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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Jubileu de Santiago de Compostela-Pereginações de autocarro, e a pé que esta Paróquia organiza todos os anos. Há jovens que Têm rumado em bicicleta

“Jôbel” em Santiago de Compostela

Na cidade compostelana, granítlica, artíslica, mística, mágica, mítica, histórica e congregadora dos povos, sentem-se as ressonâncias seculares de reis, de eclesiásticos, de nobres, de burgueses, de artistas, de camponeses, de éticos, de estetas e de aventureiros, que ai experimentaram emoções, percorrendo caminhos íntimos que ficaram materializados nas diversas manifestações culturais e que devem contemplar-se com os olhares do alma.




Os sons de eternidade, a música dos povos, os rituais, os símbolos, os preces profundas, as ansiedades sentidas, os gestos e as palavras misturadas com o aroma do botafumeiro, são completados com o espanto bíblico na admiração do Pórtico da Glória, (séc. XII) o mais completo monumento iconográfico da escultura medieval.

O seu autor, o notável Mestre Mateo, merece um registo especial, quardando-se o sua trilogia: humildade, ciência e sabedoria. A música e a literatura galegas da época, parecem estar ao nível artístico dos obras da catedral.

Assim, em Santiago do Composlela, cumprimos com a poesia Miguel Torga: "E o peregrino vem/Reza devotamente,/Põe no altar o que tem,/E regressa mais livre e mais contente/Assim faço lambém"



Evangelização e tradição

Em Compostela encontra-se o túmulo do Apóstolo Santiago, o Maior. Era um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Pelos evangelhos sabemos um pouco da sua biografia.

Era filho de Zebedeu e de Salomé. Segundo a tradição parece que nasceu num lugar chamado Yafia, perto de Nazaré. Era pescador com seu pai e irmão João, no lago de Tiberíades. Respondendo ao chamamento de Jesus Cristo, juntamente com seu irmão seguiu o Messias durante os três anos da sua vida público. Alguns factos evocam que Santiago, o Maior, era dos mais íntimos de Jesus. Desde a morte de Jesus, até à data do martírio de Santiago, decapitado por Herodes Agripa no Ano 44, em Jerusalém, passaram 10/12 anos, tempo em que pregou em Espanha (Galiza). Tradições escritas dos primeiros séculos, e narrações orais de muitos lugares de Galiza e Espanha, falam da sua pregação.

Aparecem algumas opiniões, segundo as quais, Santiago Maior, teria pregado no Norte de Portugal.

A barca e o "padron"


É da tradição que os restos mortais do Apóstolo Santiago, após o seu martírio, foram trazidos por dois discípulos. Atanásio e Teodoro, a tetras galegas, tendo a barca que o transportava ficado amarrada

numa pedra ("o pedron"), dando assim o nome "Padrón" à localidade. O referido "padron" encontra-se debaixo do allar-mor da Iqreja de Santiago daquela vila, contendo a seguinte inscrição: '"cippus cui nomem pelronum adest, et navim S. Jacobi Zebedaei corporis vetricem aligatam fuisse; pie credilur".

transladados logo num carro de bois, seriam finalmente sepultados num enclave de um antigo castro pré-romano, lugar conhecido como "Liberum donum", ou Libredón





Nos alvores do século IX, o eremita Pelágio descobre, por milagrosa revelação uma arca funerária, que Teodomiro, o bispo de lra Flâvia, atribui a Santiago. Afonso II, chamado "o Casto", monarca d'as Astúrias e Galiza, mandou edificar sobre a sepultura a Igreja que dará origem à catedral românica. Esta converter-se-â paulatinamente em lugar de peregrinação para gentes de toda a condição, procedendo dos mais remotos confins da Europa.

Já no século XI os peregrinos contavam-se por milhares, e a meados do século seguinte a peregrinação tinha alcançado enorme popularidade, A prova deste fenómeno jacobeu é-nos transmitida pelo clérigo francês, Aymérico Picaud, através do seu guia para peregrinos. Neste guia dá-nos conta de quatro caminhos principais, quee através da Europa de então, confluíam por terras gaulesas,






passando pelos Pirinéus, Ibaóeta e Somport, para se unirem em Puenta de la Reina, Navarra, seguindo até Compostela. Este guia itinerário eslá incluído no Liber Sancti Jacobi, mais conhecido como Códex Calixtinus.

Pelo caminho se difundiram ideias, confraternizaram os homens, e se estabeleceu, pela primeira vez, uma linha vertebral entre os países da Europa, comuns nos suas raízes cristãs.

Primeiro itinerário cultural europeu

Este papel integrador e único, do túmulo do Apóstolo, como convocador de homens ao longo dos últimos 1100 anos, e como determinante da articulação duma destacável influência cultural, foi reconhecido, em 1985 pela UNESCO, que declarou a cidade de Santiago "Património Universal da Humanidade", e pelo Conselho da Europa que, em 1987, reconheceu o "Caminho de Santiago" como "Primeiro Itinerário Cultural Europeu”

Desde várias décadas, o Caminho de Santiago está a viver uma renovação no âmbito de novas correntes intelectuais e espirituais, que procuram o renascimento do homem e a recuperação do equilíbrio entre a matéria e o espirito, enlre a civilização e a natureza.

A paisagem cultural de Santiago de Compostela, com o simbolismo geográfico e teológico, consubstancia a congregação secular dos povos na veneração do túmulo do Apóstolo. Possuindo um património material e imaterial expressivos, contribui significativamente para o interculturalismo.

Razões bíblicas do Jubileu

Segundo L. Moraldi, a palavra "jubileu" deriva da palavra hebraica jôbel que significa "carneiro" e, como este tem cornos, significa também "corno trombetar. O jôbel era utilizado paro anunciar as festas e cerimoniais de especial significado.

