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Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

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sábado, 20 de novembro de 2021

 Joelheira de madeira, Escova de piaçá, sabão amarelo, farrapo ou pano para limpar

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

D. Anacleto Cordeiro Oliveira

 




D. Anacleto Cordeiro Oliveira

 

 

 

D. Anacleto está no Céu, cedo demais. Agora, em Paz, junto de Deus zelará pelas suas ovelhas de outro modo.

Era um Homem. Um Sacerdote simples, trabalhador na sua vida sacerdotal e profissional (professor) e Pastor como Bispo. Quando tinha o seu dia livre ia até Cortes, talvez serra de S. Mamede, ao largo de Leiria trabalhar a sua quintinha e o seu jardim, estar e conviver com a família. Não falava ele tanto de Família? Até quis ser sepultado junto dos seus pais.

 

Nas homilias ele falava baixo, afinal, porque conhecedor da Bíblia e de cada uma das suas Palavras que as dominava com o sentido de Deus, inspiradas e escritas por homens.  Gostava de que as suas ovelhas as entendessem como proposta do Pai do Céu aos Homens de boa vontade. Deus não grita. Fala de coração para coração, levemente, como um Pai bondoso que quer junto de seu Filho que ele ouça com o coração e a mente para interiorizar e receber como resultado uma resposta e recompensa recíproca de um amor filial. Com os adultos e os jovens falava e brincava à sua altura e com as crianças até no chão se sentava para se aproximar mais das criancinhas… porque delas é o Reino de Deus, Elas são os anjos na Terra.


Ele, e outro colega de curso de 1969 foram ambos estudar para Roma: Ele Anacleto Cordeiro Oliveira e o outro que se chamava Rogério Pedro Oliveira. O Rogério morreu mais cedo de um acidente no regresso das aulas em Coimbra e o Anacleto morre mais tarde também de acidente de carro. Segundo me informaram foi o Padre Doutor Anacleto, professor em Coimbra que fundou e preparou como Mestre o “RABI, isto é, o Regulamento da Administração dos Bens da Igreja. Deste modo todo o clero da dioceses recebia o mesmo salário mensal, na diocese de Leiria.”

 


 

Ouvi uma senhora minha amiga de Fátima chamar-lhe “ o Pantufas” quando foi nomeado para Bispo de Viana e dar-me os parabéns.

Até que enfim que alguém lhe chamaria antes como pude saber agora ao abrir o site Cantabo-cs,  conforme segue:

“(Havia  alguém que, cantando  na Missa das 15 horas, que tu celebravas religiosamente na Basílica de Nª Sª do Rosário, no Santuário de Fátima, pela leveza da tua postura, humana e sacerdotal, pela delicadeza com que tratavas as  pessoas e os temas da Liturgia, que tão bem comentavas, não fosses tu um expert na matéria, sábio no  interpretar e na vivência da Escritura que estudaste em profundidade e amaste de forma tão bela e solene, te apelidava

de “Pantufa".)


 

Não é desdém, é carinho, é admiração, é ternura, é a simplicidade com que tratavas as coisas e as pessoas e que quem via e ouvia louvava…

Lembras-te que havia gente que vinha, de perto e de longe, por saber que àquela hora eras tu que celebravas…

É assim que, recordando esses tempos em que estive contigo em tarefas no Santuário, é assim, repito, que também gosto de te chamar: “Pantufas”.

Pois, meu caro colega e sempre amigo, bom desportista (lembras a nossa equipa de futebol, os nossos torneios de voleibol e de ping-pong – lutámos bem!), estudioso sempre distinto e sempre amigo, sem alardes…

A minha sincera homenagem. Junto o folheto editado para a tua Sagração Episcopal que, com  muito carinho, dedicação e solenidade, o Coro do Santuário, de então, amavelmente acedeu solenizar.

Um abraço amigo. Até sempre! AO” Artur Oliveira

 

 

 

Aqui está um colega que falou dele com este impressionável carinho.

Um Bispo que um dia disse a um padre que “prefiro salvar o padre do que salvar a Igreja”. Claro que ao salvar um padre salvava a Igreja, mas ele disse-o daquele modo persuasivo para dizer aquilo que todos sabemos do Evangelho sobre a correcção fraterna. D. Anacleto falava com toda a gente e com facilidade criava empatia e não havia pergunta que ficasse sem resposta, não deixava conversa a meio e tinha uma postura de escutar, escutar e depois de muito escutar, de olhos penetrantes, num intelecto reflexivo, acabava por dizer o seu parecer segundo o que tinha ouvido e falava do que ele próprio fazia.

Sabia e dominava as escrituras sagradas e nada lhe faltava. O acto de crismar marcava as pessoas com a palavra, o gesto, o olhar que acompanhava e que, se não fosse mais nada marcava, com uma empatia incomparável. Fazia uma vida simples e de alguma austeridade, mas sempre muito feliz.

D. Anacleto, numa visita pastoral a esta Paróquia, apesar do pároco estar hospitalizado, cumpriu todo o programa dos dias da semana e nunca se mostrou cansado; visitou os doentes, as diversas 9 respostas sociais do Centro Paroquial (C. Dia, C. C., Jardim, Berço, Sad, Refeitório Social, Serviços, a Biblioteca e o RSI, incluindo mais a Escola de Pintura, de Música, o Centro Comunitário de Apoio ao Necessitado / Recolha e Distribuição, os Escuteiros e Ozanan - Centro da Juventude. No dia de feira passou a manhã na feira a falar com os feirantes fazendo todo o percurso da mesma falando com todos eles e celebrou missas nas igrejas e visitou capelas. Reuniu o Conselho Pastoral Paroquial e veio na tarde de Domingo crismar cerca de 80 pessoas.

 


 


D. Anacleto ficou bem gravado no coração de todos e a sua morte que, naturalmente, foi anterior ao acidente foi um choque para os vianenses. Desde que veio e tomou posse da Diocese de Viana participou todos os anos no dia 24 de Dezembro no Natal dos Presos pela tarte e a hora da ceia passava-a com voluntários no Natal dos Sós, onde participavam pobres de todos os géneros de pobreza e de pessoas que, não sendo pobres, viviam sós e juntavam-se aos pobres. Era uma festa de ceia de natal com muita harmonia e alegria entre todos, com os voluntários atentos a todos os pormenores e a trabalhar o máximo.

No final da ceia seguia para celebrar na Sé a missa, conhecida pela missa do galo. Era o dia completo e dos mais felizes de D. Anacleto bem manifesto e testemunhado no final e na Missa em Louvor do Nascimento do Menino Deus.

P. Coutinho

 

terça-feira, 11 de maio de 2021

“A retirada de Guileje”


“A retirada de Guileje”

Alexandre Coutinho e Lima, coronel de artilharia, já foi pai, já plantou árvores e escreveu um livro. Natural da freguesia vianense de Vila Fria, onde nasceu em 1935, frequentou a Escola do Exército e, no tempo da guerra nas colónias, fez duas comissões na Guiné, como capitão, e, já major fez uma outra, nomeado pelo general Spínola, como comandante do COP 5, em Guileje.

