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domingo, 9 de agosto de 2009

A Cultura do Linho-2007

A nossa juventude já não conhece a cultura do linho como tecido natural, fruto da terra, como o algodão e a seda vinda do bicho da seda, e a lã dos animais. Hoje, o que há é tudo importado e industrializado e há muitos outros tecidos que são produtos do petróleo, os sintéticos, os artificiais.
O linho entre o algodão, a lã e a seda talvez a cultura mais natural e mais antiga da humanidade.
Já no politeísmo o linho está ligado à pureza dos deuses.
Era usado nos contos e nas cantigas populares.
Um dos contos ouvidos em Mazarefes: “Mangas largas do mau linho, beiças untadas do meu toucinho”, chamaste ao meu homem Zé da Gouveia, melhor lhe chamasses o maior c. que há nesta aldeia!!”
Das antigas antigas:
“Quem me dera ser linho
Que vós na roca fiais;
Quem me dera tantos beijos
Como vós no linho dais”.
ou
“Marias da minha aldeia
Todas vós sabeis urdir
Dum certo linho uma teia
Onde todas vão cair”




O linho era um dos frutos da terra e nesta região devia ter sido muito explorado no tempo do Império Romano, pois ainda hoje na Itália, na parte alta da Lombardia existe a cultura do “linho galego” ou mourisco.
Devia ter surgido já no tempo dos indo-europeus; e o seu nome deve ser dessa ocasião.
O linho esteve, até há sessenta anos atrás, muito próximo das pessoas; fazia parte da vida, estava-lhe no coração, nos olhos, nas mãos, na polpa dos dedos, nos lábios, em toda a vida, fazia parte das alegrias e do trabalho das pessoas, quer dos homens quer das mulheres, mas mal da mulher que não soubesse trabalhar o linho... não era fácil casar!...
O linho vivia com as pessoas logo no nascimento, na hora do parto, nos primeiros cueiros do mais fino linho e, na morte, José de Arimateia pegou num lençol de linho puro e embrulhou o corpo de Jesus. O Apocalípse de S. João fala dos “ sete anjos que tinham sete pragas saíram do templo, vestidos de linho puro resplandecentes e cingidos com cintos de ouro pelos peitos...
Quando, ao mesmo tempo, chove e faz sol, dizia-se: “Está Nª Senhora a lavar os cueiros ao menino...”
“Um homem rico que se vestia de púrpura e de fino linho”. (cf. Bíblia).
O linho estava à mesa transformado em toalha, vestia o homem e a mulher com roupas interiores e exteriores. Os mais ricos recorriam ao linho fino, mas os mais pobres contentavam-se com vestimentas de tomentos (estopa grossa) - às vezes eram verdadeiros tormentos do linho e do Homem - o linho mais fraco ou o linho estopa sobretudo, as camisas que deixavam marcas muitas vezes no corpo. O linho estopa era o linho intermédio.





Recorria-se já desde há séculos a outros tecidos, para além do algodão, da seda, desde a industrialização aos tecidos sintécticos ao cetim (tecido de seda lustrado e macio), cotim (mistura de linho e algodão), burel (tecido de lã simples, grosseira ou pano de luto), estamenha (tecido grosseiro de lã) o pano cru (isto é) sem tratamento.
Recorria-se e recorre-se a outros trapos (qualquer farrapo seja do que for, mas cuidado com a língua de farrapos que é pessoa maldizente) seja ou não de origem vegetal, animal ou artificial, produtos de petróleo... Atenção também não convém confundir trapos com trapalhadas.
O linho dá muito trabalho.
É preciso semeá-lo em terreno lento, com muita água, regadio. É preciso regá-lo, deixá-lo crescer. Mondá-lo, arrancá-lo pela raiz.
Ripá-lo, maçá-lo, no engenho (fulão do Amonde? da Arga de Baixo) da Serra d’Arga? ou Pisão? onde saía a estopa grosseira ou neste caso da Serra d’Arga, para pisar ou maçar a lã da ovelha... secá-lo, espadelá-lo num cortiço ou espadelouro, sedá-lo, passá-lo às rocas e fusos, passar à roda da fiandeira e ao sarilho para fazer as meadas, passar à barrela, dobrá-lo, urdi-lo, metê-lo em canelas para o levar ao tear e pelas grades acabar por tecê-lo.
O linho está também ao serviço da liturgia, nos paramentos, nos “paninhos do Senhor”, isto é, no corporal, um pano quadrado que é aberto sobre a toalha do altar, onde se coloca o pão e o vinho para consagrar, o sanguíneo que limpa o Cálice, a pála quadrada e pequena que cobre o cálice e o manustério para limpar as mãos. Há a Nossa Senhora do Corporal em S. Salvador da Torre..





É sobre o altar do holocausto onde a vida e o amor se entrega sobre toalhas de linho puro. É a mesa do Senhor. O cinto de linho foi sinal de castidade. O que vestia linho finíssimo era considerado um puro servo de Deus.
Deu origem a topónimos como Linhó, Linhol, por exemplo, e antroponímicos como Lino em algum caso, apelido em muitos casos, sobretudo, na Galiza, embora não se deve confundir com o nome Lino, de origem grega, como foi o segundo Papa da história da Igreja.
A. Viana

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