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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Promesas e ex-votos PN 2004

Promessas, Ex-votos, e...
Sempre, desde o paganismo, vem este acto de fazer promessas, votos e cumprir-los aos deuses. Essa iniciativa continuou presente no judaísmo, no cristianismo e também no islamismo.O voto vem de Votum, de vovere igual a prometer é uma promessa livremente a Deus pelo que o homem se obriga a cumprir em certo aspecto um bem (valor) moral, segundo S. Tomás de Aquino.
Há o "Votum personale" ou "votum Mixtum". O voto distingue-se do mero propósito (vontade de fazer ou emitir algo, sem criar obrigação sobre o que já por acaso existia. O que o fez querer ligar-se novamente por uma manifestação especial da sua vontade a realizar valores morais - O Amor.
Por esta intenção, o voto, o mesmo que o seu cumprimento, se converte em actos de religião.
Os votos religiosos vão mais longe. O voto que fazem os padres, as freiras ou os frades: os votos de castidade, de pobreza e de obediência, conforme os casos.
Promessa, de promissa, o facto de prometer algo, conscientemente, livremente e com conhecimento de algo moral ou material. A promessa, ou o voto, exige conversão em primeiro lugar à divindade. Exige esperança, isto é, aguardar com paciência algo de bom, de bens futuros.
A esperança capacita o que promete para suportar até sofrimentos e, por sua vez, o sofrimento pode ajudar a purificar a fé. Ninguém nos poderá separar do Amor de Deus, diz S. Paulo.
As promessas de Deus porque Ele pode, quer e cumpre pela sua omnipotência, misericórdia e fidelidade são provas da sua fidelidade e exigência para nós. A promessa de salvação foi a maior promessa cumprida em Jesus Cristo, pela qual os cristãos têm respeito no N.T., por isso S. Paulo diz a Timóteo" Cristo é a nossa esperança".
Daí a esperança ser a atitude essencial ao cristão… não foge do Mundo. Assim como Deus é fiel, assim a fidelidade do homem consiste na sua disposição para ajustar os seus actos aos seus problemas. A fidelidade é uma acção boa, é uma virtude. " O amigo fiel é um tesouro poderoso". Não se pode comparar um amigo fiel, nem ao ouro, nem à prata que seja digno de se pôr na balança. Com a sinceridade da sua fé… (cf.Elc)
"Servo bom e fiel porque foste fiel no pouco…. Entra no gozo do teu Senhor" (Mt. 25).
Cada um prometa por voto e cumpra o que possa. Não façais votos sem cumpri-los, dizia S. Agostinho.
O voto só obriga a quem o emite. Ninguém pode contrair uma obrigação para outrem.
Se o voto é feito sob condição ou feito para um determinado tempo a obrigação pode cessar. A força da obrigação está na sua origem, na intenção de quem o emite; esta é a primeira norma da interpretação.
Só um voto válido, isto é, tem primeiramente de ser um acto humano. Um acto humano só é valido se o seu objecto é possível, é normalmente bom e não impede algo melhor, é livre, é do conhecimento e parte da vontade. Pode cessar o voto pelo tempo prescrito, se houve mudança do essencial, se é ilícito, se impede um bem maior. Desaparece ainda com a condição ou o fim único, ou principal.
Sempre, desde o paganismo, vem este acto de fazer promessas e as cumprir aos deuses. Sempre essa iniciativa esteve presente no judaísmo e no cristianismo.
Por exemplo, a magia da vela acesa a lembrar o fogo com significados positivos e negativos, conforme o uso, a intenção com que são usados. Vou-me referir às velas acesas, aos santos, à Virgem e ao Santíssimo como sinal de boa sorte, ou então, em cumprimento de promessas feitas e que, obtidos os bens desejados, são colocadas nos altares das igrejas. Às vezes até com perigo para incêndio, para poluir o ar e a arte da igreja, ou dos altares. Acontece, por vezes, que até há "guerrinhas" porque a vela não ardeu toda, ou no lugar da sua, puseram outra.
Este ritual muda segundo a cultura e a idiossincrasia dos povos através dos tempos, durante os séculos, e mesmo hoje. Em todas as igrejas há o altar das velas, o altar da maior devoção. A vela é a mais sedutora da religiosidade popular, não é por acaso, que as pessoas aderem com maior facilidade a uma Procissão de Velas do que a uma Missa.