"A RETIRADA DE GUILEJE" (22 DE MAIO DE 1973/A VERDADE DOS FACTOS) vai já na 5ã edição e o autor dedica-o à sua mulher, aos dois filhos e cinco netos. Conforme escreve no prefácio G. do Espírito Santo, general do exército, nas operações militares na Guiné, "a partir de 1972 tornou-se evidente que o PAÍGC necessitava de uma prova de força perante a autoridade portuguesa, perante as operações e perante a comunidade internacional”. Todavia, conforme referiu um dos seus comandantes, "numa reunião havida como Amílcar Cabral, em Agosto ou Setembro daquele ano, em Conakry, escolheu-se como centro de gravidade para aquela prova Guileje". Um alto dirigente do PAIGC afirmou, na mesma reunião, que "Se este quartel cai, tudo à volta também cai".

O livro tem cerca de 470 páginas onde tudo é contado ao pormenor. A edição, composição e maquetagem é da DG Edições, impressão e acabamento de VASP DPS, a capa e revisão de texto de Maria Filomena Folgado e a foto de capa (vista aérea do quartel de Guileje) é de José Neto (já falecido).

                                                                                  In Aurora do Lima 6/05/2021

 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Igreja paoquial da Sagrada Família

A propósito da Igreja Nova, extraímos um texto do livro cujo autor se indica

 

 

 

 

 

 

 


Arquitetura Religiosa pós Concílio Vaticano II:

Adequação do espaço celebrativo ao rito litúrgico

caso do Alto Minho

 

Jorge Alexandre Rodrigues Martins

Vila Nova de Cerveira, março de 2015

 

 

Estudo de Caso 2

3.1.2 – Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo

 

 

 

Fig. 83: Localização EC2

Fonte: http://www.google.pt/imagens

 

 

 

 

 

 

 

                                               Fig. 84: Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação

A Igreja da Sagrada Família localiza-se na Freguesia de Stª Mª Maior, concelho de

Viana do Castelo (41º 42’ 19’’ N, 8º 49’ 30’’ O), e pertence à Fabrica da Igreja de

Nossa Senhora de Fátima. A sua implantação é junto à variante norte da cidade, que

comunica a A28 com o hospital distrital.

Como referia o pároco da igreja, padre Artur Coutinho (ver entrevista completa no

anexo 5.3), “a sua localização no meio da comunidade é importante, aproximando-se

dos fiéis“, tendo em conta que a freguesia tinha expandido para Norte, e a nova zona

em causa não tinha nenhum espaço de culto, e acrescenta que esta “ surge por uma

questão de necessidade de mais espaço e mais conforto“ (comunicação pessoal, 18

de outubro, 2014), visto a igreja existente (N. Sª de Fátima) ter ficado, pequena,

distante e sem comodidades para os tempos atuais.

Segundo o pároco, aquando da sua nomeação em 1978, já se falava numa nova

igreja e, desde então, “andamos para a frente” com o projeto, dando assim

cumprimento a um desejo comunitário há muito requerido. Neste sentido refere que

as igrejas antigas são frias (e não é por uma questão térmica). Os homens

de hoje não podem ser parasitas, toda a vida, de um estilo (tipologia) do

passado, tem que haver evolução, e as pessoas têm de se adaptar aos

tempos de hoje. Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)

Daí que, na sua opinião, este novo edifício, tendo em conta a sua arquitetura, foi

perfeitamente aceite pela comunidade e entidades oficiais, que o viram como um

elemento dinamizador de toda uma localidade, transmitindo uma imagem de

modernidade e sendo uma marca da cidade (Fig. 84).



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Análise descritivo

O autor do projeto foi o arq. Luís Faro Viana em 2004 (ver entrevista completa no

anexo 5.2) tendo a obra prolongado por cerca de oito anos, foi inaugurada em 8 de

setembro de 2012. Neste momento, o edifício encontra-se inacabado, faltam salas,

serviços administrativos, entre outras, mas o espaço de celebração está concluído,

sendo o seu funcionamento diário e normal.

Antecede a esta proposta um projeto licenciado pela Câmara Municipal em 2000

(PO-217/00) que previa a fusão de igreja com o centro paroquial e social.

Posteriormente houve uma reavaliação das pretensões, tendo os dois espaços sido

concebidos por separado, e a igreja em causa entregue ao arquiteto supra referido.

Esta divisão deve-se, essencialmente, a questões logísticas e jurídicas de

financiamento da obra, que neste âmbito da pesquisa não importa aprofundar.

A nova proposta contemplava a ocupação do lote nº28 (processo de loteamento

974/98), na zona da cidade densamente urbanizada da Abelheira, junto à base do

Monte de Stª Luzia. Neste sentido, o autor considerava este lote, e todos os

elementos que o caracterizam como ”terreno fértil à imaginação”, tendo este espaço,

administrativamente (PDM) ficado reservado para equipamentos.

O programa previa a instalação de uma igreja com capacidade de 800 pessoas,

salas de catequese e atividades socioeducativas, bar e sede dos escuteiros.

Não é alheio a este programa o facto da freguesia em causa ser muito dinâmica e

interventiva em ações sociais, considerando o autor esta zona como “um ambiente

ideologicamente aberto” (2004) requerendo um ‘perfeccionismo e apuro’ das formas

na conceção do edifício em causa. O conceito da mesma foi: a Árvore da Vida.

(Teologicamente, a Árvore da Vida era uma das duas árvores que Deus colocou no

centro do jardim de Éden.)

                                                

Fig. 85: Enquadramento urbano EC2

Fonte: http://www.imprensaregional.com.pt

 

Na conceção inicial da proposta da nova igreja, o autor referia que a arquitetura “tem

que ter sentimento” Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014), e tem que

ser fruto das incidências e de uma leitura da envolvente. Neste sentido, o que mais

prevalecia no entorno eram os círculos, na opinião do autor, daí a ‘curva’ ser a tónica

dominante de toda a morfologia do espaço, de salientar que a curvatura das paredes

exteriores é fruto de circunferências de igual raio.

O autor refere-se à proposta apresentada como querendo criar

um elemento que fosse destinto do resto, e para enfatizar esse objectivo, a

própria Câmara Municipal alterou a materialidade da envolvente para melhor

enquadrar esta proposta. Pronunciando-se o presidente da Câmara na

época, o Defensor de Moura, com a frase ‘gosto, gosto!’ em relação à

proposta da nova igreja, agilizando desta forma o licenciamento da mesma.

Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)

E termina por dizer que quando chegou a esta forma, tudo isto foi feito com muita

seriedade e com muito critério.

Em relação ao desenvolvimento do programa, ele distribui-se em duas

espacialidades diferentes, por um lado o corpo principal da igreja ‘visível’ e as salas

de catequese e outras de apoio ‘ocultas’, adaptando-se, desta forma, o edifício à

topografia existente, vencendo o desnível do terreno no sentido N/S.

Enumera-se sucintamente, que o programa era composto por 15 salas de catequese

com paredes amovíveis para melhor gestão do espaço, respetivas instalações

sanitárias e demais espaço de apoio, num total de dois pisos semienterrados que

perfaziam 1547m2 de área construída.

