Cidade Nova *N.° 06/2010
Esta revista devia chegar às mãos de todos....
Também nos fala do desporto Mundial
Campeonato Mundial - na terra
do perdão
São 32 selecções e mais de 700 futebolistas, incluindo as principais estrelas das melhores equipas do mundo. Durante um mês, os olhos de todos os que gostam de futebol estarão virados para a Africa do Sul. As emoções vão estar ao rubro e espera-se ver em campo o que de melhor o espectáculo do futebol tem para mostrar.
O mundial de futebol é um dos acontecimentos desportivos com maior projecção mediática a nível planetário, tendo apenas concorrência por parte dos Jogos Olímpicos. O país preparou-se durante anos para receber a prova e tem aqui uma ocasião única para mostrar ao mundo a imagem de uma nova Africa do Sul, que assume um cres¬cente protagonismo no panorama internacional.
Esta é também a primeira vez que a prova rainha do futebol é disputada no continente africano. A decisão da FIFA de levar o campeonato do mundo até à Africa do Sul não é reflexo apenas da capacidade do país para responder a um tal desafio em termos organizativos, mas é igualmente um importante sinal para milhões de africanos apaixonados pelo futebol e que, até agora, nunca tinham podido receber a competi¬ção na sua terra.
O poder do perdão
Para lá de uma janela aberta sobre o que farão Cristiano Ronaldo, Messi, Fernando Torres, Drogba, Kaká, ou qualquer um dos outros grandes jogadores que passarão pelos relvados sul-africanos, este mundial será também uma visita guiada pelo país. Há 20 anos o mundo assistiu comovido à libertação de Nelson Mandela. Um momento fundador da construção de uma nova Africa do Sul. O processo que levou ao fim do apartheid estava lançado e, era 1994, Mandela foi eleito presidente do país. O fim da segregação racial e a igualdade entre todos não se decidem, porém, por decreto. Nelson Mandela mostrou estar bem consciente desta realidade e desafiou o país a construir em conjunto um futuro de convivência pacífica entre todos os sul-africanos, independentemente da cor da pele. Ao longo da última década e meia o país passou por uma profunda transformação baseada na intensa aprendizagem de uma convivência pacífica. As marcas profundas deixadas pelos terríveis erros do passado não foram "varridas para debaixo do tapete", mas também náo se tomaram obstáculos intransponíveis que inviabilizassem qualquer possibilidade de construção de um futuro comum.
As feridas deixadas pela história estão, no entanto, ainda longe de ficar saradas. Ocasionalmente surgem relatos que ainda dão conta de problemas internos que resultam, sobretudo, das posições de sectores mais radicais que procuram acertar contas com a história. Mas em todo este, necessariamente, turbulento processo, a África do Sul tem conse-guido ser um farol inspirador para o mundo. Desde o fim do apartheid, o país tem tido a capacidade de tornar visível e palpável o poder do perdão.
Um sonho, uma realidade
O nascimento da nova pátria sul-africana fica umbilicalmente ligado à figura patriarcal de Nelson Mandela. Depois dos anos passados na prisão, o líder do ANC (Congresso Nacional Africano) conseguiu afirmar-se como líder incontestado do país. Mas, muito mais do que a liderança política, a impor-
tância do papel desempenhado por Mandela resulta da capacidade reve-lada para inspirar e apoiar o povo sul-africano na construção de uma terra que faz do multiculturalismo o seu traço mais distintivo. Curiosamente, o desporto desempenha desde sempre um papel central na consolidação da nação sul-africana. Como pudemos ver recentemen-te nos cinemas, no filme Invictas, realizado por Clint Eastwood, a equipa nacional de râguebi foi ura dos símbolos usados pelo então novo presidente do país para criar laços comuns e estabelecer pontes entre todos os sul-africanos. O filme mostra como a selecção de râguebi — antes amada por brancos e odiada por negros — se torna um símbolo de todos os sul-africanos, por ocasião do campeonato do mundo de râguebi de 1995, realizado precisamente na Africa ào Sul. Este foi, aliás, o primeiro grande evento desportivo organizado no país depois de levantadas as sanções impostas pela comunidade interna-cional, era resultado do apartheid. O já referido poder aglutinador da selecção nacional saiu ainda mais reforçado com a conquista, pela África do Sul, nessa prova, do titulo de campeã do mundo. Desta vez, não é provável que a África do Sul consiga a vitória no mundial de futebol. Mas, para a "Nação do Arco-Iris'\ como já foi chamada, esse não será o maior objectivo. O país de 47 milhões de habitantes afirma que tem o seu bem mais precioso nas pessoas. É eguramente que, para essas pessoas, a vitória mais importante é a possibilidade de mostrar ao mundo como, apesar das dificuldades, os sul-africanos continuam a lutar pelo sonho de um novo futuro para a sua terra.
Nelson Mateus
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