A única riqueza do sacerdote
A iniciativa do Papa é, sem dúvida, sugerida pela difícil situação que o padre vive hoje em si mesmo, na Igreja e na sociedade. E isto apesar das preciosas indicações do Vaticano II e de tudo o que se lhe seguiu. Porquê? É caso para se perguntar.
A resposta não é imediata nem simples. É todo o povo de Deus, na riqueza e variedade das suas vocações e das suas tarefas, que paga os custos do fim de um modelo de Igreja, pensando para uma determinada situação histórica, que já fez o seu tempo. O Evangelho – é verdade – é sempre novo e sempre contemporâneo em relação a cada momento da História. Mas, precisamente por isso, na fidelidade ao seu inalterável ADN e aos preciosos ganhos da Tradição, é necessário abrimo-nos desarmados, aqui e além, ao sopro do Espírito para compreender onde ir e como fazer.
Isto – repito – vale, em primeiro lugar, para todo o povo de Deus, de quem os sacerdotes são uma expressão qualificada, como o são os outros carismas e mistérios da Igreja. E talvez seja este o ponto – espiritual, teológico, pastoral - a realçar este ano. À luz da autêntica e ainda actualíssima mensagem do Vaticano II e, ao mesmo tempo, sabendo ler e frutificar para a vida de toda a Igreja as injecções de luz e de energia vital que, certamente, não faltavam, nestas últimas décadas, na sua experiência.
A questão, bem vistas as coisas, não é aquela – perdida à partida – de querer conter ou amenizar uma crise que, de facto, está á vista de todos e requer algo de profundo. Mas, sobretudo, a de pedir ao Evangelho - que fala na Igreja e ao Mundo pelo sopro do Espírito – o que devemos fazer ou, ainda melhor, o que devemos ser para acolher e testemunhar o dom de Deus.
Ao declarar um “ano Sacerdotal”, Bento XVI, disse claramente que “Deus é a única riqueza que, de facto, os homens desejam encontrar num sacerdote”. Isto acontece - hoje – quando o padre se torna testemunha credível da presença de Deus na História, que é Jesus, vivo e operante entre “dois ou mais unidos em seu nome”. Aí está a Igreja. É a expressão eficaz de todo o povo de Deus em comunhão com o Papa, os bispos, os múltiplos carismas do espírito e os inumeráveis caminhos de serviço ao homem na vida de todos os dias e nos ambientes mais variados da vida social.
Só se for vivido “em relação”: no presbitério juntamente com o bispo, com as outras vocações na comunhão da Igreja, na capacidade de diálogo com todos – e nunca fechado em si mesmo ou a pensar de modo geocentrista – é que o indispensável e fascinante serviço do padre pode voltar a florir e fazer história, libertando o melhor da sua especificidade: guiar com respeito e em espírito de serviço para as nascentes inexauríveis do amor de Deus que Jesus nos oferece com generosidade. Como, em boa vontade, já acontece de muitas formas e em muitas situações, embora de um modo um pouco discreto.
Piero Coda, in "Cidade Nova" de Setembro 2009
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