O essencial do programa, que é o espaço de culto – a igreja - é composto por dois

espaços, sendo o principal no piso 0, no piso 1 existe um “tribuna” que se articula

com o anterior através de uma escada (Fig. 86). Este espaço superior é importante

em dias de grande festividade ou até mesmo quando há algum evento musical no

edifício, sendo este tipo de espetáculos frequente neste recinto.

 

 

Fig. 86: Piso 1 (tribuna) EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

A lotação total da igreja é de 804 pessoas, 626 no piso 0 e 178 no piso 1, de

mencionar que o espaço está habilitado para pessoas com mobilidade condicionada,

e, como tal, no interior há 5 lugres para estas situações.

O piso 0 é o espaço primordial por excelência, e assim as relações quer interiores

quer exteriores são relevantes e serão devidamente analisadas.

O acesso exterior ao arruamento é franco e no espaço sobrante no lote é criado um

estacionamento para 80 lugares, colmatando o fecho do quarteirão.

A entrada no edifico é ‘pausada’ por um pequeno nártex porticado, característico nas

primeiras igrejas cristãs, onde o portal principal, centrado no edifício, abre-se para

norte, sendo ladeado por duas portas de uso diário. De referir um pequeno desnível

entre o estacionamento e a entrada principal.

No interior há dois elementos que ganham destaque de imediato, por um lado a

estrutura construtiva aparente (colunas), de secção circular, orientam o olhar para o

altar e, por outro lado, esse mesmo altar encontra-se à mesma cota (altimétrica) da

entrada (Fig. 87).

No primeiro caso, os pilares foram desde o início assumidos pelo autor, que

considerou a estrutura como muito importante, inicialmente já contemplada no

projeto, evitando-se assim surpresas na execução da obra; o segundo aspeto

referido é simbólico, e nesse sentido o autor refere que

colocar a cota da entrada ao mesmo nível que a cota do altar, foi uma opção

simbólica, assim como a cruz na histerotomia da caixilharia exterior é

propositada e foi, talvez, o único simbolismo religioso presente no edifício.

Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)

 

Fig. 87: Elementos simbólicos EC2

Fonte: Fotografia e montagem de autor (2014)

 

Ainda no piso 0, a sua área de construção total é de cerca 1130m2, sendo a maior

igreja do Alto Minho. Para além dos equipamentos de apoio, o espaço litúrgico é

composto pelo altar no quadrante Sul, pela nave principal e por duas naves laterais

(Fig. 88). Estas, por seu lado, são delimitadas por fileiras de pilares, que perfazem o

número de catorze, o mesmo número das estações da via-sacra, que é o elemento

que eles contêm - as estações da via-sacra.

Os grandes vitrais laterais orientados, preferencialmente, ao quadrante norte,

permitem uma iluminação constante e difusa do espaço, tendo sido muito cuidada e

ponderada, refere o autor.

 

 

 

 

 

Fig. 88: Planta interior EC2

Fonte: Projeto de Licenciamento-CMVC

 

 

 

A assembleia é inclinada no sentido do altar, vencendo um desnível de um metro

desde a entrada. Os bancos são corridos, somente interrompidos pelo corredor

central que relaciona diretamente a entrada com o altar.

O interior assume uma construção nua, num espaço rígido devido aos elementos

maciços e às paredes opacas e lisas. A planta é longitudinal, marcada por um eixo

central, com suportes intermédios (pilares) exibindo relações abstratas entre planta e

fachada.

O recinto interior é único, definido por uma alternância entre paramento-pilar-vitral,

onde o altar, graças a esta composição, obtém uma importância extra no conjunto. O

paramento aproxima o exterior e interior, através do efeito lumínico produzido pela

entrada de luz nos panos verticais dos grandes vitrais.

Todos os elementos construtivos foram manipulados para enfatizar o máximo

protagonismo do altar na sequência entrada-presbitério, seguindo as

recomendações teológicas da Igreja

 

Quanto ao exterior, o revestimento é em cobre com o embasamento em granito

bojardado. A materialidade do cobre é algo que personaliza e identifica a nobreza do

edifico, é algo marcante e, como tal, referência assumida por todos os intervenientes,

com um “significado especial” diz o autor. Sobre esta matéria o pároco refere que

o cobre do revestimento foi muito caro (daria para pintar duas vezes a igreja),

mas o arquiteto justificou a opção com a tonalidade que adquiria no futuro

(esverdeada) e com o impacto que teria junto ao Monte de Stª Luzia.

Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)

 

Fig. 89: Revestimento exterior EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

 

A volumetria do edifício é definida por panos de paredes curvos que encerram o

espaço litúrgico, simétricos e o desfasamento dos mesmos é preenchido pelos vitrais

que se desenvolvem desde o pavimento até à cobertura. Por seu lado, a cobertura é

plana, de uma só água e com inclinação descendente no sentido entrada-altar (Fig.

90), acompanhando a topografia existente e que segundo o autor permite “uma

leitura variável que se acentua no pórtico da entrada” (comunicação pessoal, 23 de

outubro, 2014)

 

 

 

 

Fig. 89: Revestimento exterior EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

Fig. 90: Alçado nascente EC2

Fonte: Projeto de Licenciamento – CMVC

 

Análise dos indicadores – EC2

Espaço Litúrgico (geral)

Participação ativa

A participação ativa poderá ser enfocada de vários prismas, é importante referir,

neste caso, a mais-valia da definição de um programa concreto que vá ao encontro

das necessidades da comunidade. Neste contexto, o edifico em causa é portador de

uma valência que fomenta grandemente essa mesma participação que é o facto de

possuir um serviço de ‘babysitting’, como referia o padre Coutinho “as crianças mais

novas, que ainda não assistem às celebrações, poderão ficar ali a brincar, em

segurança, para comodidade dos pais” (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),

que desta forma poderão acompanhar a celebração de forma proveitosa.

O edifício adapta-se, assim, à contemporaneidade e às exigências do tempo atual,

dando um sinal inequívoco de adequabilidade à comunidade eclesiástica,

fomentando o dever pastoral da Igreja.

A participação ativa é tão mais eficaz, quanto mais a comunidade interagir e se

envolver nos atos litúrgicos. O edifício terá de proporcionar condições de mobilidade,

acessibilidade e outras, aos fiéis, mas per si não é suficiente para o sucesso desta

vontade pós-conciliar.

Neste aspeto, a igreja em causa, sendo a maior da Diocese de Viana, não apresenta

uma monumentalidade (interior) que intimide e iniba as fiéis, devido entre outros

fatores à fragmentação do espaço pelos pilares enfatizando o modelo axial que a

caracteriza. O altar surge, então, elevado, num ambiente puro, simples e sem

distrações.

A assembleia inclinada é uma opção válida, onde o corredor central, largo e

generoso (Fig. 92), faz a comunicação desta com os degraus que elevam ao

presbitério. Como nota, referir a ausência que qualquer apoio e/ou guarda de auxilio

na transição desses mesmos degraus, facto sempre delicado.

 

Fig. 92: Corredor central EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

O espaço da assembleia, que se localiza no piso 1 (tribuna), tem dificuldade numa

comunicação mais direta com as ações litúrgicas, mas a utilização do mesmo é

pontual. Por exemplo, aquando da comunhão, neste espaço é o próprio pároco que

se desloca ao local em causa.