Os primeiros tradutores da Bíblia, do hebraico para o grega, traduziram esta palavra não como "carneiro", "corno", mas como "perdão, libertação".

Todos os estudiosos parecem concordar que a lei do jubileu faz parte de um corpo de leis muito singular ao qual dão o nome de "lei ou código de santidade", conforme o livro do Levílico.

Este "código de santidade* enumera as festas do ano com os respectivos ritos: Sábado, Páscoa, ás primícias, lesta das semanas ou pentecostes, ano novo, festa do expiação e festa dos tabernáculos, terminando com o ano sabático. "No sétimo ano, será concedido à terra um sábado descanso completo, um sábado em honra de Javê: não semearás... não podarás... não colherás., não vindimarás... será um ano de descanso para a terra e conforto pai a os pobres..."

Em íntima relação com o ano sabático segue-se a lei do jubileu. "Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos... e terás 49 anos. No décimo dia do sétimo mês farás retinir o som da trombeta, tom reservado o eventos especiais; no dia da expiação o som da trombeta ecoará por toda a vosso terra. Será declarado santo o quinquagésimo ano e proclamareis na terra a liberdade de todos os seus habitantes, será para vós jubileu. Cada um recobrará a sua propriedade e voltará para a sua família. O quinquagésimo ano é o ano do jubilou".




Segundo o livra do Levítico, a lei do jubileu propõe um ideal de justiça e igualdade social; é necessário reconhecer que se trata de um ideal audacioso, "embora limitado e que honra a civilização que o propôs, quase como que uma abertura à legislação messiânica", de acordo com L Moraldi.

Ano jubilar

A afluência de peregrinos a Santiago, desde o séc. X, segue-se a instituição do Ano Santo Compostelano, em 1179, pelo Papa Alexandre 111, através da Bula "Regis Aeterni", rectificando o privilégio jubilar concedido por Calísto II (1122), e de acordo com o livro do levítiro (25).

Assim, todos os anos em que o dia 25 de Julho, dia litúrgico de Santiago Maior, coincide com um Domingo, é Ano Jubilar.

A Catedral de Santiago está equiparada a Roma e Jerusalém, em benefícios espirituais.

Através dos séculos a veneração das relíquias sofreu alguns períodos de inconstância Em 19 de Julho de 1884, a Congregação dos Ritos, emitiu um decreto aprovado pelo Papa, declarando que as relíquias achadas em Composlela pertenciam ao Apóstolo San¬tiago Maior e a dois dos seus discípulos. E em I de Novembro, do mesmo ano, o Papa Leão XIII, anunciava a autenticidade da igreja inteira mediante a "Bula Deus omnipotens". Nela recomendava que se revitalizassem as peregrinações ao sepulcro do Apóstolo, segundo o costume dos nossos maiores".

Dia do patrono de Espanha

No próximo dia 25 de Julho, dia litúrgico de Santiago, na Catedral de Compostela realizar e serão as solenes cerimónias do Ano Jubilar, último do milénio.

A liturgia, por certo, decorrerá com a presença de muitos dignatários da Igreja e figuras públicas de várias nacionalidades, bem corno de imensos peregrinos da Europa e de outras partes do mundo.

Outros rituais cumprem- se na Porta Santa, no abraço ao Apóstolo, no veneração das relíquias, no Pórtico da Glória, emprestando um ambiente de comunhão com os antepassados e as marcas da cristandade ocidental.

O cerimonial do botafumeiro com o incenso, associará o homem à divindade, o finito ao infinito, o mortal ao imortal, conforme a simbologia.

Como se afirma no Codex Calixtinus (séc. XII) "ouvir-se-ão falar diversas e variadas línguas por gentes de longínquas terras".

A Santiago de Compostela, segundo Luís Carandell, peregrina se "por aventuro, para conhecer o mundo e ter novas experiências", acrescentando-se, de acordo com a mística jocobeia. o fé e a devoção. Segundo o tradição: "Santiago da Galiza/E um cavaleiro forte/Quem lá não for de vida/Há-de ir depois da morte".

O poema "A Catedral", de Rosália de Castro, poderá ajudar a percorrer os caminhos íntimos da mística jacobeia: "Santos e apóstolos, vedeos, parece/que os lábios moven, que falan quedo/ os uns com outros, e alo na altura/do ceo a música vai dar comenzo,/ pois os gloriosos concertadores/tempram, risonos, os instrumentos./ Estarán vivos? Serán da pedra?/Aques sembrantes tan verdadeiros,/ aquelas túnicas maravilhosas./aqueles olhos de vida cheos?"

Caminhem os que saibam, saibam os que caminham

A fim de enriquecermos o percurso patrimonial a Compostela sugerimos a leitura dos seguintes livros: "Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago" e "Caminhos Portugueses de Peregrinociòn o Santiago", (Tramos Galegos), ambos editadas pelo Xunla de Galicia, além dos muitos estudos publicados neste ano jubilar.

Do grande escritor Dante recomendamos "Vila Nuova", escrito nos finais do século XIII, onde poderemos encontrar referências ao peregrino. "Peregrino é todo aquele que está fora da sua pátria; em sentido restrito, só se entende por peregrino quem vai para a casa de Santiago ou dela volto". "Peregrinos que ides em cuidado/Talvez de algo que não está presente/Vinde vós de tão remota gente...".

É de sublinhar a importância da publicação recente "Porá uma Pastoral da Çultura", do Conselho Pontifício da Cultura. De acordo com a referida publicação, "a articulação da via estética com a procura do bem e do verdadeiro, constitui sem nenhuma dúvida um canteiro privilegiado da pastoral da cultura".

José Rodrigues Lima,                                                               in FALCÃO DO MINHO-ULTIMA-22 DE JULHO DE 1999

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