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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

É preciso promover a cultura da esperança

Promovendo a esperança

Era um jovem seminarista quando nasceram os bairros sociais do Porto, como tentativa de resposta às “ilhas” e à habitação degradada da cidade, que me aconselhavam a visitar. Quem servia de modelo de visitador era o Pai Américo, que, vezes sem conta, se sentava nas soleiras das casas do Barredo, onde um “Jornal de Notícias” lhe servia de almofada para amaciar o granito áspero. Com idealismo, seguíamos-lhe o rumo.
A obra Diocleciana de Promoção social (ODPS) sugeria quando, em 1964, me ordenaram sacerdote na Sé do Porto. Mais um estímulo para uma juventude sacerdotal sonhadora!
A obra era uma promessa de humanização, a caminho do desenvolvimento integral de cada homem e mulher e solidário de todos os homens e mulheres, indispensável para a desejada evangelização dos pobres, como tinha aprendido na reflexão teológica e nas práticas pastorais. Não concebíamos o Reino de Deus sem compromissos pela promoção humana, nem práticas da caridade sem justiça e sem respeito pelos direitos humanos, para libertar os desamparados de sua miséria inerente.
Mais de 40 anos passados, a Obra Diocesiana de Promoção Social é um Oásis de esperança no deserto da infância desvalida e da terceira e quartas idades roídas de solidão. Uma rica obra de solidariedade, desde as creches e o pré-escolar, passando pelas iniciativas de tempos livres (ATL), centros de convívio e de dia até aos apoios a domicílio. São centenas e centenas os beneficiários a quem se dá qualidade de vida.
Atenta às velhas e às novas pobrezas, a ODPS comprova, como diria S. Paulo, que somos salvos na esperança, entendia como fé operativa e enriquecida pela fantasia da caridade.
Tal como as missões proféticas de escuta e de prática da Palavra de Deus, e litúrgica, de celebração da fé, a missão sociocaritativa é também teologal e não se fica por uma qualquer motivação ideológica ou pelas práticas meramente filantrópicas, mas exige a promoção das pessoas até repousarem no coração de Deus. A Obra responde pela positiva a quem lhe pergunte pelas razões da sua esperança.
O conselho é de Saint – Exupéry: “Ainda que os teus passos pareçam inúteis, vai abrindo caminho, como a água desce cantando da montanha, Outros te seguirão…” É assim nos Centros Socias da ODPS, um caminho que se faz a andar, bem ao estilo dos peregrinos da esperança.
Já muito antes, o profeta Isaías tinha sabiamente afirmado: “Aqueles que confiam no Senhor renovam as suas forças. Têm asa como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer”. Na ODPS, não se anda às arrecuas, mas em frente. Uma boa prática de esperança nestes pesados e tristes tempos de crise agressiva e insolidária!
Somos peregrinos da esperança que é, como dizia o Padre António Vieira” a mais fiel das companheiras da alma” e se traduz no mandamento novo da caridade. A esperança vence o individualismo e pratica a solidariedade. É a última a morrer sempre que há razões para lutar pelo desenvolvimento integral de cada homem e mulher e solidário de todos os homens e mulheres.
Tem sido assim a prática da ODPS, no brio dos seus técnicos e na generosidade dos seus voluntários. Nos Centros Sociais onde actua, a esperança não fica de fora como no inferno de Dante. Ali não há Inferno porque é lá que mora a esperança…
Afinal, o seu sonho de jovem sacerdote idealista é uma realidade, não sei bem se em São João de Deus, no Lagarteiro, na Pasteleira, no Regado, na Rainha D. Leonor ou noutro qualquer bairro social do Porto
Em todos, tenho a certeza.

Cónego Rui Osório, in "Espaço Solidário" Setembro 2009

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