Paróquia e Família numa Diocese em Sínodo
Não pode uma Paróquia abster-se de cuidar com eficiência da Pastoral da Família, pois é prioritária nesta época em que cada vez há mais individualismo.
As pessoas vivem talvez mais próximas, como por exemplo as famílias que vivem no mesmo prédio, que sobem e descem no ascensor todos os dias juntos e nem se falam, ou se se cumprimentam, não sabem o nome uns dos outros...Esta é uma proximidade de espaço que nem sempre corresponde a uma proximidade de relação humana. Para além disso, as comunicações e a via telefone ou telemóvel aproximam-nos em fracções de segundo dum canto ao outro do mundo.
Tantas coisas nos ajudam a aproximar e tão pouco as aproveitamos, sobretudo em relação aos mais vizinhos.
Portanto, será importante em qualquer Paróquia que se dê relevo à pastoral de família. Se isso se pode dizer a propósito de qualquer paróquia, muito mais sendo ela duma cidade, uma paróquia de prédios altos e de bairros maiores que freguesias, etc.,...
Para além disso, os problemas da família põem-se hoje de maneira diferente: há casais que, por motivos profissionais, só se encontram ao fim de semana, há os que se encontram todos os dias, mas com pouco tempo para o diálogo porque o tempo é ocupado nos afazeres da casa, no dar sentido à TV, aos noticiários, às telenovelas, muitas vezes, mesmo à mesa se encontram com os olhos espetados na televisão enquanto levam a comida à boca. Não há lugar, nem tempo para o diálogo com os filhos que, por sua vez, também chegam tarde a casa e têm os deveres escolares para cumprir. Também são eles aliciados pelos programas televisivos que lhes entram em casa sem qualquer problema, com a maior das facilidades, o bom e o mau, e falta muitas vezes a capacidade para discernir entre escolher estudar ou o programa televisivo. Os pais não estão disponíveis para os ouvir ou para atender às suas necessidades, nem para os ajudar a discernir entre o que escolher.
Estamos na civilização da Televisão e da Internet que mostram sobretudo o que é negativo em relação à família, como infidelidades, actividade sexual fora do matrimónio com completa ausência de uma visão moral e espiritual de vínculo matrimonial, e em que são apresentados como positivos o divórcio, a contracepção, o aborto, a homossexualidade (Cf. João Paulo II, no dia 23 de Junho, 38º Dia Mundial das Comunicações).
Vê-se, às vezes, como nos jardins de infância há crianças que, à segunda-feira, falam muito e parecem que saíram da cadeia, ou comem tudo, como quem no fim de semana tivesse passado fome.
Crianças desta natureza estão a crescer para a delinquência e não para um mundo melhor.
É por isso que é imprescindível que a Paróquia tenha a família como principal papel para evangelizar e fazer dela evangelizadora.
Preocupa-nos muito a catequese, mas não é o bastante, porque a catequese sem família para nada vale. Alguns pais são capazes de aproveitar a catequese e até a missa de catequese como tempo livre de "aturar os filhos".
Temos de chegar às famílias, criando condições na Paróquia à preparação, à exigência do CPM, da preparação cuidada dum casamento religioso. O facto de ser-se baptizado não devia dar direito a um casamento religioso, mas sim a caminhada que os jovens vão fazendo até chegar ao casamento pela igreja, isto é, o cuidado com a preparação adequada antes do mesmo. Mas não é o bastante. É preciso pensar nos casais jovens e ajudá-los a formar grupos, equipas, seja em nome de quem for, deste ou daquele "santo", mas é preciso que cada casal crie espaços de encontro, de reflexão, onde se possa rever, dialogar, partilhar, orar, penitenciar e estudar ou trabalhar, realizando tarefas comuns de interesse social para o grupo e para a comunidade.
Temo-nos esforçado pela participação no CPM, mas vemos como muitos procuram fugir. Orientações superiores deviam exigir mais pela licença da Cúria. Os nubentes sem CPM deviam fazer apenas casamento civil.
Sempre estes grupos devem estar sintonizados com o pároco.
Este, não pode fazer tudo e, talvez até nem seja conveniente. Quantas vezes um casal está em crise e a intervenção de um outro casal amigo, ou grupo, é capaz de o restabelecer...consegue-o com mais facilidade que um padre...