É que a vela parece dar força para regeneração e protecção, expressão de luz, de generosidade que quebra as trevas e as sombras, sempre causas de medo. A vela ilumina e dá-se, derrete-se para se dar, em luz, em aquecimento e em conhecimento, aos outros.
No entanto, muitas vezes, o problema das velas é o de maior dor de cabeça para os párocos que desejam menos poluição, menos estragos na arte e maior coerência. A promessa fica cumprida desde que entregue a quem administra os ex-votos.
Deixemos as velas e vejamos que há outros votos que são feitos, como por exemplo: Azeite, cera, cravos, flores, frangas pretas ou frangas brancas, sal, milho, ovos, cebolas, telha, mortalhas, romeiros, ir em peregrinação...andar de joelhos,dar três voltas, ir à romaria sem fala; dinheiro, ouro, jóias, cabelo, fotos, corpos de cera, órgãos de cera,como: gargantas, pernas, mãos, braços, pés, barrigas, peitos; papelinhos com pedidos à divindade que se colocam sob as imagens dos santos ou nos buracos das paredes, como por exemplo, acontece no Muro das Lamentações em Jerusalém, ou do antigo Templo...
Depende, como já dizia acima da cultura e dos costumes dum povo...
Qualquer um deles tem o seu significado. Normalmente nos grandes centros de romarias fazem exposição dos ex-votos, à excepção do dinheiro, das jóias ou dos alimentos que se estragam...ou podem ser roubados.
Há sempre uma Comissão Administrativa, normalmente a Comissão Fabriqueira ou a Confraria que administra os referidos bens.No entanto há sempre que respeitar a intenção do doador, dentro do possível. Só uma causa justa, e bem fundamentada, pode muitas vezes obter a aprovação da Santa Sé para dar outro destino ao bem doado, a não ser que esse bem seja facilmente perecível ou biodegradável que não precisa de tal autorização, como seja um uma peça de cera, ou sal, ou flores, etc...assim como uma pequena peça de ouro a C. Fabriqueitra ou a Confraria pode decidir de comum acordo com o doador se ele estiver interesado na peça. Nesse caso tem de ser avaliada e o doador pode-a retomar, em seguida, pelo referido valor. De resto, nem o Bispo tem essa autoridade de mudar a intenção do doador do "ex-voto".
Tudo o resto precisa de autorização da Santa Sé.
Para além das promessas individuais há as promessas colectivas, como em Viana, na pneumónica, fizeram um voto ao Sagrado Coração de Jesus de erguer um templo no Monte de Sta. Luzia.
Noutros tempos também se faziam promessas para os outros cumprirem, mas esse tipo de iniciativa não é válido. Ninguém é obrigado a cumprir, mas pode-o fazer...também não é proibido. O que não é lícito é que alguém prometa ir o amigo a Fátima a pé se for curado da sua doença.
As promessas, noutros tempos, causavam problemas aos familiares, se morressem e não fossem cumpridas. Claro que as últimas vontades são para cumprir, mas promessas que se desconheçam e que, por ventura, alguém venha dizer que o seu familiar é uma das "almas penadas" que não têm entrada no Céu e vagueiam pelo mundo, enquanto não puserem as contas em dia, não é verdade..
As promessas deixam transparecer, por vezes, uma transação e se mantém quase como um mercantilismo, material de troca ou negócio. Esta estrita responsabilidade, como uma relação de mercado é uma fé supersticiosa. Tu dás-me isto e eu dou-te aquilo. Nestas ocasiões as promessas não são cumpridas porque então já não se acredita no divino.
Este tipo de transações que existem em muitos dos crentes e em todas as religiões, é um mau testemunho duma fé coerente, de opção séria, honesta e clarividente.
Esta situação acontece nos maiores santuários, sejam cristãos ou não, ou pagãos...
No entanto, isto não admira porque apesar do incenso que usamos em muitas das nossas cerimónias traz um odor ao ambiente que ao mesmo tempo se presta culto a Deus, dá à assembleia litúrgica a ideia de uma família pela qual se reconhece nesse odor. No entanto, nem esta maneira de agir como família dá lugar a uma relação de troca, a não ser de Amor. Onde a relação é familiar, é um dos nossos...a quem se ama, não se vende, nem se compra um bem moral, como a vida, mesmo sofrendo.

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