Junho em Portugal é festa. Festas populares. Dizem que é por causa dos santos. Qualquer comunidade descobre motivos para se reunir à volta das sardinhas assadas e dos pimentos, dos mangericos e das concertinas, dos bailaricos das ruas, das fogueiras e dos balões que sobem ao ar. Dizem que quem puxa pela nota são os Santos Populares: São António, a 13; São João, a 24; e São Pedro a 29. Mas porque são estes os Santos Populares, e, por exemplo, não o é o sisudo São Paulo, que também se celebra no mesmo dia de São Pedro?
Por que é que a santidade não é popular?
Estarei longe de considerar que são os comes e os bebes, os farnéis e os tunéis, que popularizam um Santo. Bem entendido que não. Mas também entendo que uma barriguinha melhor aconchegada encontra mais razões para bendizer e cantar o Santo que uma vazia. Por alguma razão se diz que o Evangelho não se prega a barrigas vazias. Ora, se o calendário litúrgico posicionou os Santos Populares no tempo da sardinha gorda e do calor das pré-férias, isso é certo que no mínimo os torna mais nomeados.
A questão, porém, é mais funda. Por que existem Santos que não são populares como Santo António, pobre frade franciscano; João Baptista, austero pregador do arrependimento; e Pedro, o pescador impulsivo e autoritário do Mar da Galileia? É certo que em vida eles atraíram multidões, e também é certo que nada havia nelas que saciasse as multidões amantes do regabofe e da tamanquinha. A questão é ainda mais radical: que fazer com os Santos cuja santidade nos inspira hoje repugnância mais que desejo de imitação e de seguimento? Que santidade haveremos de promover: a dos Santos da sardinha assada, a dos Santos de vida esquisita, ou outra? E qual outra? Ou será que a santidade não mais será popular sem sardinhas, concertinas e vinho?
A primeira resposta é que sim, que Deus, o Pai, fonte de toda a santidade nos quer santos. Que o Baptismo nos inscreve no caminho ascendente da santidade. Que Deus não excluiu ninguém do seu plano de santidade, que é o universal plano da salvação. A santidade não é portanto para minorias eleitas, mas para a totalidade dos filhos. De Deus. E mais: o ideal do combate da santidade foi entretanto abandonado por um outro. Pelo do abandono e confiança. (Obrigado, S. Teresinha!) Dito de outro modo: já não é santo apenas quem quer que se afoite no combate, mas quem deixa. Tempos houve em que se propunha o caminho da santidade a quem se oferecia para a mais dura e cega batalha contra si mesmo. Só quem se dispunha a uma irredutível ascese poderia ser galardoado com a medalha e a coroa da santidade. (E que bem que alguns as exibiam sem que a verdade vivida interiormente condizesse com o manifestado!) Mas não. Hoje não assim. A proposta de santidade a que hoje nos desafiamos é a de confiar em Quem nos inspira os desejos santos, que Quem @$ inspira também dá a força para voar aos mais altos cumes. Asantidade é para todos, mesmo os não baptizados. Todos, até os maus. Todos os que fazem da sua vida
uma viaaconsentiud, uma viud Luiu^amuuuc absoluto. Nada em nossa vida tem elevação de totalidade e infinito se a não inscrevermos no e orientação de Deus, se a não depusermos em suas mãos, se, confiando menos em nós, e mais nEle, lha não confiarmos a fim de que faça o que não saberemos ou jamais alcançaremos fazer. A santidade é para essa imensa maioria que nin pode abranger com o olhar nem contar com matemáticas humanas. É para quem estiver disponível para aceitar a sua pequenez e fragilidade, sua dependência, a sua sede da frescura da Fonte Eterna que mana e corre mesmo de noite. Por que não é hoje simpática e popular a ideia da santidade? Ora, porque já não é popular a ideia de ascese e ainda não se divulgou a ideia da confiança. Uma exige combate, a outra abandono. Enfim, poucos são os que querem suar as estopinhas e são poucos os dispostos a reconhecer a sua fraqueza e confiar em Quem tudo pode. Sim, quem é que neste mundo de dura brega competitiva aceitará facilmente a ideia de se apoiar e abandonar, mesmo que seja a Deus? Ideia por ideia, é sempre mais aceitável ser da equipa dos rijos guerreiros que da dos meninos fraquinhos. Ora se a proposta de santidade passa hoje por aceitar a pequenez e a fragilidade pessoal, não vejo que seja ideia que ven a tornar-se muito popular. Nenhum pai tem gosto d ensinar um filho a
er um zero, mesmo dizendo-lhe que o zero pode (vir a) ser um milhão, mesmo que para tal ser tenha de ter muitos zeros! No ADN espiritual que nos configura está-nos in mais a ideia de superação dos limites, que a sua aceitação pela serena entrega a Quem nos ama apesar deles, e assim nos quer para Ele. Não é de todo popular a ideia de se ser santo, mas é esse o caminho e a meta para que tendemos. Tal projecto encontra em cada um de nós um lugar para e pernas para andar: pois mal vale estar carregado junto de quem é o forte, que livre junto dum fraco.
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