O pároco refere que a igreja “no sábado às 16h00 e no domingo às 11h00 enche por

completo e funciona bem. Com muita ou pouca gente, o edifício é completamente

funcional” Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), e relembra-se

que a capacidade é de 800 pessoas sentadas podendo em ocasiões especiais

receber 1200, contando-as de pé.

Esta participação, para ser efetiva, terá de ser assumida e vivenciada pela

comunidade, neste sentido, esta quando interrogada sobre o assunto (ver

entrevistas completas no anexo 5.4) refere que “sim, esta igreja fomenta a

participação. As antigas não deixam as pessoas tão à-vontade”, outro testemunho

diz que “parece-me bastante funcional e prático, para além disso também é seguro”

(comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Estes são alguns exemplos das

opiniões daqueles que de facto sentem e manipulam o espaço litúrgico citado, onde

no cômputo geral o parecer da comunidade é satisfatório quanto à adequabilidade

do espaço a uma participação ativa.

 

Fig. 93: Distribuição geral EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

A Igreja da Sagrada Família de Viana é o fiel reflexo de um espaço aglutinador das

premissas do Concilio Vaticano II quanto à participação. É um espaço luminoso,

desafogado, simples, onde a elevação do presbitério tem uma duplicidade funcional

e simbólica, democratizando a proposta.

O espaço único envolve o altar em ampla curva interior, que o pároco designou de

‘útero’, aproximando o presbitério da assembleia em gesto de simplicidade

organizativa e de inspiradora força simbólica.

Espaço Litúrgico (geral)

Comodidade

Em 1 de setembro de 2012, o Jornal de Notícias, em artigo referente à inauguração

da igreja escrevia: “de linhas contemporâneas, gigante, com chão radiante para que

os fiéis possam orar de pés quentes”, não sendo indiferente ao repórter o facto de

este edifício estar dotado de um aquecimento, que acompanha as necessidades

atuais das populações.

Neste sentido, a comodidade quer térmica, quer acústica estão garantidas neste

novo espaço, referindo o pároco que até ao momento não foi comunicado qualquer

desconformidade neste aspeto, relembra-se que o edifício é recente.

Os bancos corridos de madeira tratada são os adequados a estes espaços,

permitindo o genuflexório. O conforto visual é garantido e melhorado pelo facto de a

assembleia ser inclinada, apesar de nas naves laterais e “tribuna” superior a

visibilidade do presbitério ficar parcialmente comprometida pela existência dos

pilares (Fig. 94).

O sistema de som é moderno e eficaz em todo o espaço.

Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo

sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também

bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os

genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)

de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade

contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço

para os atos litúrgicos.

Fig. 94:

 

 

Fig. 94: Pilares estruturais EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo

sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também

bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os

genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)

de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade

contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço

para os atos litúrgicos.

 

Esta igreja aposta no aproveitamento da energia solar, através de painéis

fotovoltaicos, que permitirão reduzir os consumos elétricos e, devido à grande

luminosidade interior, as celebrações serão feitas apenas com a luz natural.

O pároco referia que “temos de pensar nos fiéis e nas condições que oferecemos”

(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), justificando, assim, toda a tecnologia

aplicada ao edifício, fazendo parte da igreja transmitir esta modernidade.

A comodidade do coro em participar nas celebrações é total, isto porque está

localizado junto ao presbitério numa nave lateral (Fig. 95), onde a sua presença é

discreta, limitando-se unicamente ao acompanhamento musical, neste sentido o

autor da obra referia que “em relação à acústica, sempre pressenti que funcionaria

bem pela experiência que tinha em assistir a concertos em espaços com a mesma

forma.” (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)

 

Fig. 95: Local do coro EC2

Fonte: Montagem de autor (2014)

 

Espaço Litúrgico (presbitério)

Centralidade

Os alinhamentos definidos pelos pilares, simples e harmónicos, onde o volume

decresce de altura à medida que se aproxima do altar, numa organização evoluída

da planta basilical, geram uma perspetiva pura e direta, para onde converge toda a

iluminação natural.

A planta montada num eixo longitudinal enfatiza o caminho desde a entrada sombria,

até ao presbitério inundado de brilho e magnificência lumínica (Fig. 96), presidido por

uma bela representação artística da sagrada família, que personaliza o espaço, cuja

autoria são artistas locais.

A subtileza extrema dos elementos construtivos, sem cor ou outra decoração que

não a proporcionada pelos materiais, gera uma curiosa volumetria, onde o teto

fragmentado é o limite do olhar, produzindo um lugar calmo e solene.

 

Fig. 96: Espaço interior EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

Note-se que a iluminação nunca incide diretamente no espaço, mas é potenciadora

de uma atmosfera simbólica, obtida através da conjugação desta com a

materialidade e o cromatismo dos elementos existentes (bancos, pavimento, entre

outros), definindo claramente a linha do horizonte que separa a zona da ‘luz’, no

campo ascendente, da zona da ‘sombra’, campo descendente, num gesto carregado

de transcendência simbólica, onde o olhar procura o altar.

O espaço interior é carregado de sensações e incidências, pela organização e

conjugação das partes, num claro apelo à simplicidade, onde a luz é a grande

dominadora de todo o ambiente cénico e litúrgico.

 

Colabora nesta centralidade a localização do batistério no presbitério, havendo um

equilíbrio litúrgico dos sacramentos, demostrando desta forma as mudanças do rumo

teológico da Igreja e a justa interpretação do projetista.

A boa visibilidade dada ao altar resulta, também, da proporção ocupada por este na

composição interior do espaço, correspondendo ao preenchimento da totalidade da

largura do edifício (Fig. 97), sendo por sua vez este dominado pela própria largura

em relação ao comprimento, conduzindo, deste modo, toda a assembleia ao coração

da liturgia - o altar.

 

 

Fig. 97: Presbitério EC2

Fonte: Montagem de autor (2014)

 

Os elementos da assembleia quando interrogados sobre este assunto – a

centralidade do presbitério manifestaram-se da seguinte forma; “parece-me

adequado, é um convite à interioridade”, outro refere que “sim, agrada-me. É amplo e

tem muita luz natural”, sendo a “simplicidade” (comunicação pessoal, 25 de outubro,

2014) a referência concetual do presbitério para os fiéis. Por seu lado, o pároco

considera o altar ”nobre e espacialmente converge a visão para lá” (comunicação

pessoal, 18 de outubro, 2014), e termina por dizer que quando assim é “a arquitetura

‘apela’ e é acolhedora, e isso é o mais importante”, num edifício que tem como

missão a congregação de toda a comunidade em torno do altar, neste caso repleto

de luz.

A luz e a ausência dela, tem um papel fundamental na definição desta centralidade,

onde o autor a manipula, no sentido da sua incidência sobre os corpos realçando as

formas dos elementos deixados propositadamente no campo visual, potenciando a

perceção do espaço central por excelência – o altar.

 

Espaço Litúrgico (simbólico)

Reunião

A arquitetura deve favorecer o conceito de assembleia e não de grupos separados,

como era frequente acontecer nas igrejas pré-conciliares, havendo nesses casos a

separação por género, estrato social, raça, entre outras.

