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sábado, 12 de dezembro de 2009

Sou Padre...

Sou Padre...
Foi sempre um desejo de pequeno que foi acalentado pela família e à hora de ir para o Seminário, “empurrado” pelo pároco da minha terra lá fui, pois, o exame de admissão de uma semana foi muito traumatizante para mim pela falta da família. Embora a vontade última de meu pai fosse pôr-me a estudar e, por isso, levou-me a fazer exame de admissão na Frei e no Liceu. Passei em todos. Podia ir para quaquer lado, conforme a vontade do meu pai.
Não foi fácil no fim da Escola Primária separar-me da família. Foi duro e os dois primeiros anos foram maus sem prejuizo para o meu desenvolvimento suficiente na aprendizagem, mas após os dois anos já me tinha adaptado a este afastamento do calor da família, deu-me outra força e melhorei consideravelmente os meus estudos.
Entretanto, apareceram dúvidas, dificuldades que fui ultrapassando através do aconselhamento espiritual. Só aos 18 anos, já muito bem integrado na vida social cá fora do Seminário, no campo da cultura, do desporto, da relação com a juventude da minha terra e de outras, da missão, como membro da Legião de Maria activo e dedicado à extensão do respectivo movimento pela região de Viana, Abrantes, Portalegre e Guarda.
A decisão tomei-a com consciência do que fazia. Fui muito livre e com ardor suficiente acalentado pelo trabalho e pelo espírito da Legião de Maria, que me levou até ao diaconado estagiando em Balazar e na Casa dos Rapazes de Viana.
Já tinha alguma experiência pastoral como membro da Legião de Maria, pois dediquei 4 anos ao serviço dos ciganos, organizando para eles uma peregrinação ao Sameiro, em Braga, trabalhando com os presos da Cadeia de Braga e os doentes do Hospital de S. Marcos, também em Braga, onde dei muitas horas de trabalho. Criei actividades inovadoras entre os ciganos como catequese na Capela de S. João do Souto em Braga; festas na Cadeia e acompanhando actividades pastorais com o capelão e os legionários do Hospital de S. Marcos. Balazar foi outra experiência diferente e a Casa dos Rapazes como director interino foram os melhores momentos que tive na minha maturação para a missão do presbiterado.
Não sou padre por direito próprio, aliás ninguém tem direito a ser padre.
A Igreja, assembleia de convocados a começar pelo baptismo, é um espaço de vocação, experiência pessoal em liberdade e diálogo com Deus e com os outros. Todos somos chamados à missão da palavra, do sacramento e da caridade. Eu sou padre da Igreja, na Igreja e para a Igreja. Mesmo assim, considero-me um padre da rua, embora as minhas limitações não me ajudem a esta missão de andar pelas ruas e pelos cafés, onde a igreja tem necessidade de entrar e estar...
Não sou o melhor padre, bem queria que fosse bom, mas tenho muitos defeitos. Esta assembleia de convocados, composta de homens e mulheres, em que todos somos pecadores e só Deus sabe quem é mais ou menos Santo, mais ou menos perfeito, quem faz mais trabalho, quem reza mais, quem mais fala de Deus com a palavra e com as atitudes, comportamentos e gestos, quem sente com o coração e quem sente com a cabeça.
Esta é a maravilha de ser Igreja, comunidade onde todos os leigos e sacerdotes são missionários da Palavra, celebrantes da fé desta Palavra e testemunhos nas tarefas de cada dia através da caridade.
Sou padre porque assim Deus o quis, eu o quero e vós o quereis. Preciso da vossa ajuda para não ser pecador.
Não sou perfeito, sou pecador, mas continuo a ser padre ao serviço de todos e creio que “o Espírito do Senhor está sobre mim”, segundo S. Lucas em 4, 18.
Ser padre é ser pai ao jeito de Deus. É ser para todos aquilo que Deus quer... Se sou Padre sou pai, por isso, me alegra quando estou com os outros que procuram o Pai, o rosto de Cristo.
Esta Igreja é um mistério e tu que me lês se quiseres ser padre, o Senhor te dirá: “Vem e vê”, se te sentes chamado anda daí e vê esta comunhão, esta vida de serviço à procura do bem, seu último objectivo. Se gostares, consagra-te com a unção do Bispo e ele te enviará como pastor. Padre Artur Coutinho

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