Com um serviço de pastoral familiar combatemos também os individualismos de hoje, porque os casais juntam-se. Impõem-se quase espaços livres para a reflexão e outras acções, que darão corpo e farão antever a necessidade de que o que fazem com os outros têm de o fazer com os filhos. As experiências em comum, em relação aos filhos...são óptimas para uma maior harmonia no envolvimento dos pais com os mesmos.
O sensualismo em que se vive hoje, o esquecimento do transcendente, do absoluto, de Deus, são o bastante para se perderem todos os valores da vida.
A vida profissional que muitas vezes obriga as famílias a encontrarem-se só ao fim de semana, a velocidade que todos utilizamos para cumprir todos os horários do dia a dia, os compromissos assumidos, a falta de espaço de diálogo em família em tempo oportuno e útil, leva muitas vezes a criar frieza e a sentir um vazio quer entre os esposos, quer entre os filhos que, muitas vezes, se refugiam numa vida sexual prematura, na droga, no álcool, na criminalidade...
Duma sociedade em que verificamos que, na primeira ou segunda infância, aos filhos que sempre falam verdade, lhes falta em família o carinho, o afecto que lhes é dado nas escolas do pré-primário, não poderemos esperar outra coisa senão aquilo que não gostávamos, nem esperávamos.
Numa altura em que a Diocese está em Sínodo e a evangelização é um dos objectivos, não podemos deixar de colocar o dedo nesta ferida, a igreja tem por obrigação de, nas Paróquias, criar condições para uma pastoral familiar verdadeiramente estruturada e exigente, para que não se brinque com coisas tão sérias como é o matrimónio, que é um sacramento.
Por ser sacramento, pelo qual Deus abençoa e sacraliza o amor entre os esposos, estes têm de estar preparados para o acto, como têm de continuar a viver a vida conjugal com os objectivos claros previstos pelo sacramento. A Comunidade Paroquial não pode deixar que esqueçam que, para além do dia do casamento, Deus continua na vida deles, e que tudo tem ou pode ter solução, se o amor é verdadeiro e há vontade de fazer comunidade familiar com a Comunidade Paroquial, outra família maior.
Numa Diocese em Sínodo há que esperar das paróquias maior exigência neste sector da pastoral familiar.
Quantos se casam hoje e uns meses ou menos de mês já se encontram de "trompas", virados um para cada lado...não é possível!...É incrível!...É desumano!...
Estamos numa sociedade muito materializada, temos que espiritualizar a vida desde criança, passando pela juventude até à idade adulta e para depois, até à morte.
Para quem o sensual é tudo, para quem o materialismo e o consumismo é o seu Deus, não podemos esperar descobrir valores mais altos que dão o verdadeiro sentido à vida, mesmo à vida do Amor. Para esses não há amor, há violência como ídolo duma vida efémera que só vale pela força.
Temos na Paróquia um casal já há anos atender os nubentes, que procura dialogar e descobrir o verdadeiro objectivo da procura do casamento religioso, sensibilizando-os à participação do CPM e, por vezes, sentimos a resistência e descobrimos que o casamento religioso é feito apenas pela tradição de família, pelas fotos, pela festa mais bonita porque... para os noivos, só querem carta verde da família para viverem juntos sem haver discussões. Ora, nestes casos, o melhor que podemos aconselhar é decidir por um casamento civil...
Sendo o matrimónio um acto sagrado, não podemos deixar que seja conspurcado, mas antes dignificado, e muitas vezes há que dizer não...Este não, já devia ter sido dado na altura do baptismo, quando os pais pediram o Baptismo. Parece que isso é igual a ir ao hipermercado mais importante comprar um sabonete mais cheiroso, de cor mais linda, pagar na caixa a uma linda menina que até é muito engraçada ou a um rapaz todo "porreiro" porque até nos faz todas as vontades, procurando que tudo fique bem no filme.
A Paróquia nunca pode esquecer que é uma Comunidade de comunidades, igrejas domésticas e que, por isso, se a família anda doente, a Paróquia não pode sentir-se contente, feliz e de boa saúde...
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