabrito, coração, pulmões, fígado, baço (?) e batatas que podem ser cozidas ou assadas
ETNO 1
AS CULTURAS
Uma vez chegados ao aglomerado populacional de DEM, arregaçadas as mangas, metemo-nos ao trabalho. Tarefa bastante difícil, devido à categoria dos inquéritos por nós elaborados, mas com a agravante da excelente impressão deixada pelo grupo presente anteriormente. Só foi possível a este maravilhoso grupo realizar a módica quantia de oito inquéritos, devido à maravilhosa categoria dos elementos deste grupo.
1. AGREGADO FAMILIAR
É composto, na generalidade, por 4 pessoas, repartindo-se de uma forma igualitária pelo sexo masculino e sexo feminino; o grupo etário predominante varia entre a primeira infância e a terceira idade.
2. HABITAÇÃO
Todos os inquiridos possuem habitação própria, à excepção de uma senhora casada, mãe de dois filhos, que anda de casa em casa.
3. VIDA AGRÍCOLA
É comum a exploração agrícola ser própria, familiar, sem recurso a pousio, mas praticam rotação de culturas. Nas épocas altas da agricultura, recorre-se a assalariados não permanentes, pagando-se o respectivo salário.
Verifica-se uma grande discrepância em relação ao número de parcelas que cada agregado familiar possui, como poderão constatar na gravação efectuada. Em geral, esta população vive da agricultura, tendo como o mecanismo compensatório a esse rendimento outras actividades complementares, como por exemplo: pedreiro...
As culturas características desta região são: milho, batata, centeio, aveia, vinha, alface.
Esta região não é própria à produção de horticultura, em geral ( tomates e cenouras não se desenvolvem ).
No adornamento dos seus quintais verifica-se a existência de árvores de fruto tradicionais: pereiras, macieiras, oliveiras. E para as pessoas que não sabem que a azeitona é fruto da oliveira, dizemos azeitoneira.
Mas como não existe agricultor sem gado, vamos falar do gado predominante: bovino, ovino e suíno; do bovino e ovino deriva o leite que verificou uma forte transformação, devido à criação do posto de leite.
As pessoas deixaram de produzir os derivados do leite para aumentar a produção e venda do mesmo.
Os chouriços e presuntos destinam-se para auto-consumo e para oferecer aos elementos deste grupo.
4. UTENSÍLIOS
Verificamos a grande variedade de utensílios agrícolas: tanto recorrem a manuais como mecânicos.
No que diz respeito aos adubos, eles tanto podem ser naturais como químicos, ou a conjugação de ambos.
5. ALIMENTAÇÃO
Todos os agricultores fabricam o seu próprio pão que utilizam, pelo menos, durante uma semana.
Os produtos agrícolas são secos na eira e guardados nos espigueiros.
Grupo AGRO PECUÁRIA
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