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domingo, 9 de agosto de 2009

Manuel Ribeiro 2007

Manuel António de Araújo Ribeiro, filho de António Fernandes Ribeiro, industrial, e de Júlia Gomes Araújo, é natural do Bairro do Jardim, antigo Bairro do Bicho da Seda, na freguesia de Stª Maria Maior, Paróquia de Nossa Senhora de Fátima.
Tem sete irmãos.
É seropositivo há 22 anos, o que considera um milagre porque, segundo ele, Deus encontrou a sua voz, quando a sua vida vinha a não ter sentido, parou e ouviu, agora faz todo o sentido.
“Por onde começar? Pela minha mãe amiga, carinhosa, que sempre nos amou muito. Para a minha mãe a família é tudo; nós somos oito filhos e nunca nos faltou nada desde amor e carinho, comida e sempre bem vestidos e limpos.
O meu pai viveu só para nós, porque criar oito filhos era muito difícil. Para nos pôr a estudar a todos o meu pai tinha que trabalhar muito, esse valor ninguém o pode tirar.
Os meus pais sempre quiseram o melhor para nós, sempre nos avisaram que a vida não era muito fácil e alertaram-nos para isso mesmo, mas só pensávamos, como todos os nossos colegas, gozar a vida.”
“Ao fim de seis anos já eu trabalhava na República Democrática do Congo. Na altura, o meu pai sentiu muito orgulho em mim, a satisfação era muita, no rosto dele espelhou-se a alegria. Este foi o primeiro, porque depois vieram mais como: Angola, Cairo, União Soviética e muitos mais.”
“Quando fiz a minha primeira viagem para fora tinha vinte e quatro anos, foi o dia mais feliz da minha vida, tinha realizado o meu sonho.”
“Quando vi pela primeira vez nem queria acreditar no que estava a ver, era demais o que estava à minha frente, uma plataforma, eu fiquei estupefacto porque nunca tinha visto uma coisa assim; eram tubos por todo o lado, eu só disse: mas que coisa mais linda!
Era o momento que eu esperava na minha vida, trabalhar no petróleo.
Senti-me como uma criança com um brinquedo gigantesco que nem sabia por onde começar, mas passadas umas horas já estava a trabalhar e não tive problemas de adaptação a não ser as máquinas que eram muito diferentes das que trabalhei em Portugal, mas com o tempo ultrapassei os meus medos.
Passado pouco tempo fui para o mar trabalhar com os americanos do Golf Oile da Texaco, e mais um problema agora era o Inglês, mas desenrasquei-me.
Como tudo na vida, português tem de aprender a falar a língua do país em que está a trabalhar.”
“Passei maus bocados fora porque fiquei doente, apanhei o paludismo e parti um dedo. No mar passei um mau bocado com a temperatura de quarenta graus e um ar muito seco a que não estava habituado, mas tudo acabou bem. Os chefes não paravam de controlar o trabalho que uma pessoa fazia, esse era o trabalho deles, controlar tudo. Embora eu não gostasse muito, pareciam fiscais das finanças.
Cheguei a ter uma chatice com um chefe francês por causa de um desenho, mas eu tinha a razão do meu lado, mas isso saiu-me muito caro.”
“A religião ou dizendo o fanatismo, é o que eu penso, eles vivem num fanatismo incrível que eu não imaginava (referia-se ao Lémen do Norte), mas é verdade nua e crua, há que respeitar, embora eu respeitasse a deles, eles não respeitavam a minha; eu só estava lá para trabalhar e era o que fazia para não ter problemas com eles, não fazia comentários.”
“Queridos pais e irmãos venho por este meio falar-vos de todo o sofrimento que passei depois de saber o grave problema de saúde com que me deparei.
Quando o médico me disse o que eu tinha sempre pensei que ele estava a falar doutra pessoa, mas não, era mesmo de mim. A minha primeira reacção foi dizer que não podia ser, se fui eu mesmo que falei em fazer essa análise, então ele disse que esse vírus é muito parecido com o da hepatite. Mandou-me repetir a análise num laboratório para ter a certeza, mas o resultado era o mesmo.
A partir desse momento fui fazer teste ao Instituto Ricardo Jorge e passado um mês soube o que não queria saber, a minha primeira reacção foi pensar em morrer porque para mim era uma sentença de morte.
Para quê viver uma vida que deixou de ser vida e passou a ser sofrida para mim e para os meus.
Andei cinco anos a enganar-me a mim mesmo, e nem queria saber, pois eu não admitia que tinha um problema desses, sabia que um dia teria que enfrentar essa realidade.
Acto de desespero pedir ajuda a Deus. Então ia para a Praia Norte e falava e esperava que Ele ouvisse o meu pedido de ajuda, mas eu sabia que a minha ajuda só viria se eu fosse ao médico.
Quando os meus pais souberam foi um choque muito grande porque nenhum estava preparado para uma notícia desta natureza, os meus pais sofreram muito com essa notícia e para mim piorou mais porque eu sabia o que eles andavam a sofrer.
Depois dos meus pais, os meus irmãos levaram um choque muito grande mas todos me deram apoio, eu tinha uma grande família que sempre esteve do meu lado, nunca me abandonou. O que eu posso dizer aos meus queridos irmãos é um muito obrigado porque me aceitaram como sou.
Valter, não tenho palavras para te agradecer por tudo o que fizeste por mim quando estava internado no hospital e as vezes que me levaste para o Porto de urgência. Deste-me muito apoio quando eu precisei e ouviste-me muitas vezes.
Este é o meio que encontrei de te agradecer tudo que fizeste por mim.
Mas o meu sofrimento continuava porque toda a gente falava e eu perdia a coragem de viver.”
“Quando uma pessoa tem fé acaba por ser compensado. Depois de tantos anos de luta sinto-me um homem diferente graças à minha família e à minha mulher que muito me apoiou.”
“Deus escutou a minha voz.
Quando minha vida não tinha sentido
Parei para ouvir
Agora faz todo o sentido.”
A.C.

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