Acompanhei apenas pelos meios de comunicação social ao meu alcance e cheguei a uma conclusão, talvez, precipitada, mas não a deixo de partilhar sobre o Símpósio, em Fátima, com o objectivo de aprofundamento sobre o sacerdócio, nesta ano sacerdotal, sugerido pelo Santo Padre..
Para um simpósio desta natureza pareceu-me nem quente, nem frio. Alguns extremos, “pensar por si”, “gestor” “construtor”...para não falar de outros pelo meio chocaram-me, pois o sacerdócio ministerial tem de ser orante, tem de se actualizar e estar à escuta do Espírito da Palavra, discernir e abrir-se ao Espírito Santo. Daí que cada um tem a sua maneira própria de estar e ser como os escritores da Bíblia Sagrada, todos diferentes em 10 séculos, mas todos a convergir para o mesmo fim. É que o autor foi sempre o mesmo o Espírito de Deus. Embora dentro do que é sensato no cumprimento das leis canónicas porque a Igreja é uma COMUNIDADE (sociedade) e rege-se também por leis que abrangem o sacerdócio ministerial e o sacerdócio laical a concorrerem para o mesmo fim: Deus que é Amor e que está acima de todas as leis.
Esqueceu-se, ao que me parece, o sacerdócio daqueles que estão dispensados do exercício das ordens que continuam a ser membros da Igreja com formação superior e vida espiritual intensa e aos que foram reduzidos ao estadio laical, ordenação nula. S. Tiago, talvez nos toque o coração ao dizer: não faças acepção de pessoas, isto para os sacerdotes e para os leigos, e entre uns e outros, todos fazemos parte do Corpo Místico de Jesus Cristo, todos somos Igreja. Caim,”o que fizeste do teu irmão?” Afinal é preciso, neste aspecto, também diferenciar o que é uma dispensa e uma redução ao estado laical. Alguns casos que conheço apenas se trata de dispensa... Eu sou Igreja e o outro se é baptizado e não apostatou ou renegou à sua fé, também é Igreja. Pode ser leigo ou sacerdote, pecadores, mas somos irmãos e não me pareceu que o Simpósio abordasse esta abertura ao Espírito da Misericórdia e da Bondade infinita de Deus. Deus é Amor. Deus tem um coração tão grande e tão aberto a justos e a pecadores, aos alegres e aos angustiados, aos que se julgam os primeiros e aos que se julgam dos últimos. Como vamos nós filtrar?!...
Neste momento, o sacerdócio laical passa por problemas angustiantes quando são recasados, não têm grandes esperanças ou meios financeiros para recorrer à nulidade do matrimónio anterior, que, a meu ver na maioria são, de facto, nulos.
Positivamente me pareceu o facto de se ter afirmado que o sacerdote quando confessa não pode esquecer a sua condição de homem, de padre e de celibatário...O famoso Abbé Pierre, gigante da misericórdia, em França, confessou no seu livro “Mon Dieu...pourquoi?” ter tido relações sexuais com mulheres de “ maneira passageira”. No entanto, continua, mas nunca tive uma relação regular porque não quis enraizar em mim um desejo sexual permanente...conheci o que é o desejo sexual, experiência de forte satisfação, mas essa experiência levou-me a uma grande insatisfação porque sentia que não estava na verdade. Portanto este desabafo ou confissão lembra que, de facto, a sexualidade não é tudo.
Em 2006, o Vaticano através do seu responsável para o Clero, admitia a possibilade da revisão do celibato (DM-de 3 -12-2006.
Em relação ao sacerdócio ministerial é preciso compreender que o celibato é diferente da sexualidade. A sexualidade é actividade sexual, como acto, de um amor puro,(livre,conhecimento, vontade e acordo mútuo), caso contrário, nem lhe chamáramos acto sexual , mas uma actividade genital. Portanto reduzir a sexualidade ao celibato é reduzir o estatuto da pessoa humana, segundo João Paulo II. O prazer sexual não resolve o problema de uma inteira e verdadeira felicidade. Há valores mais profundos do que os do prazer da carne. A gula, por exemplo, é uma falta contra o corpo e, ao mesmo tempo, contra a sexo que faz parte integrante do corpo. Pode haver transferências e tudo o qué é exagero, aquilo que vai para além do necessário, é um pecado capital. O celibato é uma opção, vocação , uma renúncia ao uso do sexo por um amor maior a Cristo. É regra disciplinar, é certo; e pode haver outra, mas nunca ninguém terá o direito de obrigar alguém a casar ou ter relações sexuais.
Este assunto já aqui o abordei, mesmo também sobre ordenação de mulheres e todos conhecem a minha posição: orar, escutar o Espírito de serviço e não é assunto para guerras, mas para com paciência aguardar tempos do Espírito.Se essa for a vontade de Deus, os homens não resistirão sempre. Não sou conservador, mas também não vanguardista e exigente. Deus, na hora e no lugar próprio, intervém...
O sacerdote “não pode pensar pela própria cabeça”, de facto é verdade, mas tem de estar atento às obras do Espírito Santo o que nos faz diferentes uns dos outros, também não podemos, nem leigos, nem padres ser manequins, nem é essa a vontade de Deus, nem julgo ser esse o espírito de Direito Canónico que foi feito para os cristãos católicos e não estes para o Direito Canónico.
Nenhum sacerdote, nem leigo se pode fechar ao Espírito de Deus. Abre-te ao Espírito, abre-te!...
Não podemos marginalizar. Alguém dizia, pessoa com grande responsabilidade dos canónicos de Braga “ que não ficaria escandalizado se Lutero fosse canonizado”. D. Armindo Lopes Coelho, Bispo emérito do Porto, um dia disse para um sacerdote dispensado que o estimava mais do que se estivesse ao exercício...Ninguém sabe qual a dimensão desta afirmação, a sua profundidade, mas claro que é insuspeita de paternalismo, de abertura e de muito querer, própria de alguém aberto e generoso... sem prateleiras para pôr no sótão da casa aquilo que já não interessa ou que ainda pode fazer falta, ou lixo que se lança fora, para a rua...ou para a lixeira. Teria ficado na nossa imaginação que este assunto “da dispensa” deveria ter outro tratamento.
Este simpósio não me parece que possa gerar grandes transformações até porque o sacerdote é uma autoridade, tem poderes que outros não têm, os poderes do sacramento da Ordem, mas se lhe falta a humildade, a disponibilidade, a proximidade, a procura da vontade de Deus para servir os leigos, servir a Igreja que não é só hierarquia...está muito longe de cumprir a sua missão.
Não se quer um sacerdote gestor, nem construtor civil, mas um sacerdote de oração, de confissão e da missa ou outros sacramentos, e de trabalho. Não o podemos querer só metido na Sacristia.
Há apenas que evitar deixar apagar a chama da fé e espevitá-la para melhor a levar aos outros por todos os meios que o mundo de hoje nos oferece e estão ao nosso alcance. Antigamente o padre não fazia mais que administrar os sacramentos e podar a vinha do passal ou trabalhar a terra e ainda sobrava tempo para rezar as horas do breviário e muito lazer...Hoje o padre está no mundo e, não faz sentido, como alguns fazem rezar o breviário todo de uma só vez, pela manhã ou à noite, para não ter mais um pecado. É difícil, mas é preciso conciliar a vida e não fugir das modernidades para não deixarmos as ovelhas entregues à sua sorte. Esse, sim, será o que mais mal pode acontecer a um padre e, quem diz a um padre, diz a um bispo.
O sacerdote, em muitos casos, tem de ser tudo e, como S. Paulo, fazer tudo para a todos levar Cristo, ainda que seja andar de bicicleta percorrendo os cafés e os lugares onde se encontram as ovelhas. Portanto tudo é precário e tudo depende das comunidades existentes, das suas culturas e tradições.
O que importa é que o sacerdote seja um homem de fé, de oração, de pregação, de sacramentos, e de trabalho, tudo o que normalmente é preciso numa Comunidade que, teologicamente, tem de ter uma pastoral adequada ao lugar e que conta sempre com o sacerdócio laical: Pastoral proclamada, pastoral celebrada e pastoral de serviço e nunca tirar aos leigos o seu lugar, sobretudo, no que diz respeito à gestão e construção material quando a Comunidade tem de servir, como o Mestre.
Escutar o Espírito Santo é o que falta a muitos que vivem a pensar nos seus próprios interesses à custa dos sacrifícios de ricos ou pobres.
Alguns são grandes padres porque confessam muito, rezam muito, pregam muito,celebram muitas eucaristias, mas , por outro lado não fazem, não servem niguém, nem a Nosso Senhor, antes pelo contrário exploram-n’O no rico e no pobre e esquecem-se que antes do sacramento da Ordem, estão os sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Eucaristia.Todos os crentes participam no sacerdócio de Jesus Cristo.” Como se visse o invisível, manteve-se firme” (Heb.11,27), mas como bem dizia Jacques Loew, mais ou menos isto a propósito do Apóstolo de hoje, tem de usar as armas da pobreza frente à incredulidade da fé. Diz o nosso povo com muita sabedoria “ não se prega a estômagos vazios” e disso, nos deu exemplo D. Ximenes Belo, quando, em Timor, antes de pregar procurou matar a fome e cuidar das necessidades básicas para poder haver equilíbrio para um espírito perceptível. É que a riqueza, o prestígio, o poder, as influências, as técnicas, não são consequências visíveis da fé para os que não a têm...mas só a pobreza é capaz de tornar o invisível em visível.
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