Caro P. Coutinho
Saúdo-o e desde já o felicito pela sua presença na internet, tão necessária e hoje em dia tão urgente.
Não tive ainda o gosto de o conhecer pessoalmente, e só desejo que a vida acabe por permitir saudá-lo de viva voz.
Foi um dos serviços de netclipping que me conduziu ao texto do seu blogue sobre a Felicidade, que achei muito interessante sob vários aspectos. E que me sugeriu alguma reflexão.
Sim, continua a valer a pena falar de felicidade não tanto porque o homem não desista de a procurar, mas porque Deus não desiste de a oferecer aos homens.
Disso mesmo fala o testemunho dos santos, daqueles que sabem que não são nada, e que experimentaram que Deus é tudo; que não falam de si mas d'Ele.
Os santos de Deus multiplicam-se na Igreja, e parte do fascínio de quem pertence a esta grande família é surpreender a santidade de Deus a manifestar-se em expressões tão variadas. Deus é muito maior do que pensamos e a Igreja é muito maior do que sabemos.
Também Josemaria Escrivá se emocionava com a Igreja, em toda a sua divina variedade, que considerava o verdadeiro Corpo Místico de Cristo.
No Simpósio Teológico "Santità e Mondo" sobre o fundador do Opus Dei, organizado pela Faculdade de Teologia do então Ateneo Romano della Santa Croce, de 12 a 14 de Outubro de 1993, o Cardeal Ratzinger disse a certo momento (os sublinhados são meus):
Existe uma realidade que salta à vista quando alguém se aproxima da vida de Josemaria Escrivá ou entra em contacto com os seus escritos: um sentido muito vivo da presença de Cristo. "Aviva a tua fé. - Cristo não é uma figura que passou. Não é uma recordação que se perde na História. Vive! "Jesus Christus heri et hodie: ipse et in saecula!" - diz São Paulo. Jesus Cristo ontem e hoje e sempre!" (Caminho, n. 584). Este Cristo vivo é também um Cristo próximo, um Cristo em que o poder e a majestade de Deus se tornam presentes através das coisas humanas, simples, comuns.
Pode-se, pois, falar relativamente a São Josemaria Escrivá de um cristocentrismo vincado e singular em que a contemplação da vida terrena de Jesus e a contemplação da sua presença viva na Eucaristia leva à descoberta de Deus e à iluminação, a partir de Deus, das circunstâncias do viver quotidiano. "Jesus, crescendo e vivendo como um de nós, revela-nos que a existência humana, a vida corrente e comum, tem um sentido divino. Por muito que tenhamos pensado nestas verdades, devemos encher-nos sempre de admiração ao pensar nos trinta anos de obscuridade que constituem a maior parte da passagem de Jesus entre os seus irmãos, os homens. Anos de sombra, mas, para nós, claros como a luz do Sol. Mais: resplendor que ilumina os nossos dias e lhes dá uma autêntica projecção, pois somos cristãos correntes, com uma vida vulgar, igual à de tantos milhões de pessoas nos mais diversos lugares do Mundo" (Cristo que passa, n.14).
Mais tarde, no Osservatore Romano, o mesmo cardeal escreveria:
Josemaria Escrivá não se considerava «fundador» de nada, mas apenas uma pessoa que quis cumprir a vontade de Deus, seguir a sua acção, a obra – precisamente – de Deus. Neste sentido, o teocentrismo de Escrivá de Balaguer, coerente com as palavras de Jesus, significa esta confiança no facto de que Deus não se retirou do mundo, que Deus age ainda agora e nós devemos apenas pôr-nos à sua disposição, estar disponíveis, ser capazes de reagir à sua chamada, o que é para mim uma mensagem de grandíssima importância. É uma mensagem que leva à superação daquela que se pode considerar a grande tentação do nosso tempo: isto é, a pretensão de que depois do big bang Deus se tenha retirado da história.
Desculpe ter-lhe roubado um precioso tempo para partilhar estas reflexões.
De novo o felicito. Envio os meus cumprimentos, e estou ao seu dispor.
O Director do Gabinete de Imprensa.(da Opus Dei)
Pedro Gil
Agradeço. Padre Coutinho
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