Nesta igreja comprova-se a fracionamento do espaço litúrgico em três naves, a

central de maior dimensão e duas laterias. Nas igrejas antigas, a existência de naves

laterais era justificada pela relação direta com os altares laterias, atualmente esses

altares desapareceram e estes elementos (colunas) impedem a comunicação e

visibilidade de toda a assembleia. O teólogo Jorge Barbosa referia na entrevista que

um dos maiores problemas para a adaptação das igrejas antigas à nova liturgia é

precisamente a existência de colunas no espaço litúrgico.

Note-se neste contexto, a “tribuna” existente no piso 1 (Fig. 98) também se encontrar

em franca desconexão com a “unidade” pretendida.

A comunidade eclesiástica quando questionada sobre esta matéria referia que “a

própria distribuição dos bancos contribui a essa reunião” ou que “o conceito de

circularidade une o povo” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Apesar de a

espacialidade não fomentar que todos se sintam membros de um único corpo, a

perceção da comunidade é diferente, sendo que todos se sentem reunidos nas

celebrações, e isso é o principal.

Mais importante do que os elementos construídos possam indicar numa primeira

análise, é a opinião dos fiéis que utilizam o espaço que importa e as sensações que

o espaço lhes transmite, onde, por vezes, a relação entre espaço e perceção vai

mais além do inteligível.

Fig. 98: Piso 1 (tribuna) EC2

Fonte: Montagem de autor (2014)

 

Espaço Litúrgico (simbólico)

“Chamamento”

O projetista da obra referia na memória descrita constante no processo de

licenciamento (anexo 5.1) que a mesma era “ uma janela privilegiada para o exterior

que se conjuga com a envolvente próxima, para em conjunto traçar o perfil da rua,

configurando a malha urbana e criar uma marca na cidade”, neste sentido o edifício

em causa não se limita a albergar um qualquer programa litúrgico nem somente a

dar resposta e requisito de ordem funcional, mas pretende “passar” uma mensagem,

que neste caso seria de contemporaneidade, de prosperidade e vanguardismo da

cidade. Para tal, o autor recorre a uma volumetria curvilínea onde a configuração das

massas é espetacular, de grande dimensão, a materialidade (cobre) destaca a

nobreza do edifico, sendo este um recurso plástico de rara beleza.

Mas quando confrontado com esta situação, o arquiteto acrescenta que

nunca foi minha intenção fazer uma igreja para ‘atrair’ pessoas para a

religião, nem nunca me foi pedido por parte da instituição. Mas também não

foi abordado como um projeto civil comum, é evidente que o facto de eu ser

católico me influenciou, mas não me prendi demais. Viana, L. (comunicação

pessoal, 23 de outubro, 2014)

Apesar do autor se distanciar de questões concetuais de cariz teológico, note-se que

o edifico em causa afirma-se no contexto arquitetónico e não, especificamente, no

campo da arquitetura religiosa.

O pároco vê esta obra como “uma verdadeira obra de arte, que pode ser apreciada

de três ângulos diferentes. Vista de cima parece uma árvore, de dentro um útero e

de fora uma nave, nesse sentido, acrescenta, que “esta arquitetura tem uma

influência preponderante, despertando a atenção de quem a vê” Coutinho, A.

(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014). A própria comunidade refere-se à

igreja como “vistosa por fora mas sóbria por dentro” e ainda que transmite

“seriedade, simplicidade e paz, é nela que me sinto bem”, e outros há que dizem “a

grandeza da sua simplicidade torna-a acolhedora”.

O pároco refere que a comunidade se identifica com o templo, e isso constata-se nas

entrevistas, dizendo que “na missa inaugural ouvi coisas das crianças acerca desta

igreja extraordinárias, às tantas alguns adultos nunca pensariam aquilo que elas

pensavam, identificando-se completamente com o edifício. Nessa altura toda a

comunidade gostou do edifício“ (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),

referindo que as classes mais jovens gostam mais da igreja nova que da igreja

velha. É visivelmente um edifício religioso sumptuoso, que conjuga a arquitetura de

volumes curvos, puros e abstratos, com os requisitos litúrgicos e teológicos,

demostrando, desta forma, conhecimento das necessidades eclesiásticas atuais.

 

Quadro resumo do EC2

A propósito da Igreja Nova, extraímos um texto do livro cujo autor se indica

 

 

 

 

 

 

 


Arquitetura Religiosa pós Concílio Vaticano II:

Adequação do espaço celebrativo ao rito litúrgico

caso do Alto Minho

 

Jorge Alexandre Rodrigues Martins

Vila Nova de Cerveira, março de 2015

 

 

Estudo de Caso 2

3.1.2 – Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo

 

 

 

Fig. 83: Localização EC2

Fonte: http://www.google.pt/imagens

 

 

 

 

 

 

 

                                               Fig. 84: Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação

A Igreja da Sagrada Família localiza-se na Freguesia de Stª Mª Maior, concelho de

Viana do Castelo (41º 42’ 19’’ N, 8º 49’ 30’’ O), e pertence à Fabrica da Igreja de

Nossa Senhora de Fátima. A sua implantação é junto à variante norte da cidade, que

comunica a A28 com o hospital distrital.

Como referia o pároco da igreja, padre Artur Coutinho (ver entrevista completa no

anexo 5.3), “a sua localização no meio da comunidade é importante, aproximando-se

dos fiéis“, tendo em conta que a freguesia tinha expandido para Norte, e a nova zona

em causa não tinha nenhum espaço de culto, e acrescenta que esta “ surge por uma

questão de necessidade de mais espaço e mais conforto“ (comunicação pessoal, 18

de outubro, 2014), visto a igreja existente (N. Sª de Fátima) ter ficado, pequena,

distante e sem comodidades para os tempos atuais.

Segundo o pároco, aquando da sua nomeação em 1978, já se falava numa nova

igreja e, desde então, “andamos para a frente” com o projeto, dando assim

cumprimento a um desejo comunitário há muito requerido. Neste sentido refere que

as igrejas antigas são frias (e não é por uma questão térmica). Os homens

de hoje não podem ser parasitas, toda a vida, de um estilo (tipologia) do

passado, tem que haver evolução, e as pessoas têm de se adaptar aos

tempos de hoje. Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)

Daí que, na sua opinião, este novo edifício, tendo em conta a sua arquitetura, foi

perfeitamente aceite pela comunidade e entidades oficiais, que o viram como um

elemento dinamizador de toda uma localidade, transmitindo uma imagem de

modernidade e sendo uma marca da cidade (Fig. 84).



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Análise descritivo

O autor do projeto foi o arq. Luís Faro Viana em 2004 (ver entrevista completa no

anexo 5.2) tendo a obra prolongado por cerca de oito anos, foi inaugurada em 8 de

setembro de 2012. Neste momento, o edifício encontra-se inacabado, faltam salas,

serviços administrativos, entre outras, mas o espaço de celebração está concluído,

sendo o seu funcionamento diário e normal.

Antecede a esta proposta um projeto licenciado pela Câmara Municipal em 2000

(PO-217/00) que previa a fusão de igreja com o centro paroquial e social.

Posteriormente houve uma reavaliação das pretensões, tendo os dois espaços sido

concebidos por separado, e a igreja em causa entregue ao arquiteto supra referido.

Esta divisão deve-se, essencialmente, a questões logísticas e jurídicas de

financiamento da obra, que neste âmbito da pesquisa não importa aprofundar.

A nova proposta contemplava a ocupação do lote nº28 (processo de loteamento

974/98), na zona da cidade densamente urbanizada da Abelheira, junto à base do

Monte de Stª Luzia. Neste sentido, o autor considerava este lote, e todos os

elementos que o caracterizam como ”terreno fértil à imaginação”, tendo este espaço,

administrativamente (PDM) ficado reservado para equipamentos.

O programa previa a instalação de uma igreja com capacidade de 800 pessoas,

salas de catequese e atividades socioeducativas, bar e sede dos escuteiros.

Não é alheio a este programa o facto da freguesia em causa ser muito dinâmica e

interventiva em ações sociais, considerando o autor esta zona como “um ambiente

ideologicamente aberto” (2004) requerendo um ‘perfeccionismo e apuro’ das formas

na conceção do edifício em causa. O conceito da mesma foi: a Árvore da Vida.

(Teologicamente, a Árvore da Vida era uma das duas árvores que Deus colocou no

centro do jardim de Éden.)

                                                

Fig. 85: Enquadramento urbano EC2

Fonte: http://www.imprensaregional.com.pt

 

Na conceção inicial da proposta da nova igreja, o autor referia que a arquitetura “tem

que ter sentimento” Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014), e tem que

ser fruto das incidências e de uma leitura da envolvente. Neste sentido, o que mais

prevalecia no entorno eram os círculos, na opinião do autor, daí a ‘curva’ ser a tónica

dominante de toda a morfologia do espaço, de salientar que a curvatura das paredes

exteriores é fruto de circunferências de igual raio.

O autor refere-se à proposta apresentada como querendo criar

um elemento que fosse destinto do resto, e para enfatizar esse objectivo, a

própria Câmara Municipal alterou a materialidade da envolvente para melhor

enquadrar esta proposta. Pronunciando-se o presidente da Câmara na

época, o Defensor de Moura, com a frase ‘gosto, gosto!’ em relação à

proposta da nova igreja, agilizando desta forma o licenciamento da mesma.

Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)

E termina por dizer que quando chegou a esta forma, tudo isto foi feito com muita

seriedade e com muito critério.

Em relação ao desenvolvimento do programa, ele distribui-se em duas

espacialidades diferentes, por um lado o corpo principal da igreja ‘visível’ e as salas

de catequese e outras de apoio ‘ocultas’, adaptando-se, desta forma, o edifício à

topografia existente, vencendo o desnível do terreno no sentido N/S.

Enumera-se sucintamente, que o programa era composto por 15 salas de catequese

com paredes amovíveis para melhor gestão do espaço, respetivas instalações

sanitárias e demais espaço de apoio, num total de dois pisos semienterrados que

perfaziam 1547m2 de área construída.

O essencial do programa, que é o espaço de culto – a igreja - é composto por dois

espaços, sendo o principal no piso 0, no piso 1 existe um “tribuna” que se articula

com o anterior através de uma escada (Fig. 86). Este espaço superior é importante

em dias de grande festividade ou até mesmo quando há algum evento musical no

edifício, sendo este tipo de espetáculos frequente neste recinto.

 

 

Fig. 86: Piso 1 (tribuna) EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

A lotação total da igreja é de 804 pessoas, 626 no piso 0 e 178 no piso 1, de

mencionar que o espaço está habilitado para pessoas com mobilidade condicionada,

e, como tal, no interior há 5 lugres para estas situações.

O piso 0 é o espaço primordial por excelência, e assim as relações quer interiores

quer exteriores são relevantes e serão devidamente analisadas.

O acesso exterior ao arruamento é franco e no espaço sobrante no lote é criado um

estacionamento para 80 lugares, colmatando o fecho do quarteirão.

A entrada no edifico é ‘pausada’ por um pequeno nártex porticado, característico nas

primeiras igrejas cristãs, onde o portal principal, centrado no edifício, abre-se para

norte, sendo ladeado por duas portas de uso diário. De referir um pequeno desnível

entre o estacionamento e a entrada principal.

No interior há dois elementos que ganham destaque de imediato, por um lado a

estrutura construtiva aparente (colunas), de secção circular, orientam o olhar para o

altar e, por outro lado, esse mesmo altar encontra-se à mesma cota (altimétrica) da

entrada (Fig. 87).

No primeiro caso, os pilares foram desde o início assumidos pelo autor, que

considerou a estrutura como muito importante, inicialmente já contemplada no

projeto, evitando-se assim surpresas na execução da obra; o segundo aspeto

referido é simbólico, e nesse sentido o autor refere que

colocar a cota da entrada ao mesmo nível que a cota do altar, foi uma opção

simbólica, assim como a cruz na histerotomia da caixilharia exterior é

propositada e foi, talvez, o único simbolismo religioso presente no edifício.

Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)

 

Fig. 87: Elementos simbólicos EC2

Fonte: Fotografia e montagem de autor (2014)

 

Ainda no piso 0, a sua área de construção total é de cerca 1130m2, sendo a maior

igreja do Alto Minho. Para além dos equipamentos de apoio, o espaço litúrgico é

composto pelo altar no quadrante Sul, pela nave principal e por duas naves laterais

(Fig. 88). Estas, por seu lado, são delimitadas por fileiras de pilares, que perfazem o

número de catorze, o mesmo número das estações da via-sacra, que é o elemento

que eles contêm - as estações da via-sacra.

Os grandes vitrais laterais orientados, preferencialmente, ao quadrante norte,

permitem uma iluminação constante e difusa do espaço, tendo sido muito cuidada e

ponderada, refere o autor.

 

 

 

 

 

Fig. 88: Planta interior EC2

Fonte: Projeto de Licenciamento-CMVC

 

 

 

A assembleia é inclinada no sentido do altar, vencendo um desnível de um metro

desde a entrada. Os bancos são corridos, somente interrompidos pelo corredor

central que relaciona diretamente a entrada com o altar.

O interior assume uma construção nua, num espaço rígido devido aos elementos

maciços e às paredes opacas e lisas. A planta é longitudinal, marcada por um eixo

central, com suportes intermédios (pilares) exibindo relações abstratas entre planta e

fachada.

O recinto interior é único, definido por uma alternância entre paramento-pilar-vitral,

onde o altar, graças a esta composição, obtém uma importância extra no conjunto. O

paramento aproxima o exterior e interior, através do efeito lumínico produzido pela

entrada de luz nos panos verticais dos grandes vitrais.

Todos os elementos construtivos foram manipulados para enfatizar o máximo

protagonismo do altar na sequência entrada-presbitério, seguindo as

recomendações teológicas da Igreja

 

Quanto ao exterior, o revestimento é em cobre com o embasamento em granito

bojardado. A materialidade do cobre é algo que personaliza e identifica a nobreza do

edifico, é algo marcante e, como tal, referência assumida por todos os intervenientes,

com um “significado especial” diz o autor. Sobre esta matéria o pároco refere que

o cobre do revestimento foi muito caro (daria para pintar duas vezes a igreja),

mas o arquiteto justificou a opção com a tonalidade que adquiria no futuro

(esverdeada) e com o impacto que teria junto ao Monte de Stª Luzia.

Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)

 

Fig. 89: Revestimento exterior EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

 

A volumetria do edifício é definida por panos de paredes curvos que encerram o

espaço litúrgico, simétricos e o desfasamento dos mesmos é preenchido pelos vitrais

que se desenvolvem desde o pavimento até à cobertura. Por seu lado, a cobertura é

plana, de uma só água e com inclinação descendente no sentido entrada-altar (Fig.

90), acompanhando a topografia existente e que segundo o autor permite “uma

leitura variável que se acentua no pórtico da entrada” (comunicação pessoal, 23 de

outubro, 2014)

 

 

 

 

Fig. 89: Revestimento exterior EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

Fig. 90: Alçado nascente EC2

Fonte: Projeto de Licenciamento – CMVC

 

Análise dos indicadores – EC2

Espaço Litúrgico (geral)

Participação ativa

A participação ativa poderá ser enfocada de vários prismas, é importante referir,

neste caso, a mais-valia da definição de um programa concreto que vá ao encontro

das necessidades da comunidade. Neste contexto, o edifico em causa é portador de

uma valência que fomenta grandemente essa mesma participação que é o facto de

possuir um serviço de ‘babysitting’, como referia o padre Coutinho “as crianças mais

novas, que ainda não assistem às celebrações, poderão ficar ali a brincar, em

segurança, para comodidade dos pais” (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),

que desta forma poderão acompanhar a celebração de forma proveitosa.

O edifício adapta-se, assim, à contemporaneidade e às exigências do tempo atual,

dando um sinal inequívoco de adequabilidade à comunidade eclesiástica,

fomentando o dever pastoral da Igreja.

A participação ativa é tão mais eficaz, quanto mais a comunidade interagir e se

envolver nos atos litúrgicos. O edifício terá de proporcionar condições de mobilidade,

acessibilidade e outras, aos fiéis, mas per si não é suficiente para o sucesso desta

vontade pós-conciliar.

Neste aspeto, a igreja em causa, sendo a maior da Diocese de Viana, não apresenta

uma monumentalidade (interior) que intimide e iniba as fiéis, devido entre outros

fatores à fragmentação do espaço pelos pilares enfatizando o modelo axial que a

caracteriza. O altar surge, então, elevado, num ambiente puro, simples e sem

distrações.

A assembleia inclinada é uma opção válida, onde o corredor central, largo e

generoso (Fig. 92), faz a comunicação desta com os degraus que elevam ao

presbitério. Como nota, referir a ausência que qualquer apoio e/ou guarda de auxilio

na transição desses mesmos degraus, facto sempre delicado.

 

Fig. 92: Corredor central EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

O espaço da assembleia, que se localiza no piso 1 (tribuna), tem dificuldade numa

comunicação mais direta com as ações litúrgicas, mas a utilização do mesmo é

pontual. Por exemplo, aquando da comunhão, neste espaço é o próprio pároco que

se desloca ao local em causa.

O pároco refere que a igreja “no sábado às 16h00 e no domingo às 11h00 enche por

completo e funciona bem. Com muita ou pouca gente, o edifício é completamente

funcional” Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), e relembra-se

que a capacidade é de 800 pessoas sentadas podendo em ocasiões especiais

receber 1200, contando-as de pé.

Esta participação, para ser efetiva, terá de ser assumida e vivenciada pela

comunidade, neste sentido, esta quando interrogada sobre o assunto (ver

entrevistas completas no anexo 5.4) refere que “sim, esta igreja fomenta a

participação. As antigas não deixam as pessoas tão à-vontade”, outro testemunho

diz que “parece-me bastante funcional e prático, para além disso também é seguro”

(comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Estes são alguns exemplos das

opiniões daqueles que de facto sentem e manipulam o espaço litúrgico citado, onde

no cômputo geral o parecer da comunidade é satisfatório quanto à adequabilidade

do espaço a uma participação ativa.

 

Fig. 93: Distribuição geral EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

A Igreja da Sagrada Família de Viana é o fiel reflexo de um espaço aglutinador das

premissas do Concilio Vaticano II quanto à participação. É um espaço luminoso,

desafogado, simples, onde a elevação do presbitério tem uma duplicidade funcional

e simbólica, democratizando a proposta.

O espaço único envolve o altar em ampla curva interior, que o pároco designou de

‘útero’, aproximando o presbitério da assembleia em gesto de simplicidade

organizativa e de inspiradora força simbólica.

Espaço Litúrgico (geral)

Comodidade

Em 1 de setembro de 2012, o Jornal de Notícias, em artigo referente à inauguração

da igreja escrevia: “de linhas contemporâneas, gigante, com chão radiante para que

os fiéis possam orar de pés quentes”, não sendo indiferente ao repórter o facto de

este edifício estar dotado de um aquecimento, que acompanha as necessidades

atuais das populações.

Neste sentido, a comodidade quer térmica, quer acústica estão garantidas neste

novo espaço, referindo o pároco que até ao momento não foi comunicado qualquer

desconformidade neste aspeto, relembra-se que o edifício é recente.

Os bancos corridos de madeira tratada são os adequados a estes espaços,

permitindo o genuflexório. O conforto visual é garantido e melhorado pelo facto de a

assembleia ser inclinada, apesar de nas naves laterais e “tribuna” superior a

visibilidade do presbitério ficar parcialmente comprometida pela existência dos

pilares (Fig. 94).

O sistema de som é moderno e eficaz em todo o espaço.

Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo

sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também

bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os

genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)

de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade

contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço

para os atos litúrgicos.

Fig. 94:

 

 

Fig. 94: Pilares estruturais EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo

sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também

bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os

genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)

de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade

contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço

para os atos litúrgicos.

 

Esta igreja aposta no aproveitamento da energia solar, através de painéis

fotovoltaicos, que permitirão reduzir os consumos elétricos e, devido à grande

luminosidade interior, as celebrações serão feitas apenas com a luz natural.

O pároco referia que “temos de pensar nos fiéis e nas condições que oferecemos”

(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), justificando, assim, toda a tecnologia

aplicada ao edifício, fazendo parte da igreja transmitir esta modernidade.

A comodidade do coro em participar nas celebrações é total, isto porque está

localizado junto ao presbitério numa nave lateral (Fig. 95), onde a sua presença é

discreta, limitando-se unicamente ao acompanhamento musical, neste sentido o

autor da obra referia que “em relação à acústica, sempre pressenti que funcionaria

bem pela experiência que tinha em assistir a concertos em espaços com a mesma

forma.” (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)

 

Fig. 95: Local do coro EC2

Fonte: Montagem de autor (2014)

 

Espaço Litúrgico (presbitério)

Centralidade

Os alinhamentos definidos pelos pilares, simples e harmónicos, onde o volume

decresce de altura à medida que se aproxima do altar, numa organização evoluída

da planta basilical, geram uma perspetiva pura e direta, para onde converge toda a

iluminação natural.

A planta montada num eixo longitudinal enfatiza o caminho desde a entrada sombria,

até ao presbitério inundado de brilho e magnificência lumínica (Fig. 96), presidido por

uma bela representação artística da sagrada família, que personaliza o espaço, cuja

autoria são artistas locais.

A subtileza extrema dos elementos construtivos, sem cor ou outra decoração que

não a proporcionada pelos materiais, gera uma curiosa volumetria, onde o teto

fragmentado é o limite do olhar, produzindo um lugar calmo e solene.

 

Fig. 96: Espaço interior EC2

Fonte: Fotografia de autor (2014)

 

Note-se que a iluminação nunca incide diretamente no espaço, mas é potenciadora

de uma atmosfera simbólica, obtida através da conjugação desta com a

materialidade e o cromatismo dos elementos existentes (bancos, pavimento, entre

outros), definindo claramente a linha do horizonte que separa a zona da ‘luz’, no

campo ascendente, da zona da ‘sombra’, campo descendente, num gesto carregado

de transcendência simbólica, onde o olhar procura o altar.

O espaço interior é carregado de sensações e incidências, pela organização e

conjugação das partes, num claro apelo à simplicidade, onde a luz é a grande

dominadora de todo o ambiente cénico e litúrgico.

 

Colabora nesta centralidade a localização do batistério no presbitério, havendo um

equilíbrio litúrgico dos sacramentos, demostrando desta forma as mudanças do rumo

teológico da Igreja e a justa interpretação do projetista.

A boa visibilidade dada ao altar resulta, também, da proporção ocupada por este na

composição interior do espaço, correspondendo ao preenchimento da totalidade da

largura do edifício (Fig. 97), sendo por sua vez este dominado pela própria largura

em relação ao comprimento, conduzindo, deste modo, toda a assembleia ao coração

da liturgia - o altar.

 

 

Fig. 97: Presbitério EC2

Fonte: Montagem de autor (2014)

 

Os elementos da assembleia quando interrogados sobre este assunto – a

centralidade do presbitério manifestaram-se da seguinte forma; “parece-me

adequado, é um convite à interioridade”, outro refere que “sim, agrada-me. É amplo e

tem muita luz natural”, sendo a “simplicidade” (comunicação pessoal, 25 de outubro,

2014) a referência concetual do presbitério para os fiéis. Por seu lado, o pároco

considera o altar ”nobre e espacialmente converge a visão para lá” (comunicação

pessoal, 18 de outubro, 2014), e termina por dizer que quando assim é “a arquitetura

‘apela’ e é acolhedora, e isso é o mais importante”, num edifício que tem como

missão a congregação de toda a comunidade em torno do altar, neste caso repleto

de luz.

A luz e a ausência dela, tem um papel fundamental na definição desta centralidade,

onde o autor a manipula, no sentido da sua incidência sobre os corpos realçando as

formas dos elementos deixados propositadamente no campo visual, potenciando a

perceção do espaço central por excelência – o altar.

 

Espaço Litúrgico (simbólico)

Reunião

A arquitetura deve favorecer o conceito de assembleia e não de grupos separados,

como era frequente acontecer nas igrejas pré-conciliares, havendo nesses casos a

separação por género, estrato social, raça, entre outras.

Nesta igreja comprova-se a fracionamento do espaço litúrgico em três naves, a

central de maior dimensão e duas laterias. Nas igrejas antigas, a existência de naves

laterais era justificada pela relação direta com os altares laterias, atualmente esses

altares desapareceram e estes elementos (colunas) impedem a comunicação e

visibilidade de toda a assembleia. O teólogo Jorge Barbosa referia na entrevista que

um dos maiores problemas para a adaptação das igrejas antigas à nova liturgia é

precisamente a existência de colunas no espaço litúrgico.

Note-se neste contexto, a “tribuna” existente no piso 1 (Fig. 98) também se encontrar

em franca desconexão com a “unidade” pretendida.

A comunidade eclesiástica quando questionada sobre esta matéria referia que “a

própria distribuição dos bancos contribui a essa reunião” ou que “o conceito de

circularidade une o povo” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Apesar de a

espacialidade não fomentar que todos se sintam membros de um único corpo, a

perceção da comunidade é diferente, sendo que todos se sentem reunidos nas

celebrações, e isso é o principal.

Mais importante do que os elementos construídos possam indicar numa primeira

análise, é a opinião dos fiéis que utilizam o espaço que importa e as sensações que

o espaço lhes transmite, onde, por vezes, a relação entre espaço e perceção vai

mais além do inteligível.

Fig. 98: Piso 1 (tribuna) EC2

Fonte: Montagem de autor (2014)

 

Espaço Litúrgico (simbólico)

“Chamamento”

O projetista da obra referia na memória descrita constante no processo de

licenciamento (anexo 5.1) que a mesma era “ uma janela privilegiada para o exterior

que se conjuga com a envolvente próxima, para em conjunto traçar o perfil da rua,

configurando a malha urbana e criar uma marca na cidade”, neste sentido o edifício

em causa não se limita a albergar um qualquer programa litúrgico nem somente a

dar resposta e requisito de ordem funcional, mas pretende “passar” uma mensagem,

que neste caso seria de contemporaneidade, de prosperidade e vanguardismo da

cidade. Para tal, o autor recorre a uma volumetria curvilínea onde a configuração das

massas é espetacular, de grande dimensão, a materialidade (cobre) destaca a

nobreza do edifico, sendo este um recurso plástico de rara beleza.

Mas quando confrontado com esta situação, o arquiteto acrescenta que

nunca foi minha intenção fazer uma igreja para ‘atrair’ pessoas para a

religião, nem nunca me foi pedido por parte da instituição. Mas também não

foi abordado como um projeto civil comum, é evidente que o facto de eu ser

católico me influenciou, mas não me prendi demais. Viana, L. (comunicação

pessoal, 23 de outubro, 2014)

Apesar do autor se distanciar de questões concetuais de cariz teológico, note-se que

o edifico em causa afirma-se no contexto arquitetónico e não, especificamente, no

campo da arquitetura religiosa.

O pároco vê esta obra como “uma verdadeira obra de arte, que pode ser apreciada

de três ângulos diferentes. Vista de cima parece uma árvore, de dentro um útero e

de fora uma nave, nesse sentido, acrescenta, que “esta arquitetura tem uma

influência preponderante, despertando a atenção de quem a vê” Coutinho, A.

(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014). A própria comunidade refere-se à

igreja como “vistosa por fora mas sóbria por dentro” e ainda que transmite

“seriedade, simplicidade e paz, é nela que me sinto bem”, e outros há que dizem “a

grandeza da sua simplicidade torna-a acolhedora”.

O pároco refere que a comunidade se identifica com o templo, e isso constata-se nas

entrevistas, dizendo que “na missa inaugural ouvi coisas das crianças acerca desta

igreja extraordinárias, às tantas alguns adultos nunca pensariam aquilo que elas

pensavam, identificando-se completamente com o edifício. Nessa altura toda a

comunidade gostou do edifício“ (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),

referindo que as classes mais jovens gostam mais da igreja nova que da igreja

velha. É visivelmente um edifício religioso sumptuoso, que conjuga a arquitetura de

volumes curvos, puros e abstratos, com os requisitos litúrgicos e teológicos,

demostrando, desta forma, conhecimento das necessidades eclesiásticas atuais.

 

Quadro resumo